Graças a Deus, após alguns dias de internação, Sophie finalmente pôde voltar para casa. O pior havia passado, e aos poucos começamos a respirar com mais tranquilidade. A tensão que pairava no ar parecia ter se dissipado, permitindo que um pouco de normalidade voltasse às nossas vidas. Continuei ao lado de Luana em tudo o que ela precisou, mas, felizmente, não cruzei mais com Isaías. Era como se, de alguma forma, ambos estivéssemos evitando um encontro que não teria propósito algum. Talvez fosse melhor assim. E, embora a rotina tenha retomado seu curso, nem tudo voltou a ser como antes. Eu estava tão frustrada. O encontro com Isaías no hospital tinha sido um desastre total, e, para piorar tudo, ele me mandou embora como se fosse uma sujeira. Então, decidi me concentrar no que eu sabia fazer de melhor: seguir em frente. Mas, claro, o universo tinha outros planos para mim.Foi então que Charles, com sua habitual gentileza, me convidou para jantar. Ele argumentou com firmeza
— Alby, que surpresa encontrar você aqui — começou ela, com a voz melodiosa, carregada de ironia. — Fiquei sabendo que você esteve bastante ocupada ultimamente… Uma emergência com a filha de uma “amiga”, hospital, Isaías. Você realmente não sabe quando desistir, não é? — E você, Fernanda — retruquei, cruzando os braços e mantendo minha postura firme — parece estar sempre no lugar errado, na hora errada. Ela riu, inclinando a cabeça como se estivesse analisando uma criança que não entende as regras do jogo. — Não, querida. Estou exatamente onde deveria estar. Diferente de você, que insiste em se colocar onde não é bem-vinda. Isaías é meu, Alby. Você já teve sua chance e perdeu. Ele está comigo agora, feliz e finalmente seguindo em frente. A força das palavras dela era uma faca de dois gumes. Parte de mim sentia vontade de rebater com a mesma intensidade, mas a outra parte sabia que não valia a pena. — E você está aqui para me dizer isso, por quê, Fernanda? Precisa de valida
Quando finalmente saímos do restaurante, eu estava exausta. Charles não percebeu meu nervosismo ao voltar à mesa. Fui direto para o carro dele, sem olhar para trás. Não sabia se sentia raiva ou apenas vergonha, mas eu sabia que definitivamente não queria mais ver Isaías e Fernanda na minha frente por algum tempo.— Bem, pelo menos o jantar estava bom — eu disse a Charles, tentando amenizar a situação.Ele olhou para mim e deu uma risada nervosa, provavelmente aliviado por tudo ter acabado. Eu, por outro lado, só queria um lugar tranquilo para esquecer que tudo aquilo aconteceu.— Só mais uma noite bizarra na minha vida — pensei, me jogando no banco do carro e tentando relaxar.O alívio me alcançou assim que me acomodei em minha cama. Mas antes um sinal de mensagem no telefone chamou minha atenção: “Não pense nem por um segundo, que sou algo que você possa descartar assim”E com isso, já sabia a quem pertencia essas duras palavras.Isaías.Que Deus me ajude a encontrar um meio de
O dia estava no fim, mas minha cabeça girava como se eu tivesse corrido uma maratona. O hospital nunca dava descanso, mas dessa vez, o cansaço vinha de um lugar diferente. Fernanda estava sendo estranhamente evasiva há dias, o que apenas aumentava a inquietação que eu tentava ignorar. Foi quando recebi a ligação. Uma voz conhecida, mas inesperada. — Isaías, sou eu... Bruno. Fiquei em silêncio por alguns segundos. Bruno, meu antigo amigo, o cara que eu confiava cegamente até descobrir que estava dormido com Fernanda enquanto ainda estávamos juntos. Que ironia! O que esse infeliz quer agora. — Por que está me ligando? — Minha voz saiu fria, cortante, carregada de uma raiva que eu mal conseguia controlar. — Preciso falar com você sobre... a Fernanda — ele respondeu, hesitante, como se soubesse que estava pisando em território perigoso. — Não estou interessado no que você tem a dizer. — Minha resposta foi seca, um aviso claro de que ele deveria pensar duas vezes antes de
Os últimos dias haviam sido um inferno que eu nunca imaginei viver. Sempre fui meticuloso, sempre soube separar o pessoal do profissional. Mas agora, ambos os mundos colidiam de uma maneira que ameaçava me derrubar. Fernanda, com seu sorriso falso e as palavras calculadas, havia me enganado uma vez, mas não iria repetir isso de novo, não mesmo! A ligação de Bruno apenas reforçava algo que eu me recusava a admitir: a dúvida estava corroendo tudo, e eu precisava tirar essa história a limpo. Não iria mais perder tempo. A necessidade de respostas urgentes queimava dentro de mim como um fogo incontrolável, consumindo qualquer vestígio de paciência. Eu precisava saber a verdade, e faria o possível e o impossível para consegui-la. Sentado no meu escritório do hospital, observei o relógio na parede. Já passava da meia-noite, mas o sono era uma ilusão distante. O som da porta se abrindo me tirou dos pensamentos sombrios. Era Ruan, pontual como sempre, sua expressão impassível, mas
Enquanto falava com Ruan, a ideia de que Fernanda e Bruno poderiam ter orquestrado tudo se tornava mais clara. Cada detalhe precisava ser minuciosamente revirado. — Quero cada detalhe, Ruan. Quem trabalhou naquele dia no laboratório, quem assinou os relatórios, quem estava de plantão. Não deixe pedra sobre pedra — exigi. — Entendido, doutor. Mas isso vai chamar atenção. Quanto tempo temos? — Nenhum. Não quero desculpas, quero resultados. Desliguei sem esperar resposta. Meu estômago estava em chamas, minha cabeça latejava, e o peso dessa situação parecia dobrar a gravidade em meu peito. Eu sabia que estava mexendo em um vespeiro. Se Fernanda era culpada, ela havia calculado todos os passos. Se eu estava errado... não queria nem considerar essa possibilidade. Deixei o escritório, indo diretamente para a sala de arquivos confidenciais do hospital. Passei por colegas que me cumprimentavam sem perceber minha expressão tensa. Ali, entre paredes reforçadas, sabia que encontr
O dia havia sido longo, mas finalmente, após muita correria e gargalhadas, as crianças estavam todas na cama, dormindo profundamente. O quintal estava silencioso, iluminado pela luz suave da lua e por algumas lanternas que Charles havia pendurado quando veio morar com minha amiga Luana. Ali, naquela calmaria, sentada em uma espreguiçadeira, eu podia respirar fundo e deixar os pensamentos vagarem. Charles apareceu com duas canecas fumegantes. — Achei que você ia gostar de um chá. Ou é café? Sei lá, coloquei qualquer coisa que estava no armário — ele disse, entregando-me a caneca com um sorriso divertido. Eu ri, aceitando o presente. — Se for veneno, pelo menos vou morrer tranquila. — Relaxe, meu objetivo não é te matar, é garantir que você me deixe herdar a Alice caso algo aconteça. — Nossa, que consideração. Estou emocionada, Charles — respondi, fingindo indignação. Nos sentamos lado a lado, observando o balanço que ainda oscilava levemente, como se as risadas das cria
A tarde no outlet havia sido divertida até aquele momento. Charles e eu estávamos debatendo qual sapato seria mais confortável para eu enfrentar um dia com as crianças, enquanto ele insistia que eu precisava de algo mais “fashion”. Mas então, do nada, ele parou. A cor fugiu de seu rosto como água descendo pelo ralo. Segui seu olhar e vi o motivo. Uma mulher alta, com uma elegância calculada, ria ao lado de um homem que parecia ter saído direto de um editorial de moda. Não precisava de palavras para entender: era ela. A ex. Instintivamente, alcancei a mão de Charles e a segurei firme. Ele precisava saber que não estava sozinho. Quando nossos dedos se entrelaçaram, senti sua tensão diminuir apenas um pouco, mas ainda assim ele parecia petrificado. A mulher virou e nos viu. Por um breve instante, seu sorriso permaneceu. No entanto, ao notar nossas mãos unidas, ele morreu tão rápido quanto havia surgido. Seu olhar tornou-se frio, mas, de alguma maneira, havia algo mais al