CAPÍTULO 03

LARISSA DAVIES

Quando ele entrou na sala, foi difícil resistir à nossa ligação. Tinha que admitir que a voz daquele homem era atraente ao ponto de deixar Mila de joelhos por ele.

Sua presença marcante, combinando com sua aparência atlética, causou uma atração irresistível. Seus olhos quase negros capturavam a atenção de qualquer pessoa que os encontrasse, refletindo uma intensidade magnética. Na verdade, ele todo era uma verdadeira tentação.

Ele era nosso companheiro, mas precisava me concentrar nos meus objetivos na universidade. Nossa ligação era algo quase irresistível, mas não podia estragar tudo. Assim que ele inspirou, percebi a mudança em sua postura. Ele tinha sentido minha presença.

Quando ele se desculpou e saiu da sala, Mila queria ir até ele, mas não entreguei o poder a ela, lembrando-a do nosso objetivo ali. Alguns dos conselheiros anciões estavam contando comigo. Ser ômega em minha alcateia nunca foi uma tarefa fácil, e aquela era minha oportunidade de continuar nos mantendo longe dela. Se falhássemos, teríamos que voltar.

Não tinha facilidade em me enturmar, e isso me preocupava muito. Um companheiro, nessa altura do campeonato, ainda mais ele sendo o reitor, só dificultaria ainda mais as coisas. 

Havia trocado algumas palavras com outros alunos próximos de mim e esperava conseguir o máximo de informações para alcançar meus objetivos. Não podia me distrair da missão. Busquei informações sobre todo o corpo docente, com aqueles que eram veteranos ali, para conseguir montar um quadro que me fizesse ter uma visão mais clara de quem investigar.

Na última aula, quando percebi que seria novamente nosso companheiro a ministrá-la, resolvi anotar todas as informações frescas em minha cabeça no caderno e não percebi que estava sendo observada por ele. Provavelmente, ele sabia que eu era sua companheira, afinal, havia esbarrado nele no corredor. Ele deve ter sentido o mesmo choque elétrico que percorreu meu corpo, mas ele não tinha como saber que eu era uma loba.

Conseguia disfarçar o cheiro de Mila para outros lobos, mas tinha certeza de que o cheiro característico que exalávamos para nosso companheiro, esse eu não conseguia disfarçar, mas isso não indicava que eu era uma loba. Até mesmo com uma humana, exalaria um cheiro característico apenas para ele.

Quando ele provavelmente percebeu que eu não prestava atenção em sua aula, pediu que eu fizesse um resumo da mesma diante de toda a turma. Fiquei totalmente sem reação. Nunca em minha vida fiquei tão constrangida como naquele momento, e precisei ser sincera. 

Quando a outra aluna começou a resumir aquela aula, fiquei com raiva de mim mesma pelo fato de ter falhado como aluna exemplar, justo na frente do lobo que era meu companheiro. Sabia que ficaria no radar dele a partir daquele momento.

Quando a aluna terminou de fazer o resumo, ela me olhou com um sorriso ácido, depois olhou para o reitor, suspirando. Só faltou ela se jogar no chão diante dele e abanar o rabo para mostrar que ela seria seu bichinho de estimação.

Aquilo me irritou profundamente, e Mila lutou pelo controle para poder dar uma lição naquela garota. O reitor me olhou mais uma vez e virou-se para escrever no quadro.

Alguns minutos depois, enquanto ele continuava a escrever, o aluno ao meu lado, que também era bastante atraente, pigarreou baixinho, chamando minha atenção. Quando o olhei, ele abriu um lindo sorriso e me repassou um pedaço de papel. Levei-o até meu colo para não chamar atenção indesejada e o abri discretamente.

 REITOR OWEN É UM COMPLETO IDIOTA.

Tinha certeza de que fiquei ruborizada quando li aquelas palavras e olhei para o rapaz que havia me dado aquele bilhete. Sorri discretamente, agradecida por ele tentar me confortar. No entanto, Mila estava rosnando para ele, como um animal selvagem.

— O que há de tão engraçado, Srta. Larissa? A senhorita poderia compartilhar conosco para podermos avaliar juntos?

O que estava acontecendo com aquele homem? Ele era sempre idiota assim com todos, ou resolveu pegar apenas no meu pé hoje? Eu não iria compartilhar aquilo com ele e nem com mais ninguém. Meu sorriso morreu em meu rosto e eu voltei a encará-lo. No entanto, antes que eu pudesse responder algo, o mesmo rapaz se pronunciou.

— A culpa foi minha, reitor. Eu estava perguntando se ela poderia me repassar o resumo dela.

— Acredito que o certo é você fazer seu próprio resumo, Sr. Phill, e não estar copiando os dos colegas. E Srta. Larissa? — Olhei para o reitor. — Dirija-se à minha sala depois da aula.

Fiquei ainda mais constrangida por tudo aquilo. Nunca fui chamada à sala do diretor durante todo meu período escolar, e agora, no primeiro dia na universidade, estava sendo chamada atenção diante de todos, além de ter que comparecer à sala do reitor. Meu disfarce como universitária estava sendo perfeito, pensei sarcasticamente.

No final da aula, enfiei tudo de qualquer forma dentro de minha bolsa, inclusive o pedaço de papel que o garoto ao meu lado havia me dado, e me preparei para ir até a sala do reitor, rezando para não permitir que minha loba tomasse o controle da situação.

— Desculpe pelo que aconteceu. Eu não imaginei que você tivesse chamado tanto a atenção do reitor. Eu sou Phill. — O rapaz estendeu a mão para me cumprimentar.

— Prazer, Phill. Eu sou Larissa, mas pode me chamar de Larry. — Apertei sua mão e um arrepio percorreu meu corpo. O que estava acontecendo comigo?

— Prazer, Larry. Lamento que o reitor tenha sido tão idiota com você no seu primeiro dia. Normalmente, ele não age assim com os alunos, mas talvez tenha descoberto que levou um chifre da esposa e resolveu descontar em você.

Enquanto ele falava, tentei identificar seu cheiro, mas não havia nada de errado, apenas Mila, que torceu o nariz com o perfume doce dele, mas isso era algo característico de alguns humanos. Principalmente das fêmeas daquela espécie. No entanto, aquela outra informação que ele acabou de dar me chamou a atenção.

— Ele é casado? — Perguntei, chocada. Mila rosnou para sair. Aquilo seria um grande problema para nós. Aquele rapaz apenas sorriu.

— Na verdade, eu não sei informar. — Seu sorriso aumentou ainda mais. — Disse isso apenas por dizer, talvez assim o mau-humor dele fosse justificado.

— Entendi. — Disse, pensando que aquilo que ele falou era algo idiota de se dizer.

— Você é nova aqui? — Phill perguntou, curioso.

— Sim. Acabei de me mudar para a cidade.

— Não considere a péssima recepção que o reitor lhe deu. Nem todos tratamos os recém-chegados dessa forma.

— Tudo bem. Agora, deixe-me ir, para que o humor daquele homem não piore ainda mais. Pretendo sair inteira e viva daquela sala. — Ambos sorrimos e eu segui na direção da sala do reitor, ou pelo menos para onde sentia que seu cheiro se tornava mais evidente.

Quando cheguei até lá, a secretária já estava ciente da minha chegada, então apenas apontou na direção da porta dele, me olhando com extrema curiosidade. Talvez essa seja a primeira vez que uma novata, logo no primeiro dia, seja chamada até aquela sala.

Esperava apenas que aquele lobo não fosse tão rude comigo. Sei que vacilei ao não prestar a atenção na aula dele, mas caramba, era meu primeiro dia, muitas informações de uma só vez. Será que ele não poderia me dar um desconto?

Bati na porta e escutei sua voz mandando entrar. Aquela voz me causava um certo arrepio, mas no sentido bom das coisas. Assim que entrei, uma fragrância de lima, o cheiro cítrico com um toque de especiarias preencheu meu nariz. Mais uma vez, Mila tentou se rebelar.

 “Nosso” — Ela repetia.

 “Se acalme, caso contrário, levará toda a investigação por água abaixo. Já te expliquei que não podemos apenas tomar o que acreditamos ser nosso”.

Precisava agir como se não tivesse percebido termos uma ligação. Sei o quanto lobos são possessivos, e isso levaria nossa operação à ruína. Ele me encarou por um minuto inteiro, e aquilo começou a me deixar inquieta. Somente quando ele percebeu que eu estava ficando ruborizada é que resolveu desviar o olhar de mim, indicando-me uma cadeira em frente à sua mesa. 

Ao tomar essa atitude, percebi que a conversa não seria breve. Sabia que ele teria muito a perder se deixasse seu lobo o controlar. Estudei por um mês inteiro as regras daquela universidade, e uma em especial era bastante rígida, inclusive prevendo a expulsão do aluno e do funcionário, caso comprovada a relação íntima entre ambos.

Sabia que ele não estava ciente da minha verdadeira identidade ali, pois, segundo meus superiores, isso não seria revelado para não estragar meu disfarce. Era essencial que todos pensassem que eu era uma mera estudante.

Inclusive, havia conseguido emprestado de uma amiga um perfume que disfarçava bem o cheiro de Mila. Não sei o que era colocado nele, mas tornava-se pungente para aqueles que tentavam farejar nosso cheiro. E aquilo era perfeito quando tentava passar despercebida, sem chamar a atenção do que verdadeiramente eu era.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo