CAPÍTULO 02

MATTHEW

Fui até o quarto da minha filha e a observei dormir. Ela era muito parecida com a Olívia. No começo, tudo foi muito difícil para mim. Imaginei que iria enlouquecer e, por muito pouco, não perdi Sky no processo. Enquanto estava tentando superar e me reerguer, minha filha me fazia relembrar cada momento que passei daquele inferno. Sei que era injusto com ela, mas não tinha como lembrar seu nascimento sem recordar a perda da Olívia.

Resolvi ir até a academia, aliviar todos aqueles sentimentos estressantes que estava sentindo, e enquanto estava lá me perdi em pensamentos. Relembrei a maioria dos momentos que vivi com Olívia: nosso primeiro encontro, nosso primeiro beijo, nossos momentos de amor, nosso casamento e seus gritos de sofrimento naquele hospital.

Me dei conta de que acabei de destruir mais um saco de areia. Esse era o quinto saco desde que cheguei aqui. Senti Austin tentando falar comigo pelo elo mental, mas simplesmente ignorei. Podia fazer isso como alfa, mas nenhum membro da minha alcateia podia me ignorar dessa forma. Permanecer naquele local não estava me ajudando muito, então caminhei para a floresta e tirei toda minha roupa. Precisava correr.

Hoje era o quinto aniversário de minha filha, mas isso também me fez lembrar que faz cinco anos que perdi minha Olívia. Precisava colocar essa raiva para fora antes de poder parabenizar a minha filha como ela merecia. Sabia que ela estava crescendo e seria confuso para ela entender que não tinha como comemorar essa data com uma festa, mas pelo menos tentava tornar o dia dela especial.

Quando me transformei, senti a excitação pulsante percorrendo cada parte do meu corpo. Correr em alta velocidade pela floresta e poder sentir o vento bater contra meus pelos, trazendo consigo diversos tipos de odores, era a melhor sensação do mundo. Ali, em minha forma lupina, me sentia livre. Conseguia ouvir cada som com a audição apurada que meu lobo possuía, inclusive o som do meu próprio coração pulsando dentro do meu peito, na mesma velocidade que eu corria agora.

Depois de um tempo onde deixei Sky extravasar, voltei para onde havia deixado minhas roupas. Chegando lá, o Austin já se encontrava me esperando. Pela sua expressão, sei que não iria gostar das notícias. Foi ele quem segurou as pontas quando não tive condições de responder pela alcateia e também foi ele quem me trouxe a razão quando a alcateia precisou do seu alfa, fazendo-me enxergar que a Lara também precisava de seu pai. Ele provavelmente deve saber que dia é hoje, então não teria vindo se o que tivesse para me falar realmente pudesse aguardar.

Me transformei. A nudez não era um tabu para nós, lobos. Agradeci por pelo menos ele ter a decência de aguardar eu colocar minhas roupas, para então iniciar o falatório.

— Por que você continua bloqueando meu elo se sabe que só entro em contato quando realmente é importante? — Ele falou, irritado.

— Você vai contar o que aconteceu? Não estou com muita paciência hoje. — Falei, já o cortando. Sabia que estava sendo injusto com ele, mas hoje não era um bom dia.

— Que engraçado, você nunca está. — Então, parei e olhei para ele. Meu olhar já dizia tudo. Não estava para brincadeiras. — Tudo bem, alfa. Pegamos mais dois invasores ao leste, da mesma forma que os anteriores. Por mais que estivessem machucados, não paravam de atacar, como se não sentissem dor, apesar dos ferimentos causados por nossos guerreiros.

— Isso não faz sentido. Alguém sobreviveu? — Ele afirmou com a cabeça. — Peça para fazerem exames toxicológicos para verificar se conseguimos descobrir algo.

— Já tomei essa providência. Isso não é tudo, Matthew… também tentaram invadir o hospital, não sabemos o que eles estão querendo com isso. No entanto, segundo o relatório do Jones, eles não foram detectados pelos nossos lobos, apenas quando o odor de sangue foi sentido é que descobrimos o que havia acontecido. Um de nossos lobos foi atacado, mas não morto. As medidas de segurança adotadas pelo Kevin parecem que não surtiram efeito.

— O que o Kevin falou a respeito já que ele é responsável por solucionar os problemas de segurança?

— Ainda não falei com ele, alfa. Queria comunicar primeiro a você, porque sei que quando isso chegar a ele, ele vai me pedir para manter em sigilo, e apesar de ser seu primo, você sabe minha opinião a respeito dele.

Austin Miller era o homem que escolhi para ser meu beta, aquele a quem eu confiava minha vida e sabia que não me decepcionaria. Austin tinha um dom que muitos humanos chamariam de sexto sentido. Ele conseguia avaliar o caráter de uma pessoa apenas olhando para ela. Certa vez, ele me falou que o Kevin, mesmo sendo meu parente e optando por ficar em minha matilha, me jurando obediência e lealdade, não era ninguém em quem poderíamos confiar.

O pai de Kevin, meu tio Joshua, era irmão gêmeo do meu pai. Ele era o alfa da alcateia, até que perdeu a companheira e quase levou nossa matilha ao fim com suas loucuras. Meu pai o desafiou para um combate, e como ele não podia negar, lutou com meu pai e perdeu.

Normalmente, nesse tipo de combate, os lobos que lutavam iam até a morte. No entanto, meu pai não fez isso com o próprio irmão, que já havia perdido a companheira e tinha um filho pequeno. Meu pai o fez escolher entre ficar e jurar obediência e lealdade, ou partir e virar um renegado.

Tio Joshua preferiu a segunda opção. Lobos sem alcateias por muito tempo acabam ficando loucos, vagando pela floresta e atacando qualquer um que encontrarem em seu caminho. Normalmente, esses mesmos lobos renegados eram mortos quando tentavam invadir o território de alguma matilha. Até hoje, ninguém sabia o que aconteceu com o tio Joshua.

— Explique a situação a ele, diga que já estou ciente e que, no final da tarde, vamos até o hospital verificar as câmeras que foram instaladas. Agora, preciso tomar um banho para acordar minha filha e proporcionar um dia especial a ela.

— Ok, Matthew. Avisarei a ele e estarei pronto, aguardando. Diga a Lara que passarei lá após o almoço para entregar meu presente.

Nesse momento, percebi que não providenciei nenhum presente para minha filha. Assim que entrei em meu quarto, e antes de ir tomar meu banho, fui até o closet que pertencia à Olívia. Olhei em sua caixa de joias e encontrei o cordão que ela nunca tirava de seu pescoço. O mesmo cordão que sua mãe havia presenteado quando ela era apenas uma garotinha. Um cordão de ouro, com um pingente em forma de lua azul, a mesma cor de seus olhos e dos olhos de nossa pequena Lara. Aquele seria o presente perfeito para minha menininha.

Após tomar um banho, dirigi-me até o quarto da minha pequena garotinha. Quando entrei, já a encontrei de banho tomado e sentada na cama, provavelmente me aguardando. Assim que me viu entrar, abriu um lindo sorriso. Seus cabelos loiros faziam sua pele alva se destacar ainda mais. Seus olhinhos azuis continham expectativas, então ela correu e se jogou em meus braços. Eu a abracei com carinho.

— Estava morrendo de saudades, papai!

— Sério? Nem faz tanto tempo assim que coloquei você aqui e lhe desejei bons sonhos.

— Mas isso foi ontem, papai. Hoje já é um novo dia. Minha saudade cresceu assim… — Ela abriu os bracinhos o máximo que pôde.

— Então, que tal passarmos o dia juntos para matar toda essa saudade? O que acha da minha ideia? — Perguntei, admirando aquela menininha feliz em meus braços.

— Eba! Podemos comer bolo hoje?

— É claro, meu amor. E tenho um presente para você! — Ela bateu palmas e me olhou curiosa. — Primeiro, vamos sentar aqui na cama. — Ela me olhou com expectativa. — O que vou lhe dar de presente é algo muito especial. Sua vovó deu essa correntinha à sua mamãe quando ela ainda era muito jovem. Agora, vou lhe dar como um presente nosso, para que você possa sempre lembrar da sua mamãe.

Coloquei a correntinha nela e ela ficou admirando o pingente que, como eu disse, tinha a mesma cor de seus olhos. Já havia pedido a Madison, a babá de Lara, para fazer um bolo de coco, que era o que minha lobinha mais gostava. Então, descemos e fomos tomar nosso café.

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