Mikaela foi até o quarto de sua filha e abriu a porta, encontrando a garota sentada na cama, escrevendo.
— Neelam? Pode me fazer um favor?
— Sim, mãe. Qual? — Neelam fechou seu caderno, o colocando de lado.
— Vá até o mercado e compre algumas coisas que estão faltando? — Disse Mikaela.
— É sério? Mamãe, você sabe que detesto fazer compras. — Falou Neelam.
— Por favor, filha? — Insistiu, sua mãe.
Neelam suspirou.
— Aqui está a lista. — Disse Mikaela.
Neelam pegou a lista e deu uma olhada.
— Hum, e o dinheiro? — Perguntou Neelam estendendo a mão.
— Está aqui. — Disse Mikaela entregando o dinheiro.
Neelam vestiu um casaco, apanhou sua bolsa e saiu. Por sorte, o mercado não ficava tão longe. Ela só precisaria andar duas quadras.
Assim que chegou ao mercado, apanhou uma cesta e sem perder tempo, pegou todas as coisas da lista e entrou na fila, que não estava grande.
Quando só faltava uma pessoa antes de Neelam ser atendida, ela ouviu passos pesados atrás dela. Alguém com um perfume forte e cantando Smells Like Teen Spirit (Nirvana) estava atrás dela. Ela não se virou para trás para ver quem era aquele doido, mas podia imaginá-lo tocando uma guitarra invisível. Até que o maluco cantava bem. Talvez tivesse uma banda ou algo assim.
Neelam colocou suas coisas no caixa. A moça passou tudo rapidamente e ela mesma empacotou suas compras.
— Quanto deu? — Neelam perguntou.
— É incrível como esse mundo é pequeno! — Disse o maluco bem próximo a ela.
Ela conhecia aquela voz… Mas não. Não podia ser ele. Seria muito azar! Neelam Pegou o dinheiro em sua carteira e pagou a mulher. Pegou suas compras e saiu apressada. Quando já estava fora do mercado, se virou e olhou… Sim. Era ele! Duke. Mas o que ele estava fazendo ali… Com tantos mercados na cidade, ele escolhera justo aquele?
Neelam correu ao ver que ele já estava pagando suas compras. Duke apanhou suas sacolas e saiu do mercado. Viu Neelam correndo como se tivesse visto o diabo e achou divertido. Ela estava fugindo dele? Ele adorava persegui-la. Era tão excitante! Sem pensar duas vezes, ele saiu correndo atrás dela, e quando já estava perto o bastante, seguiu-a em silêncio. Ela nem desconfiava que estava sendo seguida. Quando já estava na rua em que morava, Neelam parou de correr. Uma mão tocou seu ombro. Ela gritou e se virou assustada.
— Buuu! — Disse ele, rindo.
— Ai, não acredito que você me seguiu até aqui. — Disse
Neelam.
— Eu não segui você! — Duke negou.
— Sei… — Disse Neelam incrédula.
— Está vendo aquela casa amarela ao lado da oficina de carros? Eu moro ali. — Disse ele.
— Me engana que eu gosto. — Disse ela.
— Não acredita em mim? Eu posso provar. — Disse Duke tirando um molho de chaves de seu bolso. — É só me seguir.
Neelam o seguiu até a casa e Duke abriu o portão, mostrando que aquela era mesmo a sua casa. Neelam não podia acreditar que os dois eram vizinhos.
— Viu só? Eu não estava mentindo! — Disse Duke.
— Ok. Eu tenho de ir agora. — Falou Neelam.
— Se quiser, posso te acompanhar até em casa. Você sabe… Para te ajudar a carregar as sacolas. — Disse Duke, meio sem jeito.
— Não precisa. Minha tia não gosta de estranhos. — Falou Neelam.
— Mora com sua tia? — Perguntou ele, surpreso.
— Não. Só estou passando alguns dias enquanto minha mãe está viajando. — Mentiu Neelam torcendo para que ele acreditasse.
— Você sabe que outro dia vi o Ken por aqui e, fiquei pensando… O que ele estava fazendo por aqui? — Disse Duke sorrindo porque sabia que ela estava mentindo.
— Mesmo? Eu não sei nada sobre isso. Ken não me disse nada. — Mentiu Neelam outra vez.
— Hum, e onde fica a casa da sua tia? — Perguntou Duke.
— Por que tanto interesse em saber onde estou? — Perguntou Neelam, desconfiada.
— Hum, nada. Curiosidade. — Falou Duke disfarçando.
— Então, tchau. Nos vemos amanhã. — Disse Neelam.
— Até amanhã. — Duke deu um beijo no rosto dela, a surpreendendo.
Neelam corou, mas não pode negar a si mesma que gostou. Duke sorriu, malicioso, e disse:
— Ou… Você pode entrar e podemos beber alguma coisa.
— Outro dia, quem sabe… — Falou ela.
— Por que soou como um “nunca”? — Ele disse ainda sorrindo. — Para sua sorte, sou persistente e não desisto fácil do que quero.
— E o que você quer? — Ela se atreveu a perguntar.
Duke chegou tão perto que apenas alguns centímetros separavam seus lábios dos dela.
— Será mesmo que preciso responder a essa pergunta? Achei que estivesse explícito desde o início. — Ele disse.
Neelam sentiu um arrepio e recuou, depressa, antes que cedesse à tentação de aceitar o convite dele para tomar alguma coisa.
— Sabe que… Fugir de mim, não mudará o que sinto por você? Ao contrário… Só me deixará com mais vontade de persegui-la. — Ele disse.
— O psicopata apaixonado… — Brincou Neelam.
— Só… Apaixonado, eu diria… — Ele falou sério.
Os dois se encararam em silêncio por um tempo, até que ela se virou e viu sua mãe parada em frente ao portão, a encarando.
— Droga! — Neelam disse baixinho.
— Oh, parece que já sei onde você está. — Duke disse.
— Anda, Neelam! — Mikaela disse, impaciente.
Neelam abaixou a cabeça e foi para a casa.
Após ajudar sua mãe a guardar as compras, Neelam foi para seu quarto e ligou para Kendall.
— Oi, Neelam? Tudo bem? — Disse Kendall, feliz por ela ter ligado para ele.
— Oi Ken. Eu queria te pedir um favor.
— Sim. O que você quiser. — Disse ele se afastando do computador.
— Quando vir a minha casa, deve tomar cuidado para não ser visto por ninguém.
— Por quê? — Perguntou Kendall. Será que ela estava com vergonha de ser vista com ele?
— Ai, você não vai acreditar, mas, hoje, descobri que o Duke é meu vizinho!
— O quê? — Kendall disse.
— É isso mesmo o que você ouviu… O Duke é meu vizinho, mas dei um jeito de disfarçar e menti que essa é a casa da minha tia, que só estou passando alguns dias aqui, enquanto minha mãe viaja. Não sei bem se ele acreditou, mas… Não quero que ele saiba onde moro. Ele é chato e, poderia me incomodar. Você entende não entende?
— Sim. Entendo. — Disse Kendall. — Não se preocupe? Vou tomar cuidado para não ser visto da próxima vez que for aí.
— Ah, obrigada Ken. — Disse Neelam.
— Eu queria te ver. — Falou ele.
— Também queria te ver. — Disse ela.
— Não pode vir a minha casa? — Kendall sabia que ela não aceitaria, mas não custava tentar. Talvez, ela mudasse de ideia.
— Não. Sinto muito. Eu queria, mas… Não dá. Preciso terminar de passar a matéria para o Duke.
— Por que não me deixa te ajudar? — Perguntou ele.
— Não é justo. Não foi você quem fez nenhum trato com ele. — Disse Neelam.
— Não importa. Você é minha amiga e gosto de te ajudar. — Falou Kendall.
— De verdade? — Perguntou ela.
— De verdade. — Respondeu ele.
Neelam suspirou. Ela queria falar com ele cara a cara, mas não queria que ele fizesse aquele maldito trabalho. Isso era ela quem devia fazer. Não ele.
— Seus pais são chatos? — Perguntou ela.
Kendall riu da pergunta.
— Eu sei que da minha mãe você vai gostar.
— E seu pai? — Perguntou ela.
Kendall suspirou.
— Ele devia ser o pai do Duke.
— Juno me disse que ele é um pouco exigente.
— Um pouco? Ele é um tirano. Não importa o que eu faça. Nada está bom pra ele. Ele me odeia!
— Sinto muito.
— Tudo bem. Eu já estou acostumado.
— E a que horas posso ir aí?
— Eu não posso ir te buscar? — Perguntou ele.
— Hum, pode ser. — Respondeu ele.
— Hum, que tal às seis e meia? Está bom para você?
— Sim. Está. — Respondeu ela.
— Mal posso esperar. — Disse Kendall, ansioso.
† † †
Após tomar um café com a mãe de Neelam e conversarem um pouco, a senhora Maldonado decidiu que já era hora de ir para casa. Não queria chegar tarde para não ouvir seu marido reclamar que ela era uma irresponsável, que não parava em casa, que só gastava dinheiro e fazia compras. Seu marido era possessivo. Ela havia se separado dele há pouco tempo, mas decidiu dar outra chance a ele por causa de Juno, que gostava muito dele.
— Foi um prazer conhecê-la, senhora Ferraz. Mas agora, eu preciso ir.
— Também foi um prazer conhecê-la, senhora Maldonado.
Neelam seguiu Kendall e Juno até o carro da mãe deles.
— Eu vou me sentar no banco da frente! — Juno gritou como uma criança e abriu a porta, apressada, como se alguém pudesse roubar o seu lugar.
— Ei, Juno? Devagar. — Disse Kendall e abriu a porta para Neelam.
Ela estava prestes a entrar no carro quando percebeu que Duke estava parado em frente a casa dele. As luzes de sua casa estavam todas apagadas. Ele estava vestido de preto da cabeça aos pés. Um capuz enorme escondia seus cabelos ruivos. Ela mal podia ver o rosto dele. Mesmo assim, tinha certeza de que era ele. O que ele estava fazendo parado ali? Estava esperando alguém ou estava espiando ela? Ele fumava e a encarava. Neelam sentiu um arrepio. O que ele estava fazendo? Garoto esquisito.
— Ei, Neelam? Algum problema? — Perguntou Kendall.
— Não. — Disse Neelam disfarçando e entrou no carro. Kendall entrou logo depois dela.
Quando a senhora Maldonado já estava dirigindo o carro, Neelam virou-se para trás para ver se Duke continuava parado a encarando. Não estava.
O apartamento onde Kendall vivia com sua família, não era tão pequeno como Juno descreveu. Era maior que a casa de Neelam. Uma cobertura luxuosa com a melhor vista da cidade. O pai de Kendall devia ganhar muito bem para eles viverem de forma tão confortável, imaginou Neelam.
Neelam esqueceu de ligar o despertador e perdeu o horário de ir para o colégio. Sua mãe não a despertou quando saiu para ir ao trabalho porque normalmente Neelam costumava acordar sozinha. Duke contava com as respostas do exercício que ela faria por ele, e acabou se dando mal quando ela não apareceu.— Mas que droga! — Duke resmungou. — Espero que ela não invente de faltar amanhã também porque preciso entregar aquele maldito trabalho para aquela professora chata.
Neelam empurrou Duke e deu um tapa na cara dele.— Vai embora! Eu não acredito que fez isso! — Falou ela brava. — Qual o seu problema? — Perguntou, confusa.— Neelam foi para o grêmio no terceiro tempo. Chegando lá, bateu à porta e esperou até Killian recebê-la. Ele não sorriu como das outras vezes, apenas disse:— Duke observava Neelam e Merlyn conversando e se sentia cada vez mais excluído… Eles falavam sem parar como se se conhecessem desde sempre e, o pior era que o ignoravam. Aquilo o chateou. Não era bem o que ele planejara para aquela tarde… Mas seus “amigos” tinham de aparecer para estragar tudo. Especialmente Merlyn que estava tomando tão facilmente algo que ele estava lutando para conquistar. Era inacreditável como as coisas aconteciam. Ninguém se esforçava para conquistar nada. Porque era mais fácil, chegar e tomar o que não lhe pertencia? Era o que Merlyn fazia. Mattew percebeu que Duke estava mal e disse-lhe: — Que tal se nós fôssemos até a lanchonete buscar hambúrguer? Estou morrendo de fome! — Não é melhor pedirmos uma pizza? — Sugeriu Willow. — A gente come pizza sempre. Já e9. Interrompidos
10. Excluído
O professor de Educação Física se cansou de Anderson e Merlyn e expulsou os dois do jogo, os substituindo por Duke e Mattew. — Vou ensinar às mocinhas como se joga basquete! — Duke disse, indo para a quadra enquanto sorria, presunçoso. — Tudo culpa do idiota do Merlyn que me distraiu! — Anderson resmungou e foi para o vestiário. Merlyn se sentou, próximo a Neelam, de cabeça baixa, visivelmente nervoso. — É só um jogo e não o fim do mundo. — Neelam disse a Merlyn. Ele a encarou e passou a mão no cabelo, ajeitando-o. — Não é bem assim… Minhas notas não andam boas. Eu acho que devo ter Défict de Atenção. — Merlyn disse. — Hmm… — Neelam disse, se sentindo
Hospital Psiquiátrico Santa Quitéria, Black River – Maine.O enfermeiro levou o café da manhã ao paciente e lhe entregou um envelope. A carta não havia sido endereçada para o hospital e, sim para a casa dele, foi o que combinaram antes dele partir, que ela enviaria as cartas para a casa dele e sua irmã lhe entregaria pessoalmente quando fosse vê-lo nos finais de semana, mas sua irmã não fora visitá-lo nenhuma vez, preferindo colocar a carta em outro envelope e enviar a ele.Seus pulsos foram enfaixados pela segunda vez porque ele tentara romper os pontos com a caneta que usaria para responder a carta. Desde então, ele estava proibido de responder as cartas e seu psiquiatra ameaçara proibir a entrega das mesmas se ele não apresentasse alguma melhora.
Neelam despertou na manhã seguinte e se assustou ao perceber que estava na cama de Merlyn. Ela deixou escapar um palavrão quando o viu saindo do banheiro só de toalha.— O que houve? — Ela se levantou, apressada da cama, olhando para seu corpo. Ainda estava vestida e isso a tranquilizou.— Nada demais. — Merlyn respondeu, caminhando até seu closet. — Você despertou com medo do escuro e veio se deitar na minha cama. Eu quisir para o sofá, mas você insistiu que eu ficasse, então, eu fiquei, mas não aconteceu nada. Juro.— Por que eu não me lembro de nada? — Neelam inquiriu, desconfiada. — Colocou alguma coisa na minha bebida?&mda