Uma cópia de O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, não era algo que eu esperasse ver nas mãos de Ryuu. No entanto, o estado gasto do livro deixava claro que ele o havia lido muitas vezes. Ao tentar guardá-lo entre os meus, algumas fotos escorregaram das páginas, flutuando até o chão.Duas fotografias. Ambas dobradas, usadas como marcador ou talvez escondidas no livro. Uma delas me chocou imediatamente: era da minha mãe. Eu nunca tinha visto aquela imagem antes. Ela parecia jovem, mas não muito diferente da última foto que eu tinha dela, pouco antes de sua morte. A outra mulher na foto era desconhecida para mim. Tinha cabelos escuros e encaracolados, pele clara, nariz afilado, olhos puxados. Algo nela me lembrava Ryuu. Seria a mãe dele?Minhas mãos tremiam enquanto eu tentava, desajeitada, empurrar as fotos de volta para as páginas do livro, guardando-o apressadamente sobre a cômoda. Quando me deitei ao lado de Ryuu, meu coração batia forte, quase me sufocando.Não consegui tirar d
Assim que entrou, Espósito se livrou do casaco pesado. Seu guarda prontamente estendeu a mão para pegá-lo, seguido do cachecol, que também foi removido em seguida. Por baixo de toda aquela proteção, ele usava uma camisa branca de botões, impecavelmente enfiada em calças passadas que combinavam com o tom terroso de seus olhos, e sapatos de couro marrom escuro. Sem as camadas extras, ele parecia ainda menor, e, paradoxalmente, me fez sentir ainda mais diminuta.— Vou te mostrar o caminho — murmurei, cerrando os dentes enquanto lançava outro olhar desconfiado para os dois guardas que seguiam cada movimento de Espósito.Retornei à poltrona onde estava antes, observando enquanto ele escolhia o sofá oposto para se acomodar. Os guardas permaneciam a poucos passos de distância, as expressões duras e os braços cruzados à frente do corpo. Senti um calafrio percorrer minha espinha sob o peso de seus olhares.— Não sabia que meu casamento com a família Morunaga era de conhecimento geral. Suponho
&Ryuu& As mãos tremiam. O som do sangue pulsando em meus ouvidos abafava tudo ao redor, acompanhando o aperto insuportável que crescia em meu peito. Mal consegui arrastar-me de volta ao quarto, cada respiração mais difícil que a anterior, enquanto a maldição do nome Vincenzo Espósito ecoava em minha mente. Beatrice estava no quarto, observando-me em silêncio. Eu queria que ela saísse, que me deixasse sozinho com minha fúria e dor. Mas as palavras ficaram presas na minha garganta, incapazes de se transformar em um pedido para que ela fosse embora.Comecei a arrancar as roupas do corpo com uma violência que quase rasgava o tecido. Aquele homem, meu avô… Vincenzo Espósito. Um nome que eu aprendi a desprezar desde criança, odiado por meu pai a cada respiração. E agora, finalmente, eu entendia por quê.Vinte e quatro anos. Vinte e quatro anos sem ouvir um único sussurro desse segredo. Como foi possível que algo tão importante tenha sido escondido de mim por tanto tempo?A camisa pendia m
— Ryuu… ainda está na cama? — Fukui perguntou com uma rispidez inusitada, as sobrancelhas franzidas em uma expressão incrédula. Eu apenas assenti, tentando esconder o divertimento que me causava ver o choque estampado no rosto dele, mesmo sabendo exatamente por que Ryuu não havia saído do quarto.— Vocês dois ficaram no mesmo quarto ontem à noite? — Fukui perguntou lentamente, arqueando uma sobrancelha, um sorriso insinuante brincando no canto de seus lábios.Senti meu rosto esquentar com a insinuação. Fiz uma careta e, embora estivesse incomodada, mantive o tom firme ao responder:— Somos casados, você sabe.Ele me lançou um olhar afiado, o sorriso apenas aumentando.— Não é o que você está pensando — resmunguei, sem ceder.Fukui soltou uma risada profunda, que me pegou desprevenida, enquanto ele brincava:— Claro que não é.Revirei os olhos e, com um bufar, segui em direção à porta.— Se você vai continuar assim, vou deixá-lo falando sozinho.— Ah, vamos, Hime — Fukui chamou atrás d
— Fiquei surpresa que tenha aceitado meu convite — disse Sophia, esboçando um leve sorriso, enquanto me observava com curiosidade. — Como estão as coisas? Não tivemos chance de conversar na festa; você e seu marido saíram cedo.Olhei para o chá em minhas mãos, buscando as palavras certas. Sentia meus lábios se apertarem involuntariamente, e meus dedos tamborilavam suavemente na mesinha de madeira. Era curioso estar aqui, no mesmo café onde nos conhecemos, mas agora acompanhada por dez guardas que, embora discretos, tornavam nossa conversa um espetáculo cauteloso. Três sentados na mesa atrás de nós, dois de cada lado e cinco na rua, vigiando cada movimento ao redor, mantendo todos os outros longe do prédio. A dona do café foi generosamente recompensada, e a simples menção do nome Morunaga por um dos guardas foi suficiente para garantir sua colaboração — e seu medo. Fukui não estava comigo hoje, uma rara concessão que eu não ousaria questionar.— Conheci seu tio ontem — comentei, levand
&Ryuu&Acordei naquela manhã de sábado com uma sensação incomum: a ausência de Beatrice ao meu lado na cama. Ultimamente, eu havia me acostumado a encontrá-la ali, quase enterrada sob os lençóis brancos. Seu pescoço nu se destacava, com os fios ruivos de seu coque desfeito espalhados pela nuca. Ela roncava, um som leve, quase imperceptível, mas que, de algum jeito, me cativava. E isso me irritava profundamente.Eu não queria achar nada sobre Beatrice cativante. Qualquer afeto ou simpatia que pudesse surgir em mim por ela era algo que eu rejeitava com todas as forças. Mas, admito, em algum nível, eu me importava. A ausência dela naquela manhã, por mais que fosse um alívio, também deixou um vazio incômodo.Passei mais tempo do que gostaria pensando nela, preocupado com sua segurança, sua saúde. Saber que ela não gostava de mim tornava mais fácil manter uma distância emocional, mas depois da estranha demonstração de preocupação dela na noite passada, quando eu estava à beira de um colaps
Ryuu sentou-se à minha frente, sua presença dominando a mesa enquanto esperávamos, em silêncio, pelos nossos convidados. Eu não desviava o olhar dele, não porque tantas pessoas nos observavam, mas porque sua atenção estava voltada para o resto do restaurante, como se ele controlasse cada detalhe ao seu redor. Quando seus olhos finalmente encontraram os meus, os cantos de seus lábios se curvaram em um sorriso irritantemente autossuficiente.Forcei um sorriso recatado, tentando suprimir o desprezo habitual que ele despertava em mim. Mas era uma tarefa árdua, especialmente com Ryuu se deleitando visivelmente com minha reação, seus olhos cintilando de diversão.— Achei que encontraríamos seus parceiros de negócios — falei devagar, lançando um olhar para os dois lugares vazios na mesa. Já esperávamos há mais de dez minutos. Não podia acreditar que alguém seria tão imprudente a ponto de deixar Ryuu esperando publicamente. Pelo menos ele insistira em se sentar de frente para mim enquanto agu
As mãos de Ryuu apertaram a borda da mesa, os anéis de ouro refletindo a luz fraca das velas. Quando ele finalmente falou, sua voz saiu baixa e cortante, como se estivesse a um fio de perder o controle. Qualquer mulher sensata tomaria aquilo como um aviso. — Lembro bem daquela noite nas Bahamas, quando adormecemos juntos no sofá. Você também não gostava de mim, mas não me afastou com tanta força. O que mudou desde então?Inclinei-me para frente, apoiando os antebraços na mesa, oferecendo a ele um sorriso discreto, o suficiente para enganar qualquer um que estivesse nos observando. Mas o sorriso, embora suave, não combinava com a acidez do meu tom.— Além de me deixar sozinha assim que chegamos, suas ridículas tentativas de me controlar e a sua obsessão por um beijo, entre mim e Nitta, que sequer aconteceu — sussurrei, mantendo a voz baixa para que não se espalhasse pelo restaurante. — Um beijo que você se recusa a discutir, mas pelo qual continua me julgando?Ryuu se endireitou, os o