CAPÍTULO 01

EMILY

Apesar de estar confiante de que tudo daria certo no meu novo emprego, meu lado profissional sabia que havia uma chance de tudo não ocorrer como o planejado. Eu estava ciente de que as expectativas sobre mim seriam altas, afinal, eu era a médica vinda de um dos hospitais mais bem-conceituados em qualquer situação em New York, para uma cidadezinha chamada Floyd. Ninguém em sã consciência faria uma troca como essa. No entanto, ninguém sabia da decepção que eu havia enfrentado meses antes. Estar partindo para um lugar novo era, de fato, algo positivo para mim.

No dia seguinte à ligação de minha contratação no novo hospital, fiz uma pesquisa completa por imóveis naquela área, e para minha sorte, encontrei um completamente mobiliado. Eu só precisaria levar minhas coisas pessoais. Tratava-se de uma cidade totalmente diferente daquela à qual estava acostumada a viver. Estava prestes a trocar os grandes e opulentos edifícios de Nova York por algo mais tranquilo, próximo à natureza.

Faltando alguns dias para me apresentar no novo hospital, peguei a estrada. Queria me familiarizar com o local, saber a distância entre minha casa e o trabalho, além de descobrir se havia algum local para me exercitar. Era apaixonada por correr ao ar livre, e ultimamente, essa necessidade estava cada vez mais forte.

Cheguei ao meu destino, exausta, mas, ao mesmo tempo, feliz, até descobrir que a casa que aluguei ficava totalmente afastada de tudo, parecia uma reserva florestal. Ao estacionar meu carro, percebi que outras pessoas me observavam com olhares curiosos. Parecia que não estavam acostumadas com a presença de estranhos naquela região.

Dois dias depois, apresentei-me ao hospital, que ficava cerca de quarenta minutos da minha casa. Fiquei satisfeita ao notar que o hospital estava muito bem equipado, com algumas instalações equiparadas a padrões de primeiro mundo. Descobri existirem duas formas de atendimento ali: o particular e o filantrópico.

Eu atenderia na área filantrópica. No entanto, achei estranho haver uma entrada diferente para os atendimentos particulares. Não entendia o motivo disso, mas essa dinâmica hierárquica não me incomodava muito, pois o importante para mim era desempenhar minha função como médica.

Não fazia diferença se o paciente estava pagando ou não ao hospital. Deixava essa questão a cargo dos responsáveis pela administração, concentrando-me em fazer o que fui contratada para fazer: tratar ou prevenir doenças em meus pequenos pacientes, e talvez, naqueles que não gostavam de ser chamados de pequenos, mas sim de adolescentes.

Quando comecei meus primeiros atendimentos, observei algumas mães um tanto desconfiadas. Notei que nas fichas das crianças faltavam várias informações, então comecei a preencher todas elas. Ao término do atendimento, percebia que as mães estavam satisfeitas com o meu serviço.

Em uma semana, a notícia sobre a eficiência da nova pediatra se espalhou pelo hospital, atraindo novas crianças em busca de atendimento. O diretor do hospital, Sr. Jones, estava bastante satisfeito com os meus serviços. No entanto, fiquei curiosa para entender por que a minha abordagem no atendimento chamava tanta atenção. Não deveria ser essa a maneira padrão como todo profissional deveria trabalhar?

Enquanto estava em mais um dia de trabalho, uma mãe entrou com um casal de gêmeos, o que me fez lembrar do meu irmão. Terminei me emocionando um pouco com aquelas crianças. Observei a interação deles em meu consultório e, apesar das pequenas discussões entre si, observei a proteção que um tinha em relação ao outro.

Meio que relembrei todos os momentos que vivi ao lado do Tyler. Quem me defenderia do mundo, mesmo quando eu estivesse errada? A quem iria confidenciar todos os meus segredos? Quem iria buscar quando precisasse de um conselho? Não sabia responder a nenhuma dessas perguntas, mas agora tinha que me acostumar com a ausência dele.

Assim que eles saíram, fui até a porta, imaginando que não havia muitos mais pacientes para atender. No entanto, me surpreendi com a quantidade de mães e crianças esperando. Olhei para o relógio e percebi que não faltava muito tempo para encerrar o expediente. Como tantas consultas foram marcadas para um único dia? Quando ainda faltava atender uma criança e já havia ultrapassado o meu horário de expediente, escutei uma batida à minha porta.

— Pode entrar! — Falei, imaginando ser a próxima mãe.

— A senhora teria um tempinho, doutora? — Dr. Jones perguntou. Ele era o diretor interino do hospital. Olhei para o relógio e imaginei que a mãe e a criança lá fora estavam aguardando há bastante tempo.

— O senhor poderia aguardar um pouco, Dr. Jones? Tenho uma criança para atender, e ela já está esperando há bastante tempo. Também preciso falar com o senhor a respeito disso.

— Posso aguardar aqui? — Ele me perguntou. Assenti com a cabeça e fui até a porta, pedindo para a última mãe entrar. Dei andamento à consulta. Verifiquei peso, altura, avaliei a criança completamente e perguntei se havia alguma queixa. Apenas após tudo isso, finalizei meu atendimento. Agora, finalmente, poderia conversar com o Dr. Jones.

— Pronto, Dr. Jones, agora poderemos conversar. — Falei, guardando a ficha do meu último paciente.

— Seu atendimento é muito diferenciado, Dra. Emily. — Ele falou, trazendo a cadeira para frente da minha mesa.

— Diferenciado em que sentido? — Perguntei, surpresa pela fala dele.

— Todo atendimento deveria ser assim, doutora, não me entenda mal. Mas é que hoje a grande maioria preza pela agilidade, não pela qualidade.

— Estamos lidando com vidas, Dr. Jones, e para mim, cada uma delas é especial e merece ser tratada da melhor maneira possível. É sobre isso que quero falar com o senhor. Não sei como a médica anterior atendia, mas posso afirmar que existe muita falta de informações nas fichas dos pacientes. Estou atualizando o máximo que consigo algumas, mas não tenho condições de atender a mesma quantidade de pacientes que ela atendia antes. Como o senhor pode notar, não prezo pela agilidade e sim pela qualidade do meu atendimento.

— Percebi que um número maior de consultas vem sendo solicitado, inclusive algumas mães que faziam tempo que não apareciam aqui no consultório com seus filhos. Isso prova sua competência no atendimento e que elas estão gostando do que estão encontrando aqui. Falarei com a área de marcação de consulta para reduzir o número de marcações e colocar um intervalo maior entre elas.

— Eu agradeço se o senhor puder fazer isso. Assim, evito fazer horas extras e fazer meus pacientes aguardarem tanto tempo.

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