Mariana foi jogada brutalmente no banco de trás do carro. As portas se fecharam com um baque seco, e o motor rugiu enquanto o carro acelerava pela noite escura. O cheiro forte de perfume barato e couro velho a sufocava. Tentou se mexer, mas seus músculos estavam entorpecidos e a sonolência tomava conta dela. — Me soltem... — murmurou, a voz fraca e hesitante. Um dos homens soltou uma risada zombeteira. — Calma, gatinha. Isso é só o começo. O cheiro enjoativo fazia seu estômago revirar. Foi então que a voz fria e calculista de seu pai cortou o silêncio, como um veneno escorrendo pelos ouvidos de Mariana. — Isso é por sua culpa. A mente dela girou. A realidade foi lentamente se encaixando, como peças de um quebra-cabeça cruel. Ele não estava ali para salvá-la. Ele fazia parte disso. — Por quê? — sussurrou Mariana, tentando se manter consciente, embora sua voz fosse quase um lamento. O pai a olhou com desprezo, os olhos duros como pedra. — Porque você só deu trabalho desde o iníc
Gabriel e Matheus chegaram ao hospital apressados, os passos rápidos e sincronizados. Gabriel não perdeu tempo; conhecia cada canto daquele lugar e sabia exatamente o que precisava fazer. Assim que alcançaram a área administrativa, ele foi direto ao balcão da segurança. — Quero as gravações das câmeras do estacionamento e das saídas, entre 18h e 20h — ordenou Gabriel, com a voz firme e implacável. A funcionária da segurança levantou a cabeça, surpresa com a presença dele ali. Reconheceu-o imediatamente e endireitou a postura. — Sim, Dr. Alencar, claro — respondeu, sem hesitar, os dedos já trabalhando rapidamente no teclado. A autoridade de Gabriel era clara e inquestionável. O hospital pertencia à família dele, e alguma pessoas na área administrativa sabia disso. As imagens começaram a rodar na tela. Gabriel e Matheus estavam em pé, atentos a cada segundo. O vídeo mostrava o movimento rotineiro de funcionários e pacientes até que, finalmente, encontraram o que procuravam. — Ali.
Gabriel entrou na boate com passos controlados, embora o coração batesse acelerado. A música alta reverberava nas paredes e as luzes vermelhas e azuis piscavam incessantemente, criando um ambiente opressivo. Ele avançou calmamente até o bar, misturando-se aos clientes, como se fosse apenas mais um homem na noite.Sentou-se em um dos bancos altos e pediu um uísque, embora não tivesse a intenção de beber. Seu olhar vagava discretamente pelo espaço, analisando cada canto da boate.Viu homens conversando animadamente e mulheres dançando no palco central, mas nada parecia fora do comum. Ainda assim, havia uma tensão invisível pairando no ar, e Gabriel sabia que precisava encontrar Mariana rápido.Ele girou o copo de uísque nas mãos, sem tocá-lo, e discretamente olhou para as escadas no fundo da boate. Um segurança alto e musculoso estava postado ali, como um guarda impenetrável. Gabriel entendeu que ali poderia ser o caminho para as áreas mais privadas do local.Gabriel deixou o copo no
Gabriel e Matheus se moveram rapidamente pelos corredores da boate, evitando olhares curiosos. Os seguranças de Matheus cobriam as saídas, garantindo que ninguém os seguisse. Ao alcançarem a rua, um carro preto já os aguardava.— Entrem, rápido — ordenou Matheus, assumindo o volante sem hesitar.Gabriel colocou Mariana cuidadosamente no banco de trás, ajeitando o corpo mole dela com cuidado. Ele segurou sua mão, sentindo os dedos dela frios. Uma leve tremedeira percorreu suas mãos, mas ele forçou-se a manter o foco.Enquanto Matheus acelerava pelas ruas escuras, Gabriel observava Mariana de perto, passando a mão suavemente por seu rosto.— Você vai ficar bem... — sussurrou ele, como se dissesse para si mesmo.Matheus estacionou na entrada do hospital, onde uma equipe médica já os aguardava. Gabriel desceu rapidamente, carregando Mariana nos braços, enquanto os enfermeiros correram em sua direção.— Lavagem gástrica agora. Quero exames toxicológicos completos e infusão intravenosa de s
Gabriel e Matheus deixaram a sala de emergência em silêncio. Mariana estava estável, mas o peso do que havia acontecido ainda pairava sobre eles. Cada passo que davam ecoava com a tensão não resolvida.— A polícia e minha equipe vão cuidar do restante — disse Matheus, enviando mensagens rápidas em seu celular. — As saídas da cidade estão sendo monitoradas.— Não quero margem para erro. Se ele tentar escapar, não vai ter para onde correr — respondeu Gabriel, o tom firme, a expressão cerrada.Matheus lançou um breve olhar para o amigo, percebendo a intensidade em cada palavra. Colocou uma mão firme em seu ombro.— Eles cuidam disso. Agora precisamos nos concentrar nela.Gabriel apenas assentiu, mas seu maxilar ainda estava travado. A culpa se infiltrava em seus pensamentos como uma corrente constante.— Eu devia ter visto isso antes — murmurou Gabriel, mais para si mesmo do que para Matheus.Gabriel se acomodou na poltrona ao lado da cama de Mariana, observando-a com uma expressão que m
O dia amanheceu silenciosamente. As primeiras luzes do sol atravessavam as cortinas finas do quarto de hospital onde Mariana descansava. Depois de horas tensas, ela finalmente estava estável, e sua alta havia sido autorizada. Matheus recebeu uma ligação urgente logo ao amanhecer. Precisava voltar para a empresa e, relutantemente, se despediu de Gabriel. — Eu te mando uma mensagem assim que terminar. Qualquer coisa, é só me chamar — disse Matheus, com um aceno firme. Gabriel assentiu, sem tirar os olhos de Mariana, que ainda dormia. — Vai tranquilo. Eu cuido dela. Matheus deu um olhar rápido, quase imperceptível, que dizia mais do que ele poderia colocar em palavras. Depois, virou-se e saiu sem mais delongas. Assim que a enfermeira entrou para entregar os papéis de alta, Gabriel pegou as instruções e assinou a documentação rapidamente. Mariana ainda parecia frágil. — Vamos para o meu apartamento. Você precisa descansar, e não vou te deixar sozinha agora — afirmou Gabriel, se
A noite avançava lentamente no apartamento de Gabriel. Mariana estava esticada no sofá, ainda recuperando as energias, enquanto Gabriel, ao lado dela, terminava de organizar a mesa de centro. Ao invés de cozinhar, ele decidiu pedir comida — algo simples, mas que ela apreciaria após o longo e exaustivo dia. As sacolas de delivery estavam cheias de pratos reconfortantes, um toque de normalidade que ambos precisavam.Ele olhou para Mariana, que dormia tranquilamente, e, com um toque suave no ombro dela, a despertou delicadamente.— Ei, a comida chegou. Vamos comer um pouco? — disse ele, a voz suave e cuidadosa.Mariana piscou lentamente, seus olhos se abrindo para a luz suave da sala. — Comida? — murmurou, ainda sonolenta.— Pedi algo leve para você. Acho que vai gostar — Gabriel respondeu com um sorriso contido, enquanto a ajudava a se sentar.Ela demorou um pouco para se recompor, sentindo o cansaço ainda pesando em seus ossos, mas o aroma da comida a trouxe de volta à realidade. — Is
A respiração de Mariana ainda era pesada, o peso das lembranças da noite anterior rodopiando em sua mente. Ela olhou para Gabriel, que a observava com preocupação e ternura.— Eu não entendo... — sussurrou Mariana, a voz baixa, quase como se estivesse se falando sozinha. — Como alguém que deveria cuidar de mim... o meu pai... pôde me fazer isso? — As palavras pareciam sufocá-la enquanto escapavam, carregadas de dor.Gabriel se inclinou levemente em sua direção, os olhos fixos nos dela. — Às vezes, as pessoas que mais deviam nos proteger são as que mais nos ferem. — Ele fez uma pausa, mantendo a voz firme, mas gentil. — Mas isso não é culpa sua, Mariana. Não tem a ver com quem você é.Ela virou o rosto, tentando conter as lágrimas que já deslizavam por suas bochechas. — Mas é difícil não sentir que... eu não sou digna de ser amada. Acho que ele sempre me odiou... Fingiu por causa da minha mãe... — A voz dela falhou, e ela cobriu o rosto com as mãos, tentando abafar a dor que sentia.Ga