Gabriel e Matheus deixaram a sala de emergência em silêncio. Mariana estava estável, mas o peso do que havia acontecido ainda pairava sobre eles. Cada passo que davam ecoava com a tensão não resolvida.— A polícia e minha equipe vão cuidar do restante — disse Matheus, enviando mensagens rápidas em seu celular. — As saídas da cidade estão sendo monitoradas.— Não quero margem para erro. Se ele tentar escapar, não vai ter para onde correr — respondeu Gabriel, o tom firme, a expressão cerrada.Matheus lançou um breve olhar para o amigo, percebendo a intensidade em cada palavra. Colocou uma mão firme em seu ombro.— Eles cuidam disso. Agora precisamos nos concentrar nela.Gabriel apenas assentiu, mas seu maxilar ainda estava travado. A culpa se infiltrava em seus pensamentos como uma corrente constante.— Eu devia ter visto isso antes — murmurou Gabriel, mais para si mesmo do que para Matheus.Gabriel se acomodou na poltrona ao lado da cama de Mariana, observando-a com uma expressão que m
O dia amanheceu silenciosamente. As primeiras luzes do sol atravessavam as cortinas finas do quarto de hospital onde Mariana descansava. Depois de horas tensas, ela finalmente estava estável, e sua alta havia sido autorizada. Matheus recebeu uma ligação urgente logo ao amanhecer. Precisava voltar para a empresa e, relutantemente, se despediu de Gabriel. — Eu te mando uma mensagem assim que terminar. Qualquer coisa, é só me chamar — disse Matheus, com um aceno firme. Gabriel assentiu, sem tirar os olhos de Mariana, que ainda dormia. — Vai tranquilo. Eu cuido dela. Matheus deu um olhar rápido, quase imperceptível, que dizia mais do que ele poderia colocar em palavras. Depois, virou-se e saiu sem mais delongas. Assim que a enfermeira entrou para entregar os papéis de alta, Gabriel pegou as instruções e assinou a documentação rapidamente. Mariana ainda parecia frágil. — Vamos para o meu apartamento. Você precisa descansar, e não vou te deixar sozinha agora — afirmou Gabriel, se
A noite avançava lentamente no apartamento de Gabriel. Mariana estava esticada no sofá, ainda recuperando as energias, enquanto Gabriel, ao lado dela, terminava de organizar a mesa de centro. Ao invés de cozinhar, ele decidiu pedir comida — algo simples, mas que ela apreciaria após o longo e exaustivo dia. As sacolas de delivery estavam cheias de pratos reconfortantes, um toque de normalidade que ambos precisavam.Ele olhou para Mariana, que dormia tranquilamente, e, com um toque suave no ombro dela, a despertou delicadamente.— Ei, a comida chegou. Vamos comer um pouco? — disse ele, a voz suave e cuidadosa.Mariana piscou lentamente, seus olhos se abrindo para a luz suave da sala. — Comida? — murmurou, ainda sonolenta.— Pedi algo leve para você. Acho que vai gostar — Gabriel respondeu com um sorriso contido, enquanto a ajudava a se sentar.Ela demorou um pouco para se recompor, sentindo o cansaço ainda pesando em seus ossos, mas o aroma da comida a trouxe de volta à realidade. — Is
A respiração de Mariana ainda era pesada, o peso das lembranças da noite anterior rodopiando em sua mente. Ela olhou para Gabriel, que a observava com preocupação e ternura.— Eu não entendo... — sussurrou Mariana, a voz baixa, quase como se estivesse se falando sozinha. — Como alguém que deveria cuidar de mim... o meu pai... pôde me fazer isso? — As palavras pareciam sufocá-la enquanto escapavam, carregadas de dor.Gabriel se inclinou levemente em sua direção, os olhos fixos nos dela. — Às vezes, as pessoas que mais deviam nos proteger são as que mais nos ferem. — Ele fez uma pausa, mantendo a voz firme, mas gentil. — Mas isso não é culpa sua, Mariana. Não tem a ver com quem você é.Ela virou o rosto, tentando conter as lágrimas que já deslizavam por suas bochechas. — Mas é difícil não sentir que... eu não sou digna de ser amada. Acho que ele sempre me odiou... Fingiu por causa da minha mãe... — A voz dela falhou, e ela cobriu o rosto com as mãos, tentando abafar a dor que sentia.Ga
— Surpresa, Gabriel? — disse Alice com um tom ácido e provocador, os olhos fixos neles. — Eu não sabia que você estava... envolvido com as enfermeiras agora.Mariana se afastou rapidamente de Gabriel, sentindo o impacto das palavras de Alice. Gabriel, por outro lado, manteve a compostura, embora a tensão fosse palpável no ar.— Alice — começou Gabriel, tentando controlar a situação, mas ela já havia dado mais um passo à frente, o olhar cheio de desprezo.— É engraçado, Gabriel. Eu realmente não achei que fosse seu estilo misturar trabalho com... prazer — continuou Alice, cruzando os braços com um sorriso sarcástico. — E, honestamente, Mariana? Esperava mais de você também.Mariana, ainda surpresa com o confronto, manteve-se em silêncio, mas o sangue subiu ao seu rosto. Ela não queria ser provocada, mas também não queria fazer daquilo um show.Gabriel, percebendo o desconforto de Mariana, deu um passo em direção a Alice, sua voz firme e controlada. — Alice, isso não é da sua conta. O q
O restante do dia de trabalho de Mariana foi um borrão de atividades rotineiras. Apesar de tentar se concentrar, a conversa com Alice e o incidente com Gabriel não saíam de sua cabeça. Quando o turno estava chegando ao fim, se preparou e foi encantar Gabriel. Assim que chegou ao estacionamento, sua atenção foi imediatamente capturada por uma cena um pouco distante. Gabriel estava ao lado de seu carro, e Alice conversava com ele. Mariana ficou parada, longe o suficiente para não ser vista, mas perto o bastante para ouvir parte da conversa. — Você realmente acha que isso vai dar certo? — Alice sibilou, o tom ácido. — Alguém como ela... não tem lugar na sua vida, Gabriel. Ela é comum, e você sabe que sua família jamais aceitaria. Mariana sentiu o estômago se apertar. Ela se aproximou um pouco mais, sem que Gabriel ou Alice a notassem. — Alice, isso não é da sua conta — a voz de Gabriel era fria, porém firme. — Não é da minha conta? — Alice riu, um som amargo. — Alguém como el
Mariana se virou devagar na cama, ainda deitada de bruços, enquanto sentia o calor suave das mãos de Gabriel em suas costas. O ambiente estava tranquilo, apenas o som suave de suas respirações preenchia o espaço. Por um momento, tudo parecia distante — os problemas, as inseguranças, as dúvidas.Ela se levantou um pouco, apoiando-se nos cotovelos, e seus olhos encontraram os de Gabriel. O olhar que trocaram era intenso, cheio de sentimentos não ditos. Algo dentro dela pedia proximidade, conexão, e ela sabia que Gabriel sentia o mesmo.Sem hesitar, Mariana se aproximou lentamente, seus lábios encontrando os de Gabriel em um beijo suave, mas cheio de significado. Era um gesto de entrega, de gratidão, de algo mais profundo que ambos sentiam, mas ainda não haviam colocado em palavras.Gabriel correspondeu ao beijo, deixando que o momento os envolvesse por completo. Suas mãos deslizaram pelos braços dela, subindo pelos ombros, puxando-a para mais perto. O toque entre eles era cuidadoso, mas
O sol da manhã ainda estava baixo no céu quando Mariana olhou para sua xícara de café, seus pensamentos vagando. Ela se mexeu na cadeira, ainda se acostumando com o conforto tranquilo daquele ambiente.— Acho que... preciso comprar um telefone novo — disse Mariana, interrompendo o silêncio. — O meu provavelmente está perdido para sempre.Gabriel levantou os olhos da xícara de café, pensativo, e deu um pequeno sorriso. — Verdade. Você precisa de um novo. Quer que eu te leve ao shopping? Podemos resolver isso hoje.Mariana olhou para ele, surpresa pela oferta. — Você tem certeza? Eu sei que você tem compromissos no hospital e...Gabriel deu de ombros, com um sorriso tranquilo. — Posso ajustar minha agenda. Além disso, acho que uma pausa fora do hospital vai nos fazer bem. O que acha?Mariana hesitou por um segundo, mas o pensamento de sair para algo tão simples e mundano como comprar um telefone parecia uma forma perfeita de recuperar um pouco de normalidade. E, de certo modo, estar ao