EvaDesci para o andar de baixo e fui até o escritório. Lá, sobre a mesa, estavam as fotos espalhadas. Eram nove fotografias. Sentei-me na cadeira e apanhei uma delas. Na imagem, o meu pai sorria feliz com uma menina nos braços. Próximo ao carro, ele brincava com ela, lhe dando a atenção que nunca deu para mim.No cesto do lixo, à esquerda, havia um envelope de papel pardo amassado. Peguei-o deduzindo que fora ali que as fotos foram enviadas. Desamassei o envelope e um misto de surpresa e angústia invadiu o meu peito. Aquela letra... Eu conhecia aquela letra! Fechei os meus olhos e respirei fundo. Não acreditava que Luke sabia de tudo isso e nunca me contou nada. Não conseguia crer que escondeu mais isso de mim!Guardei as fotos em uma gaveta, peguei o envelope e voltei para o meu quarto. No caminho, encontrei a minha mãe. Ela estava linda.— Sinto muito que eu não consiga te acompanhar.— Tudo bem, Eva. Já fui a muitos eventos sozinha. Esse será apenas mais um.— Não tem que ir, mãe.
Eva Amanheceu e, ao contrário do que eu esperava, não havia gritos ecoando pela casa. Levantei-me e saí do quarto ainda de pijama. Desci a escada vagarosamente e fui até a cozinha.— Bom dia, mãe.— Bom dia, Eva — desejou sem tirar os olhos do tablet que tinha à frente do seu rosto.— Como foi o baile? — Sentei-me à mesa.— Como todos os outros.Escutei passos e logo a voz do meu pai ecoou ao entrar na cozinha. Ele nos desejou um bom-dia e sentou-se à mesa, ao meu lado. Nem sequer tive coragem de olhá-lo. Pelo canto dos olhos, observei a minha mãe. Ela lentamente abaixou o tablet e o colocou sobre a mesa, à sua esquerda.— Arthur... — chamou-o.— Sim, querida.Ergui a cabeça e o olhei. Havia tanta falsidade no seu sorriso e tom de voz... Como era capaz? Como conseguia? Aquilo me dava nojo.— Quero que vá embora.Ele nem sequer a olhou, apenas gargalhou enquanto se servia de uma xícara de café.— Deixe de bobagens, Jéssica.— Arthur! — chamou a sua atenção em um tom severo e alto. Ele
EvaAo chegarmos no campo de futebol, vi como o lugar estava abarrotado de gente. Ficamos ao canto, perto da arquibancada, e conhecemos mais alguns calouros escondidos ali.Alguns dos jogadores veteranos apareceram e quiseram nos arrastar para o meio do tumulto depois das inúmeras apresentações e discursos motivacionais de boas-vindas. Segundo eles, todo calouro passava por um trote de iniciação. Alinharam-nos um ao lado do outro sobre o gramado verde e então pegaram coolers cheios de água e gelo, entornando-os sobre nós e nos deixando completamente molhados. Depois da “iniciação”, caminhei até onde uma garota distribuía pequenas toalhas para uma tentativa frustrante de nos secar.— Obrigada — disse ao pegar uma toalha.— Eva?! — alguém me chamou, atraindo a minha atenção.Ao virar para trás, lá estava William Donson.— William... Oi! — Sorri ao ver um rosto conhecido.— Oi. Que bom ver você. — Beijou o meu rosto. — Na verdade, estava esperando vê-la esta noite. Como foi a mudança?—
Eva A véspera do Natal chegou e a única coisa que conseguia pensar, desde o dia que cheguei, era no Luke. Sorria só de me lembrar dele e dos momentos que tivemos juntos. Sempre que pensava em nós dois, sentia o meu peito literalmente se aquecer.— O tempo está mudando rápido. Fará bastante frio essa noite — disse Will sentando-se ao meu lado, no banco da varanda dos fundos da casa da minha avó.Ele me abraçou e beijou.— Ainda bem que tenho você para me esquentar. — Aconcheguei-me nele.— Não está feliz de estar aqui?— Claro que sim. Por que não estaria?— Você parece um pouco aérea. Tem se isolado desde que chegamos. Isso tem a ver em ter visto o McAlson?Desviei o meu olhar do seu. Tinha tudo a ver com o Luke, mas dizer isso para ele o magoaria. E não queria mentir. O que fazer?— Desculpe.Ele suspirou fundo e assentiu.— Eva... — chamou a minha avó. — O seu pai está na sala. Quer vê-la.Will e eu nos entreolhamos. Ele sabia de toda a minha história com o meu pai.— Vou ficar aqu
EvaÀ noite, depois do jantar, seguimos para a igreja. Após o culto, saímos e voltamos para casa. A minha avó estava ansiosa para nos servir dos biscoitos que passou a tarde fazendo. Ao descer do carro, com o Will no meu encalço e agarrado a minha cintura, encontrei Luke de pé na varanda da frente.— Luke... O que faz aqui? — perguntei ao me aproximar.A minha reação momentânea foi olhar para o Will. Ele não estava nem um pouco feliz vendo o meu ex-namorado ali.— Desculpe. Eu precisava vir até aqui. Preciso conversar com alguém. Preciso conversar com você, Eva.A minha avó e a minha mãe passaram por nós e entraram em casa após desejar um Feliz Natal para Luke. Will estava tenso e nos olhava de modo indecifrável. Ele se inclinou e sussurrou no meu ouvido:— Vou esperar você lá dentro.Assenti.Selou os meus lábios de modo possessivo, como se estivesse marcando o seu território, e depois beijou a minha testa. Luke virou o rosto para não olhar a cena. Will passou por ele e o encarou seg
EvaMais tarde, já na minha cama, uma batida soou do outro lado da porta. Ao abri-la, lá estava Will do outro lado. Sem esperar que eu dissesse nada, ele entrou e me surpreendeu com um beijo profundo que tinha gosto de desespero. Os seus braços me apertavam contra o seu corpo, como se a qualquer instante eu fosse desaparecer.Já estava quase sem fôlego quando ele se afastou soltando os meus lábios. Senti-me atordoada. Respirei fundo e o olhei espantada.— O que foi isso? — perguntei sem ar.Ele analisou-me meticulosamente, sem pressa. O seu olhar entristeceu.— Você não sente — constatou, aos sussurros.— Não sinto o quê? Do que está falando, Will?— Não sente por mim o que sente por ele.Desviei os meus olhos dos seus.— Will...— Eva, olhe para mim — pediu, interrompendo-me.Tomei coragem e o encarei.— Nunca vai me amar como o ama, eu sei. Posso sentir. E quer saber? Está tudo bem. — Acariciou o meu rosto.— Desculpe. — Os meus olhos se encheram de lágrimas.— Não tem que se descul
Eva Os dias decorreram e uma semana se foi. Pensei em mil coisas e em mil maneiras de procurar por Luke. Eu e a minha mãe voltamos para a nossa cidade. Passaríamos juntas o réveillon, mas com a companhia do Kurt, é claro. Ele era um cara incrível. Fazia a minha mãe rir o tempo todo e isso me deixava muito feliz.Era o último dia do ano. Faltavam exatamente uma hora para aquele ano acabar. Eu estava sentindo um misto maluco de ansiedade e angústia. Andava de um lado para o outro. Não conseguia me manter sentada. O meu corpo parecia estar vibrando em eletricidade.Em um rompante de um segundo, deixei a sala sem chamar a atenção dos dois, que riam baixinho de pé em frente à lareira. No hall, peguei a chave do meu carro, celular, o casaco e caminhei em direção à porta.— Aonde vai? — perguntou a minha mãe, vindo atrás de mim.— Desculpe, mãe. Mas eu preciso ir. — Beijei o seu rosto. — Feliz Ano-Novo.Saí rapidamente, sem lhe dar mais tempo para me questionar. Entrei no meu carro, liguei
Eva Acordei e senti o lado esquerdo da cama vazio. Abri os olhos e estava só no quarto. Levantei-me, vesti uma camisa sua e desci. Na cozinha, encontrei Luke escorado ao balcão, tomando café em uma xícara.— Bom dia. — Abracei-o e fui correspondida.Respirei fundo o seu cheiro de pós-banho e beijei o seu peitoral nu. Luke acariciou as minhas costas e beijou o topo da minha cabeça.— Senti saudade disso.— Eu também senti — ele respondeu.Respirou fundo com pesar e me apertou ainda mais nos seus braços. Percebi haver algo errado. Olhei-o.— O que tem de errado, Luke?— Não podemos, Eva. — Os seus olhos se encheram de lágrimas.O meu coração se partiu. Afastei-me um pouco e o encarei confusa.— Como assim? Claro que podemos, Luke! É o Will? Ele foi embora. Percebemos que não temos nada a ver um com o outro. Você é o meu par, Luke. Sempre foi! — disse desesperada.— Eva... Estou doente. Essa doença maldita está dentro de mim! A qualquer momento posso começar a me esquecer de tudo, esque