Minha vida estava se desmoronando. Precisava agir por mim e por Isaías. Ele não iria fazer nada que me magoasse. Mas eu não iria tomar decisão nenhuma sem antes analisar cada situação.Não iria deixar Fernanda ganhar essa guerra. Alice estava empolgada enquanto escolhia o presente perfeito para sua amiga. Eu a observava com um sorriso forçado, tentando não deixar que a carga emocional que me oprimia estragasse seu momento. Acompanhar a pequena em suas aventuras no shopping parecia uma boa maneira de escapar das minhas próprias incertezas, mas, como sempre, o destino tinha suas próprias intenções e amava zombar de mim.Depois de algumas horas explorando lojas, rindo e até fazendo algumas compras para mim mesma, a ideia de que poderia ter um dia leve e despreocupado começou a se concretizar. Quando finalmente decidimos sair, a luz do dia começava a se dissipar, e a movimentação frenética do shopping parecia ter alcançado seu ápice. Assim que saímos, Alice pulou de alegria ao avi
Fernanda cruzou os braços, um sorriso presunçoso nos lábios, e a sensação de estar cercada pela sua arrogância apenas intensificou minha determinação.— Não é isso que parece — disse Isaías, sua expressão se endurecendo.— O que parece é que você tomou uma decisão — eu retorqui, cada palavra carregada de dor. — E que essa decisão inclui ela. O silêncio se instalou novamente, e eu podia sentir o olhar de Fernanda em mim, como uma lâmina afiada.— Fernanda e eu… — ele começou, mas eu não deixei que terminasse.— Não! — interrompi, com uma intensidade que me surpreendeu. — Não me venha com explicações. Eu não quero saber. O que está em jogo aqui é o que nós éramos, o que poderia ser. — Eu não quero que você pense que eu… — ele hesitou, e a fragilidade em sua voz me atingiu como um soco no estômago.— Então me diga, Isaías! O que é que você quer? — exigi, a voz tremendo de emoção. — É isso que você quer para a sua vida? Você realmente acredita que a felicidade está ao lado dela? A e
Eu não poderia simplesmente continuar vivendo na mesma cidade que Isaías e Fernanda. Estaríamos sempre nos esbarrando, e a verdade é que eu já carregava feridas demais para suportar essa proximidade. Eu merecia mais que isso.Aproveitando que as aulas tinham acabado, conversei com Alice sobre a ideia de passarmos um tempo em outro lugar.— Mas Alby, vai ter praia lá! — exclamou Alice, cheia de entusiasmo.— Vai sim, princesa. E se decidirmos morar por lá, poderemos sempre ir.— Nossa, eu adoro praia! — ela disse, com os olhos brilhando de alegria.Sorri diante da inocência de Alice. Era fácil ser criança; para ela, tudo parecia simples, fácil e tranquilo. Mas a vida adulta era uma história diferente: complicada, cansativa e muitas vezes desalentadora.Fui para casa e comecei a preparar nossas malas. Cobri os móveis, organizei nossas coisas e avisei ao Dr. Moon que estaríamos saindo em viagem. Deixei as informações sobre nosso destino sob proteção de sigilo. Não queria que Isaía
A brisa do mar acariciava meu rosto enquanto observava Alice brincar nas ondas. O sol começava a se pôr, tingindo o céu de laranja e rosa, como uma promessa de novos começos. Havíamos chegado ao nosso novo lar, e por um breve momento, a sensação de alívio tomou conta de mim.Mas à medida que a luz do dia diminuía, a realidade de minha decisão começou a se assentar sobre meus ombros.Alice pulava nas ondas, rindo e gritando com a alegria contagiante das crianças. Seu cabelo molhado colava-se em seu rosto, e seu sorriso iluminava a praia como o sol que se despedia. Eu queria que aquele momento durasse para sempre. Queria guardar aquela imagem em minha mente, como um farol em meio à tempestade.Mas a dúvida ainda me acompanhava.Eu me perguntava se havia feito a escolha certa. Deixar para trás minha vida anterior significava não apenas me afastar de Isaías e Fernanda, mas também abrir mão de um mundo que conhecia tão bem. Um mundo que, embora complicado e doloroso, ainda trazia me
Deixei escapar um suspiro profundo enquanto continuava a encarar o vazio diante de mim, como se ali, naquele chão polido e desgastado pelo tempo, pudesse encontrar as respostas para as perguntas que me atormentavam.As lembranças surgiram sem aviso, como se estivessem apenas esperando o silêncio da manhã para se infiltrarem e me lembrarem do que deixei para trás.As lembranças…Era uma tarde quente, e o cheiro de grama recém-cortada se misturava com o som das nossas risadas, minhas e de Isaías, ecoando pelo quintal. Havíamos escapado de nossas responsabilidades por um tempo, fugindo para o lugar onde sempre nos sentíamos seguros. Deitados lado a lado, Isaías repousava a cabeça sobre os braços, olhando para o céu, como se, entre as nuvens, houvesse um caminho secreto para a liberdade que tanto desejávamos, mas que ainda não sabíamos como alcançar.Inesperadamente Isaías me olha daquele jeito que rouba todo o meu ar, com uma intensidade que dissolve qualquer resistência. Seus lábios
Ainda era estranho viver num bairro tão movimentado. Aquele vai e vem constante, os vizinhos sempre acenando, e, claro, a quantidade de crianças correndo para todos os lados… Às vezes eu ficava perdida. Mas Alice? Para ela, esse lugar parecia encantado. Em pouco tempo, ela já estava entrosada com as outras crianças, e eu, vendo aquele sorriso que eu tanto amava, sentia um alívio silencioso. Ela estava se sentindo em casa.Uma tarde, enquanto a buscava na escola, um grupo de pais me cercou, e entre eles, Luana. Ela tinha uma fala fácil e um sorriso tão presente que era impossível não notá-la. Ao lado dela, Tomás, seu marido de olhar tranquilo, logo puxou conversa sobre a rotina do bairro e sobre como as crianças crescem rápido demais.— Você vai ver, Alby — disse Luana, com a familiaridade de quem me conhecia há anos, quando na verdade nos falamos pouquíssimas vezes. — Logo vocês serão arrastadas para todos os eventos daqui. Festa de vizinhos, piqueniques, tarde das famílias,
Eu já estava tentando há dias. A cada ligação que fazia, o tom da linha parecia mais frio, mais distante. Até então, meu nome se tornara um peso quando era pronunciado por Alby, mas essa distância… essa ausência completa… não. Ela não era Alby. Não era o seu jeito dela de lidar com os problemas. Ela sempre enfrentou tudo de cabeça erguida, até mesmo minhas ações mais insensíveis. Mas agora… nada.Levantei cedo, decidido. Era um dia chuvoso, quase melancólico, e me parecia adequado, já que a sensação que me acompanhava ultimamente era de perda. Eu não queria admitir, mas, em algum lugar lá no fundo, eu sabia que as coisas estavam fugindo do meu controle. E isso não era algo com que eu soubesse lidar bem.Ao chegar à casa delas, encontrei a rua deserta. Não havia uma alma sequer, nem a energia vibrante de Alice correndo pelo jardim. Os brinquedos, antes deixados pelo quintal, estavam empilhados e amontoados como se nunca tivessem sido usados. O balanço, que eu mesmo instalei
Era uma manhã de domingo, o tipo de manhã que eu e Alice costumávamos reservar para nossos passeios no parque. Ela adorava brincar nos balanços e correr pela grama, e eu adorava vê-la rir, com aquele sorriso que iluminava tudo ao redor. Era nosso pequeno pedaço de paz, onde todas as minhas preocupações pareciam distantes.Enquanto Alice corria até os balanços, eu me sentava num banco próximo, aproveitando o silêncio. Foi então que notei uma figura familiar atravessando o parque. A princípio, achei que fosse apenas uma coincidência, mas, ao me ver, ela parou. E, com um olhar surpreso e um sorriso hesitante, aproximou-se devagar.— Alby? É você? — A voz dela soou suave, carregada de surpresa.Meus olhos se fixaram nela, reconhecendo cada traço, cada detalhe. Era Amélia. Uma velha amiga. Ou melhor, alguém que um dia fora isso. Ela fazia parte do meu passado, de um tempo que eu estava determinada a deixar para trás.— Amélia… — murmurei, forçando um sorriso, embora soubesse que a