CAPÍTULO 04

Depois das minhas ordens, Jones, muito assustado com meu acesso de raiva, saiu para providenciar o que mandei. Kevin, nada satisfeito, disse que iria providenciar o conserto da parede. Eu e Austin fomos até onde ficava a câmera que estava desligada, e descobrimos ser do setor pediátrico.

Esse era o setor abaixo da diretoria e parecia ser o mais movimentado naquele horário. Percebemos que o fio havia sido cortado. Muitas mães com seus filhos estavam aguardando atendimento, então, para que esse fio fosse cortado sem levantar suspeita, precisaria de alguém vestido com o uniforme de funcionário do hospital. No entanto, procurar quando isso aconteceu seria como procurar uma agulha no palheiro. Seriam horas e horas analisando a filmagem.

Existiam seis consultórios naquele andar. Portanto, os idiotas precisavam ter se escondido em algum lugar ali para que as outras câmeras não os pegassem. Algo mais chamou a minha atenção: um cheiro diferente. Quando me aproximei para analisar, a porta de um dos consultórios foi aberta e uma mãe saiu de seu atendimento.

 Cheguei mais perto daquela porta e inalei fortemente aquele perfume. O aroma de orquídea, com um toque de mel, trouxe felicidade. Fiquei em choque diante das enxurradas de sentimentos que estava experimentando. Surpresa, medo, alegria, desejo, entorpecimento. Eram os mesmos sentimentos que experimentamos quando encontramos nossa companheira.

Assim que aquela médica apareceu na porta, com uma ficha em suas mãos e um lindo sorriso no rosto, prestes a chamar o próximo paciente, dei mais um passo em sua direção, mas me contive no último momento. Sky gritava em minha mente a palavra…

“Nossa”

Em um desespero que foi difícil de conter, meu lobo queria beijá-la, possuí-la, marcá-la com sua essência e jurar amor eterno a ela. No entanto, tive que controlá-lo. Quando voltei a cheirar o ar novamente, percebi que ela não era uma loba. Fiquei desapontado por me dar conta de que ela era simplesmente uma humana, mas Sky logo me lembrou que ela era dele e que nada mais importava. Eu não admitiria isso, então dei as costas e saí de lá rapidamente.

Nem ao menos olhei para trás. Sky arranhava, ansioso para se libertar, querendo reivindicar o que lhe pertencia. Eu não acreditava em segundas chances, mas Selene parecia disposta a brincar comigo. Cinco anos após perder minha companheira, ela me enviou outra. E, para piorar, parecia ser uma humana. A mais fraca da cadeia alimentar.

Percebi o Austin me analisando, enquanto Jones, que nos encontrou no caminho, apenas me acompanhava calado, sem fazer nenhum questionamento. Eu precisava descobrir quem era aquela mulher. Subi os degraus em dois e dois, e seu cheiro ainda permanecia em minha mente, mesmo após ter adentrado a diretoria. Andei de um lado para outro, tentando acalmar todos os meus desejos e vontades. Não podia simplesmente tomá-la para mim.

“Covarde” — Sky murmurou.

“Você arriscaria seu coração de novo? — Eu o questionei.

“Ela é NOSSA companheira”. — Ele não hesitou em responder.

— Jones, por favor, poderia nos dar licença? Preciso falar algo em particular com nosso alfa. — Austin pediu, e Jones ficou mais do que feliz em deixar a sala após me ver exaltado. — O que houve, Matthew? Quem é aquela mulher? — Austin perguntou, percebendo que algo estava errado.

— Não é ninguém! — No entanto, aquela frase amargou minha língua, e Sky não estava feliz em escutá-la.

— Se fosse ninguém, aposto minha vida que você não estaria assim, tão exaltado. Qual é, cara? Somos amigos, você sabe que pode confiar em mim. Eu sei que ela deve ter algum significado para você estar tão nervoso dessa forma. — Disse meu amigo.

— Ela é minha companheira. — Admiti de uma vez. Austin olhou para mim, surpreso.

— Uma segunda chance? É isso que você está querendo dizer, Matthew? Você tem certeza? — Ele pareceu chocado com o que afirmei.

— Por que você acha que estou assim? Selene só pode estar brincando comigo. Isso não pode estar acontecendo. — Respondi, irritado.

A força do vínculo entre companheiros nos faz sentir a necessidade de manter o outro por perto, de proteger, de ter a certeza de que ele ou ela estava feliz até que a morte os reclamasse. Poucos lobos sobrevivem à sua vida se a sua outra metade morresse. Eu sabia disso muito bem. Por pouco, não me entreguei à morte também quando a Olívia partiu. E agora estava diante de outra companheira.

— O que você pretende fazer, Matthew? Não pode simplesmente rejeitar sua companheira. Você não sobreviveria a isso, e nem ela. Você sabe que, mesmo decidindo ignorar tudo isso e escolher dar andamento à sua vida sem ela, nunca estará satisfeito.

— Eu sei disso tudo, Austin, mas não posso simplesmente chegar nela e reclamá-la para mim. Ela é uma humana. Nunca entenderá nossa vida. E se ela resolver me rejeitar? Sabe que também existe essa possibilidade.

— É, meu amigo, você está completamente ferrado!

Eu sabia que estava. Se não bastasse descobrir que tinha uma segunda chance e que ela era uma humana, ainda teria que comunicar isso a Scarlet, e sei que ela não aceitaria muito bem. Afinal, ela já estava bastante empolgada em ser a próxima Luna. Eu precisava descobrir o máximo de informações possíveis sobre essa médica. Então, mais uma vez, contatei mentalmente Jones e pedi as pastas dos médicos, com a intenção voltada para a pasta da médica pediatra.

Quando finalmente Jones me trouxe o que foi pedido, sentei-me e procurei pela pasta dela. Ali continha todas as informações de que eu precisava. Austin avisou que providenciaria o conserto da câmera e saiu. Jones saiu em seguida também, e fiquei ali sozinho. Acabei descobrindo que ela estava residindo em uma das casas que pertenciam à matilha. Isso seria mais fácil para mim do que eu pensava. Como um experiente predador, sabia que precisava cercar a caça, e a paciência era minha estratégia.

“Nossa” — Mais uma vez Sky fez questão de afirmar.

“Eu sei que ela é nossa. Mas precisamos ter paciência. Precisamos conhecê-la primeiro. Não podemos simplesmente reivindicá-la”. — Afirmei para ele.

Não havia maneira de lutar contra isso. A necessidade de revê-la me sufocava, então decidi verificar se Austin havia concluído o serviço e, quem sabe, se tivesse sorte, poderia vê-la novamente. Ao descer as escadas, percebi seu aroma e soube que ela estava perto.

Um lobo não esquece cheiros. Isso fazia parte de sua natureza, sem mencionar ser uma maneira de reconhecer e identificar o mundo ao seu redor. Ao virar o corredor, meus olhos a encontraram. A cena que se desenrolava era a de Austin conversando com ela. Isso me encheu de raiva e de um ciúme possessivo.

Quando ela olhou para ele e sorriu, balancei a cabeça sem acreditar, abrindo e fechando minhas mãos, sentindo minhas unhas rasgando. Austin sabia que todo alfa era considerado ciumento e possessivo com sua companheira, então o que ele estava fazendo perto da minha? Eu simplesmente rosnei para meu beta. Tinha certeza de que ela não podia escutar. Sua audição não era tão apurada quanto a nossa. No entanto, aquilo chamou sua atenção e ela olhou diretamente para mim.

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