Passaram-se alguns dias desde que Mariana voltou para sua casa. O ambiente estava mais tranquilo, mas algo parecia incompleto. Hoje, no entanto, era um dia movimentado. O hospital estava organizando um evento de caridade para arrecadar fundos, e quase todos os funcionários estavam envolvidos de alguma forma. Mariana sabia que aquela noite seria diferente. Além de movimentar o hospital, o evento reuniria muitas pessoas importantes.Desde que saiu do apartamento de Gabriel, os dois mal haviam se visto. Ele estava sobrecarregado com as cirurgias, e Mariana havia sido realocada para a UTI, o que limitou ainda mais o contato entre eles. A distância, que parecia uma escolha consciente para manter as coisas claras, agora trazia um desconforto crescente.Ela chegou ao salão onde o evento estava acontecendo e logo avistou Gabriel entre os convidados. Ele estava impecavelmente vestido, conversando com colegas médicos. Sua presença, como sempre, era imponente. Quando ele finalmente a notou, um
"Alice!" — disse a mãe de Gabriel, com uma voz suave, mas autoritária o suficiente para ser ouvida no salão. — "Que bom ver você. Espero que esteja aproveitando a noite."Alice sorriu amplamente, inclinando-se levemente para a frente. — "Ah, claro! Sempre é bom estar em eventos assim, ainda mais com companhias tão maravilhosas." — Ela lançou um olhar para Gabriel, como se quisesse deixar claro que eles tinham uma conexão.Gabriel manteve uma expressão neutra, mas era evidente que ele estava desconfortável com a cena. No entanto, sua mãe, parecendo não perceber — ou ignorar —, deu um leve tapinha no braço de Alice.— "Você sempre foi uma pessoa tão presente em nossas vidas. É bom ver você e Gabriel por aqui juntos." — O comentário da mãe de Gabriel, dito de forma aparentemente inocente, soou mais alto do que deveria para Mariana, que observava a cena com um nó se formando em seu estômago.Alice deu uma risadinha e olhou para Gabriel, com os olhos brilhando. — "A gente tem tanta históri
Mas ele não se aproximou. Apenas continuou a observá-la à distância.Quando a música terminou, Matheus a conduziu de volta para a mesa onde estavam as bebidas.— "E então, o que achou da dança?" — ele perguntou, com um sorriso leve, pegando mais duas taças de vinho.Mariana sorriu, aceitando a bebida.— "Foi bom. Acho que eu precisava disso."Eles brindaram novamente, e enquanto conversavam sobre outros assuntos, Mariana não podia evitar sentir o peso do olhar de Gabriel em suas costas. Mesmo longe, ele parecia sempre presente, como se estivesse observando seus movimentos.Finalmente, quando o evento já estava se encaminhando para o final, Mariana decidiu que era hora de ir. Ela se despediu de Matheus com um abraço caloroso e agradeceu pela companhia.— "Obrigada por me fazer companhia. Foi bom me distrair um pouco."— "Acho que vou pegar um táxi e ir pra casa" — disse Mariana, pegando sua bolsa.Matheus, sempre atento, a observou por um momento antes de falar.— "Você está mesmo bem
Na manhã seguinte, Mariana acordou lentamente, tentando aproveitar a calma antes do próximo turno no hospital. A leveza da noite anterior contrastava com os sentimentos confusos que ela ainda guardava do evento de caridade. Apesar disso, ela se preparou e seguiu para o hospital, focada em deixar tudo isso de lado por enquanto.Chegando ao hospital, o ambiente familiar a acolheu. Mariana cumprimentou alguns colegas e começou a se preparar para o plantão na UTI. Enquanto vestia o jaleco, uma das enfermeiras se aproximou.— Mari, você foi transferida para a ala de cirurgias de novo. Parece que alguém pediu especificamente por isso — disse a colega, com um sorriso sugestivo.Mariana franziu a testa. — Alguém pediu? Quem?— Não sei ao certo — respondeu a enfermeira, com um olhar enigmático.Intrigada, Mariana seguiu em direção ao centro cirúrgico. Assim que chegou, começou a organizar todos os instrumentos para a cirurgia de Gabriel. Revisou cada item cuidadosamente, garantindo que nada es
Gabriel observava Mariana de longe durante o restante do plantão. Sabia que algo estava diferente nela. Uma mensagem chegou ao celular de Mariana. Gabriel: "Preciso falar com você. Vem até a minha sala quando puder." Mariana leu a mensagem e sentiu uma pontada de nervosismo. Respirou fundo, ajeitou o jaleco e se dirigiu para a sala de Gabriel. Quando chegou, ele já estava à espera, encostado na mesa, os braços cruzados, o olhar sério, mas com um certo brilho que ela não conseguia ignorar. — Alguma coisa está errada? — perguntou ele, direto, enquanto a observava se aproximar. Ela tentou disfarçar o desconforto, respirando fundo. — Não, está tudo bem, Gabriel. Só estou um pouco cansada. Gabriel não parecia convencido. Ele conhecia Mariana o suficiente para saber que havia algo mais. Lentamente, ele se aproximou, colocando as mãos na cintura dela e a puxando para mais perto. — Certeza? — ele sussurrou, sua voz baixa e rouca. A proximidade fez o corpo de Mariana estremecer.
Mariana sentiu o coração apertar enquanto se afastava da sala de descanso. As palavras das enfermeiras ainda ecoavam em sua mente, e a insegurança começava a se enraizar cada vez mais.Ela seguiu para o próximo setor, tentando se concentrar no trabalho. Enquanto organizava algumas fichas no posto de enfermagem, seu celular vibrou novamente. Era Gabriel.Gabriel: "Ainda está tudo bem para hoje à noite?"Ela olhou para a mensagem por alguns segundos, pensando.Respirando fundo, Mariana respondeu com um simples "Sim".O restante do plantão se arrastou. Mariana evitava conversas desnecessárias e mergulhava no trabalho para manter a mente ocupada.Quando o turno finalmente terminou, ela desceu para o estacionamento, o coração acelerado com a expectativa de encontrar Gabriel.Ao se aproximar do carro dele, viu duas figuras à distância. Gabriel estava parado ao lado do carro, e Alice estava com ele. Mariana sentiu um aperto no peito, mas continuou andando, tentando não tirar conclusões preci
A cirurgia começou, e como esperado, tudo correu sem maiores complicações. Mariana, como enfermeira circulante, estava atenta a cada movimento, entregando instrumentos aos cirurgiões e anotando cada passo. O paciente estava sob controle, e o ambiente era calmo.Após o término da cirurgia, Gabriel deu um aceno de aprovação para Mariana, que retribuiu com um sorriso discreto. O paciente foi transferido para o pós-operatório, onde Mariana iria monitorá-lo de perto.Mariana ficou de pé ao lado do paciente, atenta ao som constante do monitor cardíaco. O ambiente estava calmo, mas a tensão estava sempre presente. Após a cirurgia, tudo parecia correr bem. O paciente ainda estava sob os efeitos da anestesia, e seus sinais vitais estavam estáveis.Ela conferiu os registros, administrando a medicação necessária, e por um momento, relaxou. Está tudo sob controle, pensou.Mariana foi até o banheiro, e logo depois que voltou, o som do monitor começou a mudar. Os batimentos cardíacos do paciente ac
Mariana saiu da sala de Gabriel sentindo o peso das palavras dele ainda ecoando em sua mente. A pressão da situação, misturada com a frustração de ser questionada, formava um nó em sua garganta. Caminhando pelo corredor do hospital, ela tentava segurar as lágrimas, mas a tensão era demais. Ela sabia que havia seguido todos os protocolos corretamente, mas a acusação implícita de Gabriel a machucava mais do que ela queria admitir. Ao chegar ao vestiário, ela se apoiou contra o armário de aço frio, tentando recuperar o controle sobre suas emoções. Sua mente girava, repetindo cada detalhe do que havia acontecido no pós-operatório. Cada passo dado, cada medicação administrada. Nada parecia fora do lugar. E, mesmo assim, algo havia dado errado. Depois de alguns minutos, Mariana respirou fundo, enxugou os olhos discretamente e se encaminhou de volta ao posto de enfermagem. Ela sabia que não podia deixar essa situação interferir em seu trabalho, mas o conflito com Gabriel a deixava inseg