CAPÍTULO 04

OWEN LEWIS

Antes mesmo dela bater à minha porta, já conseguia sentir a fragrância que ela exalava. Meu lobo quase ronronava quando a sentia. Enquanto eu estava chateado comigo mesmo por ser tão rude com ela em seu primeiro dia de aula.

No entanto, não iria me desculpar. Seria estranho, e tinha certeza de que ela não entenderia nada. Stark havia dito que ela não tinha cheiro de loba, inclusive que usava um perfume enjoativo, mas não para mim. Assim que ela entrou em nossa sala, seu cheiro delicioso ficou ainda mais em evidência. 

Cada lobo sentia um cheiro característico para seu companheiro. Era como um carimbo particular. Um cheiro que nenhum outro lobo conseguiria sentir. Seus olhos verdes capturaram os meus, e só percebi que a estava encarando quando a cor da maçã de seu rosto demonstrou o quanto ela estava ficando constrangida.

— Srta. Larissa, você é nova não apenas na universidade, estou correto?

— Sim, reitor.

— Então vou preveni-la de que observe bem com quem você fará amizades. Apesar de alguns alunos estarem matriculados nesta universidade e seus pais pagarem uma pequena fortuna por seu futuro, eles não desejam muito da vida. Este não é o seu caso, é?

— Não, reitor. Quero me formar com excelência.

— É ótimo escutar isso de você, Srta. Davies. Mediante essa informação, incentivo a senhorita a manter uma certa distância do Sr. Phill. Ele costuma andar com algumas amizades que tenho certeza de que seus pais não aprovariam.

— O que o senhor quer afirmar com isso? — Ela me olhou, tentando ler nas entrelinhas.

— Já ouvi comentários de que o Sr. Phill não assiste às aulas muito sóbrio. Temos uma norma muito clara sobre o uso de entorpecentes. No entanto, ainda não obtivemos provas que possam nos dar respaldo para convidá-lo a deixar a universidade.

— O senhor está afirmando que ele usa drogas? — Ela perguntou, me analisando, sem confiar muito em minhas palavras.

— Não posso afirmar algo que não posso provar, Srta. Davies. Estou apenas orientando a senhorita a escolher bem suas amizades, para não ficar marcada pelo corpo docente desta universidade e isso diminuir suas chances de se formar com excelência.

— Agradeço sua preocupação, reitor. Prestarei mais atenção aos meus colegas. O Phill foi apenas gentil comigo. — Ela disse e meu lobo rosnou em minha mente com aquela afirmação.

— Tudo bem, Srta. Davies. Pode ir, a senhorita está dispensada. — Ela me olhou sem entender, mas não perdeu muito tempo ali.

— Obrigada pela sua preocupação, Sr. Lewis. — Ela sorriu para mim e saiu da minha sala.

Fiquei me perguntando como conquistaria aquela menina. Busquei sua ficha no sistema da universidade e comecei a avaliá-la. Como ela conseguiu ingressar em minha universidade com tão pouca informação? Quem foi o responsável pela inscrição dela ali?

Ela tinha 24 anos, mas aparentava ter 18. Constava um endereço e eu iria averiguá-lo pessoalmente. No entanto, eu precisava ser cuidadoso para não ser pego em flagrante, pois seria estranho ter que explicar o que eu estaria fazendo na rua onde ela morava.

Algumas semanas se passaram e mantive-me distante, apesar da insistência de Sky para se aproximar dela. Não arriscaria ser acusado de assédio se eu não conseguisse contê-lo diante de todo seu entusiasmo para conquistá-la.  Sem mencionar que teria que abdicar de meu cargo, mediante qualquer envolvimento entre nós. 

Assim que estava saindo da universidade, a avistei novamente com Phill. Sky rosnou em minha mente, e a raiva me consumiu. Observei a interação deles, e ela parecia bem animada com o que quer que estivessem conversando. Foi então que percebi que ele estava com um cigarro em sua mão.

Não teria dado muita importância a isso, se não tivesse percebido que aquele cigarro estava sendo passado de mão em mão por aquele grupinho. Desci do meu carro e me encaminhei até onde eles estavam. Uma das garotas, ao me notar, fez sinal para os demais, e eles tentaram se desfazer daquele material e se dissiparem, mas dei a ordem para permanecerem em seus lugares.

— No que podemos ajudá-lo, Sr. Lewis? — Phill perguntou com um sorrisinho em seu rosto.

— Você? Em nada. Você… — Apontei para o outro garoto que era aluno de administração. — Mostre-me o cigarro que você escondeu em seu bolso.

— Eu não tenho nenhum cigarro no bolso, reitor. — Ele tentou mostrar indiferença.

— Você vai me entregar o cigarro ou prefere que eu ligue para seu pai e ele seja comunicado do que vi acontecendo aqui? Sem mencionar que seria fácil provar já que possuímos monitoramento de câmeras por toda a universidade.

Ele lançou um olhar desconfiado para o resto do grupo e colocou a mão no bolso, puxando o entorpecente. Naquele momento, confirmei realmente que era a droga sobre a qual os detetives haviam me informado.

— Todos vocês para a sala da reitoria agora. — Ordenei.

Era um grupo de nove alunos, todos bastante conhecidos pelo corpo docente da universidade devido às suas notas muito baixas e ao pouco interesse demonstrado em sala de aula. No entanto, conseguiam médias suficientes para passar no final de cada período.

A única novidade naquele grupo era Larissa. Algumas semanas atrás, eu a havia orientado sobre a importância de escolher bem suas amizades. Assim que cheguei à Reitoria, minha secretária me olhou sem entender, pois já havia comunicado minha saída, mas logo percebeu o grupo de alunos atrás de mim.

— Dolores, providencie termos de suspensão para cada um desses alunos, por infringir uma das leis de nossa universidade sobre o uso de entorpecentes em nossas dependências. Se algum deles estiver com a terceira advertência, pode gerar o desligamento do mesmo de nossa universidade.

— Reitor Owen, eu não posso ser desligado da universidade. Meu pai paga uma fortuna por ela. — O mesmo aluno que havia escondido o cigarro falou.

— Julgo que o momento de pensar na fortuna que seu pai gasta aqui seria quando você estivesse em sala de aula, e deveria mostrar isso se empenhando em tirar excelentes notas e deixar seu pai orgulhoso. Não fazemos questão de ter em nossa lista de alunos aqueles que visam levar o nome da universidade para o lixo.

— Eu não sou obrigada a assinar um termo de suspensão, reitor. Conheço meus direitos. — Outra aluna falou.

— Não é obrigada mesmo, Srta. Elisabete, mas de qualquer forma você será suspensa e isso constará em sua ficha escolar. Tenho certeza de que a senhorita não observou as câmeras em torno da universidade, isso já vale como prova.

— Meu pai irá processar a universidade caso isso conste na minha ficha. — O idiota do Phill falou. E nessa hora olhei para ele com ar de riso.

— Nesse caso, seu pai terá perdido o tempo dele e ainda terá que pagar uma pequena fortuna quando perder o caso. Vocês deveriam estar cientes de que temos permissão para isso no momento em que assinam a documentação para ingressar na universidade. Todas as normas estão descritas lá. Inclusive a que diz sobre o fato de serem pegos com entorpecentes.

Larissa continuava em silêncio. Ela sentou-se e aguardou sua vez de assinar a documentação. Eu esperava que ela dissesse algo, mas nada foi dito.

Assim que ela assinou, saiu sem trocar nenhuma palavra com os alunos ali presentes. Havia algo estranho em seu comportamento, e eu estava determinado a descobrir o que era. Dois daqueles alunos foram desligados da universidade, e os demais permaneceriam no meu radar.

Sky não gostou do tratamento que dei a Larissa. No entanto, não havia como aplicar um tratamento diferenciado para ela. Eu poderia ser processado por isso.

No dia seguinte, decidi passar no endereço dela, e para minha surpresa, descobri que era um hotel. Algo muito estranho estava acontecendo. Fui até a recepção e perguntei se algum hóspede de nome Larissa Davies estava hospedado ali, mas a recepcionista informou que não poderia fornecer esse tipo de informação para manter a privacidade dos clientes.

Voltei para o carro, mas antes de dar partida, avistei aquela linda mulher com roupa de ginástica correndo pela calçada e entrando justamente naquele hotel.

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