Dessa vez foi Lucy quem chegou atrasada, assim que atravessou a porta o professor a fitou irritado.
- Algo errado com seu relógio senhorita Clapton? Lucy se apressou em sentar ao meu lado, conhecendo seu gênio forte sei que ela queria dar uma resposta que muito provavelmente a faria perder a aula, mas não o fez.- O que deu em você para chegar no horário hoje? – Ela cochichou assim que o professor se virou para o quadro e voltou a explicar.- Eu não estou sempre atrasada... – Respondi, mesmo sabendo que não era verdade.
- Aconteceu alguma coisa? Você parece irritada.
Pensei em contar sobre Daniel, contar sobre como ele me irritava e o quanto era arrogante, mas também não o fiz, não queria Lucy fazendo perguntas sobre isso... Era mais fácil assim.
- Você está estranha – ela continuou.
- Vocês duas querem ir conversar lá fora? – O professor perguntou apontando um dedo de acusação para ela.
Lucy estava pronta para dar uma resposta que com certeza nos tiraria da sala, mas eu fui mais rápida. - Não vai mais acontecer professor, desculpe. - Lucy chutou minha perna por baixo da mesa, mas ficou em silêncio.- Sei que não... - ele disse, e então retomou sua atenção para a aula.Agradeci o professor em meus pensamentos, não queria Lucy fazendo perguntas, não queria pensar sobre isso.* * *
Ás seis da tarde voltei para casa, vasculhei o armário, a despensa e a geladeira, mas não havia nada que eu quisesse comer. Mamãe só chegaria ás nove e meia, tempo demais para esperar. Peguei meu celular e disquei o numero de Lucy. Ela atendeu no terceiro toque.
- Alô?- A fim de tomar um sorvete?- perguntei – Preciso sair um pouco de casa.- Analu... - ela disse pausadamente- Você sabe que eu te amo e que queria muito ir tomar sorvete com você, mas já havia marcado de ir a uma social com a Lucinda, se quiser ir comigo passo ai em meia hora para te pegar.- Lucinda simplesmente surtaria se você cancelasse não é? – sorri, eu sabia o quão alterada Lucinda podia ser as vezes.
- Nem me fale... Mas e então? Passo e pego você?
- Nem pensar, tudo bem, vou fazer dever de casa.
- Você é uma chata! – Ela sorriu – Podemos tomar sorvete amanhã? Fiquei com vontade.
- Se você sobreviver a festa com os amigos da Lucinda, podemos sim. Ela sorriu e desligou, joguei o celular na cama e passei os olhos pelo quarto, estava sozinha novamente. Tomei um banho e fui para o sofá assistir alguma coisa, quando a campainha tocou. Abri e fechei a porta no mesmo momento, mas ele foi mais rápido colocando o pé entre ela, impedindo que eu terminasse de fechar.- O que você quer agora?- Gritei – Vá embora.
- Me deixe falar com você um segundo – ele disse e forçou ainda mais a porta – É sério, não vou entrar, só quero falar com você. Daniel parecia estar em todos os lugares desde a primeira vez em que o vi, talvez por isso seu rosto era tão familiar, eu já havia o visto antes com certeza. - O que você quer?- Quero refazer a imagem que você tem de mim. - Impossível. – murmurei e então abri a porta.- Podemos sair, caminhar um pouco, conheço uma sorveteria bem perto daqui... O que acha? – Daniel deu uma piscadela e sorriu.
Senti minha nuca arrepiar no momento em que ele completou a frase, na mosca outra vez... Como podia ser possível uma coincidência assim? Tentei fechar a porta outra vez, mas novamente ele foi mais rápido.
- Não vou tomar sorvete com você. - coloquei as mãos no batente da porta para parecer confiante.
- Tudo bem, podemos só caminhar então.
- Vá embora.
- Você é sempre teimosa assim?
- Só quando se trata de você.
- Ah... Isso faz de mim especial, não faz? – ele piscou e deu um passo a frente se aproximando de mim.
Estávamos agora bem próximos, mas eu não podia recuar ou a porta ficaria livre para que ele entrasse, então apenas fiquei ali encarando-o bem de perto.
- Eu não contaria com isso se fosse você... – respondi.
Mas Daniel não me ouviu, ele agora olhava para o fim da rua com o rosto fechado, com o olhar de um caçador.
- Viu alguma coisa?
Ele fez que não, mas continuou atento a algo no fim da rua.
- Então... Vamos?- Ele disse.- Você sabe o que significa a palavra “não”? – suspirei – E eu não poderia ir mesmo que quisesse, logo minha mãe estará aqui.
- Sua mãe chega ás nove e meia Analu, voltaremos bem antes disso...- De qualquer forma tenho umas coisas pra... Espera, como sabe quando minha mãe volta?- Você está paranóica demais.Daniel sorriu e tocou meu rosto de leve, me afastei num pulo.
- Tire as mãos de mim! – dessa vez estava gritando – Nunca mais venha a minha casa, nunca mais fale comigo!
- Tudo bem - ele cruzou os braços- Mas ainda vamos nos ver, e eu sei que você quer isso.
Abri a boca para dizer que só nos sonhos dele, mas a voz não saiu, apenas gaguejei.
Daniel sorriu convencido de que estava certo.
- Tranque a porta. - ele disse antes de se virar e seguir seu caminho.Fechei a porta calmamente, pensei em não trancar, em abrir de novo, em correr atrás dele e lhe dar um soco... Mas não fiz nada disso, caminhei até o sofá, mas não me sentei, voltei até a porta e girei a chave.Queria gritar, como alguém podia ser tão babaca como ele? E por que ficava me perseguindo agora? Só queria que ele me deixasse em paz.
Quando me deitei na cama naquela noite, ainda estava pensando sobre isso, até me dar conta de que talvez estivesse tentando apenas me convencer. Aqueles olhos que pareciam ser capazes de enxergar através de mim não saiam da minha cabeça, a maneira como ele arqueava a sobrancelha antes de fazer um comentário pretensioso mexia comigo... Ao perceber isso, eu quis me matar, e mais do que nunca, eu quis matar Daniel.
No dia seguinte também não me atrasei, liguei para Lucy e dispensei a carona, sai de casa andando apressadamente, quanto antes eu chegasse à escola melhor.O céu estava escuro, ameaçando derrubar litros de água a qualquer momento, o vento forte soprava bruscamente bagunçando meus cabelos, jogando-os em meu rosto.O vento soprou mais forte, e dessa vez acabou levando meu cachecol, então comecei a correr desesperadamente atrás dele, mas o vento era imperdoavelmente mais rápido.Depois de correr em ziguezague por um bom tempo, o vento finalmente cedeu. Olhei em volta procurando por algo Azul bebê, e ali estava ele, na rua bem na minha frente. Andei até onde ele estava e me agachei para pega-lo quando algo me chamou a atenção, havia uma pessoa, um homem bem na minha frente, do outro lado da rua, eu não podia ver seus olhos, mas sabia que el
Fiquei no hospital por mais um dia, o dia mais longo da minha vida.Cheguei em casa com uma felicidade estampada em meu rosto, mamãe ficou em silêncio o caminho todo, o que era estranho. Me perguntei se sua preocupação seria eu ou seu trabalho, mas não quis perguntar, de certa forma era reconfortante poder ficar em silencio.Assim que entrei em casa fui direto para o banheiro tomar um banho, a sensação da agua quente caindo em minhas costas era absolutamente reconfortante. Depois fui para a minha cama, de todos os lugares, o melhor para se estar.Dormi a tarde toda, e só acordei quando mamãe entrou no quarto.- Nalu... - meu apelido soando inédito na voz dela - desculpe ter que te acordar, sei que esta cansada, mas você precisa se arrumar.- Está tudo bem? - perguntei me espreguiçando. - você vai passar alguns dias em Brighton com seu pai...
Passamos a maior parte do caminho em silêncio, até que meu pai, o mestre de assuntos importantes e piadas sem graça resolveu abrir o verbo.- então vocês já se conhecem?- ele disse sorrindo- isso é ótimo!- não é bem assim pai... só conversamos uma vez quando ele foi me dar um recado do sr.Gretel.- sr. Gretel?- papai perguntou meio confuso.- professor de biologia. - Dominic disse se intrometendo - nosso professor de biologia...- então estudam juntos?- é... - falei.- isso é incrível - papai sorria novamente.Faltava pouco para chegarmos até Brighton, a rodovia estava clara e só as vezes um carro ou outro passava por nós...Dominic dormia tranquilamente no banco traseiro, o radio estava chiando um pouco e tocava uma musica calma o bastante para fazer um bebê dormir.- garotinha? - meu pai disse
Naquela noite eu não consegui dormir, as palavras de Dominic não saiam da minha cabeça. Pessoa errada? Lado errado? O que ele estava dizendo? Não fazia o menor sentido, e a curiosidade tomou conta de mim de tal forma que eu estava a ponto de levantar da cama em plena madrugada e ir pedir satisfações... quem ele pensava que era pra me assustar e confundir daquele jeito?Acendi o abajur em formato de cogumelo, e me sentei na cama, algo se moveu perto da janela, alguns poucos metros de distância de mim. Congelei. Seria a mesma sombra que eu havia visto na minha casa? Poderia também ser o dono do sorriso (Dominic), ou poderia também ser o motorista que havia me atropelado e fugido.Mas essas hipóteses pareciam malucas demais até para mim.Apaguei o abajur novamente e me deitei, o sono viria uma hora ou outra.Outro barulho perto da janela, o que quer que fosse queria ser descoberto.
Fiquei no quarto por longos vinte minutos, até me dar conta de que não agüentaria mais um minuto sequer naquela casa. Troquei de roupa e ajeitei meu cabelo rebelde, chequei as horas no celular e sai do quarto.Dóris e Mariana não estavam mais lá quando desci, Megan me olhou franziu o cenho quando me viu arrumada para sair.- Vai sair? - papai disse se encostando no balcão.- vou dar uma volta ... - falei secamente enquanto colocava água num copo de vidro.- Você não conhece a cidade garotinha, é perigoso - ele cruzou os braços e arqueou as sobrancelhas, fiz o mesmo logo em seguida.- Não vou para muito longe - falei calmamente.- pode ir se Dominic for junto. – ele disse decidido.- Eu não vou com Dominic... - falei irritada- Eu sinto muito desapontar você mas preciso de um pouco de ar fres
Megan estacionou o carro em frente uma loja enorme, numa placa azul lia-seValentine's chic, a loja era gigante, a pintura azul turquesa dava a sensação de estar no céu.Vasculhamos tudo o que tinha na loja, e no fim acabei comprando um vestido verde com flores, um jeans preto básico e algumas blusinhas coloridas.- pronta para a próxima? - Megan disse enquanto entravamos no carro.- Claro. Fomos em mais duas lojas, mas nenhuma se igualava à primeira, de modo que acabei comprando apenas dois shorts jeans e uma sapatilha vermelha. Depois que saímos da ultima loja, Megan perguntou se eu queria ir em mais alguma, neguei e sugeri que fossemos comer alguma coisa, ela aceitou rapidamente. Fomos à uma pizzaria, escolhemos uma das mesas vazias e fizemos os pedidos.- compras me dão fome - ela disse sorrindo.- em mim também aparentemente – observei. 
Daniel não saia de minha cabeça, seu sorriso, seu cheiro, o calor de seu corpo tocando o meu, iam e vinham em minha mente, impedindo que eu pensasse com clareza.Por um momento fiquei com medo de que ele não me procurasse mais, mas no fundo eu sabia que esse não era o estilo de Daniel.O problema era que ao mesmo tempo que me sentia atraída por ele, também sentia um medo avassalador quando estava ao seu lado. Daniel, o garoto dos sorrisos condescendentes e dos olhos negros que pareciam capazes de enxergar através de mim, havia me beijado, beijado intensamente. Resolvi que precisava vê-lo, eu precisava falar muitas coisas para ele, e ao mesmo tempo manter distância, por que não era certo aquilo, ele era sinistro e assustador, parecia me seguir para todos os lugares e era extremamente sexy de uma forma que eu não era capaz de explicar... Assim que minha mente formulou esses pen
- Não sou não!- falei já nervosa, Peter e Ana Rita não desistiam da ideia de eu ser a tal garota, e isso estava me deixando louca.- querida!- Peter disse - você ...- Analu. - corrigi.- o.k. - ele suspirou - você não consegue se lembrar de nada?- eu me lembraria se fosse essa tal garota.- disse impaciente com a demora de Dóris.- isso é extraordinário! - os olhos dele brilhavam - ela nem sequer se lembra Ana Rita...- é mesmo incrível! - Ana Rita continuou - é diferente de tudo... eu achava que era apenas uma lenda.Dóris entrou sem bater, mas não havia nem sinal de Mariana.- olá garotas - ela sorriu - e Peter.Ele fez um aceno rápido.- ótimo! Vamos pra casa... - falei já me levantando.- Dóris, você precisa ver uma coisa. - Peter se levantou com o livro e foi ate ela.