Com Vince tirando o cochilo de tarde eu acabei sem ter muito o que fazer já que na última semana eu conseguir organizar todos os remédios e gerenciar cada um deles, etiquetando e separando por horários.
Desço as escadas silenciosamente e ando pelo corredor somente parando para conversar com Sarah – aquela mulher que me atendeu pela primeira vez – ela acabou sendo minha acompanhante aqui na mansão, a não ser quando precisavam da ajuda dela na cozinha.
- Passou mais a dor de cabeça? – eu pergunto caminhando com ela ao lado
- Sim, aquele chá de camomila e gengibre foi perfeito
- Viu? Eu disse que não era ruim
- Não, o gosto era ruim mesmo – ela diz e eu sorrio passando por uma faxineira - Mas melhorou, então obrigada
- Não há de que – olho ao redor da sala e pisco pensando no que eu posso fazer – Quer ajuda em algo?
Sarah me olha arqueando uma sobrancelha e eu dou de ombros
- Você não para quieta não?
- Não exatamente – eu falo me esticando na ponta dos pés para frente e para trás – Não gosto de não ser útil.
- Você pode ir até a biblioteca
Palavras mágicas
Já ouviram falar sobre isso?
É quando a tinker bell passa glitter amarelo nas palavras e elas ganham um tom brilhante e mágico.
Eu estou vibrando agora.
- Como assim? Tem uma biblioteca aqui?
- Claro que sim, fica do lado do escritório do sr. Vince
- Ai meu deus – mordo o lábio animada e falo em tom conspiratório – Mas é restrito? Tipo, precisa de passe livre ou algo assim?
Sarah rir e me empurra em direção ao corredor
- Não, pode ir
Ela não precisa falar duas vezes
Eu praticamente flutuo até lá e com delicadeza abro a porta pesada inspirando logo em seguida o cheiro das páginas.
Puta merda
Cheguei ao paraíso.
A biblioteca tem escadas levando a lugares mais altos, uma lareira está centrada em uma das paredes e um sofá aconchegante junto com uma mesinha de centro está disposta no meio.
Estantes e mais estantes estão localizadas de forma organizada e quando me aproximo o suficiente para ler, percebo que os livros também estão organizados por alfabeto.
Genial
Passo o dedo levemente pelas lombadas e tento não pular de alegria quando vejo a parte dos livros de história e romance.
Ai meu deus
Aquilo era Jane Austen?
Tipo, com o sr. Darcy e tudo mais?
Arregalo os olhos e vou direto para o livro, mas aí paro e olho para a parte de cima da biblioteca. Acho que vou espionar mais um pouquinho.
Subo em uma das escadas de rodinhas e passo os olhos pelos livros de cima, títulos e mais títulos, alguns antigos e outros tão novos. Pego um livro e sorrio quando vejo o título.
“O Senhor dos Anéis”
Capa dura e é enorme, caramba, eu passaria dias lendo esse livro.
- O que você está fazendo aqui?
Me assusto com o tom de voz irritado e bambeio na escada derrubando o livro em seguida. Escuto um “tump” alto e logo em seguida um palavrão, faço uma careta e me seguro na escada antes de olhar para baixo.
Um homem está embaixo da escada segurando a ponte do nariz de cabeça baixa e eu escuto os seus resmungos cada vez mais altos. Olho para o livro e arregalo os olhos quando o vejo com as páginas abertas.
- Ai meu deus, machucou? – desço as escadas tomando o cuidado de não cair em cima dele e escuto o cara irritado falar.
- Acho que você quebrou o meu nariz
- Não estou perguntando de você, estou perguntando do livro – pulo o último degrau e corro pegando o livro na mão e averiguando as páginas.
Ok, nada rasgado.
- Você está preocupada com a porcaria do livro? – ele rosna tirando por um segundo a mão do nariz, vejo uma pontinha de sangue e olho de novo para o livro.
- Nada sujo de sangue aparentemente – eu falo suspirando aliviada e olhando para o moço com o nariz quebrado – A culpa é sua, sabe?
- Minha?
Ele tira de vez a mão do rosto e a minha expressão cai.
Puta que pariu
O cara da lanchonete
- O que você está fazendo aqui? – eu pergunto assustada olhando para a porta. Será que ele era louco? Ai meu deus, será que ele pulou os muros da mansão?
Espera, não tem muro.
- Eu que pergunto, o que diabos você está fazendo aqui?
- Nada que lhe interesse, obviamente
- Me interessa sim – ele dá um passo a frente e posso não ser muito boa em analise facial, mas podia jurar que ele estava a um passo para voar em cima de mim.... E não no sentido bom – O que....
- Sr. Vince? – Agatha entra dentro da biblioteca e olha confusa nos dois – Algum problema?
- Não – eu digo
- Sim – ele fala ao mesmo tempo. Reviro os olhos e me afasto um centímetro – O que ela está fazendo aqui?
- Ela é a nova enfermeira do Vince – Agatha diz parecendo dizer o obvio, eu sorrio para o intruso e ele franze a testa com raiva
- Enfermeira? Tem certeza Agatha? – tento não parecer insultada com essa pergunta
- Sim, eu tenho – Agatha caminha até a gente e eu me aproximo dela.
Só para o caso do pequeno rei Arthur pular em cima de mim com seus olhos assassinos.
Deus, que situação bizarra
- Não estava sabendo sobre outra enfermeira – ele diz e Agatha responde sorrindo
- Seu avô não gostou nem um pouco do último
- Mas é claro – o estranho passa a mão no cabelo bagunçando-os um pouco e eu pigarreio olhando para o outro lado – Porque isso não me surpreende?
- Ele está se dando muitíssimo bem com a srta. Fontaine – Agatha continua e eu a agradeço mentalmente – Deveria ver como o seu avô esta melhor nessas últimas semanas
Sim, ele estava bem melhor e..... Espera.
O que?
- Avô? – eu pergunto e tento não falar muito alto
- Ah desculpe, srta. Fontaine, esse é Sky Vince, o neto mais novo de Pietro Vince – ela diz com a voz suave e eu engulo em seco.
Vejo quando ele olha para mim e sorri. Mas não é um sorriso muito acolhedor e nem muito amigável. Parece mais que ele quer me matar ou algo assim.
Puta que pariu
Porque isso só acontecia comigo?
- O que aconteceu com o seu rosto? – Agatha pergunta olhando para Sky e eu tento não pensar muito sobre o que ela acabou de jogar na minha cara.Neto deleHa ha haO destino era realmente muito engraçado. Talvez ele fosse um palhaço na outra vida ou sei lá- Um livro caiu em meu rosto – ele fala e eu pisco lentamente em sua direção, tentando me reconectar ao presente- Um livro fez isso?- Foi uma edição de Senhor dos Anéis – eu ajudo e Agatha faz um som compreendendo a situação, enquanto isso estou sendo fuzilada pelo o olhar de Sky.- Deveria deixar que Katherine olhasse esse machucado- Não, obrigada- Mas está meio vermelho – Agatha reforça e eu quase finjo um mal estar para sair dali. Mas ela é mais rápida – Katherine você poderia?NãoDe jeito nenhu
- Está brincando comigo – Íris começa a rir alto e eu reviro os olhos.Irmãs não deviam se ajudar de vez em quando?A minha deve ter vindo estragada, só pode- De todas as pessoas do mundo......- ela fala e ri ainda mais, jogo um travesseiro nela e ela para de rir por uns instantes para jogar de volta.- Você sabe que a culpa é sua, não é?- Minha?- Sim, você que me fez fazer aquele desafio idiota- Foi genial na verdade – ela diz e coloca mais uma garfada de macarrão na boca mastigando antes de continuar – O que ele disse quando você falou o que era o desafio?- Acho que ele ficou bem chateadoEnrolo um fio de macarrão e o coloco na boca suspirando.- Será que vou ser demitida?- Claro que não – ela fala e me acotovela de leve – Ele não pode te demitir por voc&e
Bocejo de novo e ouço um estalar alto na minha mandíbulaPorcariaTalvez eu tenha quebrado um osso. Coloco o regador mais perto de uma roseira e derramo um pouco de água na terra tentando impedir mais um bocejo.Eu não deveria ter passado a madrugada lendo, foi um erro. Mesmo que o livro tenha sido maravilhoso e que o final tenha me feito chorar que nem uma condenada.Mas do que isso adiantava se eu não conseguia nem regar algumas flores sem conseguir impedir um bocejo? Me levanto e vou para outra roseira, uma de flores coloridas e que exalavam um cheiro tão doce quanto o ar ali de fora.Depois de meia hora consigo terminar e vou direto para o deposito, colocando o regador e as luvas que eu acabei não usando. Sigo em direção a cozinha e sorrio quando vejo Marina terminando de lavar a louça do almoço.- Olá Marina- Hey, terminou?- Sim, estou pe
Uns travesseirosSim, era isso que eu colocaria aqui na biblioteca.... Se ela fosse minha é claro.Me ajeito de novo no chão e apoio o livro na minha coxa descansando as mãos de lado. Passo para outra página e sorrio quando vejo um mapa desenhado a mão.Livros criativosAmeiMe apoio na estante e leio a página antes que com o canto do olho eu perceba um breve movimento perto da porta. Me endireito e olho desconfiada para Sky.- Fiquei imaginando quanto tempo você demoraria para perceber - Perceber que tem um espião em minha cola?- Espião? – ele pergunta e se aproxima- Tanto faz – eu falo e olho de novo para o livro – Posso ajudar em algo?- Na verdade nãoOlho de lado e vejo que agora ele está bem ao meu lado, pigarreio baixinho e viro uma página sem nem mesmo ter lido.- Porque você es
- A vizinha está cozinhando peixe de novo – eu falo abrindo a porta do apartamento e vejo quando Íris corre para a mesinha pegando uma vela aromática.Tiro a chave da porta e me viro para fechar ela quando olho para baixo e tomo um susto gritando um pouco, fazendo com que Íris pule um centímetro do outro lado.- Caceta, esse cachorro ainda vai me matar – eu falo ainda ofegante e Íris se aproxima olhando para o cachorro meio morto, meio vivo- Eu acho realmente que deveriam levar ele no veterinário – Íris fala e se abaixa acariciando o pelo grosso do cachorro silencioso.Credo, ele nem ao menos pisca- Você quer comer alguma coisa camarada? – eu falo e ele vira a cabeça para mim, inclinando a cabeça – Ou quer algum remédio?- Kathy!- É sério, tadinho dele Íris – ajeito a bolsa em meu ombro e fa&cc
ChiqueDe vidroFácil demais de quebrarDescarto outra xicara e acabo pegando uma de lá de trás do armário, que está meio empoeirada. Mas é melhor empoeirada do que quebrada.Lavo rapidamente e enxugo a caneca, vou até a cafeteira e encho até a metade de café. Assopro levemente e levo a boca tentando me aquecer desse frio absurdo que assolou Nova York da noite para o dia.Bebo outro gole e já me sinto parcialmente aquecida quando vejo que Sky está entrando na cozinha, faço uma careta e tento andar na ponta dos pés até o outro lado, onde existe outra porta de saída. Mas assim que chego na metade do caminho ele pigarreia alto e eu resmungo um palavrão baixinho.- Bom dia Katherine – porque eu estremeço toda vez que ele diz o meu nome? Isso é algum truque dele?Me volto lentamente para ele e finjo que nunca
Guardo as coisas dentro da maleta e a fecho antes de me virar para Vince que está observando o ar meio nublado do lado de fora.- As vezes sinto falta de trabalhar – ele diz baixinho e eu me aproximo ficando do seu lado.- Até mesmo em dias como esse?- Como assim? – ele pergunta se virando para mim e eu aponto para o lado de fora.- Dias nublados e chuvosos- Sim- Você é estranho – eu falo e ele balança a cabeça sorrindo – Todo mundo quer ficar em casa dormindo, assistindo, comendo besteira, ou até mesmo os três juntos.- Eu queria trabalhar – ele afirma e eu concordo seriamente- Eu entendo o sentimento- Ah é? – ele fala e sai da janela se sentando em uma das poltronas – Você também prefere trabalhar?- Não. Eu só disse que entendoVince ri roucamente e eu dou um sorriso sain
Íris abre a porta do apartamento e eu continuo a ler o livro, jogando o casaco em cima do sofá ela se joga em uma cadeira e começa a tirar os sapatos.- Como foi o trabalho Kathy? – ignoro seu tom curioso e dou de ombros levantando os olhos do livro- Normal e o seu?- Também – ela fala desanimada e se levanta se esticando – Tenho uma reunião daqui a uma hora e meia com alguns professores. Se importa de jantar sozinha?- Claro que nãoEla sorri e se afasta indo para o banheiro, fecho o livro e espero contando os minutos.... Ou horas, dependendo do ritmo do cérebro dela.Leva vinte minutos para que ela perceba- O que você colocou nesse sabonete Katherine? – ela grita do banheiro e eu dou risada- Eu não fiz nada- É claro que fez, admite logo- Não posso admitir algo que não fiz querida irmãUm