Coloquei o cardigã grosso sobre os ombros, tentando afastar o frio que parecia se instalar dentro de mim. Horas haviam se passado desde que Ryuu e os outros saíram, e a ansiedade, ao invés de diminuir, apenas aumentava, latejando sob minha pele. A ideia de uma xícara de chá quente era a única coisa que me mantinha de pé. Nem o cansaço conseguia sobrepor-se à inquietação que tomava conta do meu corpo. Ryuu permanecia em minha mente, sua presença tangível apesar de não estar mais ali. A lembrança da conversa que tivemos, tão íntima, não me deixava em paz. Sozinha naquela mansão silenciosa, apenas os guardas continuavam a vigiar as sombras, invisíveis. A casa estava mergulhada na escuridão, mas eu não me incomodei em acender as luzes. Sabia o caminho de cor. A fraca luminosidade da tela do meu celular era suficiente para me guiar até a cozinha. Tudo o que eu queria era pegar minha xícara de chá de camomila e voltar para a cama, tentando — inutilmente, talvez — encontrar algum descanso.
&Ryuu&O horror me golpeou com força no momento em que vi o corpo de Beatrice, amassado no chão, encharcado de sangue. O corredor parecia uma cena de massacre, e eu não conseguia discernir quanto daquele sangue era dela. Meu peito apertou, e uma sensação de impotência tomou conta de mim. Ela não estava bem. Nem de longe.Eu sabia que precisava agir rápido, mas meus braços, ao redor dela, recusavam-se a soltá-la. Ela ainda tremia, chorando baixinho contra meu peito, os soluços ecoando na minha alma. Há quanto tempo ela estava ali, assim? Sentada no meio daquela sujeira, no próprio sangue… lutando pela vida? A pergunta me corroía. E eu odiava não ter estado aqui para protegê-la. Nunca mais. Eu nunca a deixaria sozinha novamente. Não depois disso. Não depois de quase perder a vida. Todo medo que eu já tive sobre sua segurança agora se confirmava brutalmente diante de mim. Olhei para o corpo estendido no chão — o desgraçado que ousou tocar na minha esposa. Não importava quem ele era. Eu
O som da água batendo suavemente contra as laterais da banheira ecoava pelo banheiro, abafando o silêncio que insistia em se instalar entre nós. Minhas mãos se moviam mecanicamente pela superfície da água, sem pensar, apenas tentando me distrair da tensão sufocante que preenchia o ar. Olhei para a direita, observando Ryuu. Ele estava virado na minha direção, mas seus olhos pareciam perdidos, fixos em algum ponto acima de mim, mergulhados em pensamentos distantes.— Você não precisa ficar aqui — murmurei, a voz fraca, quase inaudível. No entanto, naquele silêncio compartilhado, minhas palavras pareciam cortar o ar e o tiraram de seus devaneios. Não queria ficar sozinha, na verdade, isso me apavorava. Mas sua presença, tão terna e constante, me deixava inquieta. Eu já conhecia seu lado cuidadoso, embora soubesse que era raro e passageiro. Ainda assim, toda essa atenção mexia comigo, me fazia questionar se ele poderia ser, de fato, o homem afetuoso que eu tanto ansiava. Um homem em quem
— Como você está se sentindo? — A voz de Ryuu soou suave, quase um murmúrio, enquanto ele envolvia cuidadosamente minha mão com a gaze. O toque era firme o suficiente para proteger, mas delicado para não causar mais dor. Quando terminou de amarrar as pontas, ele não soltou. Pelo contrário, seu polegar acariciou minha palma com um toque leve, quase hesitante.Eu queria responder, mas as palavras não vinham. Apenas balancei a cabeça de leve, meus olhos se fixando no meu colo. Senti a umidade começar a se acumular neles, e por mais que tentasse segurar as lágrimas, elas estavam ali, à beira de cair. Ele percebeu. Com um gesto calmo, segurou meu rosto, seus dedos tocando de leve minha mandíbula, e me fez encará-lo.— Isso não vai acontecer de novo, Beatrice. Eu prometo — disse, com uma seriedade que quase me sufocava. Ele estava tão perto que parecia ocupar todo o ar ao meu redor. Suspirei, tentando afastar aquela pressão invisível.— Não faça promessas que você não pode cumprir, Ryuu. Te
Apesar de todo o cuidado de Ryuu na noite anterior e da maneira evidente com que demonstrava sua preocupação pela manhã, ele não me acompanhou ao consultório do Dr. Takagi. Em vez disso, fiquei sob a guarda de Fukui e Nitta, que, com os poucos guardas que restavam, foram encarregados de garantir minha segurança. Não era exatamente uma surpresa. Imaginei que Ryuu estivesse ocupado tentando desvendar o motivo do ataque, então não podia culpá-lo por estar ausente. Mesmo assim, não pude evitar sentir sua falta.— Vamos lá, Bea — Nitta sorriu, passando um braço despreocupado pelos meus ombros enquanto nos acomodávamos no banco traseiro do carro. — Anime-se. Não é porque o irmão chato não está aqui que você vai ficar abatida. — Ele piscou, ignorando o suspiro exasperado de Fukui ao nosso lado.— Eu estava gostando da paz enquanto você estava fora — Fukui murmurou, cruzando os braços com um olhar azedo.— Caramba, Fukui, continua o mesmo rabugento de sempre — Nitta bufou, rindo.— E Ryuu con
Eu estava inquieto, andando pela sala como uma fera enjaulada, esperando o som da porta. Quando finalmente ouvi a fechadura girar, me levantei de imediato, ignorando qualquer saudação. Só uma pergunta me escapou: onde estava Beatrice?Ela mesma respondeu antes que alguém pudesse falar, sua voz cansada me garantindo que estava bem. Disse que precisaria de alguns dias de repouso, recomendação do médico, e que estava exausta. Foi direto para o quarto sem me dar a chance de aprofundar o assunto. Notei o desconforto em seu olhar, o jeito como evitava me encarar. Alguma coisa estava errada.Meu irmão confirmou as palavras dela — o médico havia tirado algumas amostras de sangue para exames de rotina, como eu pedira. Mas, ainda assim, não consegui afastar a sensação de que algo mais estava acontecendo. Ela parecia… distante. Ansiosa, talvez. Já era tarde da noite e Beatrice não saíra do quarto desde que chegara. Mena havia sido enviada para checá-la várias vezes, e a resposta era sempre a me
Acordei naquela manhã sentindo o peso de uma angústia familiar. Ao meu lado, Ryuu trabalhava em silêncio, a tela do computador refletindo em seu rosto uma calma que eu não conseguia partilhar. Não trocamos palavras. Não consegui sequer encará-lo direito quando saí do banho, vestida, pronta para enfrentá-lo — ou, ao menos, evitá-lo pelo resto do dia. A ironia dessa situação não me escapou. Nosso casamento havia sido marcado por um afastamento mútuo, ele me evitando a todo custo, e agora, era eu quem se esquivava. Uma reviravolta amarga, mas necessária. Não conseguiria estar na companhia dele até descobrir a verdade, até confirmar que Ryuu não estava envolvido na teia de mentiras que envolvia minha mãe.As fotos que encontrei… Minha mãe não havia morrido no hospital logo após meu nascimento, como me contaram. Não. Ela morreu aqui, na mansão Morunaga. O peso dessa revelação me puxava para um abismo de desconfiança. Eu precisava de respostas — e sabia onde encontrá-las.Ao descer, me dep
— Meu lugar? — A raiva brotou em minha voz, atravessando o ambiente como uma lâmina afiada. — Sei exatamente qual é o meu lugar. Achei que você também soubesse, como pai!Senti o calor subir até meu rosto, mas não me importava. A fúria me queimava por dentro, e eu não conseguia controlar.— Sei que você roubou dos Morunaga. Sei que me vendeu para salvar a própria pele. E eu sei que mamãe morreu naquela m*****a mansão!Ele sequer conseguiu sustentar o meu olhar. Era patético. Eu me inclinei sobre a mesa, aproximando meu rosto do dele, forçando-o a me encarar. Não havia mais para onde fugir. Eu não sairia dali sem a verdade.— Você não pode esconder a verdade para sempre — continuei, minha voz baixa, carregada de ameaça. — Prefere que eu ouça de Ryuu? — Meu tom era quase um sussurro, mas o peso das palavras era inegável.Ele ficou imóvel, a tensão evidente em cada linha de seu corpo. Por fim, resmungou, derrotado:— O que você quer saber?— Não me trate como idiota! — rosnei, interrompen