Eu nunca quis estar aqui.O altar era frio, um pedaço de mármore preto que refletia o brilho das velas espalhadas pela catedral sombria. Estar ali, parada diante de todos, era como encarar um pesadelo lúcido do qual eu não conseguia despertar. Meu vestido preto gótico, escolhido a dedo pelo próprio monstro à minha frente, parecia pesar toneladas. O corpete apertado sufocava minha respiração, as rendas delicadas roçavam minha pele como teias de aranha, e a longa cauda que se arrastava atrás de mim era uma corrente invisível que me mantinha presa a este destino cruel.O salão estava repleto de vampiros e outras criaturas. Seus olhos carmesim brilhavam com um deleite mórbido. Eu era o espetáculo da noite, a loba transformada em rainha por um casamento forçado. Todos esperavam para assistir o momento em que o Rei Vampiro, o homem que destruiu tudo o que eu amava, me reivindicaria como sua.Minha única companhia era o ódio que queimava em meu peito.Eu odiava aquele homem à minha frente, o
A música ecoava pelo salão, alegre e festiva, mas para mim era ensurdecedora. Era como se cada nota fosse uma faca, cortando lentamente qualquer fragmento de dignidade que ainda restava em mim. As paredes do castelo estavam decoradas como um sonho luxuoso, mas para mim era mais um pesadelo. Todos sorriam, brindavam e celebravam o casamento, mas eu sentia como se fosse a única ali percebendo a verdade sombria por trás de tudo isso.Meus dedos apertavam a taça de vinho em minha mão, mas eu não a levava à boca. Não confiava em nada naquele lugar, nem mesmo nas bebidas servidas. Meu olhar percorreu o salão, mas não por curiosidade. Era como se eu procurasse uma saída, mesmo sabendo que não havia como escapar.Klaus, como sempre, estava no centro das atenções, conversando e rindo como se fosse o rei do mundo. Bem, ele era, pelo menos no que dizia respeito a esse castelo e às vidas que ele controlava. E agora, ele também controlava a minha.Ele se aproximou, um sorriso satisfeito nos lábios
O ar estava pesado, carregado com o cheiro adocicado do vinho e o perfume dos convidados. As vozes se misturavam em um burburinho contínuo, risadas espalhadas pelo salão de baile, enquanto a música fluía como um encantamento sutil que apenas aprofundava minha repulsa por tudo aquilo. Eu não queria voltar. Não queria enfrentar aquele salão repleto de sorrisos falsos e criaturas que apenas comemoravam minha desgraça.Mas não havia escolha.Respirei fundo, tentando me recompor, enquanto meus passos ecoavam pelo longo corredor de mármore negro. O vestido apertava minha pele como uma corrente invisível. O véu escuro ainda repousava sobre meus ombros, o tecido frio lembrando-me da minha própria prisão.Foi então que, de repente, virei uma esquina e esbarrei com alguém.O impacto me jogou para trás, e eu perdi o equilíbrio, caindo no chão. Meu coração disparou, mas não pelo tombo. Meu corpo ficou rígido, congelado no instante em que meus olhos pousaram no homem diante de mim.Meu peito subiu
Minhas mãos ainda tremiam quando voltei ao salão do castelo. Meu coração pulsava em um ritmo caótico, e o peso do encontro de instantes atrás continuava esmagando meu peito. Meus olhos se moviam de um lado para o outro, quase como se meu próprio subconsciente tentasse encontrar de novo aquele rosto, aquela presença que eu jurava ser Dylan. Mas ele não estava ali. O salão era um oceano de pessoas bem-vestidas, taças de vinho tilintando no ar, risadas e conversas dispersas preenchendo cada canto. Lustres de cristal lançavam um brilho dourado sobre as paredes de pedra escura, criando sombras dançantes que pareciam zombar de mim. O cheiro adocicado do sangue misturado ao vinho me dava náuseas. Respirei fundo, tentando ignorar o turbilhão de emoções dentro de mim. Eu precisava me recompor. Precisava manter a postura. Antes que pudesse tomar qualquer decisão, vi Ivy do outro lado do salão. Seu olhar encontrou o meu, e ela franziu a testa. Ela percebeu que algo estava errado. Meu pei
Eu estava deitada na cama, encarando o teto abobadado do meu quarto. O lustre balançava levemente com a brisa que entrava pela janela entreaberta, lançando sombras suaves pelas paredes de pedra.Minha mente não parava.O rosto dele.Os olhos, a estrutura do maxilar, o jeito como ele me olhou com confusão.Era Dylan. Tinha que ser.Mas não era.Minhas mãos tremiam ao lembrar de sua voz, mais grave, diferente. Do cheiro, estranho, sem nenhuma lembrança do homem que eu amava. Da ausência da marca de nascença no braço dele.Tudo gritava que aquele homem não era Dylan.Mas então… por que era idêntico?Fechei os olhos, tentando controlar a confusão sufocante dentro de mim. Meu coração pulsava tão forte que eu sentia a vibração no peito.Ouvi o som da porta do banheiro se abrindo, seguido por passos leves. A cama se moveu quando Ivy se deitou ao meu lado.— Você tá estranha. — A voz dela era suave, mas carregava preocupação. — Não é só por causa do casamento, é?Eu soltei um suspiro longo, s
Eu estava deitada, o corpo exausto, mas a mente agitada demais para descansar. Eu tinha perdido a conta de quantas vezes tentei dormir, virando-me de um lado para o outro, o rosto enterrado no travesseiro. Dylan. O homem que vi no corredor… o homem que era quase um reflexo dele. Não podia ser ele. Mas eu não conseguia afastar aquele pensamento. Não conseguia aceitar o fato de que, de alguma forma, ele havia voltado, ou que havia algo de muito errado acontecendo.A escuridão do quarto parecia me engolir, mas, mesmo assim, eu não conseguia relaxar.Eu fui acordada abruptamente. Um grito histérico me arrancou do torpor do sono.— Violet! Violet, acorde!Eu pulei para fora da cama, o coração batendo descontrolado, enquanto a visão ainda turva tentava focar na figura que se aproximava. Era Ivy, pálida, seus cabelos ondulados ainda soltos, sua camisola branca se movendo com cada passo apressado. Ela estava tremendo.— Ivy? — minha voz saiu rouca, ainda impregnada pelo sono.Ela estava ofega
Eu o observava com uma intensidade que nem sabia que possuía, como se os meus olhos fossem as únicas coisas que podiam desvendá-lo. O homem diante de mim, que tinha a aparência de Dylan, mas não era, me desafiava a acreditar em algo que ainda não conseguia entender. Ele estava ali, em silêncio, focado nas flechas que segurava, mas algo em sua postura me dizia que ele sabia que eu o observava. E, de algum jeito, ele não parecia desconfortável com isso.Não pude evitar o impulso de me aproximar mais. Eu precisava saber quem ele era, como ele se encaixava no quebra-cabeça que meu coração e minha mente estavam tentando montar. Algo nele… algo me atraía. Ele não era o Dylan, eu sabia disso. Mas, de alguma maneira, ele carregava uma energia familiar, e meu instinto estava dizendo que ele tinha uma história que eu precisava entender.— Você parece estar mais confortável com o arco do que com as palavras. — Eu disse, quebrando o silêncio, minha voz baixa e cautelosa.Ele se virou lentamente,
Estava sentada ao lado de Klaus no trono, minha postura ereta, como se a postura correta fosse uma forma de preservar a última fração de dignidade que ainda tinha. Ele estava calmamente observando a corte, seus olhos atentos a cada gesto, cada suspiro. Eu, no entanto, sentia uma pressão crescente em meu peito, uma mistura de ansiedade e uma vontade insuportável de fazer algo, de mudar alguma coisa. Mas o que poderia eu fazer? Eu estava presa nesse jogo, nesse castelo, com ele sempre por perto, com sua presença que nunca me deixava respirar direito.Klaus se levantou de seu trono e, com um gesto amplo, chamou a atenção da sala. Todos os olhos se voltaram para ele, e a corte real ficou em silêncio, como se esperasse pela ordem do líder. Eu não sabia o que estava prestes a acontecer, mas algo dentro de mim disse que não seria bom.— Eu partirei em uma viagem — Klaus disse, sua voz soando cheia de autoridade, ressoando pelo salão. — E estarei ausente por tempo indeterminado.Aquelas palav