Sentada rigidamente na poltrona de couro, no salão da mansão Morunaga, senti o peso do silêncio ao meu redor. Os irmãos Morunaga estavam ali, todos. Menos Dario. Desde o ataque, eu não o via, e só agora percebia o quão ausente ele estava. Pedi a Ryuu que o mantivesse seguro, especialmente com seus planos para Gojou, e ele havia prometido. Mas Dario não voltou com ele. Nenhuma palavra. Nenhum sinal.Tentei, desesperadamente, acreditar que Ryuu não teria mentido tão descaradamente. Porém, depois de tudo o que descobri sobre a morte de minha mãe e da maneira como Ryuu fingiu ignorância sobre isso, a dúvida corroía minha confiança.Eu não queria estar aqui com todos eles esta noite. Quando me seguiram até o quarto, aquilo pareceu… estranho. Ryuu se acomodou ao meu lado, puxando um banquinho acolchoado e segurando um copo de bebida. Ele relaxava, enquanto os outros faziam o mesmo. Fukui no sofá, com seu olhar sempre frio, e Nitta, descontraído no chão, suas pernas longas estendidas, apoian
— Você está horrível — disse Sophia, sem meias palavras, os olhos fixos em mim, carregados de preocupação. — Problemas com Ryuu?Deixei escapar um suspiro antes de me acomodar no pequeno café onde a encontrei. Meus dedos ansiosos já procuravam consolo na caneca de chá quente à minha frente. Olhei para o céu, irritada.— Odeio que ele seja sempre o primeiro assunto. — As palavras saíram mais duras do que eu pretendia.Era sempre assim. Ryuu e o irmão Morunaga dominavam nossas conversas. Embora não fosse tudo de que falávamos, a menção de Ryuu agora fazia meu corpo se remexer desconfortavelmente na cadeira.— Certo… — Sophia inclinou a cabeça levemente, como se tentasse decifrar meus sentimentos. — Sobre o que você quer falar, então?Forcei um sorriso, mesmo sabendo que ela percebia a tensão. — Como estão indo suas aulas? — perguntei, buscando qualquer outro assunto que não fosse ele. O rosto de Sophia se fechou instantaneamente, e eu soube que havia tocado num ponto sensível.— Não me
&Ryuu&O peso da fotografia em minhas mãos parecia dobrar meu pulso. Aquela imagem… como Giacomo ousou? A raiva queimava nas profundezas do meu peito, ameaçando explodir a qualquer segundo. Soltei um rosnado, sentindo o sangue ferver enquanto girava para encarar meus irmãos.— Vou matar aquele desgraçado! — Minha voz saiu mais sombria do que eu esperava, mas não me importei. — Como ele ousa provocá-la desse jeito?Não era apenas uma provocação. Era uma tentativa clara de destruição. Giacomo não tinha escrúpulos, não se importava nem um pouco com o que isso faria à filha. Ele queria ferir, queria cortar fundo, e, de alguma forma, eu tinha permitido que isso acontecesse. Uma parte de mim se odiava por não ter acabado com ele naquela primeira oportunidade, no dia em que ele trouxe lágrimas aos olhos de Beatrice. Agora, ela estava lá fora, com Nitta e os guardas, provavelmente desprezando cada decisão que fiz. Horrorizada comigo.O silêncio sobre a morte da mãe dela sempre esteve lá, uma
A expressão de Espósito permaneceu inalterada diante da minha resposta evasiva. Ele apenas assentiu, antes de se recostar no assento e desviar o olhar para a janela ao seu lado, como se estivesse me oferecendo uma espécie de privacidade silenciosa. A tensão no carro era palpável, mas ele sabia exatamente quando se retirar de cena, deixando-me sozinha com meus pensamentos.Sophia pigarreou, atraindo minha atenção. Ela parecia hesitante, mas sua voz trouxe um alívio contido:— Achei que seria melhor ficarmos no mesmo quarto esta noite. Se você não quiser ficar sozinha, claro.Olhei para ela e senti uma pontada de esperança. Será que eu realmente poderia confiar em Sophia? Será que, finalmente, eu havia encontrado alguém que pudesse chamar de amiga? A solidão era uma presença constante na minha vida, e, naquele momento, desejei com todas as forças que Sophia fosse a pessoa em quem eu pudesse me apoiar. Mas, só o tempo diria.Chegamos à casa de Espósito já tarde da noite. O cansaço havia
— Merda!… — murmurei, pressionando o rosto contra o travesseiro, tentando, em vão, sufocar o desespero que me tomava. — O que eu fiz? Como pude esquecer o quão poderoso Ryuu é?O toque firme de Sophia em meu ombro me puxou de volta. Seus dedos me sacudiram levemente até que, finalmente, levantei os olhos, sentindo o calor das lágrimas escorrendo por meu rosto. Seu olhar era firme, uma âncora em meio à minha tempestade.— Beatrice, olhe para mim — sua voz soou mais baixa, mas carregada de segurança. — Nada de ruim vai te acontecer. Nem meu tio vai permitir isso. Nós estamos aqui por você. Eu estou aqui. — Ela apertou minha mão, o calor de seu toque me reconfortando de uma maneira que eu não esperava. — Se precisar desabafar, eu estou pronta para ouvir. Seja sobre aquela noite… ou o que quer que esteja acontecendo entre você e Ryuu. Tudo fica entre nós.As lágrimas continuavam a cair, incontroláveis. Nunca imaginei que encontraria alguém como Sophia, alguém que lutaria por mim dessa man
— Não vou manter Beatrice em lugar nenhum — disse Espósito, sua voz calma, imperturbável diante da raiva de Ryuu. — Ela escolheu passar um tempo com Sophia, e eu apenas ofereci minha casa para isso.A resposta serena de Espósito só pareceu aumentar a fúria de Ryuu. Um rugido profundo escapou de sua garganta, seus olhos cravados no homem à sua frente.— Se eu não a ver no próximo minuto… — Ryuu ameaçou, com a voz carregada de um controle vacilante.— Forçá-la a voltar agora não vai resolver nada, Ryuu — insistiu Espósito. — Ela precisa de tempo, e você sabe disso.Da minha posição no topo da escada, vi a mandíbula de Ryuu se contrair, e o pulso forte que latejava em seu pescoço me deixou em pânico. Seus olhos pareciam em chamas, uma fúria que eu conhecia bem. Engoli em seco, sentindo minhas mãos suadas apertarem a de Sophia, enquanto o calor subia pelo meu corpo.— Ela te contou o que aconteceu? — A voz de Ryuu estava mais baixa, mas cada palavra parecia carregada de tensão.— Não — re
Eu estava inquieto desde que saímos da casa de Vincenzo. Assim que chegamos à garagem, joguei as chaves do carro para um dos meus irmãos e me joguei no banco do passageiro, os olhos cravados nas portas da frente daquela mansão. Eu mal conseguia me concentrar no que estava ao redor, muito menos dirigir. Deixar Beatrice para trás parecia… errado, completamente errado.Naquela manhã, acordei cedo, como sempre, mas em vez de deixá-la dormir, a impaciência me consumia. Precisava falar com ela, precisava resolver essa maldita distância que se abria mais entre nós. Não podíamos continuar assim, não podíamos adicionar mais lenha ao fogo. Eu sabia que, se isso se prolongasse, não sobreviveríamos.Quando descobri que ela havia sumido, o pânico tomou conta de mim de um jeito que não consigo explicar. Era como se o medo me apertasse a garganta, me deixando sem ar, me paralisando. Falhei com ela de novo. Como pude permitir que o perigo se aproximasse dela, como qualquer mafioso jamais permitiria?
Fazia duas semanas que eu estava morando na mansão Espósito, e, aos poucos, comecei a me acostumar com a rotina. Grande parte dos meus dias era preenchida pela companhia de Sophia, especialmente quando ela não tinha aulas. Mesmo assim, às vezes eu a acompanhava até o campus. Observava as alunas correndo de um lado para o outro, preocupadas com prazos e projetos. Era estranho tentar me imaginar no meio daquilo, preocupando-me com coisas tão simples, mas que de alguma forma me pareciam reconfortantes.Nos momentos livres, Sophia e eu saíamos para comer ou encontrar seus amigos. Eles me acolheram com uma facilidade que me surpreendeu. Não havia perguntas incômodas, nem olhares curiosos para o grupo de segurança que me seguia a cada passo. Espósito, sempre atento, fez questão de garantir essa proteção. E eu, embora precisasse dessa distância de Ryuu, sabia que não podia me dar ao luxo de dispensar a segurança. Ainda era neta de Giorgio Carbone e esposa de um homem poderoso — era impossíve