O salão ressoava com o som de conversas animadas, risadas abafadas e o tilintar das taças de cristal. Tudo parecia tão perfeito à primeira vista, tão incrivelmente normal. As cores e as luzes do ambiente, as vestes luxuosas e os olhares cúmplices entre os convidados formavam um quadro de pura ostentação e dissimulação. Mas, em minha mente, uma tempestade se formava, uma tensão crescente, cada suspiro meu pesado como o ar antes de um trovão.E então, o estrondo veio.— Ele é o Rei Supremo dos Lobos! — A voz ressoou como um raio atravessando o salão, cortando o clima como uma faca afiada. A declaração ecoou, abrupta e irreversível, e a sensação de pânico tomou conta de mim com a mesma velocidade com que um incêndio consome tudo em seu caminho.Meu corpo paralisou. O mundo ao meu redor pareceu se desfazer, os rostos borrando-se à minha volta enquanto o sangue retumbava nos meus ouvidos. Meu coração disparou, batendo forte o suficiente para que eu temesse que todos no salão pudessem ouvir
A noite avançava lentamente, os ecos do baile se dissipando conforme os convidados começavam a deixar o salão. O castelo, que antes pulsava com a energia das conversas e risos, agora parecia ainda e pesado, como se a própria estrutura estivesse retendo a respiração. O ambiente, antes luxuoso e vibrante, agora exalava uma tensão quase palpável, como uma corda esticada prestes a se partir.Mas a verdadeira tempestade ainda estava por vir.Estávamos em pé no centro do salão, o lobo que havia revelado o segredo ainda tentando se recompor, enquanto Ivy e eu tentávamos entender a magnitude do que acabara de acontecer. Raven, ao meu lado, parecia uma sombra de si mesmo. Seu corpo estava rígido, seus olhos fixos no chão, tentando processar o que isso significava para ele, para nós.E foi quando tudo começou.O estrondo que ecoou pela vastidão do castelo foi como um trovão rasgando a noite. Um estrondo baixo, porém imensamente forte, que parecia vir das fundações do próprio castelo. Um grito q
A noite caiu sobre a floresta como um manto escuro, pesado, quase palpável. As árvores altas pareciam se fechar sobre nós, suas sombras espessas engolindo qualquer vestígio de luz. Eu podia sentir o ar gelado, cortante, perfurando a pele, e o cheiro de terra úmida misturado com o perfume das folhas secas, como se o próprio bosque estivesse respirando. A tensão no ar era densa, carregada de incerteza. Cada passo que dávamos parecia mais pesado que o anterior, e a cada suspiro meu, a sensação de que o tempo estava se esgotando me apertava ainda mais o peito.— Violet, você está bem? — A voz de Ivy cortou o silêncio tenso, soando distante, mas com uma preocupação que eu não podia ignorar. Ela estava logo atrás de mim, seu passo firme, mas suas palavras carregavam uma inquietação sutil.Eu não sabia o que responder. Eu não sabia se estava bem. Em meu peito, um vazio crescente se expandia a cada minuto que passava. A busca pelo Cristal da Alma parecia uma jornada sem fim, uma busca incerta
O cansaço já havia me dominado completamente. Meus pés estavam doloridos, a respiração ofegante, e o peso de cada passo parecia maior do que o anterior. Eu mal conseguia manter os olhos abertos de tão exausta, mas a necessidade de continuar, a necessidade de encontrar o Cristal da Alma, me impelia a seguir. Raven e seus corvos guiavam a nossa jornada, mas o tempo parecia se arrastar, como se a floresta quisesse nos testar, esticar cada momento até que não restasse mais força em nossos corpos.Faziam dois dias que estávamos em busca do cristal, e o que antes parecia uma missão com esperança de sucesso, agora se tornava um peso insuportável. A floresta não parecia ter fim. As árvores, gigantescas e antigas, se estendiam até onde meus olhos cansados podiam ver. Os corvos de Raven, em seus gritos guturais, continuavam nos conduzindo, mas eu mal conseguia distinguir os sons em meio ao turbilhão de pensamentos que me atormentavam.Estávamos todos exaustos, nervosos e famintos. O estômago ro
A caverna estava em silêncio absoluto, exceto pelo som distante da água caindo na cachoeira, que ecoava pelas paredes rochosas e suavizava o peso do que estávamos prestes a fazer. A luz suave do Cristal da Alma iluminava o ambiente, criando um brilho etéreo nas paredes e no piso de pedra, quase como se o próprio tempo tivesse parado ali. Eu sentia o peso das palavras de Raven em minha mente, seu olhar firme e determinado, mas também carregado de uma dor que não conseguia esconder. Ele estava disposto a fazer o que fosse necessário para salvar Dylan, mesmo que isso significasse arriscar sua própria vida.Eu estava ao lado dele, preparando os últimos detalhes do ritual. Meu coração batia freneticamente, o medo apertava minha garganta. Eu sabia que o que estávamos prestes a fazer não era apenas perigoso; era proibido, uma violação das leis naturais que, se fosse mal executada, poderia destruir tudo ao nosso redor. O cristal ainda pulsava em minhas mãos, sua energia envolvia meu corpo, co
O ar dentro da caverna estava denso, pesado com a magia que corria por cada fio de minha pele. O Cristal da Alma diante de mim pulsava, e a sensação de sua energia era inebriante, como se todo o universo estivesse concentrado naquele único ponto. Eu podia sentir o peso de tudo o que havíamos feito até ali — as escolhas, os sacrifícios, os momentos de dúvida que pareciam não ter fim. Mas, mais do que isso, eu sentia a essência de Dylan começando a emergir do cristal, e era como se o próprio mundo estivesse esperando pelo momento em que ele retornaria.Raven estava ao meu lado, imóvel, seus olhos fixos no cristal, mas eu sabia que ele estava sentindo a mesma coisa que eu. Ele estava sendo consumido pela magia do ritual, sua energia se esvaindo à medida que o espírito de Dylan tomava forma. Eu podia ver a dor em seu rosto, a luta interna, mas também a aceitação. Ele estava pronto para isso. Ele queria salvar Dylan mais do que qualquer coisa.— Dylan... — murmurei, meu coração batendo com
A escuridão foi minha companheira por algum tempo. Eu não sabia quanto tempo passei ali, imersa no vazio, mas finalmente, uma luz tênue foi se filtrando aos poucos, como se alguém tivesse acendido uma vela distante. O cheiro da terra úmida e das pedras frías ao meu redor me trouxe de volta à realidade. Meus olhos se abriram com dificuldade, e, quando minha visão se ajustou, uma sensação quente e aconchegante preencheu meu peito. Estava viva... Eu ainda estava viva.Olhei ao redor, e o que vi me fez hesitar, me fez querer acreditar que estava sonhando. A primeira coisa que notei foi a figura familiar de Dylan, sentado ao lado de onde eu estava deitada. Seus olhos estavam fixos em mim, mas havia algo diferente. Eles estavam carregados de preocupação, mas também de algo que eu quase não conseguia descrever — algo profundo, uma conexão que me cortou o fôlego.— Violet... — A voz dele soou baixa, rouca, como se ele estivesse lutando para sair de um longo sono. — Você está bem?Eu fiquei al
O som da floresta que sempre me envolvia parecia mais distante enquanto me movia pela cabana, as minhas mãos trêmulas mexendo os ingredientes com uma precisão quase automática. O calor da fogueira na lareira aquecia o ambiente, mas eu sentia um frio interno, como se o peso de tudo que aconteceu ainda estivesse me puxando para baixo. A fraqueza tomava conta do meu corpo, e a visão começava a embaçar. Eu sabia que havia feito o que precisava, mas o esforço estava me cobrando. Minhas pernas cederam, e eu me apoiei na mesa. Tentava respirar com calma, mas as vertigens não passavam.Gwen estava ao lado de Raven, que estava febril, lutando contra o impacto do sacrifício que fizera. Ela e Ivy estavam monitorando sua temperatura, tentando baixar a febre com compressas. Raven estava tão fraco, e eu sabia o quanto o sacrifício dele tinha sido grande. Ele deu tanto de si para me trazer de volta, para que Dylan tivesse a chance de viver. Eu sentia um nó na garganta só de pensar no quanto ele sofr