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Khrona, 1722.

Castelo Sartori

Layla Dominic ☆

Meu coração estava muito acelerado no exato momento que ouvi Adrien me dizer onde estávamos. Sei que as intenções do meu irmão foram boas, mas ele esqueceu que sou humana?

–Eles parecem amigáveis. Pensei em te salvar, Layla. Desculpe.

Adrien bufou e então eu o abracei. Lembrei das suas palavras antes do meu surto. Sei que ele está magoado, mas eu sei que aquelas palavras foram bobagens.

–Tudo bem, Adrien. Você quis me proteger. Preciso de um banho. Pelo que vejo você lembrou das minhas malas. Obrigada, irmão.

Adrien assentiu e então me esperou banhar o corpo. Assim que eu terminei, alguém bate na porta. Adrien atende.

–Trouxe roupas limpas para vocês. O almoço logo será servido. Em alguns minutos retorno para buscá-los.

Adrien pegou as roupas trazidas e correu para o banho. Olhei no espelho e lembrei dos meus pais. Como prosseguir sem vocês?

–Eu vou lutar por vocês.

Terminei de pentear os cabelos e aguardei Adrien sair do banho. A serviçal retornou e assim a seguimos. Adrien ficava observando tudo, atento a cada detalhe.

–Sentem-se. Tem preferência por alguma coisa?

–Não, tudo está bom.

Respondo me vendo diante de uma mesa farta jamais vista por mim antes. Olho para o irmão e o vejo encantado com uma jarra de um líquido vermelho escuro. Eu sabia o que era.

–Você sabe que não pode, Adrien. O papai só lhe permite tomar um copo ao mês.

–O papai não está mais aqui, Layla.–Declara encarando-me.–Você sabe que isso irá acelerar meu crescimento e desenvolvimento. Preciso ficar forte para poder te proteger.

Eu sabia que não adiantaria discutir. Eu e o Adrien estamos sozinhos a partir de agora. O papai só permitia ele tomar um corpo por mês para que seus poderes não ficassem tão acentuados e nem que ele se viciasse.

–Apenas um copo. Sirva-se.

Como pouco. A dor ao perceber que estou sozinha no mundo sendo a única responsável por Adrien me corrói o coração e me embrulha o estômago. Fico apenas observando meu irmão comer.

–Vejo que acordou, Layla.

Uma voz me tira a atenção de Adrien e me deixa alerta. Um homem aparece no meu campo de visão. Alto, forte, cabelos bem cortados e olhos azuis. Ele me analisa enquanto aguarda uma resposta de mim.

–O senhor quem é? Desculpe, mas como sabe o meu nome?

–Fica tranquila, Layla. Esse é o John, ele nos ajudou.–Adrien comenta de boa cheia e eu lhe lanço um olhar reprendendo-o.

–John, muito prazer.–Ele pega minha mão e beija.–Sinta-se bem aqui, Layla. Podemos conversar um pouco?

Assinto, aviso a Adrien que estou indo conversar com o John e o sigo. Ele me leva para a varanda desse lugar e eu fico impressionada com a grandeza disso tudo. Muito ao longe eu vejo o centro comercial de Khrona do Sul.

–Somos de um clã denominado clã Sartori. Eu sou um dos filhos do fundador, James Sartori. Somos um clã que protege, que abriga os que estão sofrendo com essa loucura entre as espécies.–Ele olha para mim e então continua.–Seu pai, Otto Dominic, fez parte disso aqui. Ele queria estabelecer a paz entre as espécies. E a propósito, meus pêsames pela morte do seus pais. Eles com certeza morreram lutando pelo propósito em que acreditavam.

Adrien me disse que não falou sobre mim aos vampiros daqui. Apenas avisou que esperavam a minha volta da casa de uma tia quando foram atacadas por lobos raivosos. Segundo a história de Adrien, desmaiei ao ver que tínhamos perdido nossos pais.

–Meus pais sonhavam com a verdadeira paz.–Digo enquanto o vento chicoteia meu rosto.–Precisamos ir embora. Não queremos incomodar vocês.

–Você não precisa ir agora, Layla. Estamos organizando uma celebração em memória do seu pai. Queríamos que ficassem para prestigiar. Ele foi um bom vampiro.

Pisco os olhos algumas vezes e assinto sorrindo levemente. Ele me abraça e então diz que sente muito por tudo. Ao soltar do meu abraço, reparo que um homem aparece na varanda. Recuo por instinto.

–Esse é meu irmão Afonso. Ele também trabalha comigo na busca pelo equilíbrio das espécies.

Observo o homem com traços parecidos aos de John, só que mais alto e com os cabelos maiores. Meu coração bateu um pouco mais alto e por um momento senti uma fraqueza.

–Tudo bem, Layla?

Assinto para John e então o tal irmão se aproxima de mim. Tão perto que seu perfume estava quase me sufocando. Eu sinto vontade de correr, mas não obedeço.

–Afonso Sartori, o irmão mais bonito.–Ele beija minha mão e eu sinto uma coisa estranha.–Sinto muito pelo seus pais. Fui um grande amigo de Otto e vi o casamento dele com sua mãe. Eram muito felizes juntos.

–Obrigada, Afonso. Se me derem licença, vou ficar perto de Adrien. Obrigada mais uma vez.

Me retirei dali antes que eu fizesse algo muito bobo na frente de pessoas tão gentis. As vezes acho que não tenho vinte e um anos de idade. Ione me ensinava coisas adolescentes e tive alguns amigos por lá também, mas boa parte do tempo era treinamento e meditação. Eu precisava encontrar gatilhos para ter acesso ao meu poder.

Quando procurei por Adrien na mesa, ele não estava mais lá. Meu coração começou a doer de preocupação. A serviçal apareceu e avisou que meu irmão estava conversando com os outros garotos do lugar no jardim. Provavelmente ele deve estar gostando daqui. É praticamente o lugar onde ele pode se sentir em casa.

–Ei, você é a Layla?

Me deparo com uma garota aparentando ter a minha idade. Cabelos loiros, olhos azuis e uma boca pintada de rosa. Ela é bonita.

–Sou sim. Desculpa, nos conhecemos?

–Não. Eu sou Ivy Sartori, a irmã mais nova. Provavelmente você já conheceu meus irmãos. Quer dar uma volta?

Tudo bem. Uma volta não faria mal, mas não antes de achar Adrien e me certificar que ele está bem. Ivy me ajudou a achar meu irmão e ele estava se divertindo com novos amigos. Fiquei mais sossegada.

–Você parece comigo, Layla. Eu sempre quero me certificar se meus irmãos estão bem. Só assim consigo ficar bem.–Ela parece estar falando aquilo mais para ela do que para mim.–Vem, vamos conhecer esse lugar enorme.

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