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Khrona, 1722.

Castelo Sartori

☆ Layla Dominic ☆

Eu não sei o que está acontecendo comigo, mas desde que entrei no quarto meus olhos não querem voltar a serem pretos. Sei que desde a proximidade com Afonso eu sinto uma bagunça estranha em mim.

–Ainda estão vermelhos, Layla.–Adrien confirma o que o espelho reflete.–Eles não podem descobrir o que você é, Layla.

–Por quê? Eles parecem ser amigáveis. Querem que eu cumpra a minha missão. Talvez se eu mostrar a eles, eu tenha apoio e consiga o meu objetivo.

–E te protejam também. Sei que não sou forte o suficiente pra te proteger, mas eles são. Depois que souberem quem você é, isso pode se espalhar e você pode ser perseguida, Layla. Não quero perder você.

Abraço Adrien em sinal de conforto. Se para mim está sendo difícil, imagine para ele. Uma criança, praticamente.

–Seus olhos voltaram a ser pretos. Olhe!

Ao ouvir a exclamação de Adrien, me viro para o espelho. De fato meus olhos voltaram ao normal. Sou humana agora. Será que a minha família é o que me faz humana?

A serviçal bate na porta e avisa que o jantar está pronto. Vejo o sorriso nascer nos lábios de Adrien. Também sei que essa empolgação não é pelo jantar em si. É pelo sangue ofertado. Seguimos rapidamente para a sala de jantar. Percebi que um homem diferente sentado à mesa.

–Você que é a Layla?–Ele levanta e pede a minha mão. Eu concedo e ele beija.–James Sartori, fundador e líder do clã. Seja bem-vinda!

–Muito grata, senhor James.

–Só James, por favor.–Ele senta e eu também.–Espero que esteja gostando daqui. Talvez precise de uma nova decoração. O que acha?

–É um belo lugar.

Eu sinto o olhar de Afonso e de John em mim, mas me recuso a devolver o olhar. Sinto-me extremamente estranha com isso. O jantar estava muito bom. Os vampiros se resumiram a beber sangue e conversar. Apenas eu comi realmente. Estava faminta.

–Eu precisarei me retirar pois soube que estão atacando uma vila de bruxas pacificadoras. Precisamos protegê-las.–James levanta-se da mesa.–Nos veremos em breve, Layla. Fique à vontade.

–Obrigada.

Adrien pediu para ver se os amigos estavam livres e Ivy se propôs acompanhá-lo. Restou apenas eu e os irmãos Sartori. Concluo minha refeição e ameaço sair da mesa.

–Layla...–A voz de Afonso me faz estancar.–Quer dar uma volta? A noite está muito bonita.

–É... Tudo bem. Vamos.

Queria poder negar, mas eu não queria ser indelicada perante o convite do rapaz pois eu odeio sair à noite. Sensação de perigo constante. Ele estende o braço para que eu enlace e assim o segui. Ouvi resmungos de John, mas não entendi o porquê.

–Onde estamos indo, Afonso?

–Não é um lugar que eu costumo visitar levando alguém, mas eu quis trazer você.–A sinceridade dele me comove.–Aqui perto tem um riacho que minha mãe adorava me levar. Ela chamava de refúgio. Você vai gostar.

Assinto e sorrio. A noite estava mais quente que o habitual. Molhar os pés será uma boa opção. Seguimos falando sobre coisas bobas da vida e nem reparei quando chegamos.

–Entendo por que sua mãe chamava esse lugar de refúgio.–Encaro a água corrente iluminada pelo brilho das estrelas.–É um belo lugar. Se não se importar, gostaria que Adrien viesse uma outra vez.

Olho para Afonso e o vejo perdido observando o movimento das águas. É um lugar que emana boas vibrações. Aprendi a sentir com as bruxas a energia de um lugar quando desejo.

–Você está bem?–Pergunto ao vê-lo calado demais.

–Esse lugar me traz boas memórias. Parece que foi em outra vida.–Ele dá um sorriso tímido e isso mexe comigo de um jeito estranho.–Como você acha que vai conseguir suportar sem seus pais?

Aquela pergunta me desequilibrou totalmente. Como suportar a ausência? Eu tenho vinte e um anos, mas me sinto uma criança abandonada.

–Não sei, Afonso.–Coloco os pés na água.–Preciso seguir o meu destino. Ele é maior do que eu e com certeza vai preencher o vazio deixado por eles. Se eu fizer valer aquilo pelo que eles morreram lutando, acredito que não haverá mais lágrimas para chorar por eles. Sentirei que eles descansaram e eu também descansarei. Planejo suportar assim.

Ao virar para olhar seu rosto, vi que ele prestava atenção fielmente em mim. Sinto vergonha e abaixo o rosto. De repente ele me pega nos braços e se joga comigo dentro do riacho. Ele me solta quando estamos dentro da água e uma sensação de perigo toma conta de mim. É como se o ar começasse a faltar rapidamente. Sinto meu corpo mover-se violentamente e uma dor de cabeça me faz querer gritar. Sinto braços me puxando debaixo da água e enfim sinto o ar entrando nos meus pulmões.

–Calma, Layla. Você está bem.–Ouço a voz de Afonso.–Mantenha a calma. Respira.

Tusso algumas vezes expulsando um pouco da água que entrou e então abro totalmente os olhos. Percebo que estou deitada e Afonso está sob mim deixando algumas gotas de água do seu cabelo bater em meu rosto.

–Seus olhos, Layla... Estavam dourados. Você é uma lobisomem?

Imediatamente saio debaixo dele e levanto-me ofegante. E agora? O que eu falo? Encaro Afonso mais uma vez e ele não parece estar assustado. Talvez eu deva contar. Ele parece um bom vampiro. E aliás, luta pela mesma coisa que lutarei.

–Eu sou a garota da visão, Afonso.–Engulo seco pois é a primeira vez que admito em voz alta.–Sou aquela que denominam de salvadora. Na verdade, meu nome é Sublime. Sou o equilíbrio, sou a salvação de uma nação. Sou a única que pode trazer a paz definitiva.

Ao dizer isso, viro de costas e desço meu vestido até a cintura mostrando a minha marca. O mapa de Khrona. Logo sinto seus dedos passeando pela minha pele causando algo desconhecido pra mim. Algo pervertido demais para alguém como eu.

–E eu sou o seu prometido. Você é minha, Layla. Minha.

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