CAPÍTULO 02

No momento em que estávamos desembarcando do carro, os dois detetives desceram de outro carro estacionado em frente à minha casa.

— Sr. Owen… — Um deles disse.

— Em que posso ajudá-los, detetives? — Perguntei, os encarando. Para eles se darem ao trabalho de vir até aqui, algo grave estava acontecendo.

— Sou o detetive Oliver, e esse é meu colega, detetive Edward. Ficamos cientes de uma invasão em suas terras, onde foram apreendidas algumas bolsas de sangue e uma abundante quantidade de acônito. — Ele disse e apenas afirmei com um aceno, me perguntando por que se deram ao trabalho de vir até aqui se tudo foi relatado ao conselho. 

— Sr. Owen, estamos investigando a comercialização dessas bolsas de sangue no mercado clandestino e a produção dessa planta. Como você sabe, ela é totalmente nociva à nossa raça, mas obtivemos informações anônimas de que elas estão sendo cultivadas por alguns de nossa raça. Sem mencionar que eles podem ter escondido por muito tempo a existência dos vampiros. Não acreditamos que eles apareceram do nada aqui. 

— Não temos nenhum envolvimento com isso, detetives. — Brady disse.  

— Temos certeza disso, mas obtivemos a informação que alguns dos seus estão envolvidos com eles, e precisamos averiguar esse fato.

— Vamos até meu escritório, senhores. Lá poderemos falar melhor a respeito. — Disse, tentando entender aquela informação.

Assim que entramos em meu escritório, convidei ambos a sentarem nas cadeiras da enorme mesa de reuniões que existia ali, enquanto eu ocupava meu lugar e Brady a cadeira mais próxima de mim.

 — Sabemos o quanto essa planta é nociva não apenas para sua espécie, mas para a minha também, dessa maneira, estamos tentando entender por que estão sendo cultivadas por lobos. — Disse o conselheiro Edward.

 — Descobrimos que as bolsas de sangue retirada de nossa espécie estão sendo comercializadas no mercado clandestino por valores exorbitantes. Conseguimos recuperar algumas dessas bolsas e descobrimos, após um teste de DNA, que elas pertenciam a lobos dados como sumidos sem qualquer explicação. — Disse o detetive Oliver.

— Descobrimos sobre esse comércio e desconfiávamos que isso poderia estar acontecendo. Mas não consigo entender a outra informação de que alguns dos meus estejam envolvidos. O único que encontrei deixou esse mundo naquele dia.

— Mas, pelo que descobrimos, aquele não era o único. E, como ele mesmo alertou, a engrenagem que move tudo isso é grande demais, alfa Owen. É um comércio extremamente lucrativo. — O detetive Edward disse.

Brady olhou para mim e eu o encarei. Precisávamos descobrir quem eram, e sem essa informação se tornava impossível alertar nossos lobos sem alertar esses traidores também. Se eles estavam atrás do nosso sangue, qualquer lobo era uma vítima em potencial. Precisávamos descobrir o mais breve possível quem eram eles, antes que mais lobos se machucassem ou perdessem a vida. 

— Não estávamos cientes dessa informação, detetives. Tudo que encontramos naquele dia foi destruído, sem nos dar qualquer pista dos outros envolvidos. Não restou nada, além das bolsas de sangue enviadas ao nosso conselho e entregue a vocês. Temos uma política muito rígida em nossa alcateia sobre uso desse tipo de planta, e nunca ouvimos falar sobre ela até aquela fatídica noite.

— Ficamos felizes em saber disso, mas esse não é o motivo que nos trouxe aqui. Precisamos de sua ajuda em outra situação. Montamos uma equipe muito restrita para investigar tudo isso. Apenas alguns de nós, detetives, temos acesso a essa operação, por não sabermos quem está envolvido. Como houve a denúncia de alguns dos seus envolvidos, resolvemos começar por aqui. — O detetive Oliver disse.

Olhei surpreso para ele, pois o único envolvido naquele esquema que sabíamos e do qual tínhamos conhecimento já havia tido um destino curto.

— O senhor sabe nomes? — Brady perguntou.

— Não! Por isso precisamos de ajuda. Se descobrirmos quem está por trás disso, poderemos chegar ao responsável por essa engrenagem. Desconfiamos de que existe um vampiro liderando os demais, não é possível terem sobrado muitos após a guerra entre vocês no passado. Até onde conseguimos investigar, a plantação de acônito, a venda das bolsas de sangue e as invasões em algumas alcateias estão todas interligadas para um plano ainda maior que não descobrimos ainda o que seja. — Detetive Edward explicou.

— Colocamos uma das nossas em campo para investigar, mas precisamos da sua colaboração, alfa. — O detetive Oliver explicou.

Olhei para Brady, sabendo que meus problemas estavam apenas começando. Aquilo não era nada fácil e rápido para se resolver. Eles tinham conhecimentos de como resolvíamos nossos assuntos em caso de traição. E o fato de um dos nossos estar envolvido com nosso maior inimigo era uma tremenda traição.

— Precisamos que esse fato fique em sigilo para não colocar nossa detetive em perigo, e caso ela precise de sua ajuda, o senhor esteja disposto a ajudá-la. Para a própria segurança dela, não planejamos divulgar o seu nome. Ela se passará como uma simples aluna de sua faculdade.

— Como isso vai funcionar se não sabemos quem é ela? — Perguntei sem entender.

— Caso ela precise de ajuda, o senhor saberá. Peço apenas que o senhor mantenha seus olhos abertos caso perceba algo estranho, e se isso acontecer, entre em contato conosco. — Ele me entregou seu cartão pessoal com número de telefone.

— Tudo bem, colaborarei com tudo isso. No entanto, quero pedir a mesma gentileza em troca. Se existe alguém em minha alcateia ou universidade envolvido, quero saber de imediato quem seja. Espero que sua detetive em campo não provoque muitas confusões entre meus alunos.

— O intuito de tudo isso é tirar de circulação esses sanguessugas, Sr. Owen, e não perturbar o desempenho de sua universidade ou o cotidiano de sua alcateia. — Detetive Edward disse.

— Após resolvermos tudo isso aqui, acreditamos que sua universidade e alcateia estarão mais seguras. Aconselho o senhor a também orientar seus guerreiros para ficarem mais alerta. O perigo ainda existe, até descobrimos o que de fato eles pretendem e dar um fim a esses sanguessugas de uma vez. — Detetive Oliver acrescentou.

— Ficaremos atentos a qualquer outra atitude suspeita em nossa área. Temos regras muito rígidas quanto ao uso dessa planta ou de qualquer material ilícito dentro e entornos de nossa universidade e alcateia, detetives.

— Agradecemos sua colaboração, alfa Owen. — Eles se despediram e os acompanhamos até a saída. Eu precisava voltar para a universidade.

— Você acredita que tenha mais algum dos funcionários envolvidos? — Brady perguntou, enquanto me levava de volta para a universidade em seu carro.

— É difícil saber, pois nunca desconfiei que aquele cretino do Alan estivesse envolvido com isso. Se eu não tivesse visto com meus próprios olhos, seria difícil acreditar. Precisamos deixar nossos guerreiros sobreavisos, Brady. Até descobrirmos o que está acontecendo, colocaremos um toque de recolher em nossa alcateia. Não quero nenhum dos meus lobos dando bobeira com essa ameaça em nossa região.

— Farei isso. Não podemos divulgar o que está acontecendo, pois isso alertaria esses cretinos, mas podemos pedir aos nossos guerreiros que fiquem em estado de prontidão e atentos a qualquer movimento suspeito. E caso isso aconteça, relate de imediato. Quem será a detitive em campo? — Ele questionou.

— Teria que ser uma das novatas. No entanto, isso é quase impossível de saber, pois elas são muitas. Precisaremos ficar atentos.

— E quanto à Luna? Você já tem ideia de como procederá? Você sabe que não conseguirá manter distância por muito tempo.

— Eu ainda não sei como agir, Brady. Um passo em falso e posso ser acusado de assédio. Não posso correr esse risco com tudo isso acontecendo na universidade. 

A última aula que teria que ministrar naquele dia era novamente na sala de Larissa. Estava orando à deusa que Sky não quisesse lutar comigo pelo controle quando estivéssemos diante dela. Ele precisaria se contentar em olhá-la, porque tinha muito em jogo e eu não arriscaria perder tudo pelo fato dele ser impaciente.

Quando entrei naquela sala, no último horário, minhas narinas se encheram com aquele cheiro de orquídea e baunilha. Larissa estava sentada no meio daquela sala e agora eu conseguia identificá-la claramente. Ela não sentava na frente como os chamados nerds, mas também não ficava no fundo da sala com aqueles que não queriam muito da vida. 

Ela parecia querer se enturmar, mas parecia ter alguma dificuldade com isso. Observei que ela, vez ou outra, durante minhas explicações, trocava algumas palavras com o rapaz ao lado dela. Isso começou a irritar Sky. Somos possessivos em relação à nossa companheira e não gostamos que outros machos fiquem lhe dando atenção. Ou pior, que ela dê atenção a outros machos.

Não sabia qual o teor daquela conversa, mas percebi que, depois de algum momento, ela parou de prestar atenção na aula, nos ignorando completamente e escrevendo furiosamente em um caderno, o que me irritou bastante.

— Srta. Larissa Davies?

Alguns pares de olhos se viraram para ela, que continuava escrevendo em seu caderno, sem perceber que eu havia chamado sua atenção. Em seguida, os mesmos pares de olhos voltaram-se para mim, e eu já estava bastante irritado por não ter a atenção dela.

Então, ela ouviu quando o mesmo rapaz que estava conversando com ela minutos antes pigarreou. Ela olhou para ele, que lançou um olhar para mim na frente da sala, e ela acompanhou seu olhar. Nesse momento, ela percebeu que eu a estava encarando, e uma parte da turma também.

— Já que a senhorita estava bastante interessada em minha aula, poderia nos dar um breve resumo do que foi debatido até o momento em sala?

Percebi que alguns alunos se remexeram em suas cadeiras e trocaram alguns olhares furtivos. Ela abriu a boca por um instante, mas tornou a fechá-la. Sua pele adquiriu um tom vermelho vivo e apenas negou com a cabeça, como se desculpando.

— Sinto muito, reitor. Me distraí um pouco com outras atividades. — Disse ela, apontando para um caderno aberto sobre sua mesa.

— Visto que a Srta. Davies parece estar concentrada em uma atividade paralela, alguém poderia por gentileza fazer um resumo da aula para que ela fique ciente do que foi discutido em sala de aula?

Uma aluna levantou a mão e eu dei permissão para que ela começasse a explicar, porém, eu mal consegui me concentrar no que ela estava dizendo, pois meus olhos estavam fixos em Larissa, que parecia demasiadamente constrangida para me encarar.

Sky não estava muito satisfeito em causar aquele constrangimento para ela, mas eu precisava que sua atenção estivesse em mim, não importasse o que quer que ela estivesse fazendo. Poderia ser egoísmo de minha parte, mas no momento em que os olhos dela se voltaram para nós, até ele estava satisfeito por isso.

Quando percebi que a sala se silenciara, agradeci à aluna pela sua explicação e retomei minha aula, agora com a atenção daquela mulher voltada para mim, o que me deixava satisfeito, e também ao meu lobo.

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