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5. O diabo mora ao lado

Mikaela foi até o quarto de sua filha e abriu a porta, encontrando a garota sentada na cama, escrevendo.

Neelam? Pode me fazer um favor?

Sim, mãe. Qual? — Neelam fechou seu caderno, o colocando de lado.

Vá até o mercado e compre algumas coisas que estão faltando? — Disse Mikaela.

É sério? Mamãe, você sabe que detesto fazer compras. — Falou Neelam.

Por favor, filha? — Insistiu, sua mãe.

Neelam suspirou.

Aqui está a lista. — Disse Mikaela.

Neelam pegou a lista e deu uma olhada.

Hum, e o dinheiro? — Perguntou Neelam estendendo a mão.

Está aqui. — Disse Mikaela entregando o dinheiro.

Neelam vestiu um casaco, apanhou sua bolsa e saiu. Por sorte, o mercado não ficava tão longe. Ela só precisaria andar duas quadras.

Assim que chegou ao mercado, apanhou uma cesta e sem perder tempo, pegou todas as coisas da lista e entrou na fila, que não estava grande.

Quando só faltava uma pessoa antes de Neelam ser atendida, ela ouviu passos pesados atrás dela. Alguém com um perfume forte e cantando Smells Like Teen Spirit (Nirvana) estava atrás dela. Ela não se virou para trás para ver quem era aquele doido, mas podia imaginá-lo tocando uma guitarra invisível. Até que o maluco cantava bem. Talvez tivesse uma banda ou algo assim.

Neelam colocou suas coisas no caixa. A moça passou tudo rapidamente e ela mesma empacotou suas compras.

Quanto deu? — Neelam perguntou.

É incrível como esse mundo é pequeno! — Disse o maluco bem próximo a ela.

Ela conhecia aquela voz… Mas não. Não podia ser ele. Seria muito azar! Neelam Pegou o dinheiro em sua carteira e pagou a mulher. Pegou suas compras e saiu apressada. Quando já estava fora do mercado, se virou e olhou… Sim. Era ele! Duke. Mas o que ele estava fazendo ali… Com tantos mercados na cidade, ele escolhera justo aquele?

Neelam correu ao ver que ele já estava pagando suas compras. Duke apanhou suas sacolas e saiu do mercado. Viu Neelam correndo como se tivesse visto o diabo e achou divertido. Ela estava fugindo dele? Ele adorava persegui-la. Era tão excitante! Sem pensar duas vezes, ele saiu correndo atrás dela, e quando já estava perto o bastante, seguiu-a em silêncio. Ela nem desconfiava que estava sendo seguida. Quando já estava na rua em que morava, Neelam parou de correr. Uma mão tocou seu ombro. Ela gritou e se virou assustada.

Buuu! — Disse ele, rindo.

Ai, não acredito que você me seguiu até aqui. — Disse

Neelam.

Eu não segui você! — Duke negou.

Sei… — Disse Neelam incrédula.

Está vendo aquela casa amarela ao lado da oficina de carros? Eu moro ali. — Disse ele.

Me engana que eu gosto. — Disse ela.

Não acredita em mim? Eu posso provar. — Disse Duke tirando um molho de chaves de seu bolso. — É só me seguir.

Neelam o seguiu até a casa e Duke abriu o portão, mostrando que aquela era mesmo a sua casa. Neelam não podia acreditar que os dois eram vizinhos.

Viu só? Eu não estava mentindo! — Disse Duke.

Ok. Eu tenho de ir agora. — Falou Neelam.

Se quiser, posso te acompanhar até em casa. Você sabe… Para te ajudar a carregar as sacolas. — Disse Duke, meio sem jeito.

Não precisa. Minha tia não gosta de estranhos. — Falou Neelam.

Mora com sua tia? — Perguntou ele, surpreso.

Não. Só estou passando alguns dias enquanto minha mãe está viajando. — Mentiu Neelam torcendo para que ele acreditasse.

Você sabe que outro dia vi o Ken por aqui e, fiquei pensando… O que ele estava fazendo por aqui? — Disse Duke sorrindo porque sabia que ela estava mentindo.

Mesmo? Eu não sei nada sobre isso. Ken não me disse nada. — Mentiu Neelam outra vez.

Hum, e onde fica a casa da sua tia? — Perguntou Duke.

Por que tanto interesse em saber onde estou? — Perguntou Neelam, desconfiada.

Hum, nada. Curiosidade. — Falou Duke disfarçando.

Então, tchau. Nos vemos amanhã. — Disse Neelam.

Até amanhã. — Duke deu um beijo no rosto dela, a surpreendendo.

Neelam corou, mas não pode negar a si mesma que gostou. Duke sorriu, malicioso, e disse:

Ou… Você pode entrar e podemos beber alguma coisa.

Outro dia, quem sabe… — Falou ela.

Por que soou como um “nunca”? — Ele disse ainda sorrindo. — Para sua sorte, sou persistente e não desisto fácil do que quero.

E o que você quer? — Ela se atreveu a perguntar.

Duke chegou tão perto que apenas alguns centímetros separavam seus lábios dos dela.

Será mesmo que preciso responder a essa pergunta? Achei que estivesse explícito desde o início. — Ele disse.

Neelam sentiu um arrepio e recuou, depressa, antes que cedesse à tentação de aceitar o convite dele para tomar alguma coisa.

Sabe que… Fugir de mim, não mudará o que sinto por você? Ao contrário… Só me deixará com mais vontade de persegui-la. — Ele disse.

O psicopata apaixonado… — Brincou Neelam.

Só… Apaixonado, eu diria… — Ele falou sério.

Os dois se encararam em silêncio por um tempo, até que ela se virou e viu sua mãe parada em frente ao portão, a encarando.

Droga! — Neelam disse baixinho.

Oh, parece que já sei onde você está. — Duke disse.

Anda, Neelam! — Mikaela disse, impaciente.

Neelam abaixou a cabeça e foi para a casa.

Após ajudar sua mãe a guardar as compras, Neelam foi para seu quarto e ligou para Kendall.

Oi, Neelam? Tudo bem? — Disse Kendall, feliz por ela ter ligado para ele.

Oi Ken. Eu queria te pedir um favor.

Sim. O que você quiser. — Disse ele se afastando do computador.

Quando vir a minha casa, deve tomar cuidado para não ser visto por ninguém.

Por quê? — Perguntou Kendall. Será que ela estava com vergonha de ser vista com ele?

Ai, você não vai acreditar, mas, hoje, descobri que o Duke é meu vizinho!

O quê? — Kendall disse.

É isso mesmo o que você ouviu… O Duke é meu vizinho, mas dei um jeito de disfarçar e menti que essa é a casa da minha tia, que só estou passando alguns dias aqui, enquanto minha mãe viaja. Não sei bem se ele acreditou, mas… Não quero que ele saiba onde moro. Ele é chato e, poderia me incomodar. Você entende não entende?

Sim. Entendo. — Disse Kendall. — Não se preocupe? Vou tomar cuidado para não ser visto da próxima vez que for aí.

Ah, obrigada Ken. — Disse Neelam.

Eu queria te ver. — Falou ele.

Também queria te ver. — Disse ela.

Não pode vir a minha casa? — Kendall sabia que ela não aceitaria, mas não custava tentar. Talvez, ela mudasse de ideia.

Não. Sinto muito. Eu queria, mas… Não dá. Preciso terminar de passar a matéria para o Duke.

Por que não me deixa te ajudar? — Perguntou ele.

Não é justo. Não foi você quem fez nenhum trato com ele. — Disse Neelam.

Não importa. Você é minha amiga e gosto de te ajudar. — Falou Kendall.

De verdade? — Perguntou ela.

De verdade. — Respondeu ele.

Neelam suspirou. Ela queria falar com ele cara a cara, mas não queria que ele fizesse aquele maldito trabalho. Isso era ela quem devia fazer. Não ele.

Seus pais são chatos? — Perguntou ela.

Kendall riu da pergunta.

Eu sei que da minha mãe você vai gostar.

E seu pai? — Perguntou ela.

Kendall suspirou.

Ele devia ser o pai do Duke.

Juno me disse que ele é um pouco exigente.

Um pouco? Ele é um tirano. Não importa o que eu faça. Nada está bom pra ele. Ele me odeia!

Sinto muito.

Tudo bem. Eu já estou acostumado.

E a que horas posso ir aí?

Eu não posso ir te buscar? — Perguntou ele.

Hum, pode ser. — Respondeu ele.

Hum, que tal às seis e meia? Está bom para você?

Sim. Está. — Respondeu ela.

Mal posso esperar. — Disse Kendall, ansioso.

† † †

Após tomar um café com a mãe de Neelam e conversarem um pouco, a senhora Maldonado decidiu que já era hora de ir para casa. Não queria chegar tarde para não ouvir seu marido reclamar que ela era uma irresponsável, que não parava em casa, que só gastava dinheiro e fazia compras. Seu marido era possessivo. Ela havia se separado dele há pouco tempo, mas decidiu dar outra chance a ele por causa de Juno, que gostava muito dele.

Foi um prazer conhecê-la, senhora Ferraz. Mas agora, eu preciso ir.

Também foi um prazer conhecê-la, senhora Maldonado.

Neelam seguiu Kendall e Juno até o carro da mãe deles.

Eu vou me sentar no banco da frente! — Juno gritou como uma criança e abriu a porta, apressada, como se alguém pudesse roubar o seu lugar.

Ei, Juno? Devagar. — Disse Kendall e abriu a porta para Neelam.

Ela estava prestes a entrar no carro quando percebeu que Duke estava parado em frente a casa dele. As luzes de sua casa estavam todas apagadas. Ele estava vestido de preto da cabeça aos pés. Um capuz enorme escondia seus cabelos ruivos. Ela mal podia ver o rosto dele. Mesmo assim, tinha certeza de que era ele. O que ele estava fazendo parado ali? Estava esperando alguém ou estava espiando ela? Ele fumava e a encarava. Neelam sentiu um arrepio. O que ele estava fazendo? Garoto esquisito.

Ei, Neelam? Algum problema? — Perguntou Kendall.

Não. — Disse Neelam disfarçando e entrou no carro. Kendall entrou logo depois dela.

Quando a senhora Maldonado já estava dirigindo o carro, Neelam virou-se para trás para ver se Duke continuava parado a encarando. Não estava.

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