&Beatrice&Assim que Fukui e eu voltamos para casa, escapei para o meu quarto, ansiosa para me livrar dos olhares pesados dos guardas. A ideia de que Ryuu os teria instruído a me vigiar não me surpreendia, afinal, ele nunca confiaria em mim. Por que confiaria? Eu era apenas mais uma peça em seu jogo, uma que ele parecia apreciar manter sob controle.Quando entrei no quarto, meu alívio foi interrompido ao ver Ryuu, recostado na cabeceira da cama com um grosso volume nas mãos. Ele estava concentrado na leitura, mas sua presença era uma sombra sufocante sobre mim.— Você tem algo apropriado para vestir? — ele perguntou, a voz seca e indiferente, sem desviar os olhos do livro. Aquela frieza me irritava profundamente, e ao fitar meu marido, senti o calor da raiva se espalhar por mim. Permaneci em silêncio, e isso pareceu incomodá-lo, pois ele finalmente ergueu o olhar, uma expressão azeda se formando em seu rosto. — Eu te falei sobre essa festa ontem. Tem ou não algo para vestir? — insis
&Ryuu&— Seus olhos não saem dela desde que se levantou, e você está mais tenso do que o normal — Fukui observou, com um tom carregado de malícia. Revirei os olhos, a irritação crescendo dentro de mim. — Não sou um adolescente, Fukui. Não confunda cautela com frustração sexual — rebati, sem disfarçar o desdém na voz.— Cautela? — Fukui, de repente, endireitou-se na cadeira, o olhar agora fixo em mim, a provocação dando lugar a uma seriedade inesperada. — Você acha que ela corre algum risco aqui? — A descrença era evidente no seu tom, embora seus olhos já estivessem varrendo a sala em busca de ameaças.Minha mandíbula se contraiu. Hesitei por um momento, lutando contra a sensação de impotência que me corroía. — Eu não sei — admiti, a frustração escorrendo pelas palavras. Era insuportável pensar que, mesmo sendo um dos homens mais temidos de Los Angeles, eu ainda não conseguia rastrear as origens das ameaças que pairavam sobre Beatrice. Minha mente estava sempre em alerta, mas essa
&Beatrice& Deitada na cama com o celular na mão, eu assistia aos destaques do noticiário da noite, tentando ignorar a presença de Ryuu no quarto. Ele não passava uma noite aqui desde que casamos, então por que diabos ele estava agora? Eu só queria apagar as luzes e dormir, mas parecia que isso estava longe de acontecer. Ele se movia pelo quarto como um furacão, resmungando para si mesmo e batendo as portas das gavetas com uma fúria que eu não entendia.A festa tinha sido exaustiva. Saímos cedo, mas mesmo assim, a socialização foi um fardo. A família dele era enorme, muito maior do que a minha, e todos pareciam querer falar comigo ao mesmo tempo. Agora, enquanto ele continuava a fazer barulho, a exaustão só piorava.— Ryuu — chamei suavemente, sem desviar os olhos do celular. Notei, de relance, que ele se virou na minha direção, mas não me incomodei em encará-lo. Já sabia que tudo o que veria seria uma carranca. — Vai continuar fazendo esse barulho? Eu gostaria de dormir bem esta noit
Naquela manhã, não havia qualquer vestígio de que Ryuu tivesse retornado após o misterioso telefonema da noite anterior. Eu tentei não deixar isso me irritar, mas era difícil. A sensação de ser excluída, de ser mantida à margem, me corroía por dentro. A verdade é que ele estava guardando segredos de mim, e isso era mais do que evidente.Eu sabia muito bem que, na linha de trabalho de Ryuu, conhecimento era poder. Se ele queria manter segredos, que assim fosse. Eu não o interrogaria diretamente, mas isso não significava que eu ficaria de braços cruzados. Se ele não falaria, eu encontraria alguém que o fizesse.— Fukui — chamei assim que o vi na sala, logo após o café da manhã. Ele estava concentrado em seu notebook, a expressão séria, os dedos movendo-se rapidamente sobre o teclado. — Preciso te fazer algumas perguntas. — Isso vai demorar? — resmungou, sem desviar os olhos da tela. Estava claro que a minha presença o incomodava. Eu deveria me aborrecer, mas entendia. Não era culpa del
&Beatrice& A voz do apresentador reverberava pela sala: “A seguir, mais detalhes sobre a libertação de Vincenzo Espósito, homem com múltiplas ligações à máfia ítalo-americana, condenado em 1997 por vários crimes…”De repente, a TV se apagou, cortando bruscamente o noticiário. Meu olhar severo se voltou para a tela agora negra, e então para o homem ao meu lado, segurando o controle remoto. Quando reconheci o semblante sombrio do meu sogro, meu humor esfriou, e me encolhi na poltrona. Achei que ele já tivesse ido embora.— Nunca tive paciência para o noticiário. Prefiro um bom livro — ele disse, erguendo um pequeno romance de aparência surrada à altura dos meus olhos. Permaneci em silêncio, os lábios selados. Gojou notou minha hesitação; seus olhos se estreitaram levemente antes de ele se mover, acomodando-se no sofá onde Ryuu havia estado mais cedo naquele dia. — Como você está se ajustando?— Como era de se esperar — murmurei, minha voz quase um sussurro, enquanto o observava atentam
&Ryuu&Um gemido assustado escapou dos lábios tensos de Beatrice. Senti seu corpo tenso contra o meu, até que, encorajada pela própria luxúria, ela começou a me beijar de volta. Minhas mãos se enroscaram em seus cachos grossos e escuros, segurando-a firme contra mim. Nossas bocas se encontraram em uma febre desesperada, e um gemido escapou dos meus lábios enquanto seus braços envolviam meus ombros, e ela se derretia em meu corpo.Meu peito estava pressionado contra o dela, os joelhos cravados no colchão em ambos os lados de seus quadris, enquanto eu fazia de tudo para que essa conexão nunca se rompesse. Eu não queria que aquilo acabasse, não conseguia pensar em mais nada além de silenciar sua maldita gritaria. E, droga, ela estava tão tentadora em sua roupa de dormir, com aqueles lábios rosados entreabertos, o olhar intenso que ela me lançava.— Ryuu… — sua voz saiu rouca, seus lábios deliciosamente inchados. — Nós não deveríamos… — murmurou, mas suas mãos não soltaram meu pescoço, os
— Qual é o meu papel aqui? — perguntei, sentindo a dor em meu peito se expandir de maneira sufocante.Fukui pareceu surpreso com a minha pergunta, lançando um olhar hesitante para o pai, como se buscasse orientação. Foi um pequeno prazer vê-lo perder o sorriso habitual.— Seu papel? — repetiu Gojou, agora completamente focado em mim. Encarei-o com firmeza, tentando decifrar a expressão pensativa que ele mantinha enquanto descansava o polegar e o indicador sob o queixo. Uma voz interna me alertava para medir bem minhas próximas palavras.— Sim, meu papel. Fui informada de que devo ser a esposa perfeita, que estou aqui apenas para promover o legado dos Morunaga — continuei, mantendo meus olhos nos dele. Lembrei-me claramente de como Gojou havia deixado isso bem claro para mim, me fazendo sentir como nada além de um objeto. — Mas o que devo fazer aqui, dia após dia?Eles pareciam gostar de me provocar com o afeto que Ryuu e eu tínhamos demonstrado. Será que pensavam que eu estava finalme
&Beatrice&Esses artigos não eram novidade para mim. Eu já os havia lido inúmeras vezes. Crescendo sem saber quase nada sobre minha mãe, Elana Carbone, muitas vezes me vi recorrendo à internet em busca de qualquer fragmento de informação. Mas agora, ao reler aqueles recortes, uma inquietação tomava conta de mim. Por que, de repente, estavam sendo enviados para mim, acompanhados de uma nota tão enigmática? Não havia nada de novo ali, nada que já não tivesse visto antes. Nunca tive razões para duvidar da veracidade dessas reportagens, tampouco das circunstâncias da morte de minha mãe. Mas agora, uma semente de dúvida germinava, e eu não sabia se estava preparada para enfrentar o que poderia descobrir.A curiosidade, como uma coceira incômoda, se recusava a desaparecer. Por que essas cartas estavam chegando agora? E o que quer que estivessem insinuando, tinha relação direta com os Morunaga. Eu já suspeitava que Ryuu escondia coisas de mim. Agora, essas notas anônimas sugeriam que os Morun