Entre Lobos: A Escolhida do Alfa
Entre Lobos: A Escolhida do Alfa
Por: Sandra Ribeiro
PREFÁCIO

OWEN LEWIS

Estava em meu escritório na Faculdade Castelli quando quase caí de joelho no chão. Uma dor excruciante no peito, um sinal característico de que alguém da minha matilha havia sido desligado dela por algum motivo inesperado.

Precisava averiguar o que havia acontecido. Tentei entrar em contato com meus guerreiros, mas estranhamente, nenhum deles respondia ao meu chamado pelo nosso elo mental. Algo estava errado.

 “Brady” — Entrei em contato com meu beta pelo nosso elo mental.

“Também senti isso, Owen. Estou indo localizar os guerreiros, não consegui contato com eles”. — Brady disse.

“Convoque quinze dos nossos e me aguardem”. — Foi a ordem que dei.

Se um grupo de oito guerreiros altamente treinados não conseguiu conter o que quer que tenham encontrado, mandar apenas meu beta sozinho ao local para averiguar seria o mesmo que o enviar para a morte.

Precisávamos agir com cautela. Toda a nossa matilha provavelmente conseguiu sentir quando as ligações foram cortadas. Éramos ligados por um juramento de sangue, devido a isso, independentemente do motivo que cortasse esse juramento, era sentido por todos, não da mesma forma que eu sentia como alfa.

Quando nos aproximamos do provável local onde estavam nossos guerreiros, nossos lobos farejaram o inconfundível cheiro de sangue, além do odor de algo muito doce, quase pungente para nosso lobo. Algo aconteceu naquele local e alguém muito estranho para nós esteve ali. Apesar de sermos lobos e termos uma visão aprimorada, precisávamos ficar mais atentos na escuridão da noite. Um dos meus guerreiros pegou outro odor estranho, então resolvemos segui-lo.

Nos deparamos com uma área desmatada dentro da nossa floresta. Essa área ficava bastante distante da nossa comunidade, mas ainda fazia parte do nosso território. Nos deparamos com outros lobos que não faziam parte de nossa alcateia, e com alguns outros que imaginávamos serem humanos, mas seus cheiros eram estranhos.

Aqueles lobos sabiam que a pena por invadir uma alcateia não seria branda, inclusive poderíamos até os condenar à morte por isso. Eles tinham consciência do significado da floresta e de nosso território para os nossos animais. Éramos seres muito possessivos com o que é nosso.

Ainda não sabíamos o que eles estavam fazendo ali ou o que desejavam com aquela invasão, mas não demoraríamos para descobrir. Eles invadiram meu território mesmo sabendo que aquelas terras estavam demarcadas como de um alfa. 

Analisei a situação e dei a ordem para cercarmos o grupo, aumentando assim nossas chances de capturar todos. Havíamos tomado conhecimento de algumas invasões acontecendo em certas alcateias, mas não imaginávamos que aquilo aconteceria na nossa.

 “Owen, temos um grave problema”. — Brady disse.

“Que tipo de problema, Brady?”

“Eles estão provavelmente usando Monkshood, sinto o cheiro forte dessa planta”.

Monkshood ou Acônito, ou ainda mais conhecida como mata-lobo, era uma planta totalmente nociva tanto para nós humanos quanto para nosso animal. Por qual motivo eles estavam usando esse tipo de planta? Eles tinham ideia do que essa planta fazia? 

Apenas o pequeno contato com ela poderia debilitar nossos lobos por horas. Uma quantidade excessiva dessa planta, dissolvido em qualquer produto ingerido por nós, nos levaria à morte. Por isso, nossas leis eram tão rígidas quanto a esse tipo de planta.

“Fiquem atentos e cuidado com o que podem ser injetado em vocês” — Alertei meus lobos.  — “Avancem e vocês têm ordem para matar aqueles que resistirem e não se submeterem”.

Quando avançamos, descobrimos que aqueles que não eram lobos também não eram humanos. O cheiro adocicado que chegava a ser pungente para nós era de vampiros. Uma raça que imaginávamos estar extinta há muito tempo. Mas, pelo que descobrimos, de alguma forma conseguiram sobreviver nas sombras até aquele momento.

Os invasores resistiram à nossa ordem de prisão, tentaram lutar conosco. Como resultado, alguns lobos foram mortos, um vampiro também, mas outros quatro conseguiram escapar de nosso cerco. Dois lobos e dois vampiros. Essa raça de seres era o que tínhamos como nosso pior inimigo. Nunca havia visto uma associação de nossa raça com as deles até aquele momento. 

Dividi a equipe em dois grupos, um de busca para verificar se encontrávamos algo ou alguém suspeito que pudesse nos fornecer informações, e outro grupo de reconhecimento que me seguiu até o lado leste de nossa área, de onde ainda sentíamos o odor do acônito.

Encontramos os nossos lobos inconscientes deitados no chão com tubos ligados a seus braços. Quando nos aproximamos, descobrimos que seus sangues estavam sendo drenados para bolsas do tipo a que encontramos em hospitais. Aquilo parecia uma espécie de enfermaria improvisada ao ar livre. 

Não apenas nossos guerreiros estavam estendidos ali, existiam mais cinco outros lobos inconscientes, que não conseguimos identificar. Que porra estava acontecendo? Como nunca ouvimos falar sobre nada daquilo antes? Que tipo de acordo existia para que outros de nossa raça atentassem contra seu próprio povo? Já ouvimos falar sobre os mercenários. Lobos dispostos a tudo por um determinado valor. Será esse o caso?

Foram muito além ao caçarem meus lobos e isso não ficaria assim. Não conseguia entender o porquê de nossa raça estar sendo caçada por vampiros, mas descobriria em breve. Em uma vala improvisada próximo, encontramos os nossos dois guerreiros mortos. Seus corpos tiveram o sangue totalmente drenado, mas antes disso provavelmente foram muito machucados, pois estavam quase irreconhecíveis, mas seus cheiros eram inconfundíveis.

 “Alfa, pegamos um vivo”. — Informou Carter, um dos meus guerreiros encarregado da varredura na área.

“Mantenha-o assim. Traga-o vivo. Preciso de informações”. — Eu sabia que quatro escaparam, mas precisava descobrir se, além deles, outros estavam envolvidos com aquilo e qual a finalidade. 

O acônito era uma planta totalmente proibida naquela região, usavam-na em alguns entorpecentes extremamente mortais quando não bem equilibrados, mas o que queriam com aquelas bolsas de sangue? Quando eles chegaram, nunca imaginei encontrar justamente um dos professores de nossa universidade envolvido em tudo aquilo.

Professor Alan, era o professor de ética de minha universidade. Um lobo que ensinava conceitos e princípios que ajudavam a compreender e analisar questões sobre o que é certo e errado, bem ou mal, e como os indivíduos devem agir em diferentes situações. Ele não sairia impune por aquilo, mas antes eu pretendia obter as informações de que necessitava.

— Estou surpreso de que justo você esteja envolvido com tudo isso aqui. — Comentei.

— Já ouviu um ditado que diz: faça o que digo, não faça o que eu faço? — Respondeu ele, arrogantemente.

— Isso apenas destaca sua hipocrisia, de não agir de acordo com suas próprias palavras. No entanto, a única informação que quero de você é que tipo de associação é essa com vampiros? Existe mais alguém envolvido nisso tudo, além desses que foram mortos por meus guerreiros? — Nesse momento, ele deu uma gargalhada.

— Uma associação bastante vantajosa para todos os envolvidos. Você seria um tolo se pensasse que apenas esses que foram mortos aqui, ou aqueles que conseguiram escapar, estão envolvidos nessa fábrica de dinheiro. O que você conseguiu aqui foi apenas destruir um pequeno grupo. Isso era apenas uma pequena amostra de uma engrenagem bem maior, mas não a única. — Ele encarava-me.

— Quem são eles? E para que querem com nosso sangue? — Perguntei, sentindo meu lobo querendo vir à superfície. Um sorriso brincou nos lábios do idiota.

— Se eu falar, serei um lobo morto. Se eu não falar, o mesmo acontecerá. Então, deixarei que você tenha um pouco de trabalho para descobrir. O que posso te dizer é que ficará surpreso com as descobertas. — Ele deu uma risada e eu perdi o controle para meu lobo, que cortou a garganta dele com suas garras.

A lei em nossa alcateia é bastante clara: a morte é punida com a morte. No entanto, dentro de mim, sabia que aquilo era apenas a ponta do iceberg que estava emergindo. Mais coisas viriam à tona. Pela única informação que Alan havia dito, eu apenas precisava ficar preparado para tudo que estava por vir. 

Levamos todos os outros lobos inconscientes até nosso hospital e lá eles seriam cuidados. Teríamos que aguardar que eles despertassem para entender o que estava acontecendo. No entanto, sabia que viriam atrás de tudo aquilo que apreendemos. 

Ninguém desisti tão fácil de um possível imenso lucro. Essa era a doença do mundo. Quanto mais se tinha, mais se desejava. Ao frustrarmos aquela ação, provavelmente destruímos os planos de fortuna de alguém. Mas o fato de não saber quem, além de descobrir que uma raça extremamente perigosa estava de volta, deixava meu lobo inquieto.

A quantidade de acônito embalada era altíssima… como esses lobos conseguiram esses acônitos? Essa planta foi banida de todas as matilhas e não era uma planta de fácil cultivo, exatamente por todo o risco que ela trazia. Tudo aquilo parecia muito estranho.

Centenas de anos atrás, descobrimos que essa planta evitava o veneno que os vampiros possuíam de circular mais rapidamente pela corrente sanguínea. Mas, com o avanço da medicina, descobrimos existirem muito mais malefícios do que benefícios, e ela foi banida de nossos territórios.

Com a guerra centenária entre lobos e vampiros, imaginávamos termos exterminado essa outra raça de nosso mundo. No entanto, pude comprovar que alguns se mantiveram na escuridão, apenas esperando o momento certo de emergir. 

O que mais me preocupava era não saber por que eles estavam drenando o sangue de nossos lobos. Nunca ouvimos falar de nada parecido, e eu precisava comunicar isso ao conselho e ao rei lycan. Imaginava que nenhum deles estava ciente sobre esse fato, caso contrário teríamos tido algum tipo de reunião a respeito.

Eu e meu beta acompanhamos a incineração do acônito, até não existir mais nada nos tonéis de ferros onde foram jogadas e queimadas. Quanto aos lobos encontrados inconscientes, não sabiam dar muitas informações. Nossos lobos foram emboscados no limite da floresta e os outros disseram que foram rendidos e apagados enquanto passavam pelo limite de nossa região. 

Aquele mês foi extremamente turbulento para nós. Como alfa de uma matilha, nunca era fácil lidar com as disputas territoriais entre lobos. Muitas vezes, essas disputas se tornavam sangrentas. O conselho foi avisado e, pelo fato de ser um assunto extremamente delicado, eles ficaram responsáveis por entrar em contato com o rei.

Vivemos em uma comunidade pacata em Virgin River, mas desde aquela invasão ficamos em alerta. Não voltamos a encontrar mais nenhum vampiro, mas parecia que alguém estava testando nossas defesas. Tentava lidar da melhor forma com tudo, tentando manter meu lobo na coleira, mas isso estava se tornando cada vez mais difícil.

Descobrimos que as bolsas de sangue que eram drenadas de nossa raça estavam sendo vendidas no mercado negro e algumas pessoas estavam pagando bastante dinheiro por elas. Segundo informações, descobriram, de alguma forma, o poder curativo que existia em nosso sangue. Devido a isso, elas estavam sendo tão lucrativas.

Além de ter que manter minha alcateia segura como alfa, ainda tinha que administrar uma faculdade como reitor. Nem todos eram lobos em Castelli, a universidade pertencente à minha alcateia. Muitos desconheciam o nosso mundo, então todos de minha raça eram obrigados a manter as aparências, inclusive eu mesmo, mesmo quando meu lobo sentia vontade de impor sua autoridade como alfa. Sky, meu lobo, não era muito paciente, e isso me tornava uma pessoa severa muitas vezes.

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