(Renata Pellegrini)— É só isso que você vai levar? — Filippo questiona observando minha única mala.— Sim — respondo com um pequeno sorriso.Este apartamento já veio mobiliado, nada aqui dentro além de minhas roupas, é meu. E só estou usando uma mala grande, por causa das roupas que Filippo me deu no shopping, se não, seria apenas uma trouxinha de roupas velhas e surradas.Além dessa mala, tudo o que irei levar são as lembranças. Tudo o que vivi aqui dentro, os momentos românticos com Filippo, os domingos engraçados e felizes com Amanda…— Você está linda, sabia? — Filippo dala vindo em minha direção como um caçador mirando sua presa. Até hoje sinto arrepios quando suas mãos tocam diretamente minha pele. — Me arrumei especialmente para você — falo sorrindo tímida.Filippo coloca a mão em meu rosto, fecho os olhos aproveitando seu contato quente e carinhoso. Apesar de suas mãos serem cheias de calos, amo quando elas me tocam. Seu polegar faz carinho em minha bochecha, me fazendo sorr
(Renata Pellegrini)“Isso vai dar merda”— minha mente me alerta enquanto seguro a maçaneta da porta que suspeito ser o porão. Fecho os olhos e a imagem do olhar sombrio dele faz um calafrio percorrer minha espinha, Filippo quando está com raiva é muito assustado, seus olhos ficam horripilantemente frios e caliginosus, como os de um lobo mau… Essa foi a primeira expressão que vi nele, até hoje me lembro da constante sensação de perigo que sentia ao olhá-lo nos olhos, meus alertas estavam certos, cai na armadilha e hoje estou apaixonada e disposta a viver ao lado dele.Mas que expressão ele fará quando descobrir que fiz exatamente o que ele pediu para não fazer? Só de imaginar a cara dele decepcionado comigo me faz ter um aperto no coração. Certo, não acho que deveríamos ter segredos entre nós, ainda mais quando estamos morando juntos agora, mas preciso esperar o tempo dele, ninguém é obrigado a se abrir assim. E também, não estamos juntos a tanto tempo, tenho certeza que com o passar
(Renata Pellegrini)Toda a fome que eu estava sentindo, simplesmente sumiu, o vazio que ecoava em meu estômago, agora está se abrindo em meu coração, de novo, a sensação de estar sendo traída. Ele me chama para morar na casa dele, e quando a mãe liga, diz que sou apenas uma amiga? Que tipo de amiga visita um homem solteiro tarde da noite?Não quero nem pensar na resposta… Meu estômago está embrulhado, pego meu prato e o coloco de volta na geladeira, sentindo o choro entalado na garganta, caminho a passos apressados de volta para o quarto, mas antes que eu consiga abrir a porta, Filippo sai do banheiro social e segura meu braço.— O que foi? — interroga-me com a cara séria.— Nada não — respondo e tento me soltar, mas ele apenas aperta ainda mais sua mão no meu braço. — Faça o favor de me soltar, estou com sono. — falo seca sem olhá-lo nos olhos, não quero que ele veja as lágrimas acomuladas neles. — Já disse para não mentir para mim, ragazza — segura meu queixo e me obriga a olhá-lo,
(Filippo Valentini)Depois de duas horas, tendo a certeza de que Renata está dormindo profundamente, com cuidado tiro sua cabeça de cima do meu peito, troco de lugar com um travesseiro e Renata se agarra com o meu substituto.A noite não acabou como o planejado, eu imaginei que trazendo-a para morar comigo, me faria chegar mais rápido do meu objetivo de fode-la, mas toda vez que chego perto de me afundar em suas carnes, algo acontece para atrapalhar e isso está me tirando do sério, estou a beira de perder minha paciência, que já é muito pouca.Hoje eu quase perdi minha cabeça, acabei falando o que não deveria, não planejava jogar na cara dela que antes dela eu transava muito, deu para ver a decepção em seu rosto, mas a minha raiva e frustração falaram tão alto que até gostei de ter dito, já estou me segurando a tempo demais e assim ela toma logo um choque de realidade, sou um homem e preciso atender às minhas necessidades. Ela pensa que pode brincar comigo, mas não é assim que as coi
Renata Pellegrini Desperto com o barulho estridente do despertador do meu celular, espreguiço-me de forma preguiçosa na cama, acabei dormindo melhor do que eu esperava, olho para o lado e Filippo não está aqui, nem vi que horas ele voltou, simplesmente apaguei ontem à noite. A porta do banheiro é aberta e o cheiro de Filippo se espalha pelo quarto, desvio o meu olhar na sua direção e todo o meu rosto esquenta, ainda não me acostumei com o corpo dele tão exposto assim. Ele está apenas usando uma toalha nos seus quadris e nesse momento, o observando detalhadamente, sinto uma leve inveja das gotinhas de água que deslizam descaradamente por seu corpo. — Buona giornata, ragazza! — ele cumprimenta-me de costa, fixo o meu olhar na suas costas largas e fortes, queria passar as minhas unhas nela. — Bom dia! — o cumprimento de volta. — Acho que assim você vai apreciar mais a vista — fala se virando, me pegando de surpresa. Arregalo os olhos quando a sua toalha vai ao chão deixando toda a s
Renata Pellegrini — Algum problema, menina? — o senhor Lucas Parmanel questiona subitamente ao entrar no elevador. Desde de que me tornei a secretária e assistente pessoal de Filippo, nunca precisei falar diretamente com o vice-presidente, as trocas de informações ocorriam sempre entre mim e Sofia. — N-não, senhor — respondo estranhando sua pergunta. — Ficou perdida porque Filippo não apareceu hoje. Acertei? — Bem, sim. — Escute meu conselho, se acostume, já aconteceu dele ficar mais de uma semana sem dar as caras. — Por que? — pergunto intrigada. — Não é da nossa conta, Filippo não é tipo de homem que gosta de dar explicações. — Entendi — falo, pego o celular e verifico mais uma vez se não tem nenhuma mensagem. Estou chateada, ele não apareceu e sequer mandou uma mensagem. Saio do elevador discando o numero do motorista, mas a notificação de nova mensagem me faz parar e abrir o aplicativo de mensagem: Filippo, mio amato: Te encontro no cinema, vamos para a sessão das seis.
(Filippo Valentini) Abro os olhos e me sinto zonzo pela dor lancinante que me atingi, fecho-os novamente. Não está doendo apenas o meu ferimento, mas também minha cabeça, meus ossos, minhas articulações, absolutamente tudo em mim! Cazzo! Me sinto desidratado e ardente, como se estivesse respingando fogo diretamente sobre minha pele, me remexo numa tentativa inútil de me livrar desse calor infernal. Merda! Me sinto preso! Odeio sentir isso, me faz ter lembranças das quais me perseguem durante a noite em forma de pesadelos horríveis. Depois de algum tempo, tentando não me concentrar na dor, subitamente sinto um par de mãos gentis descer sobre mim com um pano umedecido, sendo passado delicadamente por meu rosto. Solto um suspiro me sentindo aliviado, ergo minha mão até a fonte do frescor e maciez, agarrando-a desesperadamente, como se fosse o último fio de esperança, o último raio de luz. — Filippo, não — ela reclama comigo. — Fique deitado quieto, deixe-me cuidar de você, amato. É a
(Renata Pellegrini) - Duas noites antes de Fillippo despertar:— Não chega perto, sai! Não por favor, para, para, PARA! — Filippo grita me fazendo acordar assustada, ligo a luz do abajur ao meu lado. — Não pai, por favor, está doendo, para! — sussurra com a voz embargada pelo choro.Miro seu rosto suado, seu semblante assustado, Filippo começa a se agitar na cama, seus braços a todo instante cobrem seu rosto e seu peito, como se estivesse tentando se proteger de algo. Meu coração se aperta, ele está chorando enquanto está tendo o pesadelo.— Por favor, parar! — ele continua gritando. — Deixe meus irmãos em paz, eu sou o culpado!“A febre está fazendo-o delirar.” — Penso enquanto me levanto, vou até o criado mudo ao seu lado da cama, molho a flanela na água fria, o travesseiro dele está enxarcado de suor.— Não se aproxime! Não toque em mim! — ele continua gritando, agora mexendo as pernas também.Sinto um calafrio percorrer minha espinha, nunca o vi assim antes, isso me deixa assusta