Acordei rígida, com a boca seca. Estava afundada sob os lençóis pesados de um dos quartos da mansão Espósito, envolta em um calor sufocante, incapaz de reunir qualquer motivação para me mexer. Só depois de alguns segundos percebi que não estava deitada no colchão… e sim sobre alguém.Forcei meus olhos a se abrirem, movendo a cabeça devagar sobre um peito nu, e fui recebida pela visão de Ryuu ao telefone, falando rápido. Uma risada profunda escapou de seus lábios, fazendo seu peito vibrar sob a minha mão. Bocejei, ainda presa aos resquícios do sono, e flexionei a mão esquerda, cujos dedos repousavam suavemente contra sua pele. Foi então que o brilho prateado da minha aliança chamou minha atenção.Ryuu, notando meu olhar, baixou os olhos para mim, os lábios curvando-se em um sorriso provocador. O humor leve que o dominava parecia ter se esvaído por um momento.— Dormiu bem? — perguntou ele, enquanto sua mão livre, a que não segurava o telefone, se mexia, e só então percebi que seus dedo
&Ryuu& Mal cruzei a entrada da mansão, e lá estava Fukui, vindo da cozinha com uma caneca de café quente na mão. Ele me olhou de relance, o suficiente para notar o estado das minhas roupas.— Onde você estava ontem à noite? — perguntou, franzindo a testa. — Chegando em casa às oito da manhã, ainda com as roupas de ontem?— Onde você acha que eu estava? — murmurei, sem interromper meu passo em direção ao quarto. Sabia que Fukui me seguiria, o sorriso dele já evidente, mesmo que eu não o visse. Ele sabia muito bem onde eu tinha passado a noite. — Sophia e Beatrice estavam bebendo. Fiquei com ela.Fukui riu, aquele riso típico de quem se diverte às minhas custas.— Não que eu esteja reclamando que vocês dois viraram um casal de adolescentes apaixonados, mas quanto tempo Beatrice vai continuar naquele lugar? Aquelas duas estão muito juntas.Soltei uma risada seca. — Se alguém vai avisar as duas, será você, porque eu não vou separá-las. Sophia é a única amiga de Beatrice. Quer impedir Be
— Mateo — ouvi Ryuu se mover na cadeira, seu corpo virando para cumprimentar o homem atrás de nós. O braço dele deslizou suavemente pelos meus ombros, como se quisesse me lembrar de sua presença e, talvez, do nosso papel ali. Fingi me concentrar no menu à minha frente, mas meus olhos vagavam pelas palavras sem realmente lê-las. A sensação de estar fora de lugar crescia. Talvez não tivesse sido a melhor ideia insistir em acompanhá-lo esta noite. Já me sentia como uma intrusa, e tinha certeza de que essa sensação só pioraria.— Ryuu! — uma voz grave e calorosa respondeu, acompanhada de uma risada curta. Levantei o olhar e me deparei com um homem que parecia preencher todo o espaço à nossa volta. Ele era imensamente alto, muito mais que Ryuu, e seus ombros largos denunciavam u
— O que você vai comer? — Ryuu perguntou em voz baixa, inclinando-se ligeiramente para mim, seu braço se estendendo por trás da minha cadeira. A proximidade era palpável; se eu me movesse apenas um pouco para a esquerda, nossas coxas se tocariam.Tentei não deixar transparecer o desconforto, enquanto corria os olhos pelo cardápio, ignorando deliberadamente o calor que vinha de sua presença.— Qualquer salada serve — respondi, fechando o cardápio e deslizando-o para o centro da mesa. Logo, Ryuu fez um sinal discreto para a garçonete, a mesma jovem de antes, que voltou à nossa mesa com os nervos evidentes em cada passo hesitante.Ryuu pediu rapidamente, incluindo acompanhamentos extras, sem tirar os olhos de
— Você me trouxe de volta ao Espósito's — sussurrei, observando os portões de metal à frente. As luzes na mansão eram escassas, o que me fez supor que a maioria já estivesse dormindo. A propriedade de Espósito era tão vasta que seus funcionários viviam ali mesmo.O motor do carro foi desligado, e eu me virei para Ryuu. Notei sua mão tensa no volante, os dedos firmemente curvados, como se apenas o ato de me trazer até aqui tivesse sido uma batalha interna.— Não quis ser presunçoso — disse ele, a voz quase fria.— Obrigada — murmurei, hesitante. Minha mão pairou sobre a maçaneta da porta. — Eu… convidaria você para entrar, mas…— Entendo — cortou Ryuu, com uma respiração profunda, os olhos fixos em mim. E eu simplesmente não conseguia desviar o olhar.O espaço dentro do carro parecia encolher, sufocado pela presença dele, que dominava o ambiente de um jeito que me fazia sentir pequena. Eu deveria sair, mas algo me prendia ali. Talvez fosse o silêncio. Ou o fato de que Ryuu mal havia fa
&Ryuu& Os olhos de Nitta queimavam ao meu lado. Eu podia sentir o julgamento do meu irmão, cada centímetro da sua postura rígida gritando reprovação. Ele estava ombro a ombro comigo, os braços cruzados sobre o peito, mas a cabeça virada bruscamente em minha direção.— Então é por isso que você não trouxe ela pra casa — disse ele, sem qualquer sombra de dúvida na voz. Seu tom não admitia perguntas, só condenação.Trinquei os dentes, mas mantive a voz firme, seca. — Houve muitos motivos, Nitta. Mas, sim, isso foi parte. Você viu o que aconteceu quando ela foi exposta ao nosso mundo. Não vou deixar isso acontecer de novo.Minha garganta apertou, mesmo que eu tentasse esconder. Era uma verdade amarga. Mesmo que eu não conseguisse mantê-la longe de mim por muito tempo, Beatrice só voltaria quando eu tivesse limpado o caminho. Limpo de verdade.Os homens começaram a entrar pela mansão, atravessando as portas duplas como se fossem donos do lugar. Cada um deles, agora, me parecia um estranh
Mena puxou uma cadeira para mim na ilha da cozinha, como sempre atenciosa, e me serviu um copo de água. Seu italiano fluía animado, comentando como a casa parecia estranhamente vazia sem mim. Eu bebia devagar, deixando o frescor do líquido acalmar minha garganta seca. A cada gole, ela perguntava, com sua habitual familiaridade, se eu estava de volta para ficar.— Não — murmurei, sem a encarar, o peso da minha resposta preenchendo o silêncio que se seguiu. Não havia necessidade de explicar por que eu não estava mais morando aqui, e Mena, com sua sabedoria discreta, entendeu o recado e não insistiu.Enquanto ela cortava frutas e preparava algo no balcão, uma pergunta me veio à mente.— Para quem é a comida? — Minha voz saiu baixa, um tanto rouca, ainda me sentindo perdida naquele ambiente que um dia chamei de lar.— Para Nitta. Está de cama, parece doente.A informação me surpreendeu, mas não por muito tempo. Saber que um dos Morunaga ainda estava ali não mudaria muito meus planos. Mesm
— Ele ainda está aqui?Minha voz saiu mais apressada do que eu pretendia. Mateo era a chave. O único que parecia conhecer a fundo o passado que ligava minha família, talvez até mais do que Ryuu. Era com ele que eu precisava falar.Nitta balançou a cabeça, e o gesto foi suficiente para encerrar nossa conversa. Ele se levantou sem dizer mais nada, e eu me limitei a desviar o olhar, focando na mesa de vidro ao meu lado como um adeus silencioso.Como pude conhecer Mateo apenas ontem e, de repente, descobrir que ele tem ligações com todas as pessoas importantes da minha vida? O pensamento me corroía por dentro. Se eu ainda não tivesse decidido quebrar o silêncio com meus primos, agora seria o momento.Eu precisava falar com Bion, meu primo mais velho. Havíamos acumulado muito para discutir, e eu sabia que isso não poderia ser resolvido com uma simples ligação. Uma viagem à Itália era inevitável. Eu sabia que Ryuu não aprovaria, mas, no momento, ele não tinha muito poder para me impedir. De