A luz do sol entrava pela janela da sala, refletindo-se nas paredes brancas e criando um ambiente alegre. Porém, essa sensação de felicidade foi abruptamente substituída por uma sombra quando recebi a ligação da professora de Alice.— Alby, houve um acidente. Alice se machucou no escorregador e precisamos que você venha para o hospital — a voz da professora soava preocupada, e meu coração disparou.A imagem de Alice caindo do escorregador, com a expressão de dor estampada no rosto, invadiu minha mente. A pequena tinha apenas cinco anos e já enfrentava um mundo repleto de desafios. E, como guardiã/tutora, eu queria estar ao lado dela em cada momento, especialmente nos difíceis.Cheguei ao hospital em um turbilhão de emoções. O cheiro do álcool e dos produtos de limpeza invadiu minhas narinas enquanto eu procurava Alice na sala de emergência. Quando finalmente a encontrei, estava sentada em uma maca, com um curativo no braço e o olhar distante, como se estivesse lutando contra as l
Os dias passaram como um borrão, com a rotina de Fernanda me mantendo em um estado constante de alerta e cansaço. A cada nova excentricidade dela, meu cérebro parecia entrar em um modo de sobrevivência. Mas, naquele dia, algo inesperado aconteceu. Eu estava sentado em um café, tentando me concentrar em um relatório que precisava revisar, quando meu telefone vibrou na mesa.Era Raúl, um amigo próximo da época em que eu e Alby estávamos mais juntos. Fui pego de surpresa ao ver o nome dele na tela. Desde que Alby e Alice desapareceram de nossas vidas, Raúl tinha sido uma das poucas pessoas que ainda tentava entender o que estava acontecendo.— Isaías! — a voz dele soou animada, mas havia uma tensão que não consegui ignorar. — Você não vai acreditar no que eu descobri!— O que foi, Raúl? — minha mente imediatamente se alertou. Havia uma mistura de esperança e apreensão.— Eu estou em viagem e parei em um café numa cidade pequena para esticar as pernas, e… — ele hesitou, como se qui
O sol estava se pondo quando decidi que não poderia esperar mais. A ansiedade pulsava em meu peito como um tambor, a batida ecoando nas paredes do meu ser. Raúl havia me dado uma informação preciosa: Alby e Alice estavam em um parque, rindo e se divertindo, e a ideia de vê-las me fazia sentir um misto de esperança e medo. Peguei o carro e dirigi sem rumo, mas meu destino era claro. O parque que Raúl mencionou não era muito longe de onde eu morava, algumas cidades a frente, cerca de uma hora e meia de carro. E assim peguei a estrada. A cada curva que passava, a expectativa crescia. As vozes de Fernanda, com suas perguntas incessantes, se tornaram um ruído distante. Ela não parava de ligar, mas a cada chamada, eu simplesmente ignorava. Não tinha espaço para as maluquices dela naquele momento; minha mente estava focada em Alby e Alice.Assim que cheguei ao parque, estacionei o carro e saí, tomando um profundo fôlego para me acalmar. Será que as encontraria ali? No entanto, est
Os dias haviam se transformado em uma rotina confortável para mim e para Alice. O trabalho na loja trouxe uma nova vida para minha existência, um ritmo que eu não sabia que precisava. No entanto, mesmo em meio a esse novo cotidiano, algo começava a perturbar meu espírito inquieto. Uma sensação estranha, como se estivesse sendo observada, me acompanhava frequentemente.Era uma tarde tranquila, e o sol brilhava com um calor gentil. Alice estava brincando no parquinho em frente à loja, seus risos ecoando na brisa leve.Eu estava atrás do balcão, organizando algumas mercadorias, mas minha mente se desviava constantemente para o exterior. Algo não estava certo.Eu olhei pela janela e a vi, tão feliz, tão livre. Mas algo em meu íntimo me dizia que não estava sozinha. Olhei ao redor, observando os passantes e as crianças correndo, mas não conseguia identificar a fonte daquela inquietação. Era como se alguém estivesse me observando com atenção, avaliando cada movimento, cada respiraçã
A brisa suave da manhã entrava pela janela, trazendo o cheiro fresco do orvalho. Alice estava em seu quarto, entretida com seus brinquedos, sorrindo e brincando como se nada tivesse acontecido. O acidente na escola havia sido um susto, mas agora, depois de algumas semanas, ela parecia completamente recuperada. A vida, de alguma forma, havia retornado ao seu curso normal, mas uma sombra de saudade e arrependimento se instalava em meu coração.Eu a observava de longe, admirando sua alegria inocente. Entretanto, a imagem de Isaías se instalava em minha mente, mais vívida do que nunca.Ele sempre fora uma presença constante em nossas vidas, especialmente nos momentos em que a dor e o medo ameaçavam nos consumir. Eu desejava que ele estivesse aqui agora, cuidando de Alice como sempre fez, com seu jeito calmo e acolhedor.— Olha, Alby! — Alice chamou, balançando um de seus brinquedos coloridos. — Vem brincar comigo!Eu sorri, mas o desejo de me aproximar de Isaías era mais forte do qu
O dia tinha começado como qualquer outro, mas eu sabia que não duraria. A rotina estava se tornando uma sequência de desafios diários, onde cada ligação de Fernanda era uma nova pedra em meu caminho. Ela parecia ter decidido que minha vida, meus sentimentos, tudo o que eu valorizava, era um palco para suas exigências incessantes. Jamais pensei na minha vida que essa mulher voltaria a ocupar meus dias. Ela literalmente passou por cima de tudo que me fez lá atrás e segue como se não tivéssemos vivido nada. Tento ao máximo ignorar essa situação, mas há momentos que me sinto um idiota, essa é a verdade. De todas as mulheres que me relacionei, tinha que ser a pior de todas a engravidar de um filho meu. Como torci para aquele exame de DNA dar a paternidade para outro. Mas para minha infelicidade, lá estava os 99,99999% gritando para mim. — Isaías, você precisa me ouvir! — A voz dela soava como um eco dentro do meu cérebro, uma batida persistente que eu não conseguia ignorar.
Me sentei no sofá, a televisão ligada, mas os sons apenas preenchiam o vazio ao meu redor. Enquanto eu olhava para a tela, uma memória antiga começou a se desenhar em minha mente, como um filme que eu não conseguia parar de assistir.Lembro-me de quando tudo desmoronou pela primeira vez. Era uma época em que a vida parecia cheia de promessas, mas as promessas eram como sombras — nunca se concretizavam. As risadas eram raras em casa, e o peso da expectativa sempre pairava sobre nós, como uma nuvem carregada prestes a explodir. Eu tinha apenas dezesseis anos quando minha mãe entrou em uma espiral de depressão, um ciclo interminável de tratamentos e recaídas.— Não se preocupe, Isaías, tudo vai ficar bem — eu repetia para mim mesmo, embora não acreditasse. O medo e a incerteza tornaram-se parte da minha rotina, e eu aprendi a me esconder atrás de uma fachada de força. Mas por trás daquela máscara, o desespero corria solto.A loucura da situação me ameaçava a cada instante, e eu pre
O sol se punha lentamente no horizonte, tingindo o céu de um tom dourado que, em tempos normais, teria trazido alegria ao meu coração. Mas hoje, aquela beleza parecia apenas uma lembrança amarga do que eu havia perdido. Sentada na varanda, observando as cores se misturarem, não pude evitar que as lágrimas escorressem pelo meu rosto.A saudade de Isaías era um peso constante, um eco que preenchia os vazios da minha vida. Cada canto da casa parecia lembrar-me dele: o cheiro do café que ele fazia todas as manhãs, a maneira como ele ria de minhas piadas ruins e, principalmente, o olhar carinhoso que sempre tinha para mim e para Alice. Eu tentava ser forte, focada no que precisava fazer, mas sua ausência era um buraco profundo em meu peito.— Como você está, Isaías? — murmurei para mim mesma, na esperança de que ele pudesse ouvir. Eu me perguntava como ele estava lidando com a vida sem nós. Será que ele sentia a minha falta assim como eu sentia a dele? Será que ele olhava para o céu