O sol da manhã ainda estava baixo no céu quando Mariana olhou para sua xícara de café, seus pensamentos vagando. Ela se mexeu na cadeira, ainda se acostumando com o conforto tranquilo daquele ambiente.— Acho que... preciso comprar um telefone novo — disse Mariana, interrompendo o silêncio. — O meu provavelmente está perdido para sempre.Gabriel levantou os olhos da xícara de café, pensativo, e deu um pequeno sorriso. — Verdade. Você precisa de um novo. Quer que eu te leve ao shopping? Podemos resolver isso hoje.Mariana olhou para ele, surpresa pela oferta. — Você tem certeza? Eu sei que você tem compromissos no hospital e...Gabriel deu de ombros, com um sorriso tranquilo. — Posso ajustar minha agenda. Além disso, acho que uma pausa fora do hospital vai nos fazer bem. O que acha?Mariana hesitou por um segundo, mas o pensamento de sair para algo tão simples e mundano como comprar um telefone parecia uma forma perfeita de recuperar um pouco de normalidade. E, de certo modo, estar ao
Mariana chegou à casa de Matheus pouco antes das sete da noite. As luzes já estavam acesas, e o ambiente familiar a acolheu como sempre. Ela já estava acostumada com aquele espaço e com o trabalho, mas naquela noite, algo parecia diferente. Talvez fosse o peso de tudo o que havia acontecido, ou a sensação de que sua vida estava prestes a mudar de forma irreversível. Matheus a recebeu com o sorriso habitual, mas seu olhar denunciava uma preocupação velada, que ele tentava esconder. Enquanto a guiava até a cozinha, onde uma xícara de café já a aguardava, ele não pôde evitar o tom cuidadoso na voz. — Como você está? — perguntou, observando-a com atenção. Mariana suspirou, pegando a xícara com as mãos trêmulas. — Estou... bem, acho. Tentando organizar as coisas na minha cabeça. Matheus sentou-se à sua frente, seus olhos se estreitando com a preocupação. — Eu sei que tem sido muito para você. Se quiser parar de trabalhar aqui por um tempo... ou até mesmo sair de vez, não tem problem
O dia no hospital seguia agitado, mas Mariana tentava manter o foco. Gabriel estava no bloco cirúrgico, enquanto ela se ocupava entre pacientes e relatórios. Mesmo assim, a troca de palavras mais cedo com Gabriel ainda a fazia sorrir de vez em quando. Enquanto organizava algumas fichas, sua colega Clara apareceu no corredor, com o sorriso largo e acolhedor de sempre. — Ei, amiga! — Clara se aproximou cheia de energia. — O que tá rolando entre você e o Doutor Maravilha? — perguntou, arqueando as sobrancelhas com curiosidade. Mariana se mexeu, surpresa com a pergunta. — Do que você está falando? — tentou desconversar, mesmo sabendo que Clara provavelmente havia presenciado o momento mais cedo. — Ah, amiga... Eu vi! Vocês estavam bem íntimos. — Clara inclinou-se levemente, com um sorriso cheio de insinuações. — Ele é um deus grego, e os olhares entre vocês... Tem algo aí, vai! Mariana riu nervosamente. — Não é nada demais. A gente... — hesitou, escolhendo as palavras. — Está ten
Quando chegaram ao apartamento, o silêncio da noite os envolveu. Gabriel e Mariana entraram juntos, e ambos se jogaram no sofá, sentindo o peso do dia finalmente começar a se dissipar. Mariana se ajeitou, apoiando a cabeça no braço do sofá e fechando os olhos por um momento, enquanto Gabriel sentou ao lado dela, passando a mão pelos cabelos, ainda pensativo. — Finalmente em casa — murmurou Mariana, soltando um suspiro de alívio. — Sim, finalmente — respondeu Gabriel, com um tom calmo, mas havia algo mais em seu olhar, como se ele quisesse falar sobre algo mais sério. Por alguns minutos, o silêncio confortável tomou conta do ambiente, mas Mariana sabia que havia algo que precisava ser dito. Ela se mexeu no sofá, olhando para Gabriel, e então começou. — Gabriel, acho que preciso voltar para a minha vida... — disse ela, hesitante. Ele se virou para ela, surpreso. — Como assim? — Preciso voltar para a minha casa. Já estou aqui faz um tempo... Não posso ficar na sua casa para sempr
Mariana e Gabriel ainda estavam deitados na cama, ainda envoltos no silêncio confortável após o momento íntimo que compartilharam. As luzes suaves do quarto criavam uma atmosfera tranquila, enquanto os dois permaneciam lado a lado. Gabriel, no entanto, notou uma inquietação nos olhos de Mariana.— Você realmente quer ir embora? — perguntou ele, quebrando o silêncio com a voz baixa, mas carregada de curiosidade.Mariana suspirou, virando-se para ele. — Gabriel, eu preciso voltar pra minha vida... Não posso ficar aqui na sua casa pra sempre. — Ela hesitou, tentando achar as palavras certas. — O que a gente tem é algo casual, e eu tô praticamente morando aqui. Isso não faz sentido.Gabriel franziu a testa, claramente incomodado. — E qual o problema nisso? — Ele passou a mão pelos cabelos, tentando esconder sua confusão. — Não tem problema você ficar aqui. Eu passo muito tempo fora, tem espaço de sobra, você pode ficar no quarto de hóspedes.Mariana sorriu, mas havia tristeza em seu sorr
Passaram-se alguns dias desde que Mariana voltou para sua casa. O ambiente estava mais tranquilo, mas algo parecia incompleto. Hoje, no entanto, era um dia movimentado. O hospital estava organizando um evento de caridade para arrecadar fundos, e quase todos os funcionários estavam envolvidos de alguma forma. Mariana sabia que aquela noite seria diferente. Além de movimentar o hospital, o evento reuniria muitas pessoas importantes.Desde que saiu do apartamento de Gabriel, os dois mal haviam se visto. Ele estava sobrecarregado com as cirurgias, e Mariana havia sido realocada para a UTI, o que limitou ainda mais o contato entre eles. A distância, que parecia uma escolha consciente para manter as coisas claras, agora trazia um desconforto crescente.Ela chegou ao salão onde o evento estava acontecendo e logo avistou Gabriel entre os convidados. Ele estava impecavelmente vestido, conversando com colegas médicos. Sua presença, como sempre, era imponente. Quando ele finalmente a notou, um
"Alice!" — disse a mãe de Gabriel, com uma voz suave, mas autoritária o suficiente para ser ouvida no salão. — "Que bom ver você. Espero que esteja aproveitando a noite."Alice sorriu amplamente, inclinando-se levemente para a frente. — "Ah, claro! Sempre é bom estar em eventos assim, ainda mais com companhias tão maravilhosas." — Ela lançou um olhar para Gabriel, como se quisesse deixar claro que eles tinham uma conexão.Gabriel manteve uma expressão neutra, mas era evidente que ele estava desconfortável com a cena. No entanto, sua mãe, parecendo não perceber — ou ignorar —, deu um leve tapinha no braço de Alice.— "Você sempre foi uma pessoa tão presente em nossas vidas. É bom ver você e Gabriel por aqui juntos." — O comentário da mãe de Gabriel, dito de forma aparentemente inocente, soou mais alto do que deveria para Mariana, que observava a cena com um nó se formando em seu estômago.Alice deu uma risadinha e olhou para Gabriel, com os olhos brilhando. — "A gente tem tanta históri
Mas ele não se aproximou. Apenas continuou a observá-la à distância.Quando a música terminou, Matheus a conduziu de volta para a mesa onde estavam as bebidas.— "E então, o que achou da dança?" — ele perguntou, com um sorriso leve, pegando mais duas taças de vinho.Mariana sorriu, aceitando a bebida.— "Foi bom. Acho que eu precisava disso."Eles brindaram novamente, e enquanto conversavam sobre outros assuntos, Mariana não podia evitar sentir o peso do olhar de Gabriel em suas costas. Mesmo longe, ele parecia sempre presente, como se estivesse observando seus movimentos.Finalmente, quando o evento já estava se encaminhando para o final, Mariana decidiu que era hora de ir. Ela se despediu de Matheus com um abraço caloroso e agradeceu pela companhia.— "Obrigada por me fazer companhia. Foi bom me distrair um pouco."— "Acho que vou pegar um táxi e ir pra casa" — disse Mariana, pegando sua bolsa.Matheus, sempre atento, a observou por um momento antes de falar.— "Você está mesmo bem