&Beatrice& Deitada na cama com o celular na mão, eu assistia aos destaques do noticiário da noite, tentando ignorar a presença de Ryuu no quarto. Ele não passava uma noite aqui desde que casamos, então por que diabos ele estava agora? Eu só queria apagar as luzes e dormir, mas parecia que isso estava longe de acontecer. Ele se movia pelo quarto como um furacão, resmungando para si mesmo e batendo as portas das gavetas com uma fúria que eu não entendia.A festa tinha sido exaustiva. Saímos cedo, mas mesmo assim, a socialização foi um fardo. A família dele era enorme, muito maior do que a minha, e todos pareciam querer falar comigo ao mesmo tempo. Agora, enquanto ele continuava a fazer barulho, a exaustão só piorava.— Ryuu — chamei suavemente, sem desviar os olhos do celular. Notei, de relance, que ele se virou na minha direção, mas não me incomodei em encará-lo. Já sabia que tudo o que veria seria uma carranca. — Vai continuar fazendo esse barulho? Eu gostaria de dormir bem esta noit
Naquela manhã, não havia qualquer vestígio de que Ryuu tivesse retornado após o misterioso telefonema da noite anterior. Eu tentei não deixar isso me irritar, mas era difícil. A sensação de ser excluída, de ser mantida à margem, me corroía por dentro. A verdade é que ele estava guardando segredos de mim, e isso era mais do que evidente.Eu sabia muito bem que, na linha de trabalho de Ryuu, conhecimento era poder. Se ele queria manter segredos, que assim fosse. Eu não o interrogaria diretamente, mas isso não significava que eu ficaria de braços cruzados. Se ele não falaria, eu encontraria alguém que o fizesse.— Fukui — chamei assim que o vi na sala, logo após o café da manhã. Ele estava concentrado em seu notebook, a expressão séria, os dedos movendo-se rapidamente sobre o teclado. — Preciso te fazer algumas perguntas. — Isso vai demorar? — resmungou, sem desviar os olhos da tela. Estava claro que a minha presença o incomodava. Eu deveria me aborrecer, mas entendia. Não era culpa del
&Beatrice& A voz do apresentador reverberava pela sala: “A seguir, mais detalhes sobre a libertação de Vincenzo Espósito, homem com múltiplas ligações à máfia ítalo-americana, condenado em 1997 por vários crimes…”De repente, a TV se apagou, cortando bruscamente o noticiário. Meu olhar severo se voltou para a tela agora negra, e então para o homem ao meu lado, segurando o controle remoto. Quando reconheci o semblante sombrio do meu sogro, meu humor esfriou, e me encolhi na poltrona. Achei que ele já tivesse ido embora.— Nunca tive paciência para o noticiário. Prefiro um bom livro — ele disse, erguendo um pequeno romance de aparência surrada à altura dos meus olhos. Permaneci em silêncio, os lábios selados. Gojou notou minha hesitação; seus olhos se estreitaram levemente antes de ele se mover, acomodando-se no sofá onde Ryuu havia estado mais cedo naquele dia. — Como você está se ajustando?— Como era de se esperar — murmurei, minha voz quase um sussurro, enquanto o observava atentam
&Ryuu&Um gemido assustado escapou dos lábios tensos de Beatrice. Senti seu corpo tenso contra o meu, até que, encorajada pela própria luxúria, ela começou a me beijar de volta. Minhas mãos se enroscaram em seus cachos grossos e escuros, segurando-a firme contra mim. Nossas bocas se encontraram em uma febre desesperada, e um gemido escapou dos meus lábios enquanto seus braços envolviam meus ombros, e ela se derretia em meu corpo.Meu peito estava pressionado contra o dela, os joelhos cravados no colchão em ambos os lados de seus quadris, enquanto eu fazia de tudo para que essa conexão nunca se rompesse. Eu não queria que aquilo acabasse, não conseguia pensar em mais nada além de silenciar sua maldita gritaria. E, droga, ela estava tão tentadora em sua roupa de dormir, com aqueles lábios rosados entreabertos, o olhar intenso que ela me lançava.— Ryuu… — sua voz saiu rouca, seus lábios deliciosamente inchados. — Nós não deveríamos… — murmurou, mas suas mãos não soltaram meu pescoço, os
— Qual é o meu papel aqui? — perguntei, sentindo a dor em meu peito se expandir de maneira sufocante.Fukui pareceu surpreso com a minha pergunta, lançando um olhar hesitante para o pai, como se buscasse orientação. Foi um pequeno prazer vê-lo perder o sorriso habitual.— Seu papel? — repetiu Gojou, agora completamente focado em mim. Encarei-o com firmeza, tentando decifrar a expressão pensativa que ele mantinha enquanto descansava o polegar e o indicador sob o queixo. Uma voz interna me alertava para medir bem minhas próximas palavras.— Sim, meu papel. Fui informada de que devo ser a esposa perfeita, que estou aqui apenas para promover o legado dos Morunaga — continuei, mantendo meus olhos nos dele. Lembrei-me claramente de como Gojou havia deixado isso bem claro para mim, me fazendo sentir como nada além de um objeto. — Mas o que devo fazer aqui, dia após dia?Eles pareciam gostar de me provocar com o afeto que Ryuu e eu tínhamos demonstrado. Será que pensavam que eu estava finalme
&Beatrice&Esses artigos não eram novidade para mim. Eu já os havia lido inúmeras vezes. Crescendo sem saber quase nada sobre minha mãe, Elana Carbone, muitas vezes me vi recorrendo à internet em busca de qualquer fragmento de informação. Mas agora, ao reler aqueles recortes, uma inquietação tomava conta de mim. Por que, de repente, estavam sendo enviados para mim, acompanhados de uma nota tão enigmática? Não havia nada de novo ali, nada que já não tivesse visto antes. Nunca tive razões para duvidar da veracidade dessas reportagens, tampouco das circunstâncias da morte de minha mãe. Mas agora, uma semente de dúvida germinava, e eu não sabia se estava preparada para enfrentar o que poderia descobrir.A curiosidade, como uma coceira incômoda, se recusava a desaparecer. Por que essas cartas estavam chegando agora? E o que quer que estivessem insinuando, tinha relação direta com os Morunaga. Eu já suspeitava que Ryuu escondia coisas de mim. Agora, essas notas anônimas sugeriam que os Morun
Enrolada na cama, os lençóis amassados e retorcidos ao meu redor, tentei conter o soluço que rasgava meu peito em silêncio. O telefone estava ao meu lado, desbloqueado, a tela ainda acesa como um lembrete cruel da minha tolice.Fui tão ingênua. Como uma jovem iludida, confiei cegamente em meu pai. Acreditei que ele se importava comigo, que me protegeria dos males de sua vida sombria, que não me abandonaria como fez com minha mãe. No entanto, ao questioná-lo, recebi apenas palavras frias e evasivas, como se a culpa fosse minha por duvidar das suas intenções.A ligação mal durou cinco minutos antes que ele desligasse na minha cara.— Beatrice? — A voz firme de Ryuu cortou o ar, me arrancando do meu torpor. Não ouvi a porta se abrir e, num lamento baixo, percebi que era tarde demais para esconder o meu estado lastimável. — Você estava chorando?Lancei-lhe um olhar incrédulo, incapaz de esconder a dor que contorcia meu rosto. Meus olhos estavam inchados, as bochechas queimando. Não havia
Uma cópia de O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, não era algo que eu esperasse ver nas mãos de Ryuu. No entanto, o estado gasto do livro deixava claro que ele o havia lido muitas vezes. Ao tentar guardá-lo entre os meus, algumas fotos escorregaram das páginas, flutuando até o chão.Duas fotografias. Ambas dobradas, usadas como marcador ou talvez escondidas no livro. Uma delas me chocou imediatamente: era da minha mãe. Eu nunca tinha visto aquela imagem antes. Ela parecia jovem, mas não muito diferente da última foto que eu tinha dela, pouco antes de sua morte. A outra mulher na foto era desconhecida para mim. Tinha cabelos escuros e encaracolados, pele clara, nariz afilado, olhos puxados. Algo nela me lembrava Ryuu. Seria a mãe dele?Minhas mãos tremiam enquanto eu tentava, desajeitada, empurrar as fotos de volta para as páginas do livro, guardando-o apressadamente sobre a cômoda. Quando me deitei ao lado de Ryuu, meu coração batia forte, quase me sufocando.Não consegui tirar d