— O que você vai comer? — Ryuu perguntou em voz baixa, inclinando-se ligeiramente para mim, seu braço se estendendo por trás da minha cadeira. A proximidade era palpável; se eu me movesse apenas um pouco para a esquerda, nossas coxas se tocariam.
Tentei não deixar transparecer o desconforto, enquanto corria os olhos pelo cardápio, ignorando deliberadamente o calor que vinha de sua presença.
— Qualquer salada serve — respondi, fechando o cardápio e deslizando-o para o centro da mesa. Logo, Ryuu fez um sinal discreto para a garçonete, a mesma jovem de antes, que voltou à nossa mesa com os nervos evidentes em cada passo hesitante.
Ryuu pediu rapidamente, incluindo acompanhamentos extras, sem tirar os olhos de
— Você me trouxe de volta ao Espósito's — sussurrei, observando os portões de metal à frente. As luzes na mansão eram escassas, o que me fez supor que a maioria já estivesse dormindo. A propriedade de Espósito era tão vasta que seus funcionários viviam ali mesmo.O motor do carro foi desligado, e eu me virei para Ryuu. Notei sua mão tensa no volante, os dedos firmemente curvados, como se apenas o ato de me trazer até aqui tivesse sido uma batalha interna.— Não quis ser presunçoso — disse ele, a voz quase fria.— Obrigada — murmurei, hesitante. Minha mão pairou sobre a maçaneta da porta. — Eu… convidaria você para entrar, mas…— Entendo — cortou Ryuu, com uma respiração profunda, os olhos fixos em mim. E eu simplesmente não conseguia desviar o olhar.O espaço dentro do carro parecia encolher, sufocado pela presença dele, que dominava o ambiente de um jeito que me fazia sentir pequena. Eu deveria sair, mas algo me prendia ali. Talvez fosse o silêncio. Ou o fato de que Ryuu mal havia fa
&Ryuu& Os olhos de Nitta queimavam ao meu lado. Eu podia sentir o julgamento do meu irmão, cada centímetro da sua postura rígida gritando reprovação. Ele estava ombro a ombro comigo, os braços cruzados sobre o peito, mas a cabeça virada bruscamente em minha direção.— Então é por isso que você não trouxe ela pra casa — disse ele, sem qualquer sombra de dúvida na voz. Seu tom não admitia perguntas, só condenação.Trinquei os dentes, mas mantive a voz firme, seca. — Houve muitos motivos, Nitta. Mas, sim, isso foi parte. Você viu o que aconteceu quando ela foi exposta ao nosso mundo. Não vou deixar isso acontecer de novo.Minha garganta apertou, mesmo que eu tentasse esconder. Era uma verdade amarga. Mesmo que eu não conseguisse mantê-la longe de mim por muito tempo, Beatrice só voltaria quando eu tivesse limpado o caminho. Limpo de verdade.Os homens começaram a entrar pela mansão, atravessando as portas duplas como se fossem donos do lugar. Cada um deles, agora, me parecia um estranh
Mena puxou uma cadeira para mim na ilha da cozinha, como sempre atenciosa, e me serviu um copo de água. Seu italiano fluía animado, comentando como a casa parecia estranhamente vazia sem mim. Eu bebia devagar, deixando o frescor do líquido acalmar minha garganta seca. A cada gole, ela perguntava, com sua habitual familiaridade, se eu estava de volta para ficar.— Não — murmurei, sem a encarar, o peso da minha resposta preenchendo o silêncio que se seguiu. Não havia necessidade de explicar por que eu não estava mais morando aqui, e Mena, com sua sabedoria discreta, entendeu o recado e não insistiu.Enquanto ela cortava frutas e preparava algo no balcão, uma pergunta me veio à mente.— Para quem é a comida? — Minha voz saiu baixa, um tanto rouca, ainda me sentindo perdida naquele ambiente que um dia chamei de lar.— Para Nitta. Está de cama, parece doente.A informação me surpreendeu, mas não por muito tempo. Saber que um dos Morunaga ainda estava ali não mudaria muito meus planos. Mesm
— Ele ainda está aqui?Minha voz saiu mais apressada do que eu pretendia. Mateo era a chave. O único que parecia conhecer a fundo o passado que ligava minha família, talvez até mais do que Ryuu. Era com ele que eu precisava falar.Nitta balançou a cabeça, e o gesto foi suficiente para encerrar nossa conversa. Ele se levantou sem dizer mais nada, e eu me limitei a desviar o olhar, focando na mesa de vidro ao meu lado como um adeus silencioso.Como pude conhecer Mateo apenas ontem e, de repente, descobrir que ele tem ligações com todas as pessoas importantes da minha vida? O pensamento me corroía por dentro. Se eu ainda não tivesse decidido quebrar o silêncio com meus primos, agora seria o momento.Eu precisava falar com Bion, meu primo mais velho. Havíamos acumulado muito para discutir, e eu sabia que isso não poderia ser resolvido com uma simples ligação. Uma viagem à Itália era inevitável. Eu sabia que Ryuu não aprovaria, mas, no momento, ele não tinha muito poder para me impedir. De
Mordi o lábio, tentando organizar meus pensamentos. Como eu poderia expressar o que sentia de forma clara, sem me perder nas palavras?— O que mais? — Ryuu me incentivou, percebendo minha hesitação.— Você perguntou ao Mateo sobre minha mãe e Suniza?A expressão de Ryuu endureceu de imediato, e eu me senti compelida a continuar:— Sei que nada vai mudar o passado, mas… ela era minha mãe. E eu já fui enganada demais sobre isso. Eu mereço saber a verdade.Esse assunto me corroía por dentro. Após descobrir o engano do meu pai, eu precisava entender tudo o que pudesse sobre minha mãe. A imagem dela era um pilar para mim, e a ideia de mais mentiras manchando essa memória me doía profundamente.— Perguntei, sim. — Ele suspirou, pesando as palavras. — Sua mãe sabia do caso do seu pai. Enquanto acontecia. Suniza a provocava, mandando bilhetes e fazendo ligações. Não me surpreende, ela sempre foi egoísta e mesquinha. Se não tivesse engravidado de Fukui, meu pai nunca teria se casado com ela.M
&Ryuu&Eu estava acordado, deitado na cama com o braço dobrado atrás da cabeça, esperando Beatrice voltar. O quarto estava mergulhado no silêncio, exceto pelos meus pensamentos. Não ouvi quando ela saiu, mas notei sua ausência logo que acordei. Tenho o sono leve, algo que a vida me ensinou a ter, então qualquer movimento dela não passa despercebido. Eu só não sabia para onde ela tinha ido, e, honestamente, esperava que não tivesse fugido da mansão de novo.Não vou atrás dela desta vez, não quando sei que no Vincenzo ela está segura. Mas, droga, mexeria com meu orgulho se ela tivesse me deixado de novo. Se minha mulher precisasse escapar de mim duas vezes no meio da noite, o problema seria comigo, e isso é inaceitável. Uma vez já foi humilhante o bastante.Felizmente, ela não demorou. Eu mal tinha começado a me perder em pensamentos quando ouvi o leve clique da porta. Os passos suaves no assoalho confirmaram sua chegada. Beatrice atravessou o quarto até o lado da cama, e senti o colchã
— Fukui, querido — Suniza me recebeu com um beijo firme na bochecha e um abraço que quase sufocou o ar dos meus pulmões. Por cima do ombro dele, vi seus olhos pousarem sobre mim com uma careta sutil ao notar meu jeans e camiseta. Ela, claro, estava impecável em um vestido de gola alta, sempre altiva e exagerada. — Vejo que trouxe alguém… inesperado.Seu sorriso sarcástico deixava claro que Fukui não havia mencionado todos os detalhes do encontro. Se tivesse, com certeza eu não estaria aqui agora.Fukui se afastou da mãe, suspirando pesadamente enquanto a segurava pelos ombros.— Você conhece Beatrice, mãe. Beatrice Carbone Morunaga. — O nome soou como uma formalidade pesada, como se Fukui tentasse lembrar Suniza que eu, queira ela ou não, era a esposa de Ryuu.— Ah, claro… — Suniza cantarolou, com um toque de desdém na voz, permitindo-me entrar na suíte com uma expressão mal disfarçada de repulsa. Olhei ao redor. Eu esperava um quarto modesto, talvez com um banheiro anexo. Quanta ing
— Como foi? — A voz de Ryuu me pegou de surpresa assim que pisei no foyer.Pisquei algumas vezes, cansada demais para processar sua presença tão cedo. Esperava encontrá-lo mergulhado no trabalho, não aqui, me esperando. A conversa com Suniza, apesar de curta, havia drenado minhas energias. E agora, Ryuu estava diante de mim, seus olhos avaliando cada mínimo detalhe.Ele parecia calmo, mas havia algo tenso em seu tom, uma rigidez em seus ombros que me fez perceber que ele sabia exatamente onde eu estivera. Talvez Fukui tivesse contado. — Foi tão… produtivo quanto você provavelmente imaginava — respondi, cautelosa. Sabia que ele não queria que eu me aproximasse de Suniza, e desobedeci. Uma parte de mim já se preparava para o sermão que, há algumas semanas, seria inevitável.Ryuu avançou até ficar bem diante de mim.— Está satisfeita? — A pergunta veio carregada de algo mais. Seu olhar não se desviava.Fukui passou por nós em silêncio, com o rosto fechado, caminhando direto para a cozin