Capítulo 05

Neal Sullyvan

— Estou falando dos dias que passei na casa da minha querida titia Elizabeth. Não foi mesmo titia! Quantas vezes eu cheguei do trabalho e tinha pelo menos um pão com ovo para mim jantar para poder ir para a faculdade? Quantas vezes eu cheguei da faculdade e encontrei um prato com alguma comida para mim dentro do micro-ondas? Em titia? Nunca! Mas reclamar a todo tempo dos gastos e que o dinheiro não dava para nada, isso eu ouvia muito desde quando comecei a trabalhar. Foi por isso que assim que consegui um cantinho eu fui embora da sua casa. E quer saber? Foi a melhor decisão que tomei. Aí agora porque o garçom metido a engenheiro, o pobretão, conseguiu um bom emprego, vocês já estão de olho, querendo uma fatia do bolo. Bando de interesseiros! Filhos de uma puta! Vão se ferrar!

— Meu Deus, Elizabeth! — Minha mãe fica em choque olhando para a irmã que nesse momento me olha com raiva.

— E porque não nos avisou meu filho? — Pergunta meu pai com o rosto triste ao olhar para mim. — Somos pobres, mas nunca deixei que nenhum de vocês passassem fome e nunca teria permitido algo assim. Você é meu filho, nós teríamos dado um jeito, eu sempre dei um jeito.

— Porque o senhor com toda certeza teria ido me buscar para casa. E eu queria muito concluir minha faculdade, eu sabia que logo conseguiria um lugar para morar e eu consegui, não queria que o senhor soubesse, mas me cansei de ter ao meu lado pessoas falsas e interesseiras.

— E você conseguiu meu filho. E parabéns! Estou ainda mais orgulhoso de você, vou sentir saudades quando for embora mais vou ficar aqui orando para Deus para te proteger, pois sei o quanto você é batalhador. Você é um vencedor meu filho. Um vencedor. Sempre lembre-se de onde você veio, nunca mude o que tem em seu coração e não esqueça seu velho.

— Isso nunca pai. — Abraço meu pai sentindo-me renovado com suas palavras e um por um os convidados vem me parabenizar e me desejar boa viagem.

Me mantenho focado conversando com todos para esquecer a cena que presenciei a pouco, pois ela brilha em minha mente como se fossem luzes de neon.

Vejo minha mãe olhar para minha tia e balançar a cabeça, com um semblante envergonhado, o que não deveria, pois minha mãe não tem do que se envergonhar. Ela é a pessoa mais bondosa que conheço. Está sempre pronta para ajudar a quem precisa, ao contrário da irmã que só pensa em dinheiro e status, irmã essa que pela primeira vez na vida toma um chá de se mancou, pede licença e vai embora, creio que para a casa da minha vó.

Já vai tarde!

Depois que todos os convidados se foram, ajudo meu pai e Erick a organizar tudo para poder então nos recolher.

— Erick, posso dormir no seu quarto? — Pergunto quando estamos todos sentados no sofá com Bia deitada com a cabeça em meu colo.

— Claro Neal.

— Podemos dormir nós três juntos. Por favor maninho. Você passou cinco anos longe e agora vai para mais longe ainda. — Bia sussurra com os olhos cheios de lágrimas.

— Desculpa, pequena. Queria poder levar todos vocês comigo, mas não posso. Mas eu prometo ligar sempre e assim que eu conseguir o que eu quero, prometo voltar.

— Vamos dormir nós três juntos, assistir um filme, comer brigadeiro e fazer muita sujeira no quarto. — Diz Erick sentando-se no chão encostando sua cabeça em Bianca que, começa a acariciar seus cabelos.

— Eu vou trocar os quartos para quando você vier em casa ter o seu quarto te esperando, meu filho.

— Não precisa fazer isso mamãe, assim que possível vou comprar uma outra casa para nós. Quando eu voltar não será para esta casa.

Como combinado, nós três fizemos a farra na cama do Erick como a muito tempo não fazíamos. Comemos brigadeiro, pipoca, bolo de chocolate que minha mãe ainda foi fazer para nós e dormir mesmo só conseguimos quando já era quase pela manhã.

****

A hora da despedida chegou e com ela aquele aperto no peito com o gosto da saudade que vou sentir e que sei que minha família sentirá em dobro, é difícil ir para tão longe e deixar os meus pais aqui, mas vai ser para o meu bem e também para o bem deles. Sei que eles vão sofrer, eu também vou. Nunca fiquei tão longe deles assim. Boston era bem ali, há algumas horas de distância e pelo menos uma vez no mês, eu os visitava. Mas tenho que ser forte por mim e por eles, pois quando eu voltar serei um novo Neal Sullyvan.

O estúpido, manipulável, o corno, aquele que baixava a cabeça, vai ficar aqui nessa casa. Quando eu voltar serei uma nova pessoa e aqueles que me humilharam que me aguarde. Não sou vingativo, não vou fazer mal a nenhum deles, apenas vou mostrar que sou melhor, que não preciso pisar em ninguém para subir na vida. Vou mostrar que mesmo com tudo que tive que superar, eu consegui vencer e ser uma pessoa melhor.

— Meu filho querido, a sua mamãe coruja que durante tantos anos se acostumou a guarda-lo e protege-lo debaixo das asas, agora vai ver você voar. O meu coração fica tão apertado só de imaginar você longe de mim, mas ao mesmo tempo, sinto orgulho de saber que você é capaz de levantar voo e desbravar o céu. Que Deus te acompanhe, te proteja e ilumine seu caminho meu menino. — Murmura minha mãe, fazendo o sinal da cruz na minha resta, me abraçando em seguida, quando não consegue mais segurar seus soluços. — Eu te amo meu filho.

— Também te amo mamãe.

Ela se afasta para que meu pai possa vir falar comigo.

— Campeão, você embarca agora em uma grande aventura, em uma experiência que certamente será inesquecível. Eu vou ficar aqui torcendo por você, acompanhando de longe e com muito amor e carinho a sua viagem. Vá com Deus meu filho, meu maior orgulho, tenha Deus sempre em seu coração e volte para seus velhos quando achar que chegou a hora. Realize seus sonhos. — Diz meu pai com a voz embargada o que me faz também chorar.

— Poucas coisas na vida trazem tanto crescimento como estar fora do nosso ninho, fora da nossa zona de conforto. E você, como eu sei, já gosta de alçar voos, agora sim é que vai tomar gosto. Nem o céu é o seu limite! E eu só posso me orgulhar de ser seu irmão, você me inspira a ser uma pessoa melhor e a também lutar pelos meus sonhos. Boa viagem mano, vou sentir saudades. — Diz Erick me pegando de surpresa pois é muito raro vê-lo falando tão sério. Geralmente meu irmão está mais para comediante, mas esse é um lado do meu maninho que poucos conhecem.

Eu não consigo falar nada só choro e abraço um por um. Não pensei que seria tão doloroso me despedir deles.

— Vai com Deus, meu irmão! Se cuida, e saiba que estarei aqui na torcida, vou estar aqui quando você voltar para o acarinhar e deixa-lo preparado para continuar voando. Voa longe, voa alto maninho. Você é minha inspiração. Eu te amo. Te amo muito.

Minha menininha!

— Também amo você maninha. Promete se cuidar e obedecer sempre aos nossos pais.

— Eu prometo.

— Eu tinha comprado isso para... você sabe. — Digo enfiando a mão do meu bolso de onde retiro a caixinha com o anel. — Fique com ele para você, apesar de tudo é uma joia muito bonita e tenho certeza que ficará ainda mais linda quando estiver no seu dedo.

— Obrigada irmão. Sei que você um dia irá comprar um mais bonito ainda, e você mesmo colocará no dedo da mulher que te merecer. Se cuida meu irmão.

— Cuide-se todos vocês, e ver se não dão trabalho para esses velhos. Amo vocês. — Digo pegando minhas malas e me dirigindo para onde o táxi me espera.

Aceno para minha família e entro no táxi vendo o motorista logo da partida e começar a se distanciar da casa onde nasci e cresci.

Até mais Seattle. Só volto aqui quando eu conseguir o que almejo, espero não demorar muitos anos para isso, mas quando se tem um sonho, tem que batalhar para o torna-lo real. E eu estou preparado para isso, para vencer.

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