A biblioteca estava mergulhada em sombras, a única luz vinha das tochas presas às paredes de pedra fria. O cheiro de pergaminhos envelhecidos pairava no ar, misturado ao leve aroma de madeira queimada. Eu não gostava daquele lugar. Havia algo ali, algo que me fazia sentir como se estivesse sendo observada, como se os próprios livros tivessem olhos.Raven estava à minha frente, percorrendo as prateleiras com os dedos, suas mãos firmes e seguras, mas seus olhos carregavam uma intensidade diferente. Algo o incomodava, eu podia sentir. Desde que sua conexão com Dylan ficou mais forte, ele estava mudando.Ele parou diante de um dos nichos ocultos da biblioteca e se agachou, afastando uma pilha de livros até revelar uma pequena abertura. Seus olhos brilharam quando encontrou o que procurava. Com cuidado, puxou um livro antigo, a capa encadernada em couro negro, adornada com inscrições rúnicas desgastadas pelo tempo.Meu coração apertou. Eu conhecia aquele livro.— "Magia da Alma e Ritos Pro
As horas passaram mais lentas do que o normal. O relógio na torre parecia arrastar os segundos, como se o próprio tempo estivesse ciente de que nada poderia ser mais torturante para mim do que esperar por aquele maldito baile. Duas semanas haviam se passado desde o confronto com Raven. Desde aquele momento, eu havia me afastado dele, evitando olhá-lo, não encontrando mais palavras para compartilhar. Ele, com sua calma insistente, havia feito sua escolha, e eu não conseguia mais olhar nos olhos dele sem sentir um peso esmagador em meu peito. O fato de que ele estava disposto a sacrificar sua vida para trazer Dylan de volta me fazia sentir uma mistura de raiva e impotência, e eu não sabia como lidar com isso.Eu respirei fundo, tentando afastar os pensamentos sombrios que me assombravam, mas a ansiedade estava consumindo minha mente. Hoje, o baile anual do Rei Vampiro aconteceria, e eu tinha a certeza de que seria impossível escapar da presença dos lobos traidores que haviam se alinhado
A raiva pulsava em minhas veias, uma chama incandescente que me consumia por dentro. Eu não sabia o que me movia mais, o desejo de entender o que havia acontecido com Ayla, ou o impulso selvagem de fazer ela pagar por aquilo. Eu sabia que ela tinha se perdido, mas ver o sorriso cínico dela ao lado de Klaus, como se estivesse celebrando a morte de seu próprio irmão, me dilacerava de uma maneira indescritível. Cada passo que eu dava em direção ao corredor escuro parecia um pesadelo se tornando realidade. Eu não conseguia pensar em mais nada além de enfrentar Ayla e ouvir dela, de uma vez por todas, o que havia acontecido.Foi então que eu a vi. Ela estava ali, encostada em uma das paredes do corredor, com o rosto pálido e as mãos tremendo. Ela me olhou por um momento, e eu pude ver a maneira como seus olhos brilharam com algo que eu não soubera identificar. Medo? Culpa? Ou apenas a frieza de quem se perdeu completamente? — Ayla! — Eu gritei, minha voz saindo como um rosnado, carregada
O salão ressoava com o som de conversas animadas, risadas abafadas e o tilintar das taças de cristal. Tudo parecia tão perfeito à primeira vista, tão incrivelmente normal. As cores e as luzes do ambiente, as vestes luxuosas e os olhares cúmplices entre os convidados formavam um quadro de pura ostentação e dissimulação. Mas, em minha mente, uma tempestade se formava, uma tensão crescente, cada suspiro meu pesado como o ar antes de um trovão.E então, o estrondo veio.— Ele é o Rei Supremo dos Lobos! — A voz ressoou como um raio atravessando o salão, cortando o clima como uma faca afiada. A declaração ecoou, abrupta e irreversível, e a sensação de pânico tomou conta de mim com a mesma velocidade com que um incêndio consome tudo em seu caminho.Meu corpo paralisou. O mundo ao meu redor pareceu se desfazer, os rostos borrando-se à minha volta enquanto o sangue retumbava nos meus ouvidos. Meu coração disparou, batendo forte o suficiente para que eu temesse que todos no salão pudessem ouvir
A noite avançava lentamente, os ecos do baile se dissipando conforme os convidados começavam a deixar o salão. O castelo, que antes pulsava com a energia das conversas e risos, agora parecia ainda e pesado, como se a própria estrutura estivesse retendo a respiração. O ambiente, antes luxuoso e vibrante, agora exalava uma tensão quase palpável, como uma corda esticada prestes a se partir.Mas a verdadeira tempestade ainda estava por vir.Estávamos em pé no centro do salão, o lobo que havia revelado o segredo ainda tentando se recompor, enquanto Ivy e eu tentávamos entender a magnitude do que acabara de acontecer. Raven, ao meu lado, parecia uma sombra de si mesmo. Seu corpo estava rígido, seus olhos fixos no chão, tentando processar o que isso significava para ele, para nós.E foi quando tudo começou.O estrondo que ecoou pela vastidão do castelo foi como um trovão rasgando a noite. Um estrondo baixo, porém imensamente forte, que parecia vir das fundações do próprio castelo. Um grito q
A noite caiu sobre a floresta como um manto escuro, pesado, quase palpável. As árvores altas pareciam se fechar sobre nós, suas sombras espessas engolindo qualquer vestígio de luz. Eu podia sentir o ar gelado, cortante, perfurando a pele, e o cheiro de terra úmida misturado com o perfume das folhas secas, como se o próprio bosque estivesse respirando. A tensão no ar era densa, carregada de incerteza. Cada passo que dávamos parecia mais pesado que o anterior, e a cada suspiro meu, a sensação de que o tempo estava se esgotando me apertava ainda mais o peito.— Violet, você está bem? — A voz de Ivy cortou o silêncio tenso, soando distante, mas com uma preocupação que eu não podia ignorar. Ela estava logo atrás de mim, seu passo firme, mas suas palavras carregavam uma inquietação sutil.Eu não sabia o que responder. Eu não sabia se estava bem. Em meu peito, um vazio crescente se expandia a cada minuto que passava. A busca pelo Cristal da Alma parecia uma jornada sem fim, uma busca incerta
O cansaço já havia me dominado completamente. Meus pés estavam doloridos, a respiração ofegante, e o peso de cada passo parecia maior do que o anterior. Eu mal conseguia manter os olhos abertos de tão exausta, mas a necessidade de continuar, a necessidade de encontrar o Cristal da Alma, me impelia a seguir. Raven e seus corvos guiavam a nossa jornada, mas o tempo parecia se arrastar, como se a floresta quisesse nos testar, esticar cada momento até que não restasse mais força em nossos corpos.Faziam dois dias que estávamos em busca do cristal, e o que antes parecia uma missão com esperança de sucesso, agora se tornava um peso insuportável. A floresta não parecia ter fim. As árvores, gigantescas e antigas, se estendiam até onde meus olhos cansados podiam ver. Os corvos de Raven, em seus gritos guturais, continuavam nos conduzindo, mas eu mal conseguia distinguir os sons em meio ao turbilhão de pensamentos que me atormentavam.Estávamos todos exaustos, nervosos e famintos. O estômago ro
A caverna estava em silêncio absoluto, exceto pelo som distante da água caindo na cachoeira, que ecoava pelas paredes rochosas e suavizava o peso do que estávamos prestes a fazer. A luz suave do Cristal da Alma iluminava o ambiente, criando um brilho etéreo nas paredes e no piso de pedra, quase como se o próprio tempo tivesse parado ali. Eu sentia o peso das palavras de Raven em minha mente, seu olhar firme e determinado, mas também carregado de uma dor que não conseguia esconder. Ele estava disposto a fazer o que fosse necessário para salvar Dylan, mesmo que isso significasse arriscar sua própria vida.Eu estava ao lado dele, preparando os últimos detalhes do ritual. Meu coração batia freneticamente, o medo apertava minha garganta. Eu sabia que o que estávamos prestes a fazer não era apenas perigoso; era proibido, uma violação das leis naturais que, se fosse mal executada, poderia destruir tudo ao nosso redor. O cristal ainda pulsava em minhas mãos, sua energia envolvia meu corpo, co