EvaMais tarde, naquele mesmo dia, após o jantar, Luke se sentou diante da TV. Terminei de colocar os pratos e os copos na lava-louças, e caminhei até ele. Parada à porta, escorada ao batente, observei-o. Havia chegado a hora de contá-lo sobre o pen drive. Respirando fundo, encorajei-me e fui buscar o seu laptop. Encontrei-o sobre a mesa de centro da sala de estar. No caminho, apanhei a minha bolsa sobre a mesa de jantar.— Luke...Olhou-me.— Há quanto tempo os problemas na empresa estão acontecendo?— Por que quer saber?— Você pode me responder?Sentei-me ao seu lado, no sofá.— Há uns seis meses. Começou gradualmente. Um contrato por mês, que depois viraram dois e assim sucessivamente.— Foi um dos motivos para ter se envolvido com a Amber? — perguntei sem ter a coragem de olhá-lo.— Sim. — Suspirou frustrado. — MacMotors é uma das nossas três maiores empresas. Fiquei um tanto apavorado quando cheguei a perder cinco clientes em um mês. Três deles foram para a Donson. Mal sabia eu
EvaApós o banho, saí do quarto e desci à procura do Luke. Chamei-o, mas ele não respondeu. Ao entrar na sala de TV, encontrei o laptop em mil pedaços pelo chão.— Luke! — gritei por ele, com o coração apertado no peito. — Luke!Saí andando pela casa e vasculhando todos os cômodos, procurando-o. Mas não o encontrei em canto nenhum.— Que merda você foi fazer, Luke?Peguei o meu celular e liguei para ele, mas não atendeu. A ligação foi direcionada para a caixa de mensagem.— Luke, por favor... Volta para casa. Espero que não esteja fazendo o que estou pensando. Eu imploro!Algo me dizia onde encontrá-lo. Peguei a minha bolsa, a chave do carro e saí. Dirigi em alta velocidade até a minha casa. Ao entrar na rua, avistei o seu carro estacionado próximo ao meio-fio. Desci e corri até a porta entreaberta.A cena que desenrolava à minha frente era assustadora. Luke e o meu pai rolavam pelo chão, tentando matar um ao outro. Socos eram distribuídos por toda parte. O meu pai tinha o seu rosto e
EvaPassavam das nove da manhã e eu ainda estava deitada na cama. Ninguém havia vindo me perturbar e eu agradecia silenciosamente por isso. Luke não tinha mandado mensagem ou ligado. Eu estava em um misto de opiniões sobre isso. Um lado estava preocupado, queria saber dele e o porquê ainda não tinha entrado em contato. O outro, apenas me dizia: “ainda bem que não apareceu”. No fundo, sabia que precisava de mais um tempo.Eu estava magoada. Se pudesse, voltaria no tempo e jamais teria entrado naquele lago. Jamais teria deixado ele se aproximar tanto. Ou até mesmo teria me proibido de amá-lo. A pessoa que mais prezava e que achei conhecer tão bem, agora estava se tornando um estranho autodestrutivo. Tudo estava uma confusão dentro da minha cabeça e no meu coração.— Eva?! — Escutei Mandy chamar, do outro lado da porta. — Está acordada?Respirei fundo. A paz havia acabado de ir embora.— Estou.— Tem uma mulher lá embaixo. Ela diz querer falar com você e ser urgente. O que digo?— Mulher
LukeEva olhou-me novamente. Nunca havia visto tamanha tristeza nos seus olhos. Em mim só havia pavor de perdê-la.— Desculpe. Mas não estou sabendo lidar com isso. Talvez, um dia, sejamos amigos novamente. Mas agora preciso que fique longe de mim. Não posso ficar com alguém que me esconde coisas tão sérias.Não podia acreditar naquelas palavras.“Deus, como dói!”O desespero fez do meu corpo seu abrigo. Parecia estar ficando oco naquele momento.— E por favor... não pense que estou indo porque terá um filho com a Amber. Isso jamais seria problema para nós dois!Sem dizer mais nenhuma palavra, ela saiu deixando-me para trás. Senti-me à beira de um surto nervoso. Eu havia acabado de desgraçar a minha vida. Estúpido!***Primeiro dia...Por favor, eu imploro... Vamos conversar.Essas horas sem nos falarmos está me deixando louco!Luke09:45 a.m.Mensagem visualizada, mas não respondida. Aquilo me matava por dentro.Segundo dia...Eva... Amor...Fale comigo!Vou enlouquecer.Luke04:34
LukeMais tarde, naquele mesmo dia, saí e fui até o centro da cidade onde comprei um novo celular. Eu sabia onde a ex-secretária e amante do Arthur morava. Tudo o que eu precisava era dirigir até lá, estacionar e esperar pelo momento em que faria o flagrante perfeito.Demorou horas, a noite inteira, até que no dia seguinte, logo pela manhã, lá estava Arthur estacionando em frente ao prédio. Ele desceu e entrou. Meia hora depois deixou o edifício ao lado da sua amante e uma linda menina de oito anos. Ela tinha cabelos castanhos encaracolados e pele bronzeada. Muito se parecia com a sua mãe.Arthur a pegou no colo e brincou com a garotinha, fazendo-a rir alto. O momento perfeito para uma foto da “família”. Ergui o celular e os fotografei até que entrassem no seu carro e sumissem ao virar a esquina.Antes de voltar para casa, fui até o Walmart mais próximo. Aos fundos, havia uma banca de impressão onde se podia revelar as fotos em minutos. Pedi que as revelassem em tamanho A4. Talvez Art
EvaDesci para o andar de baixo e fui até o escritório. Lá, sobre a mesa, estavam as fotos espalhadas. Eram nove fotografias. Sentei-me na cadeira e apanhei uma delas. Na imagem, o meu pai sorria feliz com uma menina nos braços. Próximo ao carro, ele brincava com ela, lhe dando a atenção que nunca deu para mim.No cesto do lixo, à esquerda, havia um envelope de papel pardo amassado. Peguei-o deduzindo que fora ali que as fotos foram enviadas. Desamassei o envelope e um misto de surpresa e angústia invadiu o meu peito. Aquela letra... Eu conhecia aquela letra! Fechei os meus olhos e respirei fundo. Não acreditava que Luke sabia de tudo isso e nunca me contou nada. Não conseguia crer que escondeu mais isso de mim!Guardei as fotos em uma gaveta, peguei o envelope e voltei para o meu quarto. No caminho, encontrei a minha mãe. Ela estava linda.— Sinto muito que eu não consiga te acompanhar.— Tudo bem, Eva. Já fui a muitos eventos sozinha. Esse será apenas mais um.— Não tem que ir, mãe.
Eva Amanheceu e, ao contrário do que eu esperava, não havia gritos ecoando pela casa. Levantei-me e saí do quarto ainda de pijama. Desci a escada vagarosamente e fui até a cozinha.— Bom dia, mãe.— Bom dia, Eva — desejou sem tirar os olhos do tablet que tinha à frente do seu rosto.— Como foi o baile? — Sentei-me à mesa.— Como todos os outros.Escutei passos e logo a voz do meu pai ecoou ao entrar na cozinha. Ele nos desejou um bom-dia e sentou-se à mesa, ao meu lado. Nem sequer tive coragem de olhá-lo. Pelo canto dos olhos, observei a minha mãe. Ela lentamente abaixou o tablet e o colocou sobre a mesa, à sua esquerda.— Arthur... — chamou-o.— Sim, querida.Ergui a cabeça e o olhei. Havia tanta falsidade no seu sorriso e tom de voz... Como era capaz? Como conseguia? Aquilo me dava nojo.— Quero que vá embora.Ele nem sequer a olhou, apenas gargalhou enquanto se servia de uma xícara de café.— Deixe de bobagens, Jéssica.— Arthur! — chamou a sua atenção em um tom severo e alto. Ele
EvaAo chegarmos no campo de futebol, vi como o lugar estava abarrotado de gente. Ficamos ao canto, perto da arquibancada, e conhecemos mais alguns calouros escondidos ali.Alguns dos jogadores veteranos apareceram e quiseram nos arrastar para o meio do tumulto depois das inúmeras apresentações e discursos motivacionais de boas-vindas. Segundo eles, todo calouro passava por um trote de iniciação. Alinharam-nos um ao lado do outro sobre o gramado verde e então pegaram coolers cheios de água e gelo, entornando-os sobre nós e nos deixando completamente molhados. Depois da “iniciação”, caminhei até onde uma garota distribuía pequenas toalhas para uma tentativa frustrante de nos secar.— Obrigada — disse ao pegar uma toalha.— Eva?! — alguém me chamou, atraindo a minha atenção.Ao virar para trás, lá estava William Donson.— William... Oi! — Sorri ao ver um rosto conhecido.— Oi. Que bom ver você. — Beijou o meu rosto. — Na verdade, estava esperando vê-la esta noite. Como foi a mudança?—