Roman
–A senhora Eva, entrou em trabalho de parto, senhor, as empregadas disseram que ela não estava bem, levaram-na para o hospital.
As palavras chegaram aos meus ouvidos de um modo que nem ao menos sei descrever esse sentimento insano em um momento era o Lobo Russo, o próprio Diabo encarnado e no instante seguinte o homem de carne e osso berrava em plenos pulmões guiados pelo medo de perder a única coisa boa da vida de merda que levo.
Borrões, tudo se tornou borrões, desde as ordens dadas aos meus homens no automático para fazer a limpeza no local e redobrar todas as proteções nas fronteira além de escolher os principais homens para fazer a segurança de Eva no hospital, o caminho até lá parece ter durado horas tamanha a angústia se cravando em mim, os pensamentos, as preces, a praga jogada nas minhas costas por Franco, agora gritando em um looping de culpa por ser tão confiante, se ele era um traidor devem ter outros, algo pode ter sido causado a ela.
Seis meses, contei mentalmente, apenas seis meses de gestação, nós sabíamos que era uma gestação de risco, Eva tem pressão alta gestacional.
Ainda no automático, sentado num banco azul dentro do hospital de paredes brancas fazendo as luzes de led refletirem olhando os médicos correndo de um lado para o outro, em meio ao cheiro irritante do cloro usado para a limpeza notei o soldado ao meu lado, parece tão apreensivo quanto estou, em algum momento Eva tinha literalmente adotado Kyro como um irmão mais velho, mesmo que aquilo me matasse de ciúmes, sabia que ela precisava de companhia e as mulheres da família não são as melhores.
Arrogantes, frias e vazias por não serem apaixonadas pelos maridos, sentem inveja do que a minha francesinha tem comigo.
Devotado, fiel, apaixonado. Lembro de forma clara em uma vez, na reunião da família Lynxos, um Caporegime da cidade de Kislokan teve a coragem de dizer que eu tinha amolecido, sim, ele era corajoso de dizer algo assim, mas louco também.
Os caporegimes na sala, se calaram para ouvir minha resposta. Se tivesse dado uma com palavras, o vermelho nos meus olhos só sumiu quando o babaca estava sufocando com o sangue da própria língua. Não existe nada capaz de diminuir o que sinto por Eva, e é tanto que chega a ser a segunda coisa mais preciosa logo após a Bratva. Jamais deixaria que algum idiota se desfizesse disso, muito menos tentasse diminuir a minha honra.
Depois disso, eles entenderam o recado.
Perdido, nas lembranças não vi o homem se aproximar, um erro mortal na minha vida criminosa. Se não fosse pelos soldados ao meu redor e meus inimigos não estivessem mortos por hoje, teria falhado com Eva.
– Roman Vassiliev ? – A voz do médico que acompanhava a gravidez de Eva ressoou grave, encontrei o seu olhar que me olhava com pena.
A dor no peito cresceu junto com o medo de não ver mais minha rosa.
–Aqui.
–Preciso que me acompanhe.
—Como ela está?
–Precisando de você. – Eu entendi o que seu olhar significa fazendo meu peito doer cada vez mais e ali ele cravou a faca no meu peito com as próximas palavras – Mas Senhor Vassiliev, ela não está bem. – O medo do homem era nítido dançando na minha frente como labaredas acenando para o monstro adormecido depois da carnificina
Puxei o homem pelas abas do jaleco deixando nossos rostos a centímetros, a recepção tão barulhenta, ficou silenciosa ao nosso redor talvez fosse possível ouvir uma agulha caindo no chão.
– Então trate de fazê-la ficar bem Dr. Ivanov.- Falei seu nome com tanta entonação que vi seu pomo de adão subir e descer, ele entendeu a ameaça .
O soltei avaliando o aceno se virando indicando para acompanhar, andei atrás dele, recebendo olhares silenciosos.
Eles sabiam quem eu era, um poderoso Magnata Russo de terno e o pakhan da Bratva, O Lobo da Rússia, a minha fama nunca foi boa.
Viramos no corredor, o cheiro de produtos de limpeza aumentando a minha irritação, com a demora para ver Eva deixando os meus pensamentos loucos para extravasar, passamos por um homem chorando enquanto uma médica falava, que apesar da sua esposa ter morrido o bebê estava vivo e o quanto era raro um dos dois sobreviver.
Senti um frio de mau agouro subindo pelas minhas costas.
Acompanhando o médico, viramos no corredor de paredes brancas o choro do homem rondando minha mente como uma canção.
Chegando à porta do quarto 315, vi a minha Eva, pálida, suando, tremendo, os olhos sem brilho enquanto estendia a mão pra mim. Corri e segurei suas mãos a abracei e beijei seus cabelos, outrora, tão brilhosos e agora opacos. Não ouvi, não vi, não conseguia tirar os olhos dela. Mas entendi.
Nosso bebe iria nascer, ali.
Antes do tempo.
Corria o risco de perder os dois se o parto fosse adiado, Eva como a mãe que já era desde que descobriu a gravidez pedia que Ivanov salvasse nosso filho.
Já eu pedia a Deus que a salvasse, poderíamos ter outros filhos, mesmo que a dor continuasse, mesmo que nesse dia em diante fossemos ao cemitério chorar nossa dor.
Deus!
Não a tire de mim, eu não sou um bom homem.
Mas ela tem de mim o que ninguém nunca conseguiu.
- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante. Sempre vou te amar meu Loup – Eva falou, suas palavras parecendo um sussurro, citando seu autor favorito, com um terno sorriso como se lembrasse de quando me fez ler esse livro.
-Não fale como se fosse me deixar meu amor, vou levar você e nosso filho pra casa. - Falei esperançoso de que os melhores médicos do país fizessem algo para ajudá-la.
Ela me olhou, segurando na minha mão e fez força.
-Você consegue Eva, mais um pouco e o pequeno estará aqui- O Dr. Ivanov disse, incentivando minha pequena.
A segurei com carinho querendo lhe dar as minhas forças, quando desmaiou nos meus braços.
Gritei pedindo ajuda e quando levantei os olhos, senti que meu coração se tornava duro como pedra ao ver meu pequeno Niko que estava ali roxo, enquanto um médico tentava trazê-lo de volta.
Ele já tinha partido.
Tentei segurar meus olhos cheios de lágrimas não derramadas sentindo a minha mulher ficar fria ao meu lado. Senti ser puxado enquanto me debatia para segurar Eva, os médicos correndo para atendê-la e rasgando o pequeno vestido hospitalar que usava.
Dando choques em seu peito, e gritando ordens enquanto o bipe infernal parou e anunciou sua morte.
- Hora da morte 4:55 da madrugada. – Ivanov disse-me olhando com pena.
Os braços de Kyro ainda me seguravam enquanto desabei, percebia o movimento mas não sabia para onde estava sendo levado.
- Você precisa reagir Boss, a morte de Eva foi um plano dos traidores, uma conspiração para te deixar assim, vamos vingá-la. -Levantei os olhos para Kyro que parecia ter chorado por horas, antes de jogar essa bomba no meu colo.
-Onde estamos?
-Em casa Boss, já faz dois dias que ela se foi- Olhei para os lados e vi meus empregados de confiança me encarando, tão tristes quanto meu soldado.
-Como você descobriu isso? - Perguntei tentando voltar ao mundo real.
Um mundo onde Eva não está comigo.
-Estava fazendo a limpeza nas coisas da senhora - Ivynes a governanta que me foi minha babá, fungou e apontou para o motorista e a dama de companhia da minha esposa- Escutei eles falando sobre como precisavam enviar informações para Samantha de que o plano havia dado certo, avisei ao senhor Kyro sobre isso. Nós amávamos a senhora Eva, e esses dois ajudaram a matá-la.
Todos concordaram com a cabeça, enquanto Kyro falava a armação que fizeram para me tirar do comando da Bratva.
Na minha mente o lobo uivava com sede de sangue.
Depois disso o que destruí ou quem entrou na minha frente e matei, muito menos o álcool nada amenizou a dor que sentia.
Nem a vingança contra quem envenenou Eva, Asimov meu UnderBoss junto com Franco armou tudo achando que me tirariam do jogo, nem mesmo arrancar sua pele, olhos, dedos e deixar Samanta presa em um poço para morrer e virar comida de ratos.
Nada disso aliviou a minha dor.
O velório, o enterro e a casa vazia, suas roupas no armário, tudo tinha se tornado nada sem ela.
Não fui capaz de protegê-la nem ao nosso filho.
No meu peito, um órgão que batia vazio, voltei a ser o que era antes de Eva, um homem vazio, desprovido de sentimentos, desnudo de compaixão e tão frio quanto os mais longos invernos do meu País.
E eles voltaram a me chamar de Demônio.
Roman Contando as armas no galpão em Kislokan no local abandonado preparado para usarmos como ponto de contagem das munições, longe o suficiente de curiosos e perto o bastante dos meus olhos, depois de ter perdido minha mulher e filho passei a ter essa paranoia em relação a checagem dos carregamentos, mesmo fazendo uma limpeza na organização não confio em ninguém além da minha sombra. Poderia deixar tudo a cargo dos capos, mas confiança é algo que não dou a ninguém de graça muito menos ficar sem vigiar os negócios, por isso percebo mais uma vez não estou tão enganado assim, ao ouvir carros se aproximando, estou aqui apenas com Kyro e o alerta se acende antes mesmo de saber quem pode ser deveria ser apenas uma contagem simples e rápida. –Kyro, veja quem é. – Disse ao meu novo UnderBoss, depois de descobrir tudo o que aconteceu embaixo dos meus olhos, coloquei meu único e leal homem ao meu lado. Mas pelo som dos carros a limpeza que fiz na Bratva não foi suficiente, os ratos persi
Roman Já são 8 anos sem eles e ainda não superei é uma dor latente, persistente, suas mortes doem como se ainda fossem ontem. Fazendo a faca rodar dentro do meu peito pela esperança que tinha em um futuro causando uma saudade do gosto de tudo o que poderia ter sido e jamais terei como descobrir. Suspiro, diante da realidade suja a qual voltei a enfiar minha carne fraca e mesmo desejando todos os dias, não morri junto com ela, hoje fodo com tantas putas que os soldados se perguntam como meu pau ainda não caiu ou não fui parar no hospital com alguma DST, claro quando estão longe o suficiente da minha presença, Kyro que faz questão de falar para encher o saco a todo momento fazendo piadas idiotas. Sinto que a idade não pesa tanto, mas às vezes cobra com uma dor de cabeça infernal após uma noite de bebedeira, sexo e torturas quando encontro algum desavisado, lembro que farei 38 anos, meu aniversário chegando na próxima semana. Saindo de Moscou , segui direto para o aeroporto e cá esto
RomanA reunião que precisei lidar ainda no hotel foi entediante apenas tinha alguma alegria pensando no fato de que na segunda teria minha visita ao hospital, pelo que entendi, eles trabalhavam em ritmo de plantões, com uma ligação o prefeitinho de merda descobriu que a fantasminha, meus soldados a chamavam assim já que só ouvi sua voz, teria saído de um plantão hoje.O encontro com os empresários foi extremamente produtivo, fechei mais alguns milhões, além de realocar as armas. Com uma enorme motivação pensando no final dos meus sonhos eróticos com aquela voz que tanto me atormentava.Olhando o mar pela janela do hotel, ouvi a porta bater e sabia que era Kyro, fala de mim mas é incapaz de ficar com o pau nas calças. –Roman, vai ter uma festa na orla, parece que é uma festa típica antes do Carnaval brasileiro, podemos verificar nossos pontos de drogas além de se misturar com a multidão e foder as bocetas brasileiras.- O cínico ainda abriu um sorriso.–Pra quem estava a algumas horas
Luna Sentada dentro do ônibus ao lado de Kalifa a minha melhor amiga que conheci junto de Nick no IF, desci do elevador e logo a encontrei na portaria me esperando pois tinha ido me encontrar para ficar conversando durante o trajeto, ela está usando um shortinho com uma camiseta que valoriza suas curvas, resolvemos ir para o Aterro, afinal as baladas só abriam às 23h, e assim, podemos curtir um pouco do pré carnaval na areia da praia com bandas cantando marchinhas e músicas antigas. Com os ombros tensos senti a necessidade de desabafar sobre a minha situação com Nick e recebi a resposta que esperava. Mesmo rindo por fora, em algum lugar dentro do meu peito os questionamentos eram intensos. –Você sabe que aquele é um idiota, e daí se ele gosta da maioria das coisas que você gosta, ou aguenta as suas crises de ansiedade isso é o mínimo que ele poderia fazer. Agora ele também poderia ser um homem de verdade e te fuder com gosto. – Abri um sorriso para suas palavras firmes. No mesmo in
LunaMas que merda será que é um policial disfarçado e o levou preso, o rapaz que dançava com Kalifa também estava sendo levado, ouvi minha amiga falando algo e não entendi, o seu tom de voz alertou para algo que o álcool tentava apagar, mas quando virei, percebi porque ela estava assustada eram Russos.]Pior que isso, os mafiosos que atendemos no nosso último dia de intercâmbio , aqueles que nos fizeram ter pesadelos por três meses, tão lindos mas tão perigosos.Os olhos azuis dele me encaravam, e por um momento jurei sentir o frio que senti na Rússia naquela semana que iniciava o inverno .–Cheshire,pode me dizer qual caminho devo tomar. – Num russo perfeito, com uma voz tão grossa, que talvez, acho que a calcinha tenha encharcado.Mas pelo fato dele citar Alice o lado Nerd não me dava trégua nem quando a leonina assumia meu corpo.–Isso depende de para onde você quer ir – E ali morta de bêbada, tentei citar Alice, num russo enferrujado. Porra! Eu não estava preparada para aquele
RomanParado no calçadão olhava tudo desinteressado, cheio de tédio sendo acompanhado à distância pelos soldados disfarçados e mesmo usando apenas uma camisa social, desabotoada totalmente diferente das roupas que uso normalmente, ainda sinto um calor infernal se o inferno for quente devo estar nele, estamos andando de uma ponta a outra primeiro verificando alguns dos pontos de venda depois procurando por alguma mulher capaz de atrair nossa atenção, sem sapatos e apenas com uma bermuda que um dos soldados conseguiu de última hora no hotel.Kyro está vestido do mesmo jeito, logo resolvemos parar em uma barraquinha que vende nossos ecstasy para verificar as vendas. Percebi Kyro encarando algo, mas estava morrendo de sede e fui comprar uma água na barraca ao lado, era melhor do que aquilo que eles chamavam de cerveja completamente sem gosto da cevada e muito açucarada que experimentei assim que cheguei a praia. Ao voltar olhei para o meu homem de confiança parecendo hipnotizado por co
LunaParada no meio da areia sentindo os dedos batendo contra o solado da bota, já notando a quantidade de grãos incomodando dentro do sapato.Bufei com a raiva fervendo o sangue em um ritmo incontrolável caminhando a passos largos para atravessar a multidão de pessoas, vi o exato momento em que a garota ergueu a cabeça fazendo o último prego ser martelado com força na porra do meu coração idiota. Nickolas beijando a vizinha vadia Jéssica, e a idiota aqui jurando que ele estaria jogando com os amigos pelo computador, é os quietos sempre são os piores. No primeiro momento pensei em ir até lá e dar na cara dos dois, no meio do caminho lembrei em como mulheres levam o nome de louca.Senti a primeira lágrima querendo escapar, a memória rebobinando cada momento em todos esses anos se misturando a cada jura de amor e promessas, se transformando em um vazio sem fim. Lembro do dia em que fui fazer uma limpeza de pele na minha prima Laís, em algum momento falou com raiva sobre o namorado ter b
Roman Foram alguns bons anos em que fiquei curioso em descobrir quem seria a mulher misteriosa, a voz por trás daquelas palavras suaves sussurradas em meu ouvido num momento de extrema fragilidade. Quando finalmente escuto as palavras que desejei, olho meu objetivo, minhas mãos soam e sinto a resposta reverberando pelo meu corpo que entra em chamas. Os seus cabelos um pouco assanhados contra o vento a deixando com um ar selvagem, seus olhos queimando injetados por uma fúria que se mescla ao desejo e talvez algumas dúvidas, analiso as mãos trêmulas escondendo o sorriso. Me sinto consumido. Seguro ela pelo quadril virando para mim vendo o seu rosto furioso assumir uma expressão de espanto antes de franzir as sobrancelhas, levo a mão esquerda para a sua nuca e desço os lábios até o seu ouvido, inspirando profundamente o cheiro do álcool misturado ao perfume de uma doçura fraca. –Uma noite inesquecível Cheshire. - sussurrei as palavras, vendo os pelos do pescoço se arrepiando. O perfu