Ao cruzar as portas do hospital no plantão seguinte, Mariana sentiu os olhares de alguns colegas se voltarem discretamente na sua direção, seguidos de sussurros abafados. Tentou manter a postura firme, como se aquilo não a afetasse, mas o nó em seu estômago só apertava. Aproximou-se do balcão da enfermagem, onde Clara, sua colega de plantão, a esperava com um olhar de preocupação. — Como você está? — perguntou Clara em voz baixa, tentando oferecer um sorriso de apoio. — Sobrevivendo, eu acho — respondeu Mariana, forçando um sorriso que não alcançou os olhos. — Mas parece que todo mundo tem uma opinião sobre a minha vida agora. Clara suspirou, lançando um olhar de reprovação na direção de alguns colegas que cochichavam do outro lado do corredor. — As pessoas adoram um escândalo. Mas isso vai passar, você sabe como são as coisas aqui. Logo, alguém faz outra besteira e todos esquecem. — Tomara que sim. — Mariana pegou a prancheta e começou a revisar os prontuários dos pacientes,
Mariana estava no balcão da enfermagem, fazendo algumas anotações no prontuário do paciente que havia monitorado no pós-operatório. Os números e registros preenchiam a página, mas sua mente estava distante, ainda processando o que havia acontecido. Quando terminou de escrever, seu celular vibrou sobre a bancada. Ela pegou o aparelho e, ao ver o nome do contato que apareceu na tela, sentiu um misto de desconforto e nostalgia. Meu cirurgião favorito, lia-se na tela ao lado da mensagem de Gabriel. Mariana revirou os olhos, sentindo uma pontada de frustração. — Eu realmente preciso mudar isso... — murmurou para si mesma, mas hesitou por um instante, com o dedo pairando sobre a tela. Respirou fundo e deixou o contato como estava, ainda não pronta para apagar o que antes havia sido um símbolo de cumplicidade entre os dois. Ela abriu a mensagem e começou a ler. Um nó formou-se em seu estômago, e uma sensação de exaustão a invadiu. Quando eu penso que não pode piorar, acontece coisa pior
Mariana estava no vestiário, trocando de roupa ao final do plantão, quando ouviu a porta ranger ao ser aberta. Ao se virar, deu de cara com Alice, que entrou sorrindo levemente, o olhar frio e calculista. — Sabe, Mariana, fiquei sabendo da reunião com o comitê. Parece que as coisas estão bem complicadas para você, não é? — Alice disse, enquanto se encostava no armário ao lado, como se fosse uma conversa casual. Mariana sentiu a raiva ferver dentro dela, mas manteve a expressão controlada. — Não é nada que eu não possa lidar, Alice. — respondeu, tentando manter a voz firme. Alice ergueu uma sobrancelha e cruzou os braços, como se estivesse saboreando cada palavra. — Espero que sim, querida. Porque, pelo que eu ouvi, parece que eles estão bem interessados em saber como você deixou aquilo acontecer... — Ela fez uma pausa, inclinando-se um pouco mais, seu sorriso se tornando ainda mais afiado. — Nunca é fácil quando se tem a responsabilidade de algo tão importante, não é mesmo?
A brisa fresca da noite aliviava um pouco o peso que ela carregava nos ombros. Ao se sentarem, Matheus tirou uma pequena caixa do bolso interno de seu blazer e a entregou, com um sorriso gentil.— Pensei em trazer algo para animar você, mesmo que só um pouco. — Ele estendeu a caixa, revelando um presente delicado.Mariana olhou para a caixa, surpresa. Era uma embalagem luxuosa da La Maison du Chocolat, famosa por suas trufas e ganaches. O nome dourado da marca cintilava à luz suave do jardim. Ela abriu a caixa, revelando uma seleção de trufas brilhantes.— Matheus... não precisava... — disse Mariana, sorrindo, emocionada. — São... são lindos.— Eu sei que você gosta de chocolate, e esses são os melhores que encontrei. — Matheus respondeu, sorrindo. — Achei que você merecia um mimo depois de tudo.— Você aceita? — perguntou ela, estendendo a caixa em sua direção.— Não, obrigado. São todos seus. — Ele falou com um sorriso nos lábios.Mariana pegou uma das trufas, mordendo delicadamente
Mariana entrou na sala de preparação, o ar frio tocando sua pele enquanto lavava as mãos. O som da água parecia amplificado pelo ritmo acelerado de seu coração. Logo, Gabriel entrou. O perfume amadeirado dele preencheu o ambiente, e ela sentiu um arrepio subir pela espinha.Ela tentou focar no que fazia, mas a proximidade dele a desestabilizava. Quando ele virou as costas para que ela amarrasse o avental, seus dedos trêmulos encontraram o tecido, e ela prendeu a respiração por um segundo. O calor do corpo dele contrastava com o ambiente frio da sala, e seu coração parecia bater mais rápido.— Está pronto, doutor. — sussurrou, tentando esconder a tensão em sua voz.Gabriel lançou um olhar rápido, e um meio sorriso surgiu em seus lábios.— Obrigado, Mariana.Ela desviou o olhar, sentindo o rosto aquecer. Clara entrou e quebrou o momento.— A sala está pronta, começam em cinco minutos.Mariana apenas assentiu, tentando ignorar o turbilhão de sensações que ainda a envolviam enquanto segui
A equipe do hospital estava reunida em um bar próximo, organizado pelo Dr. Marcos para dar as boas-vindas ao novo anestesista, Dr. Pedro Sampaio. A música suave e o ambiente descontraído contrastavam com a rotina pesada do hospital. Clara, animada, fazia piadas enquanto Pedro, ainda tentando se enturmar, ria e respondia com simpatia.Mariana estava sentada ao lado de Clara, observando a interação dos colegas, contente em ver a amiga tão à vontade. Pedro, sentado de frente para ela, trocava olhares e sorrisos ocasionais, tentando se aproximar. Mariana respondia com um sorriso educado, mas mantinha um ar de reserva.— E aí, Mari, gostando da noite? — Clara perguntou, cutucando-a de leve. — Faz tempo que não vejo todo mundo tão descontraído.— É bom ver todos fora do hospital por um momento. — Mariana respondeu, lançando um olhar para Pedro, que conversava animadamente com os outros. — E parece que Pedro está se enturmando bem rápido, não é?Clara deu uma risadinha, observando Pedro com
Mariana seguiu Gabriel até o estacionamento do bar, onde ele parou ao lado de um Audi R8 preto. O carro reluzia sob as luzes da rua, refletindo a sofisticação e o gosto caro de seu dono. Gabriel destravou o veículo, e o som suave da chave fez Mariana erguer uma sobrancelha, já preparando uma resposta provocativa.— Claro que você teria um carro desses. — comentou ela, com um tom ácido, enquanto Gabriel abria a porta do passageiro para ela. — Um Audi R8 combina perfeitamente com seu jeito de querer controlar tudo e todos, não é?Gabriel manteve um meio sorriso, sem se deixar abalar pela provocação. Ele esperou que ela se acomodasse antes de fechar a porta com cuidado e contornar o carro até o lado do motorista. Entrou e, enquanto ligava o motor, lançou um olhar rápido para Mariana.— Talvez seja isso mesmo. Ou talvez eu só goste de dirigir algo que responde perfeitamente ao comando. — Ele disse, o tom carregado de um sarcasmo sutil, enquanto o som grave do motor preenchia o silêncio.M
Mariana sentiu o calor do corpo de Gabriel contra o seu, e por um instante, o mundo lá fora desapareceu. A porta se fechou com um estalo surdo, isolando-os no corredor estreito do apartamento. O beijo continuava intenso, carregado de desejo reprimido. As mãos de Gabriel deslizaram pela cintura dela, enquanto ela se agarrava aos seus ombros, lutando para controlar a respiração.Por um momento, pensou em recuar, manter a distância que havia decidido. Mas o toque de Gabriel, a forma como ele a puxava para perto, a fez se perder, entregando-se àquele instante.Gabriel quebrou o beijo, ainda perto, as respirações misturando-se. Os olhos dele tinham um brilho raro, um misto de intensidade e algo mais profundo.— Mariana... — Ele começou, a voz rouca e hesitante. — Se quiser que eu pare, eu...Antes que ele terminasse, Mariana o puxou de volta, o beijo interrompendo qualquer explicação. Gabriel respondeu com ainda mais urgência, explorando cada curva do corpo dela, como se tentasse recuperar