— Merda!… — murmurei, pressionando o rosto contra o travesseiro, tentando, em vão, sufocar o desespero que me tomava. — O que eu fiz? Como pude esquecer o quão poderoso Ryuu é?O toque firme de Sophia em meu ombro me puxou de volta. Seus dedos me sacudiram levemente até que, finalmente, levantei os olhos, sentindo o calor das lágrimas escorrendo por meu rosto. Seu olhar era firme, uma âncora em meio à minha tempestade.— Beatrice, olhe para mim — sua voz soou mais baixa, mas carregada de segurança. — Nada de ruim vai te acontecer. Nem meu tio vai permitir isso. Nós estamos aqui por você. Eu estou aqui. — Ela apertou minha mão, o calor de seu toque me reconfortando de uma maneira que eu não esperava. — Se precisar desabafar, eu estou pronta para ouvir. Seja sobre aquela noite… ou o que quer que esteja acontecendo entre você e Ryuu. Tudo fica entre nós.As lágrimas continuavam a cair, incontroláveis. Nunca imaginei que encontraria alguém como Sophia, alguém que lutaria por mim dessa man
— Não vou manter Beatrice em lugar nenhum — disse Espósito, sua voz calma, imperturbável diante da raiva de Ryuu. — Ela escolheu passar um tempo com Sophia, e eu apenas ofereci minha casa para isso.A resposta serena de Espósito só pareceu aumentar a fúria de Ryuu. Um rugido profundo escapou de sua garganta, seus olhos cravados no homem à sua frente.— Se eu não a ver no próximo minuto… — Ryuu ameaçou, com a voz carregada de um controle vacilante.— Forçá-la a voltar agora não vai resolver nada, Ryuu — insistiu Espósito. — Ela precisa de tempo, e você sabe disso.Da minha posição no topo da escada, vi a mandíbula de Ryuu se contrair, e o pulso forte que latejava em seu pescoço me deixou em pânico. Seus olhos pareciam em chamas, uma fúria que eu conhecia bem. Engoli em seco, sentindo minhas mãos suadas apertarem a de Sophia, enquanto o calor subia pelo meu corpo.— Ela te contou o que aconteceu? — A voz de Ryuu estava mais baixa, mas cada palavra parecia carregada de tensão.— Não — re
Eu estava inquieto desde que saímos da casa de Vincenzo. Assim que chegamos à garagem, joguei as chaves do carro para um dos meus irmãos e me joguei no banco do passageiro, os olhos cravados nas portas da frente daquela mansão. Eu mal conseguia me concentrar no que estava ao redor, muito menos dirigir. Deixar Beatrice para trás parecia… errado, completamente errado.Naquela manhã, acordei cedo, como sempre, mas em vez de deixá-la dormir, a impaciência me consumia. Precisava falar com ela, precisava resolver essa maldita distância que se abria mais entre nós. Não podíamos continuar assim, não podíamos adicionar mais lenha ao fogo. Eu sabia que, se isso se prolongasse, não sobreviveríamos.Quando descobri que ela havia sumido, o pânico tomou conta de mim de um jeito que não consigo explicar. Era como se o medo me apertasse a garganta, me deixando sem ar, me paralisando. Falhei com ela de novo. Como pude permitir que o perigo se aproximasse dela, como qualquer mafioso jamais permitiria?
Fazia duas semanas que eu estava morando na mansão Espósito, e, aos poucos, comecei a me acostumar com a rotina. Grande parte dos meus dias era preenchida pela companhia de Sophia, especialmente quando ela não tinha aulas. Mesmo assim, às vezes eu a acompanhava até o campus. Observava as alunas correndo de um lado para o outro, preocupadas com prazos e projetos. Era estranho tentar me imaginar no meio daquilo, preocupando-me com coisas tão simples, mas que de alguma forma me pareciam reconfortantes.Nos momentos livres, Sophia e eu saíamos para comer ou encontrar seus amigos. Eles me acolheram com uma facilidade que me surpreendeu. Não havia perguntas incômodas, nem olhares curiosos para o grupo de segurança que me seguia a cada passo. Espósito, sempre atento, fez questão de garantir essa proteção. E eu, embora precisasse dessa distância de Ryuu, sabia que não podia me dar ao luxo de dispensar a segurança. Ainda era neta de Giorgio Carbone e esposa de um homem poderoso — era impossíve
— Isso é culpa minha — disse Sophia, soltando uma risada enquanto respondia às perguntas indiscretas de Petros. Percebi, então, o quanto ela aliviou uma tensão que nem notei nos seus ombros até aquele momento. — Roubei Beatrice por uma semana para me fazer companhia enquanto visito meu tio. Você conhece meu tio, não é, Petros? — Ela perguntou com aquele sorriso doce que eu já sabia ser pura estratégia.Petros ficou rígido. E eu não consegui disfarçar minha satisfação ao ver seu sorriso vacilar.— Bom, sinto muito por Ryuu. Ele deve estar sentindo sua falta — disse ele, com aquela falsa preocupação que sempre carrega.— Sim, eu também — respondi com um sorriso que, surpreendentemente, não precisei forçar dessa vez.— Claro — murmurou Petros, surpreso com minha resposta.Tanto eu quanto Sophia mantivemos nossos sorrisos tensos até que ele se afastou. Assim que Petros virou as costas, nossos rostos se fecharam.— Odeio esse cara — resmungou Sophia, empurrando as portas do ginásio com for
Eu já tinha mandado uma mensagem para Dario mais cedo, e ainda nada. Ele não respondeu nenhuma das minhas tentativas, e a essa altura, depois de uns drinques, eu já começava a sentir o efeito do álcool. Não sou de beber muito, então bastava pouco para me deixar tonta. Mesmo sabendo que talvez não fosse a melhor ideia, meus dedos já estavam ocupados com o celular de novo. A tentação era grande demais.Beatrice: Onde você está? Dario, eu sei que está me ignorando, caralho!Não me arrependi da provocação. Na verdade, ele merecia. Se me ignorou, estava pedindo por isso. Mas, no fundo, eu sabia que ele não iria responder. Então, só me restava outra opção.Beatrice: Precisamos conversar.Se havia alguém que saberia onde Dario estava, esse alguém era Ryuu. E eu precisava ter certeza de que ele não tinha interferido em nada. Precisava acreditar que, se algum dia tivéssemos uma chance real de igualdade, ele manteria sua palavra.— Uh, oh… — Uma voz suave e provocante soou perto demais do meu o
Eu realmente não queria deixar minha pequena e modesta casa em Palermo. Desde que minha mãe faleceu, tia Loretta era a figura materna mais próxima que eu tinha, e como filha única, valorizava profundamente o tempo que passava com meus primos, que considerava irmãos.Embora fosse severo aos olhos do público, Giacomo Carbone sempre teve meus melhores interesses no coração. Aos dezesseis anos, implorei para frequentar a escola em Palermo, sob o olhar atento de meus primos, e meu pai cedeu quase imediatamente. Ele queria que eu estivesse segura, longe do tumulto de seu trabalho em Los Angeles. Ele temia que algo pudesse acontecer com sua Principessa preziosa. Embora tivesse aprendido o básico de autodefesa com tia Loretta, minha competência era subestimada na nossa família. Os homens eram responsáveis por prover segurança, riqueza e felicidade às mulheres. Com meu vigésimo primeiro aniversário se aproximando, meu pai planejou férias nas Bahamas para comemorarmos juntos. Depois disso, ele
Respirei fundo, completamente horrorizada com a sugestão de meu pai. Exceto que eu sabia que não era apenas uma sugestão. Giacomo não falaria sobre isso se tivesse realmente alguma escolha. Ele não ousaria perguntar se fosse apenas uma opção. Em último caso, gostando ou não, eu me casaria com o homem chamado Ryuu Morunaga. Meu pai estava errado ao comparar isso com seu relacionamento com minha mãe. Não era um casamento arranjado, mas forçado.Eu já ouvira falar do temido herdeiro Morunaga durante minha estada em Palermo. A família Morunaga não residia lá há anos, mas o nome ainda era temido e respeitado. Histórias assustadoras sobre tráfico de humanos, prostituição e outras atividades ilícitas estavam associadas a essa família. Embora trouxessem boa sorte àqueles que seguiam suas regras, a família Morunaga não era minha família e certamente não me amavam. Eles eram estranhos, e eu já temia a maneira como poderiam me tratar caso eu cometesse algum erro aos olhos deles.A família Moruna