&Beatrice&— Francamente — murmurei, empurrando distraída a comida no prato com o garfo —, depois de tudo que aconteceu com minha mãe, achei que ele faria de tudo para me manter longe de qualquer envolvimento com mafiosos ou esse tipo de vida.Ryuu ergueu o olhar, os olhos atentos, mas sem pressa na resposta.— O que quer dizer?Parei por um momento, surpresa pelo tom subitamente áspero dele. Não esperava essa reação. Suspirei, meu olhar fixo no prato à frente enquanto minhas palavras saíam, carregadas de memórias dolorosas.— Por causa das conexões dele, minha mãe se tornou um alvo. Ela não sabia lidar com essa vida… teve um ataque, ela acabou não conseguindo se proteger. Morreu dias depois que eu nasci, por causa dos ferimentos.— Eu entendo. — A voz de Ryuu soou estranha, rápida demais, como se o desconforto o estivesse empurrando. Havia algo nesse assunto que claramente o deixava inquieto. Eu não tinha planejado tocar nesse ponto, muito menos naquela noite. Mas então me lembrei da
&Ryuu& As mãos de Beatrice estavam apoiadas em meu peito, imóveis, sem me afastar. Ela podia sentir como meu coração batia descompassado, com força? O silêncio dela me dizia mais do que qualquer palavra. Não havia rejeição, mas também não havia aceitação explícita.Soltei um suspiro profundo, resignado, e depositei um beijo breve e casto em sua têmpora, pronto para me afastar. Claro, ela não queria me beijar. Por que iria? Por que me desejaria da mesma forma que eu a desejava?Poucas pessoas me queriam além do meu nome, do poder que ele trazia. Não era justo esperar que Beatrice fosse diferente, especialmente depois de ter deixado tão claro seu desprezo por mim. Meus dedos começaram a se desprender de sua cintura, mas antes que eu pudesse me afastar, senti suas mãos agarrarem a frente da minha camisa. Congelei. Ela se ergueu na ponta dos pés e seus lábios roçaram os meus com uma suavidade que me deixou incrédulo.— Eu… — A voz dela saiu embargada, baixa, enquanto ela se afastava, as
Não era a primeira vez que eu tinha me entregado a um homem, mas isso era algo que ninguém jamais saberia. A única vez que me permiti havia sido há anos, em um momento apressado e de paixão fugaz. Desde então, nunca mais me atrevi a correr o risco de enfrentar a ira da minha família caso algo fosse descoberto. Porém, aquilo, aquela experiência distante, não chegava nem perto do que tinha acontecido entre mim e Ryuu na noite passada.Ryuu, ao contrário, tomou seu tempo comigo. Cada toque seu era meticuloso, suas mãos e sua boca explorando meu corpo com uma paciência que me desarmava por completo. Eu me perdi sob seu controle, contorcendo-me sobre os lençóis, até que a súplica escapou de meus lábios, implorando por mais.Agora, de pé diante do espelho, encarei meu próprio reflexo, perguntando-me como seria possível encarar Ryuu após a entrega da noite anterior. Meu corpo ainda carregava os vestígios daquela devassidão, e, apesar de tudo, eu estava convencida de que nada mudara. Ele perm
— O que você está fazendo aqui? — perguntei com o puro desgosto transbordando em cada sílaba. — Beatrice. — Ele pronunciou meu nome com um aceno leve de cabeça, enquanto dava um passo adiante. Instintivamente, recuei. Esse gesto, por mais sutil que fosse, indicava que, apesar de tudo em mim desejar bater a porta em sua cara abatida, eu estava permitindo que ele entrasse.— Eu deveria me encontrar com Ryuu em algumas horas no escritório, mas quis ver você primeiro — completou Giacomo, com uma voz que tentava soar casual, mas falhava miseravelmente.— Giacomo! — O grito de Ryuu ecoou atrás de mim, fazendo-me estremecer. O susto correu por meu corpo antes que eu tivesse a chance de me recompor. Não esperava que ele ainda estivesse em casa àquela hora. Antes que eu pudesse protestar, senti o braço de Ryuu envolvido firmemente ao redor da minha cintura, me puxando para junto dele com uma força que não permitia discussão.Fiquei calada, comprimindo os lábios, enquanto notava o nervosismo v
&Beatrice&Sentada na poltrona de couro de espaldar alto, observei a sala com o coração acelerado. O ar parecia pesado, denso com a tensão palpável entre os homens. Ryuu tinha me deixado ali sozinha para buscar a papelada em seu escritório, e, a cada segundo de sua ausência, eu me sentia cada vez mais vulnerável, cercada por meu pai e Espósito. Giacomo e Espósito se acomodaram em extremidades opostas do sofá. Meu pai, rígido e nervoso, mal conseguia conter o tremor da perna enquanto seus olhos varriam o ambiente com uma carranca constante. Já Espósito, completamente à vontade, reclinou-se no assento como se estivesse em casa, cruzando as mãos no colo, os olhos brilhando com uma diversão que só ele compreendia.Dario, felizmente, permanecia ao meu lado. Seus braços cruzados firmemente contra o peito e a carranca inabalável no rosto demonstravam seu desgosto com toda a situação. Seus olhos se alternavam entre Giacomo e Espósito, mas nenhum dos dois parecia preocupado com a hostilidade
Quando entrei no quarto, vi Beatrice já deitada, enfiada debaixo dos lençóis. As luzes estavam apagadas, as cortinas fechadas, como se ela quisesse se esconder do mundo — ou de mim. O silêncio era opressor. Com um gesto hesitante, acendi uma das lâmpadas, iluminando o ambiente em tons suaves.— São apenas nove horas — comentei, notando que ela não estava dormindo, apenas envolta em uma névoa de mau humor. Beatrice permaneceu calada, mas depois de alguns segundos, suspirou pesadamente e se sentou. Seus olhos estavam vermelhos, as bochechas ainda úmidas de lágrimas que não consegui apagar.Ela estava vestida para dormir, e mesmo assim, o contraste das marcas em seu pescoço — minhas marcas — era inegável. Eu deveria me envergonhar, talvez, por deixá-la assim, como se tivesse marcado meu território com a voracidade de um garoto inexperiente. Mas em vez disso, uma satisfação silenciosa cresceu dentro de mim. Havia algo primitivo em vê-la marcada por mim, uma prova tangível do que havíamos
Assim que abri os olhos naquela manhã, o primeiro pensamento que me invadiu foi encontrar Dario. A ideia de ter meu primo por perto, depois de tanto tempo sozinha, me deu uma esperança quase desesperada. Ele estava em um quarto distante do que eu dividia com Ryuu, e, embora eu não soubesse se isso tinha sido proposital, eu não conseguia evitar o desconforto dessa separação. Desde que cheguei à América, a saudade da minha família só aumentou, e a solidão, que parecia ter se tornado uma sombra constante, agora se tornava insuportável.Eram 7:00 da manhã quando bati na porta do quarto dele, sem esperar resposta. Entrei sem hesitar. Por sorte, ele já estava de pé, vestido, diferente de mim, que só consegui vestir um moletom velho e shorts na pressa.— Bom dia, Beatrice — Dario riu, sua voz rouca, um sorriso surgindo em seus lábios. Ele não parecia surpreso com a minha invasão matinal.Eu não disse nada. Em vez disso, corri até ele, me jogando em seus braços. Apertei-o com força, como se q
— Ele é meu marido! Claro que sou leal a ele e à sua família! — A fúria crescia em mim, queimando meu rosto enquanto eu me virava para Dario com um olhar que nunca pensei ser capaz de lançar contra ele. Eu nunca tinha falado com ele dessa forma, nunca precisara. Mas agora… não havia como evitar.— Lealdade por medo ou por amor? — Dario soltou uma risada curta e amarga, e senti o peito apertar como se suas palavras tivessem me atingido fisicamente. Dei um passo hesitante para trás, o calor nas minhas bochechas agora substituído por uma frieza vazia. As lágrimas que antes estavam ali se secaram.— O que importa? A lealdade está lá, de qualquer forma.Ele balançou a cabeça, com o cenho franzido, como se estivesse tentando me fazer enxergar o que eu me recusava a admitir.— O medo é uma base frágil para qualquer coisa, Bea. Ele distorce, manipula. Se você é leal por medo, não está escolhendo nada, está sendo forçada. Deixe sua família ajudá-la, eu posso ajudá-la.Aquelas palavras, “sua fa