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Tuca

Ao longo da minha vida adulta eu fui uma boa menina. Me formei nas melhores faculdades, obedeci os meus pais, arrumei um bom emprego e também um bom namorado. Na verdade, eu conheci o Alec em uma rave e lembro-me que tinha muitas cores, muita gente dançando enlouquecida, e perto demais umas das outras. E cara, tinha muita bebida naquele lugar também. Como sempre, eu estava curtindo com os meus amigos Javier, Mirela e Val, pois somos inseparáveis desde sempre.

Quer dizer, não exatamente desde sempre.

Depois que Alec entrou na minha vida fui me afastando dos meus aos poucos. Não era exatamente uma exigência do meu ex, mas vivíamos tão grudados um no outro que não sobrava tempo entre o meu trabalho e o nosso namoro para os amigos. Enfim, Alec chegou no nosso meio como quem não queria nada, se enturmou e foi ficando. Naquela noite trocamos alguns olhares e depois do terceiro copo já estávamos nos pegando. Depois disso, não conseguimos evitar as enxurradas de mensagens e de telefonemas. Pela primeira vez eu estava apaixonada por um cara extraordinário e completamente sexy, e isso teve praticamente a durabilidade de dois anos.

Logo que ele assumiu a vice-presidência da Stars'Books, uma das maiores e mais requisitadas editoras do país começamos com os nossos planos para o nosso casamento. Enfim, como mencionei, eu desenhei cada detalhe do meu dia especial. A festa, as mínimas cores, quantidade de convidados, as flores, o tapete vermelho e tudo mais. No entanto, no final de tudo não foi eu quem foi parar naquele altar e sim, a filha do seu chefe.

E como estou com isso?

— Mais um copo, senhorita?

Um garçom usando apenas uma saia havaiana pergunta, inclinando-se só um pouquinho o seu corpo na minha direção e me oferece mais uma daquelas deliciosas bebidas com um guarda-chuvinha no topo.

Sorrio, colocando o meu copo vazio na sua bandeja. Como vocês podem comprovar eu estou cagando e andando para aqueles dois.

Sério, parando para analisar os prós e os contras da minha relação com o Alec, eu posso afirmar que saí no lucro. Eu não aguentava mais ouvi-lo dizer que eu precisava perder peso, que tinha que fazer uma dieta e ficar mais gostosa para ele. Ou que os seus amigos tinham mulheres gostosas ao lado deles.

Ah, vai se foder!

Tudo bem que aos vinte e três anos e com a altura de 1,70 m estou pesando graciosamente 85 quilos. Ah vai, é melhor do que ser magra demais e não ter nenhuma carne macia para apertar. Eu, Vitória Andrada - Tuca para os íntimos, sou simplesmente maravilhosa, gostosa e sexy, e não preciso que nenhum homem venha me dizer esse tipo de coisa.

— Obrigada! — digo para o garçom e ele volta a erguer o seu corpo, porém, antes de se afastar ele me lança um olhar de lado e eu suspiro, levando o canudo para a minha boca, sugando o líquido doce e gelado, e imediatamente sinto o leve teor do álcool no meu paladar.

— Foi impressão minha ou ele te comeu com os olhos? — Mirela pergunta me fazendo engasgar na mesma hora e Val dispara em uma gargalhada.

— Vocês sabem o que eu penso sobre um relacionamento por agora, não é? — rebato com humor, mas a danada ergue as suas sobrancelhas ruivas muito bem delineadas para mim.

— Quem falou em relacionamentos aqui? Você falou, Val?

— Eu não disse nada! — Val ralha, erguendo as suas mãos em sua defesa e eu reviro os olhos para as duas.

— Meninas, eu falei pra vocês nada de homens e nada de sexo enquanto estivermos aqui. Eu só preciso descansar e viver um dia após o outro.

— Entendi, virou a madre Tereza de Calcutá agora. — Mirela zomba me fazendo rir.

Contudo, abaixo os meus óculos espelhados, sugo um pouco mais da minha bebida e me esparramo em cima da espreguiçadeira, fechando os meus olhos e simplesmente ergo o meu dedo do meio para elas. Às duas voltam a explodir em uma boa risada e eu rio também, apreciando o calor gostoso do sol das praias havaianas.

O fato é que ainda não estou pronta para qualquer tipo de relacionamento, seja ele com compromisso ou não. Eu preciso de um tempo só para mim, sabe? E depois desse tempo quero voltar as brilhantinas onde eu beijava na boca sem me preocupar com o dia de amanhã. E quando finalmente acabar essas férias de quinze dias com certeza voltarei para Seattle outra mulher, ainda mais determinada e dona do meu próprio nariz.

O que, não pensaram que eu ia me afundar em lágrimas trancafiada dentro do meu apartamento e me enchendo de sorvete, não né?  Acho que nisso vocês vão concordar comigo, o Alec não merece tal sofrimento da minha parte, não mesmo! Eu tenho um plano totalmente elaborado por mim, embora as minhas amigas que estão aqui do meu lado não concordem comigo. Em primeiro lugar eu, em segundo o meu trabalho e em terceiro os homens. E esses a partir de hoje serão os meus brinquedinhos particulares, pois este coração aqui está fechado para balanço.

— Gente, alguém viu o Javier por aí? — Val pergunta, me fazendo despertar dos meus devaneios.

— Até parece que você não conhece aquele puto! Provavelmente ele deve estar agarrado com alguma havaiana graciosa por aí. — Escuto Mirela resmungar e depois me ocupo em me desligar do mundo, e sonhar com os meus projetos futuros.

***       

… Hu! Hu! Hu! Hu!

Gritamos ao mesmo tempo e bem alto fazendo uma fila de conga, enquanto procuramos passagem no meio da multidão. Gente, o Havaí é um sonho de sossego durante o dia e um espetáculo de festas a noite. A praia a essa hora está parcialmente iluminada por algumas tochas que estão espalhadas por todos os lados e quase todos aqui estão usando colares com flores coloridas, roupas informais e segurando seus copos com algum tipo de bebida. Entretanto a grande maioria das mulheres estão usando a parte de cima dos seus biquínis e alguns homens estão com seus abdomens sarados de fora. A música é ótima e bem animada também. Juro que cheguei a imaginar alguns nativos em cima de um palco tocando os seus instrumentos rústicos e algumas garotas vestidas com suas saias havaianas, mexendo os seus corpos de uma forma graciosa, e com seus sorrisos de boas meninas. Entretanto, eu não podia estar mais enganada!

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