— Ele é meu marido! Claro que sou leal a ele e à sua família! — A fúria crescia em mim, queimando meu rosto enquanto eu me virava para Dario com um olhar que nunca pensei ser capaz de lançar contra ele. Eu nunca tinha falado com ele dessa forma, nunca precisara. Mas agora… não havia como evitar.— Lealdade por medo ou por amor? — Dario soltou uma risada curta e amarga, e senti o peito apertar como se suas palavras tivessem me atingido fisicamente. Dei um passo hesitante para trás, o calor nas minhas bochechas agora substituído por uma frieza vazia. As lágrimas que antes estavam ali se secaram.— O que importa? A lealdade está lá, de qualquer forma.Ele balançou a cabeça, com o cenho franzido, como se estivesse tentando me fazer enxergar o que eu me recusava a admitir.— O medo é uma base frágil para qualquer coisa, Bea. Ele distorce, manipula. Se você é leal por medo, não está escolhendo nada, está sendo forçada. Deixe sua família ajudá-la, eu posso ajudá-la.Aquelas palavras, “sua fa
Quando Ryuu voltou da conversa com Dario, ele estava sozinho. Seu rosto trazia um sorriso presunçoso, um contraste gritante com sua carranca habitual, o que me fez perguntar o que realmente havia acontecido.— E o Dario? — perguntei, observando cada detalhe. Aquele sorriso juvenil era desconcertante, quase como se ele tivesse revertido anos de tensão em minutos.— Dario achou melhor não se juntar a nós para o café da manhã — respondeu ele, sentando-se à minha frente com a calma calculada de sempre. Ele pegou sua xícara de café, deliberadamente ignorando meu olhar inquisidor. Notei a gola da camisa ligeiramente amarrotada e uma leve descoloração na mandíbula direita. Qualquer que tenha sido a “conversa”, não foi nada tranquila.— Imagino que sim — murmurei, sarcástica, tomando meu chá. Por que ele mentiria, quando era evidente que havia ocorrido algo mais físico? O que me incomodava era o quanto Dario teria resistido. Se tudo o que Ryuu exibia fosse uma mandíbula levemente ferida, teri
Naquela manhã, liguei para meu pai com um objetivo claro e direto: impedir seu retorno à mansão. O motivo era simples, ainda que vago — “Não é seguro agora”. Ele entenderia. Nosso mundo era repleto de interrupções súbitas, de planos mudando a cada instante. Esse era o preço do que fazíamos. Para minha sorte, ele não pressionou por detalhes. Sabia que Los Angeles não era segura para ele, pelo menos não agora.Eu poderia ter encerrado a ligação ali. Era o que pretendia, mas algo me deteve. As palavras de Beatrice ainda ecoavam na minha mente, mexendo com algo dentro de mim que eu preferia deixar quieto.— Isso é tudo? — a voz de meu pai soou fria, distante, como se estivesse pronto para encerrar a conversa.Meus dedos apertaram o celular, e por um instante, apenas observei a parede em frente, lutando com a hesitação que crescia no meu peito. No fim, cedi.— Como… minha mãe morreu?A pergunta saiu mais rápido do que eu imaginei, e o silêncio que se seguiu me atingiu como um soco. Por um
O silêncio à mesa de jantar era tão espesso que parecia sufocar o ar ao meu redor. Meus olhos vagaram, um pouco arregalados, sobre todos ali. Era a primeira vez que eu me sentava para uma refeição com os três irmãos Morunaga desde que chegara à América. E como se a situação não fosse estranha o suficiente, Dario havia se juntado a nós. Ele estava à minha direita, tenso, olhando fixamente para o prato como se pudesse fugir pela porcelana. Seu rosto não escondia os sinais do confronto com Ryuu — a mandíbula e a bochecha inchadas, o rubor intenso manchando sua pele. Nenhum dos dois mencionara o ocorrido, e a tensão pairava, não dita, mas palpável.À minha esquerda, Fukui permanecia sereno, enquanto Ryuu e Nitta ocupavam os lugares na outra extremidade da mesa. Mesmo com as minhas tantas reservas sobre Ryuu, senti uma estranha falta de sua presença próxima. Em ocasiões como essa, havia uma segurança perversa no fato de tê-lo ao meu lado — como se ele fosse a muralha que me separava dos o
Coloquei o cardigã grosso sobre os ombros, tentando afastar o frio que parecia se instalar dentro de mim. Horas haviam se passado desde que Ryuu e os outros saíram, e a ansiedade, ao invés de diminuir, apenas aumentava, latejando sob minha pele. A ideia de uma xícara de chá quente era a única coisa que me mantinha de pé. Nem o cansaço conseguia sobrepor-se à inquietação que tomava conta do meu corpo. Ryuu permanecia em minha mente, sua presença tangível apesar de não estar mais ali. A lembrança da conversa que tivemos, tão íntima, não me deixava em paz. Sozinha naquela mansão silenciosa, apenas os guardas continuavam a vigiar as sombras, invisíveis. A casa estava mergulhada na escuridão, mas eu não me incomodei em acender as luzes. Sabia o caminho de cor. A fraca luminosidade da tela do meu celular era suficiente para me guiar até a cozinha. Tudo o que eu queria era pegar minha xícara de chá de camomila e voltar para a cama, tentando — inutilmente, talvez — encontrar algum descanso.
&Ryuu&O horror me golpeou com força no momento em que vi o corpo de Beatrice, amassado no chão, encharcado de sangue. O corredor parecia uma cena de massacre, e eu não conseguia discernir quanto daquele sangue era dela. Meu peito apertou, e uma sensação de impotência tomou conta de mim. Ela não estava bem. Nem de longe.Eu sabia que precisava agir rápido, mas meus braços, ao redor dela, recusavam-se a soltá-la. Ela ainda tremia, chorando baixinho contra meu peito, os soluços ecoando na minha alma. Há quanto tempo ela estava ali, assim? Sentada no meio daquela sujeira, no próprio sangue… lutando pela vida? A pergunta me corroía. E eu odiava não ter estado aqui para protegê-la. Nunca mais. Eu nunca a deixaria sozinha novamente. Não depois disso. Não depois de quase perder a vida. Todo medo que eu já tive sobre sua segurança agora se confirmava brutalmente diante de mim. Olhei para o corpo estendido no chão — o desgraçado que ousou tocar na minha esposa. Não importava quem ele era. Eu
O som da água batendo suavemente contra as laterais da banheira ecoava pelo banheiro, abafando o silêncio que insistia em se instalar entre nós. Minhas mãos se moviam mecanicamente pela superfície da água, sem pensar, apenas tentando me distrair da tensão sufocante que preenchia o ar. Olhei para a direita, observando Ryuu. Ele estava virado na minha direção, mas seus olhos pareciam perdidos, fixos em algum ponto acima de mim, mergulhados em pensamentos distantes.— Você não precisa ficar aqui — murmurei, a voz fraca, quase inaudível. No entanto, naquele silêncio compartilhado, minhas palavras pareciam cortar o ar e o tiraram de seus devaneios. Não queria ficar sozinha, na verdade, isso me apavorava. Mas sua presença, tão terna e constante, me deixava inquieta. Eu já conhecia seu lado cuidadoso, embora soubesse que era raro e passageiro. Ainda assim, toda essa atenção mexia comigo, me fazia questionar se ele poderia ser, de fato, o homem afetuoso que eu tanto ansiava. Um homem em quem
— Como você está se sentindo? — A voz de Ryuu soou suave, quase um murmúrio, enquanto ele envolvia cuidadosamente minha mão com a gaze. O toque era firme o suficiente para proteger, mas delicado para não causar mais dor. Quando terminou de amarrar as pontas, ele não soltou. Pelo contrário, seu polegar acariciou minha palma com um toque leve, quase hesitante.Eu queria responder, mas as palavras não vinham. Apenas balancei a cabeça de leve, meus olhos se fixando no meu colo. Senti a umidade começar a se acumular neles, e por mais que tentasse segurar as lágrimas, elas estavam ali, à beira de cair. Ele percebeu. Com um gesto calmo, segurou meu rosto, seus dedos tocando de leve minha mandíbula, e me fez encará-lo.— Isso não vai acontecer de novo, Beatrice. Eu prometo — disse, com uma seriedade que quase me sufocava. Ele estava tão perto que parecia ocupar todo o ar ao meu redor. Suspirei, tentando afastar aquela pressão invisível.— Não faça promessas que você não pode cumprir, Ryuu. Te