O sol estava se pondo quando decidi que não poderia esperar mais. A ansiedade pulsava em meu peito como um tambor, a batida ecoando nas paredes do meu ser. Raúl havia me dado uma informação preciosa: Alby e Alice estavam em um parque, rindo e se divertindo, e a ideia de vê-las me fazia sentir um misto de esperança e medo. Peguei o carro e dirigi sem rumo, mas meu destino era claro. O parque que Raúl mencionou não era muito longe de onde eu morava, algumas cidades a frente, cerca de uma hora e meia de carro. E assim peguei a estrada. A cada curva que passava, a expectativa crescia. As vozes de Fernanda, com suas perguntas incessantes, se tornaram um ruído distante. Ela não parava de ligar, mas a cada chamada, eu simplesmente ignorava. Não tinha espaço para as maluquices dela naquele momento; minha mente estava focada em Alby e Alice.Assim que cheguei ao parque, estacionei o carro e saí, tomando um profundo fôlego para me acalmar. Será que as encontraria ali? No entanto, est
Os dias haviam se transformado em uma rotina confortável para mim e para Alice. O trabalho na loja trouxe uma nova vida para minha existência, um ritmo que eu não sabia que precisava. No entanto, mesmo em meio a esse novo cotidiano, algo começava a perturbar meu espírito inquieto. Uma sensação estranha, como se estivesse sendo observada, me acompanhava frequentemente.Era uma tarde tranquila, e o sol brilhava com um calor gentil. Alice estava brincando no parquinho em frente à loja, seus risos ecoando na brisa leve.Eu estava atrás do balcão, organizando algumas mercadorias, mas minha mente se desviava constantemente para o exterior. Algo não estava certo.Eu olhei pela janela e a vi, tão feliz, tão livre. Mas algo em meu íntimo me dizia que não estava sozinha. Olhei ao redor, observando os passantes e as crianças correndo, mas não conseguia identificar a fonte daquela inquietação. Era como se alguém estivesse me observando com atenção, avaliando cada movimento, cada respiraçã
A brisa suave da manhã entrava pela janela, trazendo o cheiro fresco do orvalho. Alice estava em seu quarto, entretida com seus brinquedos, sorrindo e brincando como se nada tivesse acontecido. O acidente na escola havia sido um susto, mas agora, depois de algumas semanas, ela parecia completamente recuperada. A vida, de alguma forma, havia retornado ao seu curso normal, mas uma sombra de saudade e arrependimento se instalava em meu coração.Eu a observava de longe, admirando sua alegria inocente. Entretanto, a imagem de Isaías se instalava em minha mente, mais vívida do que nunca.Ele sempre fora uma presença constante em nossas vidas, especialmente nos momentos em que a dor e o medo ameaçavam nos consumir. Eu desejava que ele estivesse aqui agora, cuidando de Alice como sempre fez, com seu jeito calmo e acolhedor.— Olha, Alby! — Alice chamou, balançando um de seus brinquedos coloridos. — Vem brincar comigo!Eu sorri, mas o desejo de me aproximar de Isaías era mais forte do qu
O dia tinha começado como qualquer outro, mas eu sabia que não duraria. A rotina estava se tornando uma sequência de desafios diários, onde cada ligação de Fernanda era uma nova pedra em meu caminho. Ela parecia ter decidido que minha vida, meus sentimentos, tudo o que eu valorizava, era um palco para suas exigências incessantes. Jamais pensei na minha vida que essa mulher voltaria a ocupar meus dias. Ela literalmente passou por cima de tudo que me fez lá atrás e segue como se não tivéssemos vivido nada. Tento ao máximo ignorar essa situação, mas há momentos que me sinto um idiota, essa é a verdade. De todas as mulheres que me relacionei, tinha que ser a pior de todas a engravidar de um filho meu. Como torci para aquele exame de DNA dar a paternidade para outro. Mas para minha infelicidade, lá estava os 99,99999% gritando para mim. — Isaías, você precisa me ouvir! — A voz dela soava como um eco dentro do meu cérebro, uma batida persistente que eu não conseguia ignorar.
Me sentei no sofá, a televisão ligada, mas os sons apenas preenchiam o vazio ao meu redor. Enquanto eu olhava para a tela, uma memória antiga começou a se desenhar em minha mente, como um filme que eu não conseguia parar de assistir.Lembro-me de quando tudo desmoronou pela primeira vez. Era uma época em que a vida parecia cheia de promessas, mas as promessas eram como sombras — nunca se concretizavam. As risadas eram raras em casa, e o peso da expectativa sempre pairava sobre nós, como uma nuvem carregada prestes a explodir. Eu tinha apenas dezesseis anos quando minha mãe entrou em uma espiral de depressão, um ciclo interminável de tratamentos e recaídas.— Não se preocupe, Isaías, tudo vai ficar bem — eu repetia para mim mesmo, embora não acreditasse. O medo e a incerteza tornaram-se parte da minha rotina, e eu aprendi a me esconder atrás de uma fachada de força. Mas por trás daquela máscara, o desespero corria solto.A loucura da situação me ameaçava a cada instante, e eu pre
O sol se punha lentamente no horizonte, tingindo o céu de um tom dourado que, em tempos normais, teria trazido alegria ao meu coração. Mas hoje, aquela beleza parecia apenas uma lembrança amarga do que eu havia perdido. Sentada na varanda, observando as cores se misturarem, não pude evitar que as lágrimas escorressem pelo meu rosto.A saudade de Isaías era um peso constante, um eco que preenchia os vazios da minha vida. Cada canto da casa parecia lembrar-me dele: o cheiro do café que ele fazia todas as manhãs, a maneira como ele ria de minhas piadas ruins e, principalmente, o olhar carinhoso que sempre tinha para mim e para Alice. Eu tentava ser forte, focada no que precisava fazer, mas sua ausência era um buraco profundo em meu peito.— Como você está, Isaías? — murmurei para mim mesma, na esperança de que ele pudesse ouvir. Eu me perguntava como ele estava lidando com a vida sem nós. Será que ele sentia a minha falta assim como eu sentia a dele? Será que ele olhava para o céu
O jantar na casa de Luana estava confortável e acolhedor, como sempre. Ela era uma das poucas pessoas que sabia como me fazer sentir em casa, e hoje parecia particularmente empenhada em algo mais. Alice estava ocupada conversando com Luana, quando Charles se juntou a mim no quintal. Ele parecia mais distante do que no jantar, os olhos perdidos nas sombras que as árvores projetavam sob a luz das estrelas.— Luana sempre tem essas ideias — ele comentou, sorrindo de leve. — Acho que ela realmente acredita que o jantar de hoje foi por acaso.Ri, sabendo bem como minha amiga adorava se intrometer e juntar pessoas. No entanto, percebi algo no olhar dele, uma melancolia que o sorriso discreto não conseguia esconder.— E você? Veio visitá-la porque está precisando se distrair? — arrisquei perguntar, e ele balançou a cabeça lentamente, como se pesasse as palavras antes de responder.— Algo assim — ele suspirou, enfiando as mãos nos bolsos. — Acabei de sair de um relacionamento. Acho que,
No fim de semana seguinte, recebi uma mensagem inesperada de Charles. Ele convidava Alice e eu para um passeio no cinema com seus sobrinhos. Sorri ao ler o convite, lembrando-me do nosso diálogo sincero na casa de Luana. Talvez Charles também tivesse sentido o mesmo alívio, uma conexão inesperada e genuína, como se, por algum motivo, pudéssemos ser um suporte um para o outro.Uma amizade que veio em um momento bem oportuno para nos dois. Alice ficou empolgada ao saber do passeio, e isso já fazia o convite valer a pena. Ao chegarmos no cinema, Charles e seus sobrinhos nos aguardavam. Ele acenou para mim com aquele sorriso calmo, de alguém que já viveu coisas demais para querer complicações desnecessárias.Depois que as crianças escolheram seus lugares e se perderam na empolgação dos trailers, Charles e eu nos sentamos lado a lado, e ele lançou um olhar para mim, um pouco hesitante.— Não pensei que você aceitaria o convite — ele admitiu em voz baixa, enquanto a tela começava a se