Khrona, 1716.
Castelo Sartori
James Sartori reunia-se com alguns membros do clã Sartori afim de definir como caçariam a garota da visão. Irado por não saber nada sobre ela, arremessou longe a mesa central.
–Acalme-se, James. Estamos nos empenhando para achar algum indício de onde está essa maldita garota.–Dimitri, irmão e braço direito de James, tentava manter a ordem na reunião.–Precisamos manter a calma ou não pensaremos direito. Vale mais estratégia do que força bruta.
Nesse momento Afonso, filho mais velho de James, invade a reunião atrás do pai. James dispensa todos os membros marcando uma nova reunião para decidir o dia da caçada. Afonso senta-se na frente do pai encarando-o com aqueles olhos frios.
–Você contou alguma coisa para eles?–Os olhos semicerrados do filho estavam direcionados para o pai.
–Não. Não quero que saibam que a salvadora é o destino amoroso do meu filho.–James serve-se de uma bebida.–A parte boa é que você não é nenhum tolo. Vamos capturá-la e você é o único que pode matá-la, Afonso. A partir disso, Khrona é nossa para sempre.
–Não se preocupe.–Afonso levanta-se e caminha em direção a porta.–Traga a ratinha para mim e eu a destruirei.
Afonso, tendo cerca de cento e quinze anos de idade, era o filho mais velho de James. Que ainda tinha mais dois filhos, John e Ivy. No ano da Guerra das Espécies, logo após o selamento da paz, James recebeu uma visita de Kézia. A mesma lhe disse que o bebê que Arllet esperava seria o amor e a fraqueza da salvadora. Que ele ensinasse o seu filho a ajudar a salvadora a cumprir sua missão e estabelecer definitivamente a paz.
James, orgulhoso, fingiu concordar com as palavras de Kézia. Ensinaria o seu filho que a ruína da salvadora seria a glória do clã Sartori.
–Irmão!–Afonso para ao escutar a voz de Ivy, sua irmã.
–O que quer, fedelha? Já disse que não brinco de boneca.
–Você sempre idiota, Afonso.–A garota revira os olhos.–Você viu o John? Ele sumiu desde antes dessa reunião chata começar.
–Procure no bar do clã. Provavelmente ele deve estar bebendo porque levei a namorada dele pra cama.
Afonso volta a caminhar deixando Ivy totalmente sem reação. Era sempre assim, Afonso adorava procurar a ira de todos. Até mesmo de James. Ivy lembrou que a última vez que viu Afonso expressar algum sentimento foi quando Arllet morreu. Saiu correndo em direção ao bar do clã.
Afonso foi o filho que mais teve atenção de James. Mas essa atenção não foi nada benéfica. James aproveitou a terrível dor da morte de Arllet e moldou seu filho para que ele fosse um homem frio e que odiasse sentimentos. James fez com que o filho desligasse seu lado emocional, fazendo-o perfeito para matar a mulher que deveria amar.
O enorme castelo do clã Sartori era comporto por vários andares e alas. Boa parte dos vampiros pertencente ao clã morava em um dos andares. Afonso se direcionou até lá querendo muito encontrar alguém.
–Estava esperando você, meu Sartori predileto.
Lavigne era a namorada de John, mas o traiu com Afonso. John tinha descoberto ontem, e desde então não falou com nenhum dos dois.
–Como está o John?–Lavigne passa as unhas pelo terno do homem à sua frente.
–Provavelmente enchendo a cara. Não vim para falar dele.–Afonso pega a mão da mulher e afasta do seu terno.–Vim te dizer que não vamos mais transar. Eu não tenho interesse em manter mais essa situação.
–Como assim, Afonso? Você praticamente me seduziu até que eu fui pra cama com você. Espera aí...–A garota semicerra os olhos.–Era tudo um jogo contra seu irmão?
–Você não o merece, Lavigne. Ele é um Sartori. Não pode manchar nosso nome casando-se com você, uma meretriz. Contente-se em lembrar que esteve na cama com dois membros da elite vampírica. É só isso que você terá de nós dois.
Lavigne ameaça voar em cima de Afonso, mas sabia que perderia no momento que viu a cor vermelho vibrante de seus olhos. A mulher praguejava alto enquanto Afonso se afastava. O homem sorria divertindo-se com o surto da mulher.
Em outro andar, Ivy encontra John de cabeça baixa no balcão do bar do clã. A garota pede uma dose e senta ao lado do irmão.
–O Afonso me contou.–Declara cuidadosa.–Como você está?
–Você sabe que quero matá-lo, correto? O que ele fez é imperdoável.
–John, a Lavigne também não era a mais correta das mulheres. E pior, pertence a um nível muito baixo da elite vampírica.–A garota vira a dose rapidamente. –O pai não deixaria você casar com ela. Foi melhor assim, irmão.
–Só quem sabe o melhor pra mim sou eu, Ivy! Porra! –John atrai os olhares dos vampiros ali em volta.–Ele não tinha o direito de pegar o que é meu. Sempre foi assim. Que merda! Me deixa em paz, Ivy. Não venha com suas merdas de discurso pacifista. Eu odeio o Afonso. Esse é o meu discurso e só ele que importa.
John foi embora deixando Ivy um pouco triste. Desde que sua mãe morreu, seus irmãos não param de brigar. Afonso faz questão de provocar discórdia entre eles. Amaldiçoou por um momento a injustiça do destino em permitir a morte de Arllet. Seria mais fácil com ela viva.
Afonso assobiava enquanto caminhava entre os corredores enormes e escuros do castelo. Logo uma figura aparece na sua frente.
–Não me diga que veio chorar pelo que aconteceu. Vamos, John! O que mais tem nesse mundo é mulher.
–Qual o intuito de tudo isso? Você se diverte provocando dor?–John emanava ódio.
–Você deveria me agradecer. Te poupei de se casar com uma...
John nem esperou Afonso concluir a frase; lançou-se sobre ele derrubando-o no chão. Os dois começaram a trocar socos e chutes. Rapidamente Afonso imobiliza seu irmão.
–Quantas vezes eu vou ter que te derrubar pra você entender que é fraco?–Afonso diz ofegante.
–Maldito! Eu vou achar seu ponto fraco, Afonso. Eu vou te provocar a mesma dor ou pior do que essa que sinto. Você se arrependerá, irmãozinho.
Alguns vampiros separam os dois e depois de se recompôr, John aponta para Afonso com o peito carregado de ódio.
–Guarda as minhas palavras. Eu ainda te causarei essa mesma dor. Covarde!
John cuspiu no chão, deu as costas e foi embora. Afonso pede para que os vampiros se dispersem e retoma o caminho por onde ia. Não tinha com que se preocupar, não tinha ponto fraco. Prosseguiu retornando a assobiar.
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Khrona, 1722.Seis anos se passaram e era a hora de Layla retornar. Pouco tinha aprendido sobre como controlar os seus poderes, pois a forma como eles são ativados não é única. Existem muitos modos. É como se ela fosse um cadeado sem chave fixa, mas que nem toda chave o abre. Era complexo até para as bruxas.Layla via seus pais e seu irmão duas vezes no ano. Era muito sofrimento a hora da despedida. O clima em Khrona ficou terrível. Os vampiros praticamente dominaram todo o país. O clã deles era muito maior que todos os outros e impunha medo em quem quisesse combater.Uma caçada em busca da salvadora deu-se início há três anos atrás, mas nada encontraram. Muito sangue foi derramado. Vidas foram ceifadas injustamente. Layla não sabia de tudo isso. Manteram a garota isolada dos acontecimentos exteriores para poupar-lhe dores.Layla já sabia o que era. Sabia sua missão. Só não sabia como iria cumpri-la.
Khrona, 1722.Castelo Sartori Tadeu, o vampiro que espionava o clã lunar, chegou afobado no castelo. Procurou imediatamente por James. Ele seria muito bem recompensado pelo êxito nas suas espionagens.–Eu preciso falar com o líder. –Alegou para o vampiro que fazia a vigilância da reunião do clã. –Eu achei a garota.Nesse momento a porta é aberta e James está com um olhar maravilhado para Tadeu. Perante boa parte do clã, foi encorajado a falar o que sabia. Afonso observava tudo calado.–...e então eu fugi ou acabaria sendo pego por ela. Quase morri com a explosão que teve. A garota parece não ter controle sobre seus poderes. Tive medo dela me matar. É isso, líder.–Como não estranhei o sumiço repentino do Otto?–James perguntava a si em voz alta.–É um grande dia para nós do clã Sartori. Encontramos a garota. Agora vamos destruí-la e tomar em definitivo o país de
Khrona, 1722.Castelo Sartori☆ Layla Dominic ☆Meu coração estava muito acelerado no exato momento que ouvi Adrien me dizer onde estávamos. Sei que as intenções do meu irmão foram boas, mas ele esqueceu que sou humana?–Eles parecem amigáveis. Pensei em te salvar, Layla. Desculpe.Adrien bufou e então eu o abracei. Lembrei das suas palavras antes do meu surto. Sei que ele está magoado, mas eu sei que aquelas palavras foram bobagens.–Tudo bem, Adrien. Você quis me proteger. Preciso de um banho. Pelo que vejo você lembrou das minhas malas. Obrigada, irmão.Adrien assentiu e então me esperou banhar o corpo. Assim que eu terminei, alguém bate na porta. Adrien atende.–Trouxe roupas limpas para vocês. O almoço logo será servido. Em alguns minutos retorno para buscá-los.Adri
Khrona, 1722.Castelo Sartori ♤ Afonso Sartori ♤Eu sei o que o John quer fazer, mas isso não é brincadeira de criança. Ele precisa entender que é o futuro disso tudo que está em jogo. Quando Layla se retirou, aproximei-me dele.–Você está achando que isso é um jogo, John. Mas não é. Eu sou o protagonista que vai destruí-la, não você.–Eu não quero destruí-la, irmão. Eu quero ser a parte boa. Eu quero que ela confie em mim. Ela merece ter um bom amigo antes de saber que vai morrer pelas suas mãos. Não me atrapalhe e eu não atrapalho você.Um vampiro aparece convocando John até a presença do nosso pai. Observo da varanda o irmão dela conversando com outros vampiros adolescente. Logo ela aparece ao lado de Ivy. Minha irmã e seu complexo de solidão. Não pode ver ninguém novo que quer fazer amizade.John quer a atenção de Layla afi
Khrona, 1722.Castelo Sartori ☆ Layla Dominic ☆Eu não sei o que está acontecendo comigo, mas desde que entrei no quarto meus olhos não querem voltar a serem pretos. Sei que desde a proximidade com Afonso eu sinto uma bagunça estranha em mim.–Ainda estão vermelhos, Layla.–Adrien confirma o que o espelho reflete.–Eles não podem descobrir o que você é, Layla.–Por quê? Eles parecem ser amigáveis. Querem que eu cumpra a minha missão. Talvez se eu mostrar a eles, eu tenha apoio e consiga o meu objetivo.–E te protejam também. Sei que não sou forte o suficiente pra te proteger, mas eles são. Depois que souberem quem você é, isso pode se espalhar e você pode ser perseguida, Layla. Não quero perder você.Abraço Adrien em sinal de conforto. Se para mim está sendo difícil, imagine para ele. Uma criança, praticamente.–S
Khrona, 1722.♤ Afonso Sartori ♤Eu sabia que tinha algum gatilho contra mim dentro da ratinha. Eu precisava fazer algo rápido, pois eu já estava começando a cair nesse feitiço que ela emana. E então veio a ideia de jogá-la dentro do rio. Para não parecer realmente uma tentativa contra a vida dela, me joguei junto.Vi quando seus olhos estavam dourados e ouvi seus ossos começarem a se partir. Tirei-a de dentro da água e fiz com que ela se acalmasse. Não sei a dimensão de seus poderes e possivelmente eu seria morto pela sua fúria.Mais uma vez eu não contava com ela assumindo o que era tão facilmente para mim. E dessa vez, o gatilho dentro de mim é ativado. Perante sua confissão eu fui obrigado a fazer a minha. Droga!–E eu sou o seu prometido. Você é minha, Layla. Minha.Ela imediatamente foge do meu toque e sobe seu vestido ainda de costas par
Khrona, 1722.☆ Layla Dominic ☆Eu não esperava que isso surgiria. Um amor já predestinado? Mesmo Afonso tendo explicado tudo calmamente, minha cabeça ainda doía muito. Retornamos para o castelo e Afonso se despede me pedindo para aquecer-me. John está olhando para mim quando tiro meu olhar de Afonso.–A noite estava quente e acabamos dando um mergulho. Estou com dor de cabeça. Se me der licença, vou me aquecer. Boa noite, John.–Boa noite.Após ouvir sua resposta, sigo para o quarto. Passei por alguns vampiros que me cumprimentam amigavelmente. Ao entrar no quarto, vejo Adrien dormindo. Me aproximo e cubro melhor seu corpo. Beijo sua testa e sigo para o banho.–O que vai ser agora?–Sussurro enquanto passo a esponja pelo meu corpo.Não sei como vai ser a nossa convivência, mas não posso deixar isso me atrapalhar. Ainda não sei de que for
Khrona, 1722.♤ Afonso Sartori ♤O irmão da ratinha, mesmo tendo um coração de manteiga, mostrou-se muito determinado e forte. Não é pra menos, ele é filho de Otto. Ficamos "treinando" um bom tempo, só paramos na hora do almoço.–Hoje é o dia da homenagem ao seu pai, Adrien. Você sente falta dele?–Eu fico pensando nos meus pais, mas depois eu paro. Não posso insistir no que me deixa fraco. Pensar neles me deixa vulnerável, Afonso.–Ele me encara.–Preciso ser forte pela Layla.Assinto e então caminhamos para dentro do casarão. Depois de matar Layla eu até poderia fazer desse menino meu aprendiz. Ele parece que vai se tornar um bom vampiro. Adrien segue para o quarto e eu sigo para o escritório. Meu pai não está, então me sento na cadeira e me sirvo de algo forte.Enquanto bebo, mexo em uns papéis que estavam dentro de uma pasta escura. Encontro esboços d