— O que você viu... não foi o que pareceu — Gabriel disse, a voz controlada, mas carregada de uma urgência que Mariana não esperava.Ela se virou lentamente, cruzando os braços defensivamente. Seus olhos, embora firmes, revelavam o turbilhão interno que tentava conter.— Eu não vi nada, Gabriel — disse ela, um pouco mais fria do que pretendia. — E, de qualquer forma, você não me deve explicações.Gabriel franziu o cenho, percebendo a frieza e o desconforto nas palavras dela. O maxilar dele se apertou ligeiramente, como se estivesse tentando processar a situação de uma forma lógica, mas falhando em disfarçar a emoção.— Mariana, você sabe que o que temos... — ele hesitou, os olhos buscando os dela com uma mistura de ansiedade e cautela. — Eu só quero que entenda que não foi nada. Alicia só estava tentando...Ele parou, a incerteza tomando conta de suas palavras. Ele respirou fundo, mas a tensão em seu corpo era evidente, com os ombros rígidos e os olhos atentos a cada movimento dela.M
Mariana tentava se concentrar no trabalho enquanto organizava os prontuários e lia os relatórios no posto de enfermagem. Seus dedos deslizavam pelas páginas, mas sua mente parecia distante, ainda presa nas palavras e no olhar de Gabriel. A tensão emocional fazia com que seu coração acelerasse de tempos em tempos, e a tentativa de manter o foco era frustrante. O ambiente familiar do hospital, o som dos monitores e o movimento dos colegas passavam despercebidos enquanto ela tentava, sem sucesso, suprimir os pensamentos. Clara se aproximou novamente, segurando uma bandeja de materiais, e parou ao lado de Mariana, observando-a por alguns segundos. Clara franziu a testa ao ver o olhar distante da amiga, a respiração pesada e o ligeiro tremor em suas mãos enquanto organizava os papéis. — Ei, você parece um pouco fora do ar. Aconteceu alguma coisa? — perguntou Clara, sua voz suave, mas com um tom de preocupação evidente. Mariana disfarçou, ajeitando os relatórios e tentando parecer ma
Mais tarde, após o turno, Mariana chegou ao apartamento de Gabriel. As luzes da cidade piscavam ao fundo quando ela estacionou em frente ao prédio. A noite estava fria, e o vento soprava levemente, fazendo com que seu cabelo balançasse suavemente enquanto ela caminhava em direção à entrada.Ela hesitou por um momento antes de tocar a campainha, sentindo o peso da conversa que estava prestes a acontecer. O estômago se apertava, e as mãos estavam suadas. Era a segunda vez que estava ali, e a lembrança da primeira visita, quando tudo parecia mais simples entre eles, fez o nervosismo aumentar.Gabriel abriu a porta rapidamente, vestindo roupas casuais, mas sua expressão era séria. Ele a observou por um segundo antes de dar espaço para que ela entrasse.— Já pedi comida. Achei que a gente pudesse comer e conversar com calma — disse Gabriel, fechando a porta e caminhando até a cozinha.Mariana entrou, olhando em volta. O apartamento era organizado, com um ar aconchegante, mas a atmosfera en
Mariana e Gabriel permaneceram em silêncio por alguns instantes após o fim da conversa. O peso das palavras trocadas ainda pairava entre eles, e ambos precisavam de tempo para processar tudo o que havia sido dito. Gabriel, percebendo o clima tenso, olhou para a comida que já estava na mesa e tentou aliviar um pouco o ambiente.— Vamos comer? — sugeriu ele, a voz suave, mas com a tensão ainda evidente em seu tom. — Pedi algo leve, achei que você poderia gostar.Mariana assentiu levemente, tentando relaxar, mas sentia o corpo tenso. Cada movimento parecia carregado de uma energia contida, e mesmo as ações mais simples, como sentar à mesa, estavam cheias de peso emocional. Ela se acomodou no sofá, tentando disfarçar o nervosismo que ainda a consumia.Gabriel se juntou a ela, servindo o vinho com gestos meticulosos, seus olhos brevemente pousando nos dela antes de se afastarem. O aroma da comida preencheu o ar, mas o ambiente entre os dois permanecia denso.— Isso parece ótimo — disse Mar
Mariana estava no corredor do hospital, tentando focar no trabalho, mas os pensamentos não a deixavam em paz. Como conseguiria o dinheiro? As ameaças ecoavam em sua mente, e ela sentia o peito apertado. Seu olhar, sem querer, encontrou Lucas, conversando com alguém perto da máquina de café. O coração disparou. Ele poderia ajudá-la. Mas não... Envolver Lucas seria um erro. Desviou o olhar antes que ele a visse. Não podia deixar que ele se aproximasse. O dia seguiu, mas Mariana estava distante, cada passo carregado com o peso da dívida. A cada tarefa, sentia-se mais desligada do que estava fazendo. Organizando alguns materiais, sentiu uma presença atrás dela. Ao se virar, deu de cara com um homem desconhecido, um sorriso cínico no rosto. — Você é bem bonita, sabia? — Ele falou baixo, mas a entonação fez o estômago de Mariana revirar. — Se não conseguir o dinheiro, temos outras formas de resolver isso. Mariana congelou. As palavras dela saíram hesitantes, a voz trêmula. — Eu v
Mariana caminhava pelos corredores do hospital, tentando manter a compostura. A pressão das dívidas e as ameaças do pai não saíam de sua cabeça. Ao avistar Gabriel conversando com Alice, seu desconforto só aumentou. Não havia nada sério entre eles – ela sabia que compromissos não cabiam em suas vidas naquele momento. — Ei, você tem certeza que está bem? — a voz de Clara soou ao seu lado. Ela estava organizando prontuários, mas mantinha os olhos atentos em Mariana. Mariana respirou fundo, evitando encará-la. — Estou. Só cansaço. Clara a observou com um olhar penetrante, claramente não convencida. — Você diz isso todos os dias, mas parece mais preocupada do que cansada. Mariana deu de ombros, desviando o olhar. — Muita coisa pra lidar. Vai passar. — Sei... — Clara murmurou, mas seu olhar indicava que ela ainda estava atenta. Mariana caminhava em direção à saída, exausta tanto física quanto mentalmente. Ela sabia que as mensagens do pai já estavam esperando no celula
O restante do plantão na casa de Matheus passou tranquilamente. Matheus, fiel ao que havia prometido, não pressionou Mariana sobre suas dificuldades, mas a forma como ele a tratava, com gentileza e compreensão, a deixava mais relaxada do que ela se permitia há dias. Quando Matheus ofereceu a ela uma xícara de café, Mariana percebeu como se sentia à vontade ali. Era um contraste gritante com o que vinha experimentando com Gabriel. Com Gabriel, ela sempre sentia que havia limites invisíveis. Ele oferecera ajuda, sim, mas havia algo de mecânico, quase obrigatório em sua oferta. Com Matheus, a preocupação parecia genuína, sem pretensão ou expectativa de algo em troca.Enquanto cuidava de Dona Elisa, Mariana se pegou refletindo sobre os dois homens. Gabriel, com quem havia desenvolvido sentimentos profundos, sempre foi distante, até mesmo no jeito que se conectavam fisicamente. Ele era prático, fechado, e, embora tivesse mostrado preocupação com ela, sua abordagem era fria e calculada.
— Matheus — começou Mariana, a voz vacilante. — Você me ofereceu ajuda... e eu realmente não tenho outra pessoa a quem recorrer nesse momento. Sinto como se estivesse ultrapassando um limite... Aceitar isso de você... Mas, honestamente, eu não tenho mais para onde correr.Ela fez uma pausa, tomando fôlego, enquanto ele apenas a ouvia, sem interrompê-la.— Eu vou aceitar a sua ajuda — continuou Mariana, respirando fundo antes de acrescentar. — Mas eu quero que seja descontado do meu salário. Não quero que isso seja um peso para você. Prefiro pagar por isso, de alguma forma.Matheus inclinou-se levemente para a frente, a expressão séria, mas seus olhos permaneciam calmos.— Mariana, não precisa fazer isso. Eu estou oferecendo porque quero ajudar, não estou esperando nada em troca.Ela balançou a cabeça, determinada.— Eu insisto, Matheus. Não me sentiria confortável de outra forma. Sei que parece pouco, mas é importante para mim.Ele ficou em silêncio por um momento, analisando a sincer