O som da água batendo suavemente contra as laterais da banheira ecoava pelo banheiro, abafando o silêncio que insistia em se instalar entre nós. Minhas mãos se moviam mecanicamente pela superfície da água, sem pensar, apenas tentando me distrair da tensão sufocante que preenchia o ar. Olhei para a direita, observando Ryuu. Ele estava virado na minha direção, mas seus olhos pareciam perdidos, fixos em algum ponto acima de mim, mergulhados em pensamentos distantes.— Você não precisa ficar aqui — murmurei, a voz fraca, quase inaudível. No entanto, naquele silêncio compartilhado, minhas palavras pareciam cortar o ar e o tiraram de seus devaneios. Não queria ficar sozinha, na verdade, isso me apavorava. Mas sua presença, tão terna e constante, me deixava inquieta. Eu já conhecia seu lado cuidadoso, embora soubesse que era raro e passageiro. Ainda assim, toda essa atenção mexia comigo, me fazia questionar se ele poderia ser, de fato, o homem afetuoso que eu tanto ansiava. Um homem em quem
— Como você está se sentindo? — A voz de Ryuu soou suave, quase um murmúrio, enquanto ele envolvia cuidadosamente minha mão com a gaze. O toque era firme o suficiente para proteger, mas delicado para não causar mais dor. Quando terminou de amarrar as pontas, ele não soltou. Pelo contrário, seu polegar acariciou minha palma com um toque leve, quase hesitante.Eu queria responder, mas as palavras não vinham. Apenas balancei a cabeça de leve, meus olhos se fixando no meu colo. Senti a umidade começar a se acumular neles, e por mais que tentasse segurar as lágrimas, elas estavam ali, à beira de cair. Ele percebeu. Com um gesto calmo, segurou meu rosto, seus dedos tocando de leve minha mandíbula, e me fez encará-lo.— Isso não vai acontecer de novo, Beatrice. Eu prometo — disse, com uma seriedade que quase me sufocava. Ele estava tão perto que parecia ocupar todo o ar ao meu redor. Suspirei, tentando afastar aquela pressão invisível.— Não faça promessas que você não pode cumprir, Ryuu. Te
Apesar de todo o cuidado de Ryuu na noite anterior e da maneira evidente com que demonstrava sua preocupação pela manhã, ele não me acompanhou ao consultório do Dr. Takagi. Em vez disso, fiquei sob a guarda de Fukui e Nitta, que, com os poucos guardas que restavam, foram encarregados de garantir minha segurança. Não era exatamente uma surpresa. Imaginei que Ryuu estivesse ocupado tentando desvendar o motivo do ataque, então não podia culpá-lo por estar ausente. Mesmo assim, não pude evitar sentir sua falta.— Vamos lá, Bea — Nitta sorriu, passando um braço despreocupado pelos meus ombros enquanto nos acomodávamos no banco traseiro do carro. — Anime-se. Não é porque o irmão chato não está aqui que você vai ficar abatida. — Ele piscou, ignorando o suspiro exasperado de Fukui ao nosso lado.— Eu estava gostando da paz enquanto você estava fora — Fukui murmurou, cruzando os braços com um olhar azedo.— Caramba, Fukui, continua o mesmo rabugento de sempre — Nitta bufou, rindo.— E Ryuu con
Eu estava inquieto, andando pela sala como uma fera enjaulada, esperando o som da porta. Quando finalmente ouvi a fechadura girar, me levantei de imediato, ignorando qualquer saudação. Só uma pergunta me escapou: onde estava Beatrice?Ela mesma respondeu antes que alguém pudesse falar, sua voz cansada me garantindo que estava bem. Disse que precisaria de alguns dias de repouso, recomendação do médico, e que estava exausta. Foi direto para o quarto sem me dar a chance de aprofundar o assunto. Notei o desconforto em seu olhar, o jeito como evitava me encarar. Alguma coisa estava errada.Meu irmão confirmou as palavras dela — o médico havia tirado algumas amostras de sangue para exames de rotina, como eu pedira. Mas, ainda assim, não consegui afastar a sensação de que algo mais estava acontecendo. Ela parecia… distante. Ansiosa, talvez. Já era tarde da noite e Beatrice não saíra do quarto desde que chegara. Mena havia sido enviada para checá-la várias vezes, e a resposta era sempre a me
Acordei naquela manhã sentindo o peso de uma angústia familiar. Ao meu lado, Ryuu trabalhava em silêncio, a tela do computador refletindo em seu rosto uma calma que eu não conseguia partilhar. Não trocamos palavras. Não consegui sequer encará-lo direito quando saí do banho, vestida, pronta para enfrentá-lo — ou, ao menos, evitá-lo pelo resto do dia. A ironia dessa situação não me escapou. Nosso casamento havia sido marcado por um afastamento mútuo, ele me evitando a todo custo, e agora, era eu quem se esquivava. Uma reviravolta amarga, mas necessária. Não conseguiria estar na companhia dele até descobrir a verdade, até confirmar que Ryuu não estava envolvido na teia de mentiras que envolvia minha mãe.As fotos que encontrei… Minha mãe não havia morrido no hospital logo após meu nascimento, como me contaram. Não. Ela morreu aqui, na mansão Morunaga. O peso dessa revelação me puxava para um abismo de desconfiança. Eu precisava de respostas — e sabia onde encontrá-las.Ao descer, me dep
— Meu lugar? — A raiva brotou em minha voz, atravessando o ambiente como uma lâmina afiada. — Sei exatamente qual é o meu lugar. Achei que você também soubesse, como pai!Senti o calor subir até meu rosto, mas não me importava. A fúria me queimava por dentro, e eu não conseguia controlar.— Sei que você roubou dos Morunaga. Sei que me vendeu para salvar a própria pele. E eu sei que mamãe morreu naquela m*****a mansão!Ele sequer conseguiu sustentar o meu olhar. Era patético. Eu me inclinei sobre a mesa, aproximando meu rosto do dele, forçando-o a me encarar. Não havia mais para onde fugir. Eu não sairia dali sem a verdade.— Você não pode esconder a verdade para sempre — continuei, minha voz baixa, carregada de ameaça. — Prefere que eu ouça de Ryuu? — Meu tom era quase um sussurro, mas o peso das palavras era inegável.Ele ficou imóvel, a tensão evidente em cada linha de seu corpo. Por fim, resmungou, derrotado:— O que você quer saber?— Não me trate como idiota! — rosnei, interrompen
Sentada rigidamente na poltrona de couro, no salão da mansão Morunaga, senti o peso do silêncio ao meu redor. Os irmãos Morunaga estavam ali, todos. Menos Dario. Desde o ataque, eu não o via, e só agora percebia o quão ausente ele estava. Pedi a Ryuu que o mantivesse seguro, especialmente com seus planos para Gojou, e ele havia prometido. Mas Dario não voltou com ele. Nenhuma palavra. Nenhum sinal.Tentei, desesperadamente, acreditar que Ryuu não teria mentido tão descaradamente. Porém, depois de tudo o que descobri sobre a morte de minha mãe e da maneira como Ryuu fingiu ignorância sobre isso, a dúvida corroía minha confiança.Eu não queria estar aqui com todos eles esta noite. Quando me seguiram até o quarto, aquilo pareceu… estranho. Ryuu se acomodou ao meu lado, puxando um banquinho acolchoado e segurando um copo de bebida. Ele relaxava, enquanto os outros faziam o mesmo. Fukui no sofá, com seu olhar sempre frio, e Nitta, descontraído no chão, suas pernas longas estendidas, apoian
— Você está horrível — disse Sophia, sem meias palavras, os olhos fixos em mim, carregados de preocupação. — Problemas com Ryuu?Deixei escapar um suspiro antes de me acomodar no pequeno café onde a encontrei. Meus dedos ansiosos já procuravam consolo na caneca de chá quente à minha frente. Olhei para o céu, irritada.— Odeio que ele seja sempre o primeiro assunto. — As palavras saíram mais duras do que eu pretendia.Era sempre assim. Ryuu e o irmão Morunaga dominavam nossas conversas. Embora não fosse tudo de que falávamos, a menção de Ryuu agora fazia meu corpo se remexer desconfortavelmente na cadeira.— Certo… — Sophia inclinou a cabeça levemente, como se tentasse decifrar meus sentimentos. — Sobre o que você quer falar, então?Forcei um sorriso, mesmo sabendo que ela percebia a tensão. — Como estão indo suas aulas? — perguntei, buscando qualquer outro assunto que não fosse ele. O rosto de Sophia se fechou instantaneamente, e eu soube que havia tocado num ponto sensível.— Não me