A nova perspectiva morava em uma mansão
Não, eu não estou brincando
A casa era enorme e ficava localizado no Upper East Side, a mansão tinha uma elegante entrada com portões de ferro que abriam automaticamente quando a visita fosse permitida.
Mas o mais legal?
O jardim tinha as mais diversas rosas, de todas as cores, de todos os formatos, era basicamente como entrar em um livro de romance de época e fingir ser a mocinha em busca de aventuras. Ou seja, eu estava em uma área muito conhecida.
Estaciono o carro na entrada e saio do carro com minha bolsa, averiguo pela milésima vez minha camisa social branca e minha saia preta justa, suspiro aliviada quando não vejo nenhuma mancha. Maravilha, passei dessa fase.
Sorrio para o que parece ser uma funcionária da mansão e a acompanho até o escritório. Cacete, aquilo era um quadro de Jackson Pollock?
Arregalo os olhos e aperto ainda mais a bolsa em meu ombro, se minha bolsa topasse em algum canto e quebrasse eu estava muito ferrada. A funcionária abre a porta para mim e eu entro suspirando aliviada quando encontro uma mulher mais velha me esperando por trás de uma mesa de mogno escuro.
- Boa tarde – ela diz e eu sorrio me aproximando
- Boa tarde, espero que eu não esteja atrasada
- Não, chegou bem na hora – ela aperta minha mão de leve – Meu nome é Agatha Saeger, sou administradora de Pietro Vince, por isso estou fazendo a parte das entrevistas. Sente-se por favor srta. Fontaine
Me sento e alivio a postura tentando não parecer tensa. O que me faz me sentir ainda mais nervosa.
- Olhei a sua pasta, e os seus cursos – ela diz suavemente e eu sorrio – É um ótimo currículo
- Obrigada
- Posso saber porque você foi demitida do último emprego?
- Estão reorganizando o hospital, problemas no gerenciamento ou algo assim – eu falo e ela sorri olhando para a pasta à sua frente
- Suas referencias são muito boas e sinceramente eu a acho perfeita para o cargo, já que você lidava constantemente com pessoas mais velhas. Estou certa?
- Sim, está – eu pauso um instante e pergunto de uma vez – A senhora disse que eu sou perfeita para o cargo, mas eu senti que estava a ponto de dizer um “mas”.
Ela sorri e uni suas mãos em cima da mesa com delicadeza. Acho que ela também tem medo de quebrar alguma coisa.
Mas pode ser só impressão, é claro
- Você está certa quanto a isso – ela pigarreia e continua – O senhor Vince ele é um tanto exigente sabe? As vezes pode até ser rigoroso, mas quem o conhece sabe que é só uma fachada.
- Acho que sei como é. Uma das minhas pacientes era bem impaciente, e gostava de falar quando sabia que não estava sendo ouvida por alguém de fora.
Agatha olha para mim de repente curiosa e se inclina por sobre a mesa.
- E como você lidou com ela?
- Não sei direito – eu dou de ombros e falo com um sorriso de desculpas antecipadas – Eu as vezes posso ser bem insistente – ela arqueia uma sobrancelha perfeitamente delineada e eu sorrio – Ou irritante se preferir.
Ela ri baixinho e eu suspiro aliviada, essa entrevista está estranhamente relaxante.
- Eu não fiz isso com os outros entrevistados, mas acho que podemos tentar uma abordagem diferente – ela se levanta e eu fico confusa por um instante – Vamos conhecer Pietro Vince.
Ah bom, porque não? Aquela entrevista acabou de se tornar tensa de novo.
....................................
Pietro Vince estava deitado no chão do quarto.
Não, ele não estava morto. Mas por alguns segundos eu e Agatha achamos que sim e por isso corremos na direção dele.
Então ele abriu um olho e fez uma careta para nós duas antes de fechar os olhos de novo e voltar para sua posição do início.
- O que pensa que está fazendo Vince? – Agatha pergunta e eu olho ao redor.
Cortinas fechadas, cama de dossel enorme, televisão tomando quase uma parede inteira e remédios espalhados por todo lugar.
Bem organizado.
- O que você acha que eu estou fazendo? – ele pergunta em um resmungo e eu sorrio antes de sussurrar baixinho ainda olhando o seu corpo jogado no chão
- Que você está vendo como vai ficar quando morrer?
O sr. Vince abre os dois olhos e me encara estreitando os olhos, o observo de volta.
- O que disse?
- Nada – eu falo e ele resmunga revirando os olhos
- Eu não sou surdo – ele faz uma pausa e depois continua – Pelo menos ainda não.
- Que ótimo
- Está sendo sarcástica?
- Nunca faria isso – eu falo solenemente e ele me olha mais atentamente
- Você disse algo, eu sei disso
- Talvez eu conte se você se levantar do chão
Fazendo uma careta para mim, ele se vira de lado e tenta se sentar, Agatha e eu o puxamos para cima com cuidado e ele rapidamente se afasta passando a mão por sobre a roupa um tanto amassada.
- Agora mocinha, o que você disse?
- Falei que o senhor parecia estar vendo como pareceria quando estivesse morto
Agatha se afasta imperceptivelmente e eu continuo olhando para o senhor em minha frente fazendo uma expressão de irritação.
Segundos depois sua expressão se suaviza e ele dá de ombros antes de se sentar na cama.
- Talvez eu estivesse fazendo isso mesmo
- Vince! – Agatha fala com ultraje e eu sorrio com a expressão dela – Eu quase tive um surto com a visão sua no chão e você fez de propósito?
- Fiz, e você parecia péssima ao meu lado – Vince estira suas pernas na cama relaxando e sorri para a sua administradora – Quando for o dia do meu enterro, use algo mais alegre
- Mais é um enterro – eu falo confusa – A regra não é usar preto? Ou cinza?
- É o meu enterro, podem usar a cor que eu quiser – ele responde e eu arqueio uma sobrancelha
- Que você quiser? Ou que eles quiserem?
- Não complique minha explicação – ele funga irritado – E é claro que quem escolhe a cor sou eu
Sorrio animada e olho para Agatha que parece ainda estar em choque com o que Vince falou. Pigarreio e ela pisca os olhos voltando para mim.
- Vince essa é Katherine Fontaine, ela é enfermeira e....
- Eu sei, ela parece ser meio maluca mesmo – ele fala e eu faço uma careta me virando para ele de novo.
- Maluca?
- Sim, vi pelos seus olhos – ele diz como se fosse alguma grande explicação e olha de novo para Agatha – Pode contrata-la, se é isso que está querendo perguntar
Olho para Agatha e a vejo tão perdida quanto eu, então dou de ombros suspirando e olho em direção ao homem sem juízo a minha frente.
- Parabéns mocinha, acabou de ser aceita no hospício – ele diz e eu sorrio estendendo a mão para ele.
- Que bom que eu sou maluca então
Ele inclina a cabeça e eu posso ver a sombra de um sorriso antes dele estender a mão e apertar a minha com força.
É isso
Acabei de ser contratada
Deus me ajude.
- Vamos lá, isso nem doí – eu falo pelo que parece ser a milésima vez para um Vince aborrecido.Deus, já fazia mais de uma semana e ele continuava insistindo em não tomar os remédios e muito menos aceitava a aplicação da injeção.- Não doí porque não é com você- Acredite, eu já tomei diversas vacinas e tirei mais sangue do que pode imaginar – me aproximo da cadeira, mas ele se afasta de novo – Vince!- Não vou tomar e pronto – ele faz uma careta e coloca a mão em torno dos olhos – Estou até me sentindo meio tonto, isso é culpa sua- Se você me deixasse aplicar a injeção não estaria passando mal- Uma ova que nãoSuspiro cansada e olho ao redor do quarto, ainda com a injeção na mão eu olho para Vince de novo e tenh
“Eu nem te conheço, mas sinto que te entendo. Sinto que você me entende. E é disso que eu mais gosto nessa história."Sorrio com essa frase e animada passo a página, me aconchego ainda mais na cama e leio os diálogos seguintes.Parece que estou a horas trancada aqui dentro do quarto e talvez seja porque quando Íris entra no meu quarto eu pulo cinco centímetros na cama antes de olhar para cima assustada.- Caramba, não te ensinaram a bater não?- Na verdade não – ela responde e eu bufo antes de voltar a olhar para o livro em minhas mãos – O que vai fazer daqui a digamos, uma hora e meia?- O mesmo que eu estou fazendo agora- Que bom, então vamos- Seja lá para onde, a resposta é não- Vamos para a aula de yoga- Nem pensar – eu falo rindo ainda concentrada no livro – Estou
Com Vince tirando o cochilo de tarde eu acabei sem ter muito o que fazer já que na última semana eu conseguir organizar todos os remédios e gerenciar cada um deles, etiquetando e separando por horários.Desço as escadas silenciosamente e ando pelo corredor somente parando para conversar com Sarah – aquela mulher que me atendeu pela primeira vez – ela acabou sendo minha acompanhante aqui na mansão, a não ser quando precisavam da ajuda dela na cozinha.- Passou mais a dor de cabeça? – eu pergunto caminhando com ela ao lado- Sim, aquele chá de camomila e gengibre foi perfeito- Viu? Eu disse que não era ruim- Não, o gosto era ruim mesmo – ela diz e eu sorrio passando por uma faxineira - Mas melhorou, então obrigada- Não há de que – olho ao redor da sala e pisco pensando no que eu posso fazer – Quer ajuda em al
- O que aconteceu com o seu rosto? – Agatha pergunta olhando para Sky e eu tento não pensar muito sobre o que ela acabou de jogar na minha cara.Neto deleHa ha haO destino era realmente muito engraçado. Talvez ele fosse um palhaço na outra vida ou sei lá- Um livro caiu em meu rosto – ele fala e eu pisco lentamente em sua direção, tentando me reconectar ao presente- Um livro fez isso?- Foi uma edição de Senhor dos Anéis – eu ajudo e Agatha faz um som compreendendo a situação, enquanto isso estou sendo fuzilada pelo o olhar de Sky.- Deveria deixar que Katherine olhasse esse machucado- Não, obrigada- Mas está meio vermelho – Agatha reforça e eu quase finjo um mal estar para sair dali. Mas ela é mais rápida – Katherine você poderia?NãoDe jeito nenhu
- Está brincando comigo – Íris começa a rir alto e eu reviro os olhos.Irmãs não deviam se ajudar de vez em quando?A minha deve ter vindo estragada, só pode- De todas as pessoas do mundo......- ela fala e ri ainda mais, jogo um travesseiro nela e ela para de rir por uns instantes para jogar de volta.- Você sabe que a culpa é sua, não é?- Minha?- Sim, você que me fez fazer aquele desafio idiota- Foi genial na verdade – ela diz e coloca mais uma garfada de macarrão na boca mastigando antes de continuar – O que ele disse quando você falou o que era o desafio?- Acho que ele ficou bem chateadoEnrolo um fio de macarrão e o coloco na boca suspirando.- Será que vou ser demitida?- Claro que não – ela fala e me acotovela de leve – Ele não pode te demitir por voc&e
Bocejo de novo e ouço um estalar alto na minha mandíbulaPorcariaTalvez eu tenha quebrado um osso. Coloco o regador mais perto de uma roseira e derramo um pouco de água na terra tentando impedir mais um bocejo.Eu não deveria ter passado a madrugada lendo, foi um erro. Mesmo que o livro tenha sido maravilhoso e que o final tenha me feito chorar que nem uma condenada.Mas do que isso adiantava se eu não conseguia nem regar algumas flores sem conseguir impedir um bocejo? Me levanto e vou para outra roseira, uma de flores coloridas e que exalavam um cheiro tão doce quanto o ar ali de fora.Depois de meia hora consigo terminar e vou direto para o deposito, colocando o regador e as luvas que eu acabei não usando. Sigo em direção a cozinha e sorrio quando vejo Marina terminando de lavar a louça do almoço.- Olá Marina- Hey, terminou?- Sim, estou pe
Uns travesseirosSim, era isso que eu colocaria aqui na biblioteca.... Se ela fosse minha é claro.Me ajeito de novo no chão e apoio o livro na minha coxa descansando as mãos de lado. Passo para outra página e sorrio quando vejo um mapa desenhado a mão.Livros criativosAmeiMe apoio na estante e leio a página antes que com o canto do olho eu perceba um breve movimento perto da porta. Me endireito e olho desconfiada para Sky.- Fiquei imaginando quanto tempo você demoraria para perceber - Perceber que tem um espião em minha cola?- Espião? – ele pergunta e se aproxima- Tanto faz – eu falo e olho de novo para o livro – Posso ajudar em algo?- Na verdade nãoOlho de lado e vejo que agora ele está bem ao meu lado, pigarreio baixinho e viro uma página sem nem mesmo ter lido.- Porque você es
- A vizinha está cozinhando peixe de novo – eu falo abrindo a porta do apartamento e vejo quando Íris corre para a mesinha pegando uma vela aromática.Tiro a chave da porta e me viro para fechar ela quando olho para baixo e tomo um susto gritando um pouco, fazendo com que Íris pule um centímetro do outro lado.- Caceta, esse cachorro ainda vai me matar – eu falo ainda ofegante e Íris se aproxima olhando para o cachorro meio morto, meio vivo- Eu acho realmente que deveriam levar ele no veterinário – Íris fala e se abaixa acariciando o pelo grosso do cachorro silencioso.Credo, ele nem ao menos pisca- Você quer comer alguma coisa camarada? – eu falo e ele vira a cabeça para mim, inclinando a cabeça – Ou quer algum remédio?- Kathy!- É sério, tadinho dele Íris – ajeito a bolsa em meu ombro e fa&cc