Neal Sullyvan
— Estou falando dos dias que passei na casa da minha querida titia Elizabeth. Não foi mesmo titia! Quantas vezes eu cheguei do trabalho e tinha pelo menos um pão com ovo para mim jantar para poder ir para a faculdade? Quantas vezes eu cheguei da faculdade e encontrei um prato com alguma comida para mim dentro do micro-ondas? Em titia? Nunca! Mas reclamar a todo tempo dos gastos e que o dinheiro não dava para nada, isso eu ouvia muito desde quando comecei a trabalhar. Foi por isso que assim que consegui um cantinho eu fui embora da sua casa. E quer saber? Foi a melhor decisão que tomei. Aí agora porque o garçom metido a engenheiro, o pobretão, conseguiu um bom emprego, vocês já estão de olho, querendo uma fatia do bolo. Bando de interesseiros! Filhos de uma puta! Vão se ferrar!
— Meu Deus, Elizabeth! — Minha mãe fica em choque olhando para a irmã que nesse momento me olha com raiva.
— E porque não nos avisou meu filho? — Pergunta meu pai com o rosto triste ao olhar para mim. — Somos pobres, mas nunca deixei que nenhum de vocês passassem fome e nunca teria permitido algo assim. Você é meu filho, nós teríamos dado um jeito, eu sempre dei um jeito.
— Porque o senhor com toda certeza teria ido me buscar para casa. E eu queria muito concluir minha faculdade, eu sabia que logo conseguiria um lugar para morar e eu consegui, não queria que o senhor soubesse, mas me cansei de ter ao meu lado pessoas falsas e interesseiras.
— E você conseguiu meu filho. E parabéns! Estou ainda mais orgulhoso de você, vou sentir saudades quando for embora mais vou ficar aqui orando para Deus para te proteger, pois sei o quanto você é batalhador. Você é um vencedor meu filho. Um vencedor. Sempre lembre-se de onde você veio, nunca mude o que tem em seu coração e não esqueça seu velho.
— Isso nunca pai. — Abraço meu pai sentindo-me renovado com suas palavras e um por um os convidados vem me parabenizar e me desejar boa viagem.
Me mantenho focado conversando com todos para esquecer a cena que presenciei a pouco, pois ela brilha em minha mente como se fossem luzes de neon.
Vejo minha mãe olhar para minha tia e balançar a cabeça, com um semblante envergonhado, o que não deveria, pois minha mãe não tem do que se envergonhar. Ela é a pessoa mais bondosa que conheço. Está sempre pronta para ajudar a quem precisa, ao contrário da irmã que só pensa em dinheiro e status, irmã essa que pela primeira vez na vida toma um chá de se mancou, pede licença e vai embora, creio que para a casa da minha vó.
Já vai tarde!
Depois que todos os convidados se foram, ajudo meu pai e Erick a organizar tudo para poder então nos recolher.
— Erick, posso dormir no seu quarto? — Pergunto quando estamos todos sentados no sofá com Bia deitada com a cabeça em meu colo.
— Claro Neal.
— Podemos dormir nós três juntos. Por favor maninho. Você passou cinco anos longe e agora vai para mais longe ainda. — Bia sussurra com os olhos cheios de lágrimas.
— Desculpa, pequena. Queria poder levar todos vocês comigo, mas não posso. Mas eu prometo ligar sempre e assim que eu conseguir o que eu quero, prometo voltar.
— Vamos dormir nós três juntos, assistir um filme, comer brigadeiro e fazer muita sujeira no quarto. — Diz Erick sentando-se no chão encostando sua cabeça em Bianca que, começa a acariciar seus cabelos.
— Eu vou trocar os quartos para quando você vier em casa ter o seu quarto te esperando, meu filho.
— Não precisa fazer isso mamãe, assim que possível vou comprar uma outra casa para nós. Quando eu voltar não será para esta casa.
Como combinado, nós três fizemos a farra na cama do Erick como a muito tempo não fazíamos. Comemos brigadeiro, pipoca, bolo de chocolate que minha mãe ainda foi fazer para nós e dormir mesmo só conseguimos quando já era quase pela manhã.
****
A hora da despedida chegou e com ela aquele aperto no peito com o gosto da saudade que vou sentir e que sei que minha família sentirá em dobro, é difícil ir para tão longe e deixar os meus pais aqui, mas vai ser para o meu bem e também para o bem deles. Sei que eles vão sofrer, eu também vou. Nunca fiquei tão longe deles assim. Boston era bem ali, há algumas horas de distância e pelo menos uma vez no mês, eu os visitava. Mas tenho que ser forte por mim e por eles, pois quando eu voltar serei um novo Neal Sullyvan.
O estúpido, manipulável, o corno, aquele que baixava a cabeça, vai ficar aqui nessa casa. Quando eu voltar serei uma nova pessoa e aqueles que me humilharam que me aguarde. Não sou vingativo, não vou fazer mal a nenhum deles, apenas vou mostrar que sou melhor, que não preciso pisar em ninguém para subir na vida. Vou mostrar que mesmo com tudo que tive que superar, eu consegui vencer e ser uma pessoa melhor.
— Meu filho querido, a sua mamãe coruja que durante tantos anos se acostumou a guarda-lo e protege-lo debaixo das asas, agora vai ver você voar. O meu coração fica tão apertado só de imaginar você longe de mim, mas ao mesmo tempo, sinto orgulho de saber que você é capaz de levantar voo e desbravar o céu. Que Deus te acompanhe, te proteja e ilumine seu caminho meu menino. — Murmura minha mãe, fazendo o sinal da cruz na minha resta, me abraçando em seguida, quando não consegue mais segurar seus soluços. — Eu te amo meu filho.
— Também te amo mamãe.
Ela se afasta para que meu pai possa vir falar comigo.
— Campeão, você embarca agora em uma grande aventura, em uma experiência que certamente será inesquecível. Eu vou ficar aqui torcendo por você, acompanhando de longe e com muito amor e carinho a sua viagem. Vá com Deus meu filho, meu maior orgulho, tenha Deus sempre em seu coração e volte para seus velhos quando achar que chegou a hora. Realize seus sonhos. — Diz meu pai com a voz embargada o que me faz também chorar.
— Poucas coisas na vida trazem tanto crescimento como estar fora do nosso ninho, fora da nossa zona de conforto. E você, como eu sei, já gosta de alçar voos, agora sim é que vai tomar gosto. Nem o céu é o seu limite! E eu só posso me orgulhar de ser seu irmão, você me inspira a ser uma pessoa melhor e a também lutar pelos meus sonhos. Boa viagem mano, vou sentir saudades. — Diz Erick me pegando de surpresa pois é muito raro vê-lo falando tão sério. Geralmente meu irmão está mais para comediante, mas esse é um lado do meu maninho que poucos conhecem.
Eu não consigo falar nada só choro e abraço um por um. Não pensei que seria tão doloroso me despedir deles.
— Vai com Deus, meu irmão! Se cuida, e saiba que estarei aqui na torcida, vou estar aqui quando você voltar para o acarinhar e deixa-lo preparado para continuar voando. Voa longe, voa alto maninho. Você é minha inspiração. Eu te amo. Te amo muito.
Minha menininha!
— Também amo você maninha. Promete se cuidar e obedecer sempre aos nossos pais.
— Eu prometo.
— Eu tinha comprado isso para... você sabe. — Digo enfiando a mão do meu bolso de onde retiro a caixinha com o anel. — Fique com ele para você, apesar de tudo é uma joia muito bonita e tenho certeza que ficará ainda mais linda quando estiver no seu dedo.
— Obrigada irmão. Sei que você um dia irá comprar um mais bonito ainda, e você mesmo colocará no dedo da mulher que te merecer. Se cuida meu irmão.
— Cuide-se todos vocês, e ver se não dão trabalho para esses velhos. Amo vocês. — Digo pegando minhas malas e me dirigindo para onde o táxi me espera.
Aceno para minha família e entro no táxi vendo o motorista logo da partida e começar a se distanciar da casa onde nasci e cresci.
Até mais Seattle. Só volto aqui quando eu conseguir o que almejo, espero não demorar muitos anos para isso, mas quando se tem um sonho, tem que batalhar para o torna-lo real. E eu estou preparado para isso, para vencer.
Neal SullyvanHá sete anos saí da minha cidade em busca de um sonho. Um sonho que consegui apesar dos muitos desafios, realiza-lo. Agora sete anos depois, estou pronto para voltar.A saudade é grande, pois, durante todo esse tempo, só tenho conversado e visto minha família através do Skype. Meu irmão Erick, já está noivo, e vive me cobrando para ir fazer uma visita para eles, mas só vou voltar quando resolver tudo que quero.Durante todos esses anos, trabalhando sem parar eu economizei muito dinheiro, e com algumas aplicações, aqui e ali, hoje estou preparado para abrir minha própria empresa e ser dono do meu próprio negócio. Mais um sonho, que se Deus quiser, também vou realizar.Me sinto curado, renovado, e preparado para voltar. Nada e nem ninguém me intimida mais. Hoje, eu não sou mais aquele de quem zoavam por ser pobre, bolsista e garçom. E nem tão pouco o corno que foi traído em sua própria cama. Hoje eu sou mais eu.Você pode me perguntar, e a diversão Neal? Posso te responder
Neal SullyvanConversamos por muito tempo sobre como passei esses anos e também como eles passaram. Também conversei com Erick sobre a minha empresa e não vejo a hora de começar a trabalhar e colocar em prática todos os meus projetos.Minha mãe nos chama para o jantar e continuamos conversando.Deus, como senti falta deles! Combinamos de na manhã seguinte ir ao prédio onde vai ser minha empresa para que eu possa ver como estão as coisas.— Pai, amanhã vai chegar um homem que vai trabalhar comigo, ele trabalha como segurança e vai ser meu motorista, o nome dele é Michael Bennett, vocês podem chama-lo de Bennett. Ele é muito sério, mais é uma pessoa de confiança, sua cara séria apenas faz parte de seu modo de vida, ele é um ex fuzileiro.— Para que diabos tu queres um ex fuzileiro como motorista? — Pergunta Erick.— Por que preciso, Erick, ele vai contratar o restante do pessoal para cuidar da segurança da casa e no decorrer do tempo, vou ver se vou precisar contratar guarda-costas para
Melinda WatsonArquiteta e designer de interiores, essa é minha profissão. Sou filha única de Samuel Watson e Ava Watson. Duas pessoas simples, porém de um coração grandioso. Meu pai é agricultor e minha mãe, doméstica. Bom, na verdade, eles eram, pois, depois que comecei a ganhar meu dinheiro, pude dar um descanso para eles. Hoje eles têm uma chácara onde meu pai cuida de alguns cavalos, pois segundo ele, não consegue morar na cidade. Mas minha vida não era tão fácil assim.Ralei muito para chegar até aqui. Sempre fui estudiosa e aos 16 anos, já estava indo para a faculdade. Graças a minha vontade de ter uma vida melhor do que a dos meus pais, eu estudei muito, e com isso consegui uma bolsa de estudos integral, só que infelizmente não era na minha cidade e quando muito triste falei para os meus pais, eles logo decidiram que, mesmo assim eu iria, com o que eles ganhavam dava para pagar um lugar para mim, e assim fizeram.Logo me mudei de Portland para Seattle, e lá com muito sacrifíci
Melinda WatsonCinco Anos Atrás.Estou com vinte anos, minha vida tem sido estudar e ultimamente estou estagiando, fazendo alguns trabalhos de arquitetura e isso tem me ajudado bastante, pois, minha mãezinha não precisa mais me ajudar, com isso ela diminuiu as faxinas, já que ela tinha saído da casa da senhora Flores.Há uns três meses encontrei uma prima minha que veio transferida para Seattle e está estudando na mesma faculdade. Ela é sobrinha do meu pai, a minha tia mãe dela, faleceu vítima de um acidente de carro junto com o esposo quando Karoline ainda era criança. Ela foi criada pelos avós, os pais do pai dela, que faleceram à, alguns meses e com isso, ela não quis mais ficar em Denver e pediu transferência para Seattle. Nós sabíamos da existência uma da outra, porém não tínhamos muito contato, mas agora que nos encontramos viramos irmãs.Ela me chamou para sair, vou com ela pois amanhã não trabalho e também os trabalhos da faculdade estão tudo em dia.Termino de me arrumar e lo
Melinda WatsonQuatro Anos AtrásEnfim chegou a minha formatura.Tudo está perfeito, como eu sempre sonhei. Meus convidados são meus pais, os pais do Erick, os quais conheci e gostei logo de cara, minha amiga Bianca e minha irmã do coração, Karoline. O Erick, o Berry e a Rosimeire.Graças a Deus já tenho vários projetos, mesmo antes de concluir a faculdade, muitas empresas me procuraram, graças aos meus amigos como Rosimeire e Berry que sempre me indica para alguém.Já tirei minha mãe das faxinas, falta agora dá um descanso para meu pai. Ele não sabe, mais fiz dois grandes trabalhos e com mais um que tenho para concluir, vou conseguir o dinheiro para comprar um cantinho para eles aqui mesmo em Seattle. Quero-os aqui, pertinho de mim.****Três Anos Atrás.Consegui realizar mais um sonho, comprei uma pequena chácara que fica a trinta minutos da cidade, um lugar lindo para que meus pais possam viver tranquilos, em harmonia com a natureza, mas perto o suficiente para que possamos nos ver
Melinda WatsonUm Ano AtrásDurante esses quatro anos após a faculdade tenho trabalhado bastante e com isso já tenho um excelente padrão de vida.Sai da quitinete onde morava e hoje tenho meu próprio apartamento que divido com Karoline que ainda estuda, no começo pensei que ia atrapalhar nossa privacidade e tive receio, mas a Karol insistiu que não íamos atrapalhar uma a outra até porque passamos praticamente o dia fora e pouco nos encontramos em casa, seria um desperdício cada uma morar em seu próprio apartamento. Como ela quer ser uma cardiologista então após os seis anos de faculdade ainda vai passar mais dois de residência hospitalar para adquirir experiência na área e mais dois se especializando. Por sorte ela e Erick pensam igual, eles ficaram noivo há um ano, mais sem data para casamento pois querem primeiro se realizarem profissionalmente.Segundo Erick, o noivado é para que todos vejam que ele quer sim um compromisso sério com a Karoline e que não a está iludindo.Como se fôs
Melinda WatsonSeis Meses atrás.Chegamos ao local onde está situado o prédio onde provavelmente vai ser a empresa do irmão do Erick. Por fora o prédio está muito bem conservado agora temos que ver por dentro.Estacionamos fora e sigo com Erick para o estacionamento subterrâneo quero começar vendo a estrutura da garagem subterrânea, vamos conferindo cada andar até chegar no 20°. As salas são amplas, os espaços muito bem-feitos, há uma sala grande com uma vista muito bonita.— Erick, essa pode ser a sala onde funcionará o escritório do seu irmão.— E aí Melzinha, o que achou do prédio?— Eu gostei muito, mas precisamos ver toda a papelada, acho que seria bom falarmos com a Rosimeire para ver as questões jurídicas.— Boa ideia, vou ligar para ela agora mesmo.— Ligue e veja se ela tem tempo hoje, pode ser até a noite, se ela estiver disponível, veja com o proprietário e marque uma reunião para tratarmos do negócio.— Eu já passei tudo para o Neal e ele está só aguardando sua avaliação,
Neal SullyvanDepois que Erick sai eu fico com Mel. Ela vai me mostrando toda a empresa, vamos descendo a cada andar e vendo o que preciso fazer, assim como era por e-mail, é muito bom conversar com a Mel, é incrível como nossas ideias estão conectadas.Chegamos ao térreo e saio para dá mais uma olhada no prédio e respiro fundo admirando o lindo prédio à minha frente.— Eu nem acredito que isso tudo é meu. — digo falando mais para mim do que para Mel que está ao meu lado. Me surpreendo quando ela me chama.— Ei, olha aqui, acredite, eu sei o que é lutar por algo que sonhou, agora só depende de você, eu acredito que a construtora ganhará o mundo.Eu olho dentro daqueles olhos que me transmitem verdade, força e confiança.— Posso contar com você para isso? — pergunto pois eu seria louco se perdesse essa arquiteta tão competente e também quero ela perto de mim, não sei por que, mais gosto da presença dela, ela é além de inteligente, é muito simpática e esse sorriso, esse olhar dela... cé