JéssicaEnquanto me arrumava para sair, minha filha estava na cozinha com a governanta. Me olhei no espelho, vendo se minha roupa estava boa. Optei por uma calça jeans preta, camiseta branca e tênis. Queria ser o mais discreta possível, para não arriscar ser descoberta por alguém. Desde o dia do escândalo eu evitei sair para qualquer lugar, permanecendo presa entre os muros desta casa. Vi meu visual pela última vez e saí do quarto, descendo para me despedir da minha filha. Assim que entrei na cozinha, encontrei Valentina usando seu vestido florido, o cabelo trançado e o rostinho sujo de farinha de trigo. Minha filha me viu encostada no batente e correu até mim ao me ver.— Mocinha toma cuidado, ou você vai acabar caindo — chamo atenção de Valentina que pede desculpas por isso.— Mãe, a tia e eu estamos preparando bolo de chocolate para o senhor Leonardo.Leonardo me avisou cedo, que ficaria com Valentina depois que saísse do hospital. A desculpa para visitar a tia foi a melhor que enc
JéssicaCheguei em casa antes da hora prevista. Como titia não acordou, a enfermeira me aconselhou a ir embora. Que não adiantava nada ficar ali, sem poder fazer algo. Protestei dizendo que meu desejo era permanecer ao seu lado, porém a enfermeira foi firme e acabei concordando. Quando saí, Moisés me esperava no mesmo lugar e perguntou se eu voltaria mesmo para casa ou se gostaria de ir a outro lugar. Pedi que me levasse para mansão. Se Leonardo estivesse com a filha, subiria para o meu quarto e ficaria ali até a hora dele ir embora. Decidi que evitaria aquele homem a partir de hoje. Na minha cabeça era, mas fácil assim. Quando desci do carro vi um veículo diferente parado na entrada e curiosa me perguntei quem seria. Fernanda continuava viajando, o carro do Pedro era outro. Entrei na casa, passando pela varanda que dava antes de chegar na sala e dou de cara com Viviane saindo com Leonardo. O que aquela mulher fazia ali? Será que não gostou de descobrir que a amante do ex-marido dela
FernandaEra a terceira vez que minha amiga me ligava. Me sentia um monstro por evitar Jéssica e por fugir de forma tão covarde. Não passava de uma puta traidora, que vendeu a melhor amiga, por alguns reais. Mentir para minha amiga por todos esses anos foi tão difícil para mim. Omitir que Valentina era filha do governador foi a única coisa que consegui esconder por todo esse tempo. Contudo, a saída do desgraçado do Marcelo, me obrigou a revelar a paternidade da minha bonequinha. Vigiar os passos dela, manter Jéssica ao meu lado e até mesmo ajudar com a vida que ela levava, era parte do meu trabalho. Porém, eu gostava de verdade daquelas duas e por ser uma filha da puta, vendi para a vadia da Larissa toda a história. Quando Jéssica descobrisse, me odiaria pelo resto da vida. No entanto, eu fui obrigada a trair sua amizade, ou essa hora estaria presa por tráfico de pessoas e fraude. Jéssica não sabia nada sobre mim, além do que eu queria que soubesse. Não tinha noção do que sabia sobre
Jéssica Subi para o quarto da Valentina, deixei a caixa com os brinquedos no canto e fui me sentar na cama para pensar como agir nessa noite. Tirei o celular do bolso da calça tentando ligar novamente para Fernanda. Minha amiga se encontrava desaparecida e não tinha com quem desabafar. Quando ele entrou em casa, meu coração se acelerou ao ver a camisa azul que ele usava, que o deixava mais bonito. Era um tormento ter aquele homem todos os dias vindo ver a filha e eu ignorando sua presença. No momento que assisti ao discurso dele na televisão, por um instante desejei que tudo que ele disse fosse verdade. Porém, era apenas mentiras, para enganar as pessoas e manter a boa imagem perante a sociedade. Minha identidade e da filha permaneceram em segredo e isso me deixava ansiosa e angustiada. Não tinha como saber qual passo ele daria e como continuaria a nossa péssima relação. Levantei-me da cama, arrumei meu cabelo no espelho e desci para o jantar. Dei tempo suficiente para que pai e filha
LeonardoMaldita feiticeira! Entrei no meu quarto, trancando a porta para evitar de fazer uma besteira. Aquela mulher me tirava do sério, com aquele sorriso debochado, me confundindo com as palavras ditas. O único sentimento que a Jéssica sentiu por mim foi gratidão. Eu sei que fui culpado, por alimentar esse sentimento, quando continuei nossa relação por meses. Deito-me na cama, tentando me concentrar e não tomar nenhuma atitude que faria eu me arrepender como todas as vezes.Custava ela aceitar o almoço com meus pais? Não estava pedindo nada além de se dedicar a agradar nossa filha. Passaria o final de semana com Valentina, após o almoço com meus pais, teria uma conversa de pai para filha e contaria a verdade sobre minha identidade. Jéssica brincava comigo, achando que eu era algum idiota. Além disso, eu precisava lidar com a mídia e não teria coragem de fingir um relacionamento com ela de maneira alguma. Seria mais um erro entre tantos que cometo desde que nos conhecemos. Jéssica
JéssicaDepois que Valentina e o pai saíram, me tranquei no quarto para pensar melhor no que fazer durante o final de semana longe da minha filha. Leonardo foi pego de surpresa, ao descobrir que eu fui, mais rápida ao contar a verdade para nossa filha. Valentina entendeu de forma simples o que disse sobre minha relação com seu pai. Omiti tudo, criando uma história totalmente diferente da verdade. Contei que conheci Leonardo em uma consulta, quando ainda era diretor da clínica. Que nos tornamos amigos, nos reencontramos um tempo depois, quando eu morava no Rio de Janeiro e que desse único reencontro eu fiquei grávida. Valentina indagou se eu era apaixonada pelo pai, se eu me casaria com Leonardo e respondi que entre a gente teria apenas uma relação de amizade. Menti que tive medo de revelar que ele tinha uma filha, por vim de um mundo diferente do meu e como eu era muito nova, preferi criá-la sozinha. Tantas mentiras contei para minha filha. Valentina teria uma vida diferente da minha
LeonardoMeu almoço foi com Valentina animada com a comida que Regina preparou. Minha funcionária fez strogonoff de carne, batata frita e purê de batata. Aurea tinha me contado que purê de batata era o prato favorito da menina.Agora estávamos no jardim, com Valentina sentada em uma das cadeiras de madeira que faziam parte da decoração. A tarde estava ensolarada e nos escondíamos do sol, sentados embaixo de uma das árvores que tinha ali.—Vou conversar com sua mãe a respeito da escola — vejo Valentina prestando atenção ao que falo. Ela tinha dito que Jéssica matricularia a menina na escola de Estrela Guia. Era uma boa escola, colocamos todos os nossos esforços ali, porém minha filha não teria como estudar. — Na outra cidade, eu estudava bem pertinho da nossa casa. Minha mãe me levava e às vezes a filha da vizinha cuidava de mim. Tia Nanda viaja muito e minha mãe trabalha até tarde.Escuto Valentina contando mais um detalhe sobre a vida que ela levava com a mãe. Não consegui acreditar
LeonardoValentina mal desceu do carro e saiu correndo até o meu pai que nos esperava na porta de casa. Como já imaginava, minha mãe não estava junto do marido e esperava que ela não me decepcionasse, tratando minha filha com indiferença. Não estava a fim de ouvir Jéssica me enchendo a paciência por conta disso e assim ter motivos para falar mal da minha família.— Vejo que sua neta já se entrosou bem com o avô — brinquei ao ver meu pai com minha filha nos braços.— Minha neta é uma menina esperta. Percebi isso quando a encontrei no hospital — meu pai responde, caminhando na frente com Valentina. Entramos em casa e minha mãe também não estava nos esperando na sala. Era só o que me faltava, se recusar a almoçar comigo e a neta me deixando em uma situação complicada.Assim que meu pai se acomoda no sofá com a neta ao seu lado, vejo quando mamãe desce e sinto um alívio. Notei que ela se arrumou demais para um simples almoço. Será que ela pensou que Jéssica me acompanharia e queria humilh