Eu estava inquieto, andando pela sala como uma fera enjaulada, esperando o som da porta. Quando finalmente ouvi a fechadura girar, me levantei de imediato, ignorando qualquer saudação. Só uma pergunta me escapou: onde estava Beatrice?Ela mesma respondeu antes que alguém pudesse falar, sua voz cansada me garantindo que estava bem. Disse que precisaria de alguns dias de repouso, recomendação do médico, e que estava exausta. Foi direto para o quarto sem me dar a chance de aprofundar o assunto. Notei o desconforto em seu olhar, o jeito como evitava me encarar. Alguma coisa estava errada.Meu irmão confirmou as palavras dela — o médico havia tirado algumas amostras de sangue para exames de rotina, como eu pedira. Mas, ainda assim, não consegui afastar a sensação de que algo mais estava acontecendo. Ela parecia… distante. Ansiosa, talvez. Já era tarde da noite e Beatrice não saíra do quarto desde que chegara. Mena havia sido enviada para checá-la várias vezes, e a resposta era sempre a me
Acordei naquela manhã sentindo o peso de uma angústia familiar. Ao meu lado, Ryuu trabalhava em silêncio, a tela do computador refletindo em seu rosto uma calma que eu não conseguia partilhar. Não trocamos palavras. Não consegui sequer encará-lo direito quando saí do banho, vestida, pronta para enfrentá-lo — ou, ao menos, evitá-lo pelo resto do dia. A ironia dessa situação não me escapou. Nosso casamento havia sido marcado por um afastamento mútuo, ele me evitando a todo custo, e agora, era eu quem se esquivava. Uma reviravolta amarga, mas necessária. Não conseguiria estar na companhia dele até descobrir a verdade, até confirmar que Ryuu não estava envolvido na teia de mentiras que envolvia minha mãe.As fotos que encontrei… Minha mãe não havia morrido no hospital logo após meu nascimento, como me contaram. Não. Ela morreu aqui, na mansão Morunaga. O peso dessa revelação me puxava para um abismo de desconfiança. Eu precisava de respostas — e sabia onde encontrá-las.Ao descer, me dep
— Meu lugar? — A raiva brotou em minha voz, atravessando o ambiente como uma lâmina afiada. — Sei exatamente qual é o meu lugar. Achei que você também soubesse, como pai!Senti o calor subir até meu rosto, mas não me importava. A fúria me queimava por dentro, e eu não conseguia controlar.— Sei que você roubou dos Morunaga. Sei que me vendeu para salvar a própria pele. E eu sei que mamãe morreu naquela m*****a mansão!Ele sequer conseguiu sustentar o meu olhar. Era patético. Eu me inclinei sobre a mesa, aproximando meu rosto do dele, forçando-o a me encarar. Não havia mais para onde fugir. Eu não sairia dali sem a verdade.— Você não pode esconder a verdade para sempre — continuei, minha voz baixa, carregada de ameaça. — Prefere que eu ouça de Ryuu? — Meu tom era quase um sussurro, mas o peso das palavras era inegável.Ele ficou imóvel, a tensão evidente em cada linha de seu corpo. Por fim, resmungou, derrotado:— O que você quer saber?— Não me trate como idiota! — rosnei, interrompen
Sentada rigidamente na poltrona de couro, no salão da mansão Morunaga, senti o peso do silêncio ao meu redor. Os irmãos Morunaga estavam ali, todos. Menos Dario. Desde o ataque, eu não o via, e só agora percebia o quão ausente ele estava. Pedi a Ryuu que o mantivesse seguro, especialmente com seus planos para Gojou, e ele havia prometido. Mas Dario não voltou com ele. Nenhuma palavra. Nenhum sinal.Tentei, desesperadamente, acreditar que Ryuu não teria mentido tão descaradamente. Porém, depois de tudo o que descobri sobre a morte de minha mãe e da maneira como Ryuu fingiu ignorância sobre isso, a dúvida corroía minha confiança.Eu não queria estar aqui com todos eles esta noite. Quando me seguiram até o quarto, aquilo pareceu… estranho. Ryuu se acomodou ao meu lado, puxando um banquinho acolchoado e segurando um copo de bebida. Ele relaxava, enquanto os outros faziam o mesmo. Fukui no sofá, com seu olhar sempre frio, e Nitta, descontraído no chão, suas pernas longas estendidas, apoian
— Você está horrível — disse Sophia, sem meias palavras, os olhos fixos em mim, carregados de preocupação. — Problemas com Ryuu?Deixei escapar um suspiro antes de me acomodar no pequeno café onde a encontrei. Meus dedos ansiosos já procuravam consolo na caneca de chá quente à minha frente. Olhei para o céu, irritada.— Odeio que ele seja sempre o primeiro assunto. — As palavras saíram mais duras do que eu pretendia.Era sempre assim. Ryuu e o irmão Morunaga dominavam nossas conversas. Embora não fosse tudo de que falávamos, a menção de Ryuu agora fazia meu corpo se remexer desconfortavelmente na cadeira.— Certo… — Sophia inclinou a cabeça levemente, como se tentasse decifrar meus sentimentos. — Sobre o que você quer falar, então?Forcei um sorriso, mesmo sabendo que ela percebia a tensão. — Como estão indo suas aulas? — perguntei, buscando qualquer outro assunto que não fosse ele. O rosto de Sophia se fechou instantaneamente, e eu soube que havia tocado num ponto sensível.— Não me
&Ryuu&O peso da fotografia em minhas mãos parecia dobrar meu pulso. Aquela imagem… como Giacomo ousou? A raiva queimava nas profundezas do meu peito, ameaçando explodir a qualquer segundo. Soltei um rosnado, sentindo o sangue ferver enquanto girava para encarar meus irmãos.— Vou matar aquele desgraçado! — Minha voz saiu mais sombria do que eu esperava, mas não me importei. — Como ele ousa provocá-la desse jeito?Não era apenas uma provocação. Era uma tentativa clara de destruição. Giacomo não tinha escrúpulos, não se importava nem um pouco com o que isso faria à filha. Ele queria ferir, queria cortar fundo, e, de alguma forma, eu tinha permitido que isso acontecesse. Uma parte de mim se odiava por não ter acabado com ele naquela primeira oportunidade, no dia em que ele trouxe lágrimas aos olhos de Beatrice. Agora, ela estava lá fora, com Nitta e os guardas, provavelmente desprezando cada decisão que fiz. Horrorizada comigo.O silêncio sobre a morte da mãe dela sempre esteve lá, uma
A expressão de Espósito permaneceu inalterada diante da minha resposta evasiva. Ele apenas assentiu, antes de se recostar no assento e desviar o olhar para a janela ao seu lado, como se estivesse me oferecendo uma espécie de privacidade silenciosa. A tensão no carro era palpável, mas ele sabia exatamente quando se retirar de cena, deixando-me sozinha com meus pensamentos.Sophia pigarreou, atraindo minha atenção. Ela parecia hesitante, mas sua voz trouxe um alívio contido:— Achei que seria melhor ficarmos no mesmo quarto esta noite. Se você não quiser ficar sozinha, claro.Olhei para ela e senti uma pontada de esperança. Será que eu realmente poderia confiar em Sophia? Será que, finalmente, eu havia encontrado alguém que pudesse chamar de amiga? A solidão era uma presença constante na minha vida, e, naquele momento, desejei com todas as forças que Sophia fosse a pessoa em quem eu pudesse me apoiar. Mas, só o tempo diria.Chegamos à casa de Espósito já tarde da noite. O cansaço havia
— Merda!… — murmurei, pressionando o rosto contra o travesseiro, tentando, em vão, sufocar o desespero que me tomava. — O que eu fiz? Como pude esquecer o quão poderoso Ryuu é?O toque firme de Sophia em meu ombro me puxou de volta. Seus dedos me sacudiram levemente até que, finalmente, levantei os olhos, sentindo o calor das lágrimas escorrendo por meu rosto. Seu olhar era firme, uma âncora em meio à minha tempestade.— Beatrice, olhe para mim — sua voz soou mais baixa, mas carregada de segurança. — Nada de ruim vai te acontecer. Nem meu tio vai permitir isso. Nós estamos aqui por você. Eu estou aqui. — Ela apertou minha mão, o calor de seu toque me reconfortando de uma maneira que eu não esperava. — Se precisar desabafar, eu estou pronta para ouvir. Seja sobre aquela noite… ou o que quer que esteja acontecendo entre você e Ryuu. Tudo fica entre nós.As lágrimas continuavam a cair, incontroláveis. Nunca imaginei que encontraria alguém como Sophia, alguém que lutaria por mim dessa man