— Não sabia que você apreciava tanto a minha personalidade encantadora e minhas habilidades de conversação, Hime — Fukui murmurou, a voz grave, carregada de sarcasmo.— Você está sendo um escroto! — retruquei, sentindo minhas bochechas esquentarem. — Eu não tive ninguém para conversar além de Nitta e os funcionários durante toda a semana. Desculpe se estou um pouco desesperada por uma conversa. E, além disso, não tenho dinheiro, então você vai ter que pagar.Fukui zombou, mas logo sua expressão se transformou num sorriso radiante quando o atendente do café nos cumprimentou e anotou o pedido. Apesar de sua evidente exasperação, ele entregou algumas notas com a mesma eficiência de sempre.— Posso pegar seu número? — perguntei, observando que sua atenção ainda estava completamente presa ao celular.— Você quer meu número de telefone? — Fukui levantou uma sobrancelha, visivelmente divertido.— Não tenho o número de nenhum de vocês. Não parece muito inteligente não ter.— Nem mesmo o de Ry
&Ryuu& Inclinei a cabeça e sorri, observando o homem amarrado diante de mim. O porão ao nosso redor era vazio e frio, o concreto das paredes, do chão e do teto apenas amplificava a sensação de isolamento. O suor escorria das têmporas dele, e seus olhos, frenéticos, saltavam entre mim e Nitta. Meu irmão segurava um taco de metal manchado de sangue, com uma expressão entediada que contrastava com a tensão no ar.A adrenalina pulsava em minhas veias, me inundando com aquela sensação perigosa de poder que eu conhecia tão bem. Era um vício doentio, o tipo de satisfação que só vinha quando eu resolvia os problemas pessoalmente, em vez de delegar para Nitta ou os outros homens. Como chefe mafioso, eu raramente sujava as mãos. Mas, em momentos como aquele, percebia o quanto apreciava fazer isso.— Eu não sei de nada — ele implorou, a voz trêmula e distorcida pela dor que vazava de sua mandíbula ferida. A pele pálida destacava o sangue que escorria, tornando o medo em seus olhos quase palpáve
Fukui limpou a garganta, visivelmente exasperado, e começou a falar:— Esta é...— Sophia Raptis, amiga da família — interrompeu Sophia, com um sorriso que logo se desfez em um leve franzir dos lábios. — Não sabia que havia um casamento na família. É surpreendente como isso foi mantido em segredo.Forcei um sorriso, tentando esconder qualquer amargura que ainda pudesse transparecer.— Quis algo pequeno e íntimo — menti, mantendo a voz o mais neutra possível. Desde o início, sabia que teria de manter as aparências, especialmente em público. — Sou um pouco tímida com muita atenção. E Ryuu... ele não se importou.Ao mencionar Ryuu, notei a postura de Sophia relaxar ligeiramente.— Ryuu, claro — murmurou ela, desviando o olhar para os guarda-costas. — Achei que os trajes eram um pouco exagerados para Fukui — acrescentou com um tom divertido.Não consegui evitar um sorriso, enquanto via Fukui revirar os olhos, claramente irritado. Ele me lançou um olhar acusador antes de se levantar abrupt
&Beatrice&Assim que Fukui e eu voltamos para casa, escapei para o meu quarto, ansiosa para me livrar dos olhares pesados dos guardas. A ideia de que Ryuu os teria instruído a me vigiar não me surpreendia, afinal, ele nunca confiaria em mim. Por que confiaria? Eu era apenas mais uma peça em seu jogo, uma que ele parecia apreciar manter sob controle.Quando entrei no quarto, meu alívio foi interrompido ao ver Ryuu, recostado na cabeceira da cama com um grosso volume nas mãos. Ele estava concentrado na leitura, mas sua presença era uma sombra sufocante sobre mim.— Você tem algo apropriado para vestir? — ele perguntou, a voz seca e indiferente, sem desviar os olhos do livro. Aquela frieza me irritava profundamente, e ao fitar meu marido, senti o calor da raiva se espalhar por mim. Permaneci em silêncio, e isso pareceu incomodá-lo, pois ele finalmente ergueu o olhar, uma expressão azeda se formando em seu rosto. — Eu te falei sobre essa festa ontem. Tem ou não algo para vestir? — insis
&Ryuu&— Seus olhos não saem dela desde que se levantou, e você está mais tenso do que o normal — Fukui observou, com um tom carregado de malícia. Revirei os olhos, a irritação crescendo dentro de mim. — Não sou um adolescente, Fukui. Não confunda cautela com frustração sexual — rebati, sem disfarçar o desdém na voz.— Cautela? — Fukui, de repente, endireitou-se na cadeira, o olhar agora fixo em mim, a provocação dando lugar a uma seriedade inesperada. — Você acha que ela corre algum risco aqui? — A descrença era evidente no seu tom, embora seus olhos já estivessem varrendo a sala em busca de ameaças.Minha mandíbula se contraiu. Hesitei por um momento, lutando contra a sensação de impotência que me corroía. — Eu não sei — admiti, a frustração escorrendo pelas palavras. Era insuportável pensar que, mesmo sendo um dos homens mais temidos de Los Angeles, eu ainda não conseguia rastrear as origens das ameaças que pairavam sobre Beatrice. Minha mente estava sempre em alerta, mas essa
&Beatrice& Deitada na cama com o celular na mão, eu assistia aos destaques do noticiário da noite, tentando ignorar a presença de Ryuu no quarto. Ele não passava uma noite aqui desde que casamos, então por que diabos ele estava agora? Eu só queria apagar as luzes e dormir, mas parecia que isso estava longe de acontecer. Ele se movia pelo quarto como um furacão, resmungando para si mesmo e batendo as portas das gavetas com uma fúria que eu não entendia.A festa tinha sido exaustiva. Saímos cedo, mas mesmo assim, a socialização foi um fardo. A família dele era enorme, muito maior do que a minha, e todos pareciam querer falar comigo ao mesmo tempo. Agora, enquanto ele continuava a fazer barulho, a exaustão só piorava.— Ryuu — chamei suavemente, sem desviar os olhos do celular. Notei, de relance, que ele se virou na minha direção, mas não me incomodei em encará-lo. Já sabia que tudo o que veria seria uma carranca. — Vai continuar fazendo esse barulho? Eu gostaria de dormir bem esta noit
Naquela manhã, não havia qualquer vestígio de que Ryuu tivesse retornado após o misterioso telefonema da noite anterior. Eu tentei não deixar isso me irritar, mas era difícil. A sensação de ser excluída, de ser mantida à margem, me corroía por dentro. A verdade é que ele estava guardando segredos de mim, e isso era mais do que evidente.Eu sabia muito bem que, na linha de trabalho de Ryuu, conhecimento era poder. Se ele queria manter segredos, que assim fosse. Eu não o interrogaria diretamente, mas isso não significava que eu ficaria de braços cruzados. Se ele não falaria, eu encontraria alguém que o fizesse.— Fukui — chamei assim que o vi na sala, logo após o café da manhã. Ele estava concentrado em seu notebook, a expressão séria, os dedos movendo-se rapidamente sobre o teclado. — Preciso te fazer algumas perguntas. — Isso vai demorar? — resmungou, sem desviar os olhos da tela. Estava claro que a minha presença o incomodava. Eu deveria me aborrecer, mas entendia. Não era culpa del
&Beatrice& A voz do apresentador reverberava pela sala: “A seguir, mais detalhes sobre a libertação de Vincenzo Espósito, homem com múltiplas ligações à máfia ítalo-americana, condenado em 1997 por vários crimes…”De repente, a TV se apagou, cortando bruscamente o noticiário. Meu olhar severo se voltou para a tela agora negra, e então para o homem ao meu lado, segurando o controle remoto. Quando reconheci o semblante sombrio do meu sogro, meu humor esfriou, e me encolhi na poltrona. Achei que ele já tivesse ido embora.— Nunca tive paciência para o noticiário. Prefiro um bom livro — ele disse, erguendo um pequeno romance de aparência surrada à altura dos meus olhos. Permaneci em silêncio, os lábios selados. Gojou notou minha hesitação; seus olhos se estreitaram levemente antes de ele se mover, acomodando-se no sofá onde Ryuu havia estado mais cedo naquele dia. — Como você está se ajustando?— Como era de se esperar — murmurei, minha voz quase um sussurro, enquanto o observava atentam