As malas estavam no saguão quando passei, bagagem cara que eu não reconheci de imediato. Meu coração apertou por um instante, temendo que Ryuu pudesse me expulsar de casa — o que, para ser honesta, não seria tão ruim, se eu ao menos tivesse para onde ir. Nem sabia se meu pai estava em Los Angeles ou se tinha viajado para Palermo com o resto da família. Mas, ainda que estivesse por perto, viver com ele era tão pouco desejável quanto continuar com Ryuu.Quando entrei na cozinha, deparei-me com uma mulher desconhecida, que cantarolava distraidamente enquanto preparava a refeição da noite. Era uma das cozinheiras dos Morunaga, isso eu sabia desde a segunda noite na casa, quando compartilhei uma refeição desconfortável com Fukui e Nitta. O silêncio naquela ocasião foi opressivo, e eu mal consegui comer, retirando-me o mais rápido possível.— Senhora Morunaga — cumprimentou a cozinheira, sem precisar de apresentações, tal como Mena havia feito na minha primeira manhã ali. — Gostaria de jant
&Ryuu&Quase joguei o peso de papel na cabeça de Nitta no instante em que ele entrou no meu escritório. O álcool que havia consumido mais cedo ainda circulava em minhas veias, mas me forcei a engolir o impulso violento.— Você tem muita coragem de aparecer aqui agora — rosnei, sentindo meu rosto endurecer.O rosto de Nitta estava corado, e seus lábios se curvaram em um rosnado enquanto ele se aproximava, desafiando-me.— Não se faça de vítima — ele cuspiu, inclinando-se sobre minha mesa, os antebraços tensos como se estivesse pronto para explodir. — O que você esperava ao mantê-la trancada por tanto tempo e ignorá-la completamente?O sangue subiu à minha cabeça, e me levantei, minha voz saindo como um rugido.— Está testando minha paciência, Nitta! — Não me deixaria abalar, não me deixaria recuar. — Ela é minha esposa!Nitta soltou uma risada cortante, aquele som agudo que sempre me irritou. Fechei os punhos, tentando conter a raiva que crescia dentro de mim.— Você parece uma criança
Essa não era a punição que eu esperava. Não era uma punição de forma alguma. Será que Ryuu acreditava que nada havia acontecido entre mim e Nitta?Não me importava com o que havia levado Ryuu a tomar essa decisão. Tudo o que importava era que eu finalmente poderia experimentar um pouco de liberdade, mesmo sob vigilância constante. Estava acostumada a guarda-costas e à ameaça de perigo, mas nunca precisei mudar minha vida por causa disso até voltar à América. Esse pequeno resquício de normalidade era mais do que bem-vindo.A diversão que brilhava nos olhos de Fukui me deixava em alerta. Eu não podia baixar a guarda perto dele; não depois do que aconteceu com Nitta. Embora Nitta fosse extrovertido e provocador, havia algo em Fukui que me dizia para ser ainda mais cautelosa. Sua quietude era uma armadilha, e confiar nele seria um erro fatal.— Então, Hime, para onde vamos? — Fukui perguntou, um sorriso discreto curvando seus lábios, embora seus olhos mantivessem a cautela.Permiti que um
— Não sabia que você apreciava tanto a minha personalidade encantadora e minhas habilidades de conversação, Hime — Fukui murmurou, a voz grave, carregada de sarcasmo.— Você está sendo um escroto! — retruquei, sentindo minhas bochechas esquentarem. — Eu não tive ninguém para conversar além de Nitta e os funcionários durante toda a semana. Desculpe se estou um pouco desesperada por uma conversa. E, além disso, não tenho dinheiro, então você vai ter que pagar.Fukui zombou, mas logo sua expressão se transformou num sorriso radiante quando o atendente do café nos cumprimentou e anotou o pedido. Apesar de sua evidente exasperação, ele entregou algumas notas com a mesma eficiência de sempre.— Posso pegar seu número? — perguntei, observando que sua atenção ainda estava completamente presa ao celular.— Você quer meu número de telefone? — Fukui levantou uma sobrancelha, visivelmente divertido.— Não tenho o número de nenhum de vocês. Não parece muito inteligente não ter.— Nem mesmo o de Ry
&Ryuu& Inclinei a cabeça e sorri, observando o homem amarrado diante de mim. O porão ao nosso redor era vazio e frio, o concreto das paredes, do chão e do teto apenas amplificava a sensação de isolamento. O suor escorria das têmporas dele, e seus olhos, frenéticos, saltavam entre mim e Nitta. Meu irmão segurava um taco de metal manchado de sangue, com uma expressão entediada que contrastava com a tensão no ar.A adrenalina pulsava em minhas veias, me inundando com aquela sensação perigosa de poder que eu conhecia tão bem. Era um vício doentio, o tipo de satisfação que só vinha quando eu resolvia os problemas pessoalmente, em vez de delegar para Nitta ou os outros homens. Como chefe mafioso, eu raramente sujava as mãos. Mas, em momentos como aquele, percebia o quanto apreciava fazer isso.— Eu não sei de nada — ele implorou, a voz trêmula e distorcida pela dor que vazava de sua mandíbula ferida. A pele pálida destacava o sangue que escorria, tornando o medo em seus olhos quase palpáve
Fukui limpou a garganta, visivelmente exasperado, e começou a falar:— Esta é...— Sophia Raptis, amiga da família — interrompeu Sophia, com um sorriso que logo se desfez em um leve franzir dos lábios. — Não sabia que havia um casamento na família. É surpreendente como isso foi mantido em segredo.Forcei um sorriso, tentando esconder qualquer amargura que ainda pudesse transparecer.— Quis algo pequeno e íntimo — menti, mantendo a voz o mais neutra possível. Desde o início, sabia que teria de manter as aparências, especialmente em público. — Sou um pouco tímida com muita atenção. E Ryuu... ele não se importou.Ao mencionar Ryuu, notei a postura de Sophia relaxar ligeiramente.— Ryuu, claro — murmurou ela, desviando o olhar para os guarda-costas. — Achei que os trajes eram um pouco exagerados para Fukui — acrescentou com um tom divertido.Não consegui evitar um sorriso, enquanto via Fukui revirar os olhos, claramente irritado. Ele me lançou um olhar acusador antes de se levantar abrupt
&Beatrice&Assim que Fukui e eu voltamos para casa, escapei para o meu quarto, ansiosa para me livrar dos olhares pesados dos guardas. A ideia de que Ryuu os teria instruído a me vigiar não me surpreendia, afinal, ele nunca confiaria em mim. Por que confiaria? Eu era apenas mais uma peça em seu jogo, uma que ele parecia apreciar manter sob controle.Quando entrei no quarto, meu alívio foi interrompido ao ver Ryuu, recostado na cabeceira da cama com um grosso volume nas mãos. Ele estava concentrado na leitura, mas sua presença era uma sombra sufocante sobre mim.— Você tem algo apropriado para vestir? — ele perguntou, a voz seca e indiferente, sem desviar os olhos do livro. Aquela frieza me irritava profundamente, e ao fitar meu marido, senti o calor da raiva se espalhar por mim. Permaneci em silêncio, e isso pareceu incomodá-lo, pois ele finalmente ergueu o olhar, uma expressão azeda se formando em seu rosto. — Eu te falei sobre essa festa ontem. Tem ou não algo para vestir? — insis
&Ryuu&— Seus olhos não saem dela desde que se levantou, e você está mais tenso do que o normal — Fukui observou, com um tom carregado de malícia. Revirei os olhos, a irritação crescendo dentro de mim. — Não sou um adolescente, Fukui. Não confunda cautela com frustração sexual — rebati, sem disfarçar o desdém na voz.— Cautela? — Fukui, de repente, endireitou-se na cadeira, o olhar agora fixo em mim, a provocação dando lugar a uma seriedade inesperada. — Você acha que ela corre algum risco aqui? — A descrença era evidente no seu tom, embora seus olhos já estivessem varrendo a sala em busca de ameaças.Minha mandíbula se contraiu. Hesitei por um momento, lutando contra a sensação de impotência que me corroía. — Eu não sei — admiti, a frustração escorrendo pelas palavras. Era insuportável pensar que, mesmo sendo um dos homens mais temidos de Los Angeles, eu ainda não conseguia rastrear as origens das ameaças que pairavam sobre Beatrice. Minha mente estava sempre em alerta, mas essa