Os últimos dias passaram como um borrão para Mariana, enquanto tentava se adaptar à sua nova rotina. Naquela manhã, ao tomar café, recebeu uma ligação do hospital, pedindo que comparecesse às 14h para mais esclarecimentos sobre o incidente na cirurgia. Um leve desconforto percorreu sua espinha, mas decidiu ir, determinada a esclarecer tudo.Quando chegou ao hospital, foi conduzida a uma sala reservada. Ao entrar, paralisou ao ver Gisele Alencar esperando-a sozinha. Um alarme soou em sua mente, mas Mariana respirou fundo e manteve a compostura.— Sente-se, Mariana — ordenou Gisele, indicando a cadeira à sua frente.Mariana se sentou, mas permaneceu alerta. A frieza no olhar de Gisele e o ambiente sombrio da sala deixavam claro que aquela não seria uma conversa comum.— Vou ser direta — começou Gisele, a voz fria e calculista. — Pedi que viesse até aqui para resolver o que é melhor para todos nós. Vamos realizar seu aborto.Um choque atravessou o corpo de Mariana. Ela recuou instintivam
Enquanto Gabriel dirigia, o silêncio no carro era quase palpável. Mariana, ainda um pouco tonta, observava as ruas passarem em um borrão, tentando processar tudo o que acabara de acontecer. O gesto de Gabriel de levá-la para o apartamento dele, longe da influência da mãe, trazia uma sensação de segurança inesperada, mas também levantava dúvidas sobre o que aquilo realmente significava para ele.Ao chegarem, Gabriel abriu a porta do apartamento e a ajudou a se sentar no sofá. Em seguida, foi até a cozinha, voltou com um copo d'água e o entregou a ela, quebrando o silêncio tenso com uma pergunta carregada de sentimentos:— Por que você não me contou? — A voz dele saiu firme, mas baixa, como se tentasse manter o controle. Mas o tom, que parecia quase uma súplica, carregava também uma ponta de indignação.Mariana o olhou, sentindo um peso no peito. Ele merecia uma explicação, mas as palavras pareciam presas na garganta. Depois de um momento, finalmente balbuciou:— Gabriel… eu... não sabi
O amanhecer entrava pelas janelas, preenchendo a sala com uma luz pálida e fria. Mariana havia passado a noite em claro, o celular ao lado, a mente em um turbilhão enquanto tentava processar tudo o que vira. Vencida pelo cansaço e pela angústia, acabara adormecendo no sofá, o rosto marcado pela exaustão e pelas lágrimas.O som da porta sendo destrancada a despertou lentamente. Ainda grogue, abriu os olhos e viu Gabriel entrar, cambaleando. A expressão dele era abatida, e o cheiro de álcool o denunciava: ele havia bebido muito.— Gabriel? — murmurou, a voz carregada de incredulidade e surpresa ao vê-lo naquele estado.Ele parou, a expressão confusa enquanto tentava focar o olhar nela. O rosto estava cansado, e ele demorou a processar a presença de Mariana ali.— Ah… você ainda está aqui, Mariana… — disse ele, as palavras arrastadas, a voz carregada de cansaço e algo mais profundo que ele tentava esconder.Mariana se endireitou no sofá, sentindo a indignação e a mágoa crescerem enquanto
A luz da tarde se infiltrava pelas cortinas do quarto, despertando Gabriel aos poucos. Sentia a cabeça pesada e o gosto amargo da noite anterior, mas foi o silêncio da casa que realmente o incomodou. Ao abrir os olhos, percebeu que o apartamento estava vazio, e a ausência de Mariana pesava mais do que qualquer coisa.Ele se levantou lentamente, tentando dissipar o torpor que sentia, mas a sensação de que as coisas estavam se desmoronando era mais forte. Ao chegar à sala e confirmar que ela não estava lá, o peito apertou. Sem perder mais tempo, decidiu tomar um banho rápido e ir até a casa dela. Sabia que era o momento de resolver tudo, sem mais adiamentos ou desculpas.Algum tempo depois, estacionou em frente ao prédio de Mariana e subiu, sem ao menos parar para organizar os pensamentos. Quando ela abriu a porta, ele a observou por um instante, com o peso da noite passada ainda estampado em seu rosto.— Precisamos conversar — ele disse, sem rodeios, enquanto ela o olhava com uma expre
O hospital seguia seu ritmo frenético. Mariana atravessava o corredor com uma pilha de prontuários. Atrás dela, duas enfermeiras trocavam olhares rápidos e cochichavam.— Já soube da história? — murmurou uma, os olhos fixos em Mariana.— Não me diga que é verdade, ele traiu ela realmente — respondeu a outra, disfarçando a curiosidade. — Com a Dra. Cibele da pediatria?Mariana manteve o ritmo firme, as mãos apertando os prontuários com mais força do que o necessário. A mandíbula estava tensa. Ao longe, avistou o Dr. Gabriel Alencar, que passou apressado, lançando um breve olhar em sua direção antes de seguir adiante.As risadas abafadas das enfermeiras ficaram para trás, mas o clima parecia mais pesado a cada passo. Lucas. O nome dele ainda ecoava em sua mente, especialmente desde que soubera da traição com Cibele. As fofocas sobre eles corriam pelo hospital, mas Mariana não deixava transparecer o quanto aquilo a afetava.Ela entrou na sala de prontuários, os movimentos automáticos e e
O carro deslizava pelas ruas silenciosas. Mariana olhava pela janela, observando as luzes da cidade passando rapidamente. O brilho da noite não conseguia acalmar a turbulência que sentia por dentro. Gabriel dirigia com a mesma calma e controle de sempre, as mãos firmes no volante, sem perder o foco. Ele era Dr. Alencar, o médico conhecido por sua frieza e precisão, mas agora estavam indo para um lugar que ela nem sabia ao certo onde era. Seu estômago revirava de ansiedade. O que estou fazendo aqui? A pergunta ecoava em sua mente, mas a resposta parecia distante. Algo nele a atraía, algo além do simples mistério. — Pra onde estamos indo? — perguntou, quebrando o silêncio. Gabriel lançou um rápido olhar para ela, um sorriso leve surgindo em seus lábios. — Para um lugar onde possamos conversar sem interrupções. O silêncio voltou, mas Mariana não conseguia se acalmar. Ela estava exausta das últimas semanas. As fofocas, o estresse, a traição de Lucas ainda pairando em sua mente, mis
Mariana acordou cedo, o corpo ainda pesado do dia anterior. A noite com Gabriel já era passado. Sem arrependimentos, apenas uma sensação de desconforto por saber que as coisas entre eles ficaram sem resolução. Sua prioridade, no entanto, era a reunião com Matheus Vilela, o CEO que estava procurando uma cuidadora para sua mãe. Vestida de forma simples, mas adequada, Mariana se preparou para o compromisso. O trabalho extra parecia a solução para os problemas financeiros que se acumulavam. Chegou ao prédio de Matheus focada: precisava daquele dinheiro. Ao entrar na sala de reuniões, foi surpreendida ao ver Gabriel, distraído com o celular, sentado no canto da sala. Ele mal levantou os olhos quando ela entrou. Mariana tentou ignorar o desconforto e se concentrar. — Mariana, obrigado por vir. — Matheus sorriu ao cumprimentá-la. Ele era jovem, com uma postura confiante e traços fortes. Havia algo nele que chamava atenção, um controle natural sobre as situações. — Como sabe, estou
Mariana acordou cedo, sentindo o peso da responsabilidade nos ombros. O dia seria longo, e seu pai continuava dormindo no quarto ao lado. Desde que ele havia se afundado em problemas, a vida de Mariana se transformara em uma batalha constante. As contas nunca paravam de chegar, e ela sabia que não podia contar com ele para ajudar. Passou pela porta do quarto dele. A respiração pesada e o som do ventilador de teto eram os únicos ruídos. Havia dias que ele mal saía da cama. Mariana sabia que precisava focar no trabalho, já que as preocupações em casa não davam trégua. O segundo emprego como cuidadora de Dona Elisa era sua chance de aliviar um pouco o aperto financeiro. Na cozinha, preparou um café rápido. O olhar perdido na janela enquanto pensava nas contas que ainda precisavam ser pagas. Respirou fundo. Sabia que a jornada seria longa. Depois de ajeitar a casa e terminar as pequenas tarefas, ela se preparou mentalmente para a noite de trabalho. Às 18h, Mariana já estava pront