O restante do plantão na casa de Matheus passou tranquilamente. Matheus, fiel ao que havia prometido, não pressionou Mariana sobre suas dificuldades, mas a forma como ele a tratava, com gentileza e compreensão, a deixava mais relaxada do que ela se permitia há dias. Quando Matheus ofereceu a ela uma xícara de café, Mariana percebeu como se sentia à vontade ali. Era um contraste gritante com o que vinha experimentando com Gabriel. Com Gabriel, ela sempre sentia que havia limites invisíveis. Ele oferecera ajuda, sim, mas havia algo de mecânico, quase obrigatório em sua oferta. Com Matheus, a preocupação parecia genuína, sem pretensão ou expectativa de algo em troca.Enquanto cuidava de Dona Elisa, Mariana se pegou refletindo sobre os dois homens. Gabriel, com quem havia desenvolvido sentimentos profundos, sempre foi distante, até mesmo no jeito que se conectavam fisicamente. Ele era prático, fechado, e, embora tivesse mostrado preocupação com ela, sua abordagem era fria e calculada.
— Matheus — começou Mariana, a voz vacilante. — Você me ofereceu ajuda... e eu realmente não tenho outra pessoa a quem recorrer nesse momento. Sinto como se estivesse ultrapassando um limite... Aceitar isso de você... Mas, honestamente, eu não tenho mais para onde correr.Ela fez uma pausa, tomando fôlego, enquanto ele apenas a ouvia, sem interrompê-la.— Eu vou aceitar a sua ajuda — continuou Mariana, respirando fundo antes de acrescentar. — Mas eu quero que seja descontado do meu salário. Não quero que isso seja um peso para você. Prefiro pagar por isso, de alguma forma.Matheus inclinou-se levemente para a frente, a expressão séria, mas seus olhos permaneciam calmos.— Mariana, não precisa fazer isso. Eu estou oferecendo porque quero ajudar, não estou esperando nada em troca.Ela balançou a cabeça, determinada.— Eu insisto, Matheus. Não me sentiria confortável de outra forma. Sei que parece pouco, mas é importante para mim.Ele ficou em silêncio por um momento, analisando a sincer
Mariana foi jogada brutalmente no banco de trás do carro. As portas se fecharam com um baque seco, e o motor rugiu enquanto o carro acelerava pela noite escura. O cheiro forte de perfume barato e couro velho a sufocava. Tentou se mexer, mas seus músculos estavam entorpecidos e a sonolência tomava conta dela. — Me soltem... — murmurou, a voz fraca e hesitante. Um dos homens soltou uma risada zombeteira. — Calma, gatinha. Isso é só o começo. O cheiro enjoativo fazia seu estômago revirar. Foi então que a voz fria e calculista de seu pai cortou o silêncio, como um veneno escorrendo pelos ouvidos de Mariana. — Isso é por sua culpa. A mente dela girou. A realidade foi lentamente se encaixando, como peças de um quebra-cabeça cruel. Ele não estava ali para salvá-la. Ele fazia parte disso. — Por quê? — sussurrou Mariana, tentando se manter consciente, embora sua voz fosse quase um lamento. O pai a olhou com desprezo, os olhos duros como pedra. — Porque você só deu trabalho desde o iníc
Gabriel e Matheus chegaram ao hospital apressados, os passos rápidos e sincronizados. Gabriel não perdeu tempo; conhecia cada canto daquele lugar e sabia exatamente o que precisava fazer. Assim que alcançaram a área administrativa, ele foi direto ao balcão da segurança. — Quero as gravações das câmeras do estacionamento e das saídas, entre 18h e 20h — ordenou Gabriel, com a voz firme e implacável. A funcionária da segurança levantou a cabeça, surpresa com a presença dele ali. Reconheceu-o imediatamente e endireitou a postura. — Sim, Dr. Alencar, claro — respondeu, sem hesitar, os dedos já trabalhando rapidamente no teclado. A autoridade de Gabriel era clara e inquestionável. O hospital pertencia à família dele, e alguma pessoas na área administrativa sabia disso. As imagens começaram a rodar na tela. Gabriel e Matheus estavam em pé, atentos a cada segundo. O vídeo mostrava o movimento rotineiro de funcionários e pacientes até que, finalmente, encontraram o que procuravam. — Ali.
Gabriel entrou na boate com passos controlados, embora o coração batesse acelerado. A música alta reverberava nas paredes e as luzes vermelhas e azuis piscavam incessantemente, criando um ambiente opressivo. Ele avançou calmamente até o bar, misturando-se aos clientes, como se fosse apenas mais um homem na noite.Sentou-se em um dos bancos altos e pediu um uísque, embora não tivesse a intenção de beber. Seu olhar vagava discretamente pelo espaço, analisando cada canto da boate.Viu homens conversando animadamente e mulheres dançando no palco central, mas nada parecia fora do comum. Ainda assim, havia uma tensão invisível pairando no ar, e Gabriel sabia que precisava encontrar Mariana rápido.Ele girou o copo de uísque nas mãos, sem tocá-lo, e discretamente olhou para as escadas no fundo da boate. Um segurança alto e musculoso estava postado ali, como um guarda impenetrável. Gabriel entendeu que ali poderia ser o caminho para as áreas mais privadas do local.Gabriel deixou o copo no
Gabriel e Matheus se moveram rapidamente pelos corredores da boate, evitando olhares curiosos. Os seguranças de Matheus cobriam as saídas, garantindo que ninguém os seguisse. Ao alcançarem a rua, um carro preto já os aguardava.— Entrem, rápido — ordenou Matheus, assumindo o volante sem hesitar.Gabriel colocou Mariana cuidadosamente no banco de trás, ajeitando o corpo mole dela com cuidado. Ele segurou sua mão, sentindo os dedos dela frios. Uma leve tremedeira percorreu suas mãos, mas ele forçou-se a manter o foco.Enquanto Matheus acelerava pelas ruas escuras, Gabriel observava Mariana de perto, passando a mão suavemente por seu rosto.— Você vai ficar bem... — sussurrou ele, como se dissesse para si mesmo.Matheus estacionou na entrada do hospital, onde uma equipe médica já os aguardava. Gabriel desceu rapidamente, carregando Mariana nos braços, enquanto os enfermeiros correram em sua direção.— Lavagem gástrica agora. Quero exames toxicológicos completos e infusão intravenosa de s
Gabriel e Matheus deixaram a sala de emergência em silêncio. Mariana estava estável, mas o peso do que havia acontecido ainda pairava sobre eles. Cada passo que davam ecoava com a tensão não resolvida.— A polícia e minha equipe vão cuidar do restante — disse Matheus, enviando mensagens rápidas em seu celular. — As saídas da cidade estão sendo monitoradas.— Não quero margem para erro. Se ele tentar escapar, não vai ter para onde correr — respondeu Gabriel, o tom firme, a expressão cerrada.Matheus lançou um breve olhar para o amigo, percebendo a intensidade em cada palavra. Colocou uma mão firme em seu ombro.— Eles cuidam disso. Agora precisamos nos concentrar nela.Gabriel apenas assentiu, mas seu maxilar ainda estava travado. A culpa se infiltrava em seus pensamentos como uma corrente constante.— Eu devia ter visto isso antes — murmurou Gabriel, mais para si mesmo do que para Matheus.Gabriel se acomodou na poltrona ao lado da cama de Mariana, observando-a com uma expressão que m
O dia amanheceu silenciosamente. As primeiras luzes do sol atravessavam as cortinas finas do quarto de hospital onde Mariana descansava. Depois de horas tensas, ela finalmente estava estável, e sua alta havia sido autorizada. Matheus recebeu uma ligação urgente logo ao amanhecer. Precisava voltar para a empresa e, relutantemente, se despediu de Gabriel. — Eu te mando uma mensagem assim que terminar. Qualquer coisa, é só me chamar — disse Matheus, com um aceno firme. Gabriel assentiu, sem tirar os olhos de Mariana, que ainda dormia. — Vai tranquilo. Eu cuido dela. Matheus deu um olhar rápido, quase imperceptível, que dizia mais do que ele poderia colocar em palavras. Depois, virou-se e saiu sem mais delongas. Assim que a enfermeira entrou para entregar os papéis de alta, Gabriel pegou as instruções e assinou a documentação rapidamente. Mariana ainda parecia frágil. — Vamos para o meu apartamento. Você precisa descansar, e não vou te deixar sozinha agora — afirmou Gabriel, se